sexta-feira, 17 de maio de 2024

Bom fim de semana e sejam felizes


 Nascer, é uma possibilidade. Viver, é um risco. Envelhecer, é um privilégio.

Mário Quintana…

quinta-feira, 16 de maio de 2024

E que assim seja



Que a vida te traga a idade, mas nunca o desencanto. Que os anos passem, mas que nunca te habitues. Sê como o rio, que flui em direção a algo maior. Que o teu coração cresça até ao fim e que nele caiba o que não é possível medir: o amor, o sonho e a poesia. Que o tempo te enrugue a pele, mas nunca a alma. A alma quer-se lisa. Espelho e reflexo de luz. Que te ames no amor que dás e recebes. Que a distância nunca te impeça de estar perto e que as vidas de que esta é chegada sejam a memória do que te ensinaram. Nem tudo está escrito. Há coisas que és tu que tens de escrever.

 in lado.a.lado -16. 05. 2021

Foto José Coelho  com Maria Coelho - 16. 05. 2024

quarta-feira, 15 de maio de 2024

Acredita


Não deixes que a saudade te sufoque, que a rotina te acomode e que o medo te impeça de tentar.

Desconfia do destino, acredita em ti.

Gasta mais horas a realizar do que a sonhar, a fazer do que a planear, a viver do que a esperar, porque embora quem quase morre ainda esteja vivo, quem quase vive já morreu.

Sarah Westphal

Foto José Coelho

segunda-feira, 13 de maio de 2024

Boa semana, sejam felizes

Boa disposição, porque a tristeza não leva a lado nenhum. E quem lhe dê azia ver-nos sempre sorridentes, faça um chazinho de salva brava que alivia...

Foto José Coelho com Maria Coelho 
- 13 de Maio de 2024

Mãe d'água


Fonte dos Cabeçudos nas encostas de Marvão, a debitar milhões de metros cúbicos de água leve e puríssima ano após ano, há oito décadas...
- 12. 05. 2024

quinta-feira, 9 de maio de 2024

terça-feira, 7 de maio de 2024

E tenho dito


Há três coisas das quais eu gosto, que pratico e não tolero, de forma nenhuma, a sua falta: Respeito, Educação e Consideração.

Coisas que leio


- Estás à espera de quem?

- Não espero ninguém! Estou apenas a sentir o passar da brisa.

 - Então? Não tens família?

- Tenho! Mas deixei de esperar por eles...

 - Estão zangados?

- Não! Estamos resolvidos e de bem com a vida!

 - Como assim?

- Aprendi com os anos de caminho que não devemos esperar por ninguém!

 - Mas... Uma mãe não deve esperar sempre pelos seus filhos?

- Por muitos anos achei que sim... Depois aprendi que só esperamos por aquela ilusão de posse. No dia em que entendemos que ninguém pertence a ninguém e que até os filhos são do Universo, passamos a ser livres para receber, sejam os filhos ou tudo o que a vida nos reservar!

 - E quando os filhos não chegam?

- Para quem nada, nem ninguém espera, tudo é apenas a vida a acontecer...

 - É difícil de entender!

- Eu sei. Fomos ensinados a sentir amor como apego, quando a verdade é que o autêntico Amor é saber desapegar. Amor é liberdade para amar sem prender, amar permitindo ao outro voar!

 - E não sentes solidão?

- Ela não existe para quem aceita para si mesmo esse direito de também continuar a voar. E hoje, mesmo de forma diferente, aceito, ajusto e continuo a permitir-me esse voo!

 - E quando não conseguires?

- Eu acredito que a quem se permite ser livre a morte chegará leve e quando o meu corpo físico deixar de poder voar, partirei de regresso a casa!

 - Sabes...

Acredito também que esse é o propósito da vida, nunca deixar de voar, porque uma Alma em voo é para sempre um Ser! Até lá vou continuar simplesmente a usufruir do passar da brisa.

