Solidão digital: conectados com todos, próximos de ninguém
Há dias em que o telemóvel vibra sem parar — e mesmo assim, parece que ninguém nos chama de verdade. A notificação pisca, a conversa começa, o emoji sorri… mas o coração continua quieto. É um novo tipo de silêncio, que se esconde no barulho constante da internet.
Estamos
sempre “online”. Sempre por perto. Sempre ao alcance de uma mensagem. Mas, no
fundo, sentimos que algo falta. Falta os olhos nos olhos, o toque sem filtro, a
conversa que não precisa ser interrompida por um “espera só um segundo”,
enquanto alguém responde outra coisa, a outro alguém, em outro local.
Vivemos
rodeados de gente e, ao mesmo tempo, sozinhos no nosso próprio quarto. Olhamos
as fotos, mas não sentimos o cheiro. Vemos sorrisos, mas não escutamos o riso.
Falamos com muita gente, mas raramente com profundidade. Trocar palavras não é
o mesmo que se fazer presente.
Talvez
o problema não seja o digital. O problema surge quando o digital ocupa o lugar
do humano. Quando uma piada vira consolo, quando uma story vira conversa,
quando o contato se limita à tela. O que antes era ponte virou parede. O que
era aproximação, virou fuga.
E
é estranho, porque nunca tendo tido tantas formas de falar, andamos com tanta
dificuldade de dizer o que sentimos. Fingimos bem. Mostramos os momentos bons.
Escolhemos o filtro certo. Mas por dentro, quantas vezes gritamos no silêncio
de um “visto às 18:43”?
A
verdade é que estamos cansados de respostas rápidas. Começamos a querer
presença. Querer escuta de verdade, não só reações. Querer uma ligação que
demore. Uma visita sem aviso. Um café sem telemóvel na mesa. Porque queremos,
mesmo, é ser lembrados, fora do algoritmo. Porque, no fim, o que preenche não é
o número de seguidores. É aquele amigo que aparece quando tudo desaba. Aquela
conversa às 2h da manhã que ninguém posta, mas que salva. Aquele abraço que não
precisa de legenda. Conectar é fácil. Difícil, mesmo, é estar.
Mas
se nos lembrarmos disso, se fizermos o caminho de volta para a presença, para a
verdade, para o toque, talvez essa solidão silenciosa vá, aos poucos, abrindo
espaço pra vínculos reais. Talvez consigamos voltar a ser gente. De carne,
osso… e alma.
Helena
Sacadura Cabral