segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Ausência não é esquecimento



Não tenho vindo aqui por diversos motivos mas o principal é o problema de saúde que me surgiu e ando a tratar. Contudo não estou esquecido deste meu cantinho predileto onde me entretenho e passo muito do meu tempo. Agradeço reconhecidamente a quem continua a passar por cá e deixo as minhas saudações amigas. Voltarei logo que puder. Bem hajam...

José Coelho
(texto e foto)
- 16.10.2023

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Família e aconchego

Enquanto o filho cuidava dos grelhados, avô e a neta divertiam-se!



Ontem foi um domingo como quase todos os outros domingos do ano. E escrevi "quase" porque foi dia de almoço familiar em casa do filho mais velho que de vez em quando promove estas ajuntadas com a família possível. Desde que me conheço o domingo foi sempre o dia desse aconchego fraterno. Noutros tempos ainda não muito distantes a grande mesa da nossa sala de jantar na Toca dos Coelhos ficava tão rodeada de gente que as suas oito cadeiras eram insuficientes e tínhamos de acrescentar os lugares para mais do dobro. 

Como era bom esse convívio com os entes queridos...

Ainda assim, mesmo sendo agora muito menos os comensais, um domingo sem família em casa e rancho melhorado nem parece já domingo. Tentei durante muitos anos não deixar extinguir essa tradição que herdei do senhor meu Pai a quem nada dava mais alegria do que ver à sua volta o filho e as filhas, a nora e os genros, as netas e os netos, ainda que as suas posses fossem modestas e o rancho não fosse, porque não podia mesmo ser, muito diferente do que era nos restantes dias da semana.

Porém mais importante do que qualquer iguaria que se pusesse nos pratos para se comer, era o facto de estarmos ali unidos e felizes. Tudo o resto com toda a certeza era mais que bom e suficiente. Foi nessa escola de benéfica simplicidade que aprendi a dar mais importância ao apego fraterno do que a qualquer outro bem material. Foi também onde formei no meu espírito a certeza da importância vital que a união familiar tem, para, através do exemplo, moldar o carácter dos nossos filhos porque lhes transmite alguns dos valores e princípios fundamentais da vida em sociedade. 

Porque naturalmente, quem aprende a amar e a respeitar os entes queridos, aprende por acréscimo e sem qualquer dificuldade a estimar e a respeitar também todos os outros em seu redor.

Reconheço hoje sem nenhuma dificuldade que é uma batalha em vias de extinção. A dispersão da família que resta e o atual conceito de vida em que para conseguirem fazer face às despesas quotidianas têm de se empregar os dois elementos do casal, alterou por completo esses antigos preceitos da vida em família. As crianças que antes eram entregues aos avós enquanto os pais trabalhavam são hoje entregues em infantários que os acolhem e cuidam desde muito tenra idade.

Os mesmos motivos que originam essa separação prematura de filhos e pais estendeu-se aos progenitores que já não podem agora também contar com o apoio dos filhos no limiar das suas vidas e por isso terminam os seus dias em lares de idosos completamente fora do contexto habitual do ambiente familiar.

É o que temos e há não só que compreender como também aceitar. Ainda assim e enquanto puder tentarei manter o que aprendi e me enriqueceu com incontáveis momentos da maior felicidade rodeado quase sempre por todos aqueles que incondicionalmente amei mas já partiram, que tenho ainda, amo e amarei enquanto viver.


Tenham uma excelente semana...


José Coelho

Foto Mariana Coelho

domingo, 8 de outubro de 2023

Estrelinha


Farias hoje 97 anos se não tivesses já deixado a tua cadeira vazia minha querida Mãe. Contudo o dia 8 de Outubro será para sempre aquele em que tu nasceste. E foi exatamente nesse dia que nós os teus filhos, netos e bisnetos ganhámos o privilégio e a ventura de te termos por Mãe, Avó e Bisavó. Que Mãe, que Avó e Bisavó! Um beijo de infinita saudade onde quer que estejas minha estrelinha brilhante, pois sinto todos os dias que continuas a olhar por nós, como fizeste toda a tua vida.

- Foto Pedro Coelho (No dia do teu 85º aniversário) 

Nem pouco mais ou menos


Já não tenho paciência.