Desconheço a autoria

Foto José Coelho

Beirã

Foto José Coelho - 05. 05. 2024

sábado, 4 de maio de 2024

Meu amigo, o rouxinol

Imagem: Google Fotos

 

Acontece inúmeras vezes e quase sempre à mesma hora. No crepúsculo. Quando ainda não é noite, mas também já não há sol. Gosto de despedir-me dos dias deambulando pelo quintal a sentir a aragem ou o vento no rosto, enquanto vou observando a aproximação da noite que desce da linha do horizonte onde os tons alaranjados do céu tocam as terras de Espanha lá ao longe, para se ir chegando a este vale desenhado pelas várzeas do Ribeiro da Cavalinha.

E ontem não foi exceção.

Fui fechar a garagem, o portão do forno a lenha, a janela e porta da cozinha-fumeiro e encostei-me à grade que separa a zona da horta, do patim ladrilhado a retalhos de mármore em toda a sua volta. Tive de colocar esta sólida grade para evitar as estouvadices da nossa cadela rafeira alentejana Suri que mal via uma toupeira a bulir na terra de qualquer canteiro, invadia furiosa as minhas culturas e sementeiras para fazer uma monumental cova em busca da intrusa.

Foi num destes entardeceres que a malvada víbora cornuda oculta debaixo dos espinafres de desfolhar que bordejavam o patim marmoreado, atacou a minha marida e a enviou de urgência para o Hospital de Santa Maria onde foi ser tratada com o antídoto adequado e monitorizada até passar o perigo de alastramento da infeção venenosa. É o que dá viver paredes meias com a natureza selvagem de que tanto gostamos.

Já passou, mas foi um susto enorme sim senhor.

De súbito no meio do silêncio que me envolvia ouvi-o muito próximo. Talvez no limoeiro ou na oliveira redondil que lhe fica ao lado. Trinou uma daquelas suas maravilhosas melodias completas e poeticamente descritas num dos livros de leitura da minha Escola Primária:

- Nossa Senhora disse, disse, disse, que enquanto o gavião da videira subisse, não domisse, não dormisse, não dormisse!

Fico tão enlevado sempre, que não mujo nem tujo, para não o assustar e espantar. Desde menino que os ouço e tento imitar, sem o conseguir. Ninguém canta e encanta como eles. Nos salgueiros e silvados do ribeiro, na fonte da Murta, nos quintais cheios de árvores como o meu de vez em quando. E olhem que deles já por aqui passaram muitas, muitas gerações, porque os meus anos já vão sendo também muitos, muitos.

A marida foi, entretanto, sacudir as migalhas da toalha do nosso jantar – cá em casa nada se perde, tudo se transforma – sejam as migalhas para os pardais, sejam as cascas das batatas, cenouras e outros legumes da nossa alimentação na compostagem para adubar a terra.

Nunca nada é desperdiçado.

Ia precisamente o nosso alado tenor recomeçar o seu segundo concerto, quando ao ouvir vozes se calou subitamente. Deve ficar com certeza desiludido por não lhe darem a atenção que merece. Olhei para a minha companheira e fiz-lhe sinal para não fazer barulho, mas ele não voltou a cantar mais.

- O que foi? Perguntou ela.

- É o nosso amigo rouxinol que veio cumprimentar-nos outra vez, respondi.

Mas não mais se fez ouvir. Deve ter mudado de pouso ou ido embora. Paciência. Talvez também porque, entretanto, ia já anoitecendo.

- Obrigado pela visita querido amigo.

- Volte sempre e sinta-se sempre aqui, como em sua casa…


José Coelho

Salmo Responsorial do VI Domingo da Páscoa

quinta-feira, 2 de maio de 2024

Nem tudo o que parece, é!

