Após a colocação em serviço no Posto da GNR de Castelo de Vide, dediquei-me empenhadamente a aprender mais e melhor no dia-a-dia através de muito e minucioso estudo de cada código, de cada lei, de cada preceito militar, de cada pasta do arquivo do Posto e das NEP's/GNR – Normas de Execução Permanente da Guarda Nacional Republicana – porque sabia que só dessa forma iria ser capaz de atingir o nível de conhecimentos que me permitiriam progredir na carreira.
Tomava notas de tudo o que me parecia importante, fazia dossiês de apontamentos sobre armamento, legislação penal e civil, regulamentos policiais, direitos e deveres militares, manutenção da ordem pública, decorava procedimentos e fazia cópias dos autos de toda a natureza para melhor entender as leis que lhes davam origem, em suma, fui trabalhando decididamente durante os três anos seguintes numa preparação contínua que visava alcançar os objetivos que me tinha proposto conseguir.
No início de 1982 abriu concurso para promoção ao posto de cabo e candidatei-me. Durante os seis meses seguintes o Centro de Instrução da Ajuda foi-me enviando via Comando da Companhia de Portalegre os dossiês com as diversas matérias que iriam constar dos três testes – um a cada dois meses – que haveriam de apurar os candidatos à frequência do curso na Ajuda no ano letivo 82/83. Dos onze candidatos iniciais só conseguimos classificação positiva dois. E lá fomos até Lisboa. Depois, já quase a terminar o Curso de Promoção a Cabo, decidiu o Comando Geral da Guarda abrir novo Concurso de Admissão para o 6º Curso de Formação de Sargentos.
Excecionalmente, dada a escassez de efetivos naquela classe de graduados, o Exmº General Comandante autorizou-nos, na qualidade de futuros Cabos, a concorrer também mesmo antes de terminado o curso que estávamos ainda a frequentar. Incentivado por outros camaradas que aceitaram aquele desafio, candidatei-me também. As provas escritas e psicotécnicas decorreram no Centro de Instrução onde nos encontrávamos, depois as provas físicas na Academia Militar. Todas tiveram lugar na segunda quinzena de maio de 1983 e todos os candidatos conseguimos superar as provas e ser aprovados.
Não tenho nenhumas dúvidas que a instrução ministrada naqueles últimos meses do Curso de Promoção a Cabo terá sido meio caminho andado para esse feliz desfecho. E foi assim que, sem ter sido alguma vez sequer sonhado, parti de Castelo de Vide no início do ano letivo de 1982 como Soldado candidato a Cabo e regressei em meados de junho de 1983 Soldado ainda, mas já a aguardar a promoção ao posto seguinte e também aprovado para frequentar o 6º CFS que iria decorrer nos dois anos letivos seguintes entre 1983/1984 para furriel, depois 1984/1985 para 2º sargento.
Conforme consta no Diploma de Encarte, fui promovido ao posto de 2º Sargento da Guarda Nacional Republicana para a Arma de Infantaria contando a antiguidade desde 21 de junho de 1985, depois promovido a 1º Sargento contando a antiguidade desde 22 de julho de 1988, e, finalmente, promovido ao posto de Sargento-Ajudante, contando a antiguidade a 07 de fevereiro de 1993.
Oficialmente notificado por escrito pela Chefia do Serviço de Pessoal do CG/GNR que iria ser promovido ao posto de Sargento-Chefe em meados de abril de 2003 por estar posicionado em nº 2 daquela escala de promoção, fui depois irregularmente preterido por motivo de uma reclamação julgada procedente de dois outros militares do Regimento de Cavalaria que culminou na sua promoção, assim como a minha recolocação nos dois primeiros lugares da escala de promoção àquele posto só já dali a seis meses, em janeiro de 2004.
Fiel aos meus princípios e sentimento de justiça, entendi que não tinha qualquer lógica ser eu e o outro camarada que era o Nº 1 na lista de promoção e como eu também prejudicado na sequência do erro grosseiro da Chefia de Pessoal do Comando Geral da GNR que não elaborou corretamente a lista de promoção, sendo muito mais justo e plausível, para não haver o tal prejuízo para terceiros previsto na lei, sermos todos promovidos quer os militares reclamantes, quer também os militares já oficialmente notificados.
Em lugar de duas teriam sido quatro as promoções, o que seguramente não levaria à bancarrota o orçamento com despesas do pessoal da Guarda Nacional Republicana. Não duvido nem um segundo sequer que, se o mesmo erro houvesse ocorrido com a promoção de militares da classe de Oficiais, jamais teriam sido preteridos depois de notificados, porque seguramente seriam todos promovidos e não haveria prejuízo para nenhum.
Revoltado e justamente indignado porque a minha razão e intrínseco sentido de justiça foram muito mais fortes do que a vontade de ser promovido, por haver completado em agosto desse ano os 36 anos de serviço obrigatórios para poder sair da GNR, requeri a passagem à situação de reforma para a qual transitei a 25 de novembro de 2003 trinta dias antes de ser promovido a Sargento-Chefe. E nunca me arrependi de o ter feito, porque aceitar uma injustiça é considerá-la justa.
Terminou assim definitivamente o percurso militar de uma vida inteira que iniciara com 17 anos no dia 19 de dezembro de 1969 quando a Inspeção Militar do Regimento de Infantaria 16 em Évora me considerou apto para todo o serviço militar, seguido da incorporação como soldado recruta no Batalhão de Caçadores 8 de Elvas em maio seguinte, passagem pelo Batalhão de Caçadores 5 em Lisboa a frequentar o Curso de Transmissões de Infantaria, com integração no Batalhão de Cavalaria 3871 - Estremoz em 15 de novembro de 1971 com destino a Angola de onde voltei a 11 de junho de 1974, transitando para a situação de disponibilidade um mês depois a 11 de julho de 1974.