Para conversas de chacha, para ouvir falar do que não me interessa minimamente, para escutar quem não me diz nada nem nunca vai dizer, quem só está bem a falar de vidas alheias, de histórias alheias, de pecados alheios.
Já não tenho paciência.
Para egos que não cabem em sala nenhuma, para a inveja de quem nunca será feliz porque é invejoso, para a mediocridade, o mais-ou menos, o “tem de ser”, o “é a vida”.
Já não tenho paciência.
Para o preconceito que como todos é ignorante, para quem quer apenas receber coisas, açambarcar coisas, acumular coisas, cargos, poder, dinheiro, dinheiro, dinheiro.
Já não tenho paciência.
Para algo que não me apaixone, para algo que não ame, que não mexa comigo, que não me arrebate, que não me faça sentir, chorar, saltar, dançar, voar.
Já não tenho paciência.
Para quem nunca admite que falha e perde e tropeça, para quem se julga iluminado, eleito, divino, imortal.
Já não tenho paciência.
Para quem está sempre feliz, sempre focado, sempre bem-sucedido, sempre a pensar bem, sempre com razão, sempre irrepreensível, sempre o maior do seu ramo, da sua casa, da sua rua.
Já não tenho paciência.
Já só quero quem falha como eu, quem cai como eu, quem se engana como eu, quem é insuficiente como eu, defeituoso como eu, quem às vezes está triste, apagado, desmotivado, até infeliz, quem um dia vai morrer como eu.
Já não tenho paciência.

Pedro Chagas Freitas.
In "A raridade das coisas banais"

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Bom feriado


Que nunca nos falte humildade para reconhecer os nossos erros, as nossas falhas e pedir perdão quando for necessário.
Que tenhamos sempre a grandeza de agradecer por tudo o que temos, porque mesmo não tendo tudo o que gostaríamos sempre teremos tudo o que precisamos.
Que os nossos sonhos sejam grandes mas que jamais deixemos de nos contentar com o pouco. Existe muita beleza na simplicidade e muitos motivos para sermos felizes, escondidos nos detalhes. É preciso programar a nossa mente para agradecer e contemplar os pequenos e os grandes milagres que a vida constantemente nos oferece.
Que nossos os olhos sejam sempre de justiça, compaixão e empatia.
Que os nossos ouvidos sejam sábios para absorver somente o que é bom, construtivo e engrandecedor. Tenhamos sabedoria para filtrar e ignorar o mal!
Que a nossa boca seja abençoada com palavras que unem, acalmam, consolam, ajudam, e que saibamos controlar a língua que insiste em proliferar o mal, ou falar daquilo que não lhe cabe julgar.
Que tenhamos consciência e discernimento para permanecer em silêncio, quando nada de bom puder ser dito.
Que a nossa vida seja uma trajetória bonita de resiliência, superação, aprendizado e evolução.
Que nunca nos falte fé para permitir que seja feita sempre a vontade de Deus.
Que nunca nos falte amor para podermos sobreviver no meio de tanto ódio.
E que, acima de tudo, nunca nos falte fé e esperança, de que dias melhores estão a nossa espera.

(Wandy Luz)

- 05. 10. 2022

terça-feira, 3 de outubro de 2023

O seu a seu dono

Excerto da carta enviada pela Exma Médica de Família ao SU

Muitas críticas se têm feito – eu próprio também já fiz algumas – à prestação de cuidados de saúde nas unidades de saúde públicas do nosso país de um modo geral, seja por demoras excessivas no atendimento, por demoras excessivas nas chamadas para exames, cirurgias ou consultas, por todos os motivos e mais um, amplamente divulgados nos OCS mais ou menos mediáticos, comedidos nuns exagerados noutros, mas quase todos por motivos reais.

Tal como dei conta na hora, sofri uma aparatosa queda no passado sábado quando fui apanhar azeitona oferecida por um amigo de toda a vida para conserva caseira, mas apesar do aparato e do desconforto intenso inicial não fiz grande caso e mal a dor passou ligeiramente já eu estava de volta das oliveiras a colher dois baldes da dita cuja só me tendo apercebido dos ferimentos na palma da mão direita quando vi as azeitonas que colhia ficarem ensanguentadas.

Envolvi os ferimentos com o lenço e continuei até ter a quantidade que queria apanhar após o que meti os baldes na mala do carro e rumei a casa. Ainda quente mas já a sentir uma dor estranha na zona lombar bem como o pulso e mão direita a latejarem e a incharem, tomei um duche, desinfetei as feridas com betadine e fui almoçar. Primeiro sintoma raro foi o de não conseguir segurar o garfo com a mão direita por me doer tanto e ter de usar só a esquerda.

À medida que ia arrefecendo aumentava o desconforto. O segundo sintoma dolorosamente raro foi não conseguir levantar-me do banco da cozinha em que estava sentado com uma dor aguda e a sensação de que algo estava a “morder-me” no interior da coluna lombar ao nível dos rins.

- É só doído – conjeturava mais a marida!

- É amassado por ter embatido desamparado com as costas de chapa no alcatrão! Cremes reumatismais, saco de água quente sobre uma toalha húmida, um relaxante muscular Adalgur de 8 em 8 horas entremeado com um Brufen 600 mg de 12 em 12 a ver se isto melhorava. Qual quê! Na noite de sábado para domingo ainda dormi alguma coisa, sedado pelos analgésicos mas na noite de domingo para segunda-feira não dormi um segundo sequer porque não conseguia mover-me sem que a dor aguda, enjoativa e intensa me dissesse logo:

- Fica quieto!

Ufff que noite!

E na manhã de segunda-feira para me levantar?

Tive primeiro de me atravessar na cama muito devagarinho, escorregar para o chão até ficar de joelhos, amparar-me no guarda-fatos até ficar de pé, suster a respiração para aguentar a intensa dor lombar e finalmente telefonar ao filho Manel e à nora Paula a pedir ajuda. Entre os dois conseguiram-me uma consulta com a nossa extraordinária médica de família que me mandou lá ir e perante o quadro que lhe apresentei me enviou de imediato para o SU da ULSNA – Portalegre.

Meio apreensivo já, quer pelas dores imparáveis, quer pela má fama geral daquele SU onde conterrâneos meus já tiveram de esperar doze horas para serem atendidos, lá foi o filho comigo e com uma carta fechada da distinta médica para o SU mencionado que não estava muito concorrido embora houvesse utentes que àquela hora, cerca das seis da tarde, lá permaneciam desde as dez da manhã.

Antes de prosseguir, devo informar que foi a primeira vez na minha vida que tive de recorrer a um Serviço de Urgência hospitalar. Muitas vezes já lá tinha ido e permanecido horas de espera com a minha mãe, com a minha marida e outros familiares, mas apenas como acompanhante. Por isso esta foi de facto a minha primeira vez enquanto utente daquele serviço específico.

E não posso, não quero nem devo ficar calado, porque entendo ser um ato cívico e de cidadania enaltecer a forma profissional, correta, rápida e genuinamente simpática como fui atendido desde o guichet de ingresso, sala de triagem, seguidos da chamada ao gabinete do médico em serviço na Urgência que me encaminhou para o Serviço de Radiologia onde poucos minutos depois me foram feitos os Rx necessários, após o que também quase de seguida – nem deu tempo de voltar a sentar-me na sala de espera – fui chamado ao gabinete do médico ortopedista de serviço que já tinha no ecrã do seu computador as imagens dos exames que eu acabara de realizar.

Fui atendido e tratado por cada um destes profissionais com uma simpatia, educação e profissionalismo que nada ficam a dever à dos hospitais e serviços de saúde particulares que bem conheço também. Independentemente do diagnóstico que não foi o melhor, senti que fui atendido e tratado de uma forma diametralmente oposta àquela que a vox populi tantas vezes difunde e propagandeia como habitual, mas que afinal não é. O seu a seu dono.

Conversando com o filho no regresso a casa ele foi dizendo que o senhor que lá estava desde as dez da manhã teve necessidade de fazer uma TAC que demora sempre um pouco mais pela sua complexidade e ainda pela necessidade de esse exame ter de ser analisado por um especialista nem sempre presente e por quem é necessário esperar, sendo o doente só despachado de volta para casa ou ficar internado, em função do diagnóstico desse clínico.

Também as demoras são variáveis em função da gravidade de cada caso ingressado, tendo obviamente prioridade os mais agudos. Sendo o meu caso uma suspeita de fratura da coluna lombar teve um tratamento mais imediato que outros em que a situação clínica era menos grave. A triagem não é feita pela cor dos olhos de ninguém, mas pela urgência na detecção e tratamento do quadro clínico de cada paciente, mas também, obviamente, pela maior ou menor afluência diária de utentes ao SU.

Infelizmente nem sempre a boa-fé e integridade daquilo que se difunde é como deveria ser. Ou porque somos do contra, ou porque estamos zangados com o governo, ou porque somos adeptos do dividir para reinar, dizemos mal só porque sim. Eu não tinha lá qualquer “cunha”, não conhecia lá ninguém, não pedi nada a ninguém e fui muito, muito, muito bem tratado.

Por isso aqui deixo esse mais que justo registo.

Obrigado a todos os Profissionais da Saúde do Banco de Urgências da ULSNA Portalegre que ontem me atenderam e trataram tão bem. Entrei por volta das dezoito horas, saí com o diagnóstico e receituário na mão, pouco depois das dezanove.

Bem hajam.

José Coelho