Foto Pedro Coelho

Parece que estou pensativo ou triste? Nem uma coisa nem outra! Estava atento à cataplana de garoupa que estava mesmo à minha frente sobre a mesa, num jantar em família...

quarta-feira, 1 de maio de 2024

Gosto de ler (e publicar) de vez em quando

Foto José Coelho - 29. 04. 2024

 

DESIDERATA


Vai serenamente por entre a agitação e a pressa

Lembra-te da paz que pode haver no silêncio
Sem seres subserviente, mantém-te, tanto quanto possível, em boas relações com todos
Diz a tua verdade calma e claramente
E escuta com atenção os outros
Mesmo que menos dotados e ignorantes.
Também eles têm a sua história
Evita as pessoas barulhentas e agressivas
São mortificações para o espírito
Se te comparas com os outros
Podes tornar-te presunçoso e melancólico
Porque haverá sempre pessoas superiores e inferiores a ti
Apraz-te com as tuas realizações tanto como com os teus planos
Põe todo o interesse na tua carreira, ainda que ela seja humilde
É um bem real nos destinos notáveis do tempo
Usa de prudência nos teus negócios
Porque o mundo está cheio de astúcia
Mas que isto não te cegue a ponto de não veres virtude onde ela existe
Muitas pessoas lutam por altos ideais
E em todo o lado a vida está cheia de heroísmos
Sê fiel a ti mesmo
Sobretudo não simules afeição
Nem sejas cínico em relação ao amor,
Porque em face da aridez e do desencanto
Ele é perene como a relva
Toma amavelmente o conselho dos mais idosos
 
Renunciando com graciosidade às ideias da juventude
Educa a fortaleza de espírito, para que te salvaguarde de uma inesperada desdita
Mas não te atormentes com fantasias, muitos receios surgem da fadiga e da solidão

Para além de uma disciplina salutar
Sê gentil contigo mesmo
Tu és um filho do Universo
 
E tal como as árvores e as estrelas
Tens o direito de o habitar
E quer isto seja ou não, claro para ti
Sem dúvida que o Universo
É-te disto revelador
Portanto, vive em paz com Deus
Seja qual for a ideia que Dele tiveres
E quaisquer que sejam as tuas lutas e aspirações
Na ruidosa confusão da vida
Conserva-te em paz com a tua alma.
Com toda a sua falsidade
Escravidão e sonhos desfeitos
O Mundo é ainda um lugar maravilhoso.
Sê cauteloso
Luta para seres feliz.

 

Autor: Max Ehrmann, escrito em 1927 

Bem-vindo, florido Maio

Foto José Coelho 

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Bom fim de semana

A sócha do Miradouro da Beirã com o seu chapéu restaurado
Foto José Coelho - 22. 04. 2024

Problema solucionado

Foto Pedro Coelho

Que assim seja


Que nunca nos falte humildade para reconhecer os nossos erros, as nossas falhas e pedir perdão quando for necessário.

Que tenhamos sempre a grandeza de agradecer por tudo o que temos, porque mesmo não tendo tudo o que gostaríamos sempre teremos tudo o que precisamos.

Que os nossos sonhos sejam grandes mas que jamais deixemos de nos contentar com o pouco. Existe muita beleza na simplicidade e muitos motivos para sermos felizes, escondidos nos detalhes. É preciso programar a nossa mente para agradecer e contemplar os pequenos e os grandes milagres que a vida constantemente nos oferece.

Que nossos os olhos sejam sempre de justiça, compaixão e empatia.

Que os nossos ouvidos sejam sábios para absorver somente o que é bom, construtivo e engrandecedor. Tenhamos sabedoria para filtrar e ignorar o mal!

Que a nossa boca seja abençoada com palavras que unem, acalmam, consolam, ajudam, e que saibamos controlar a língua que insiste em proliferar o mal, ou falar daquilo que não lhe cabe julgar.

Que tenhamos consciência e discernimento para permanecer em silêncio, quando nada de bom puder ser dito.

Que a nossa vida seja uma trajetória bonita de resiliência, superação, aprendizado e evolução.

Que nunca nos falte fé para permitir que seja feita sempre a vontade de Deus.

Que nunca nos falte amor para podermos sobreviver no meio de tanto ódio.

E que, acima de tudo, nunca nos falte fé e esperança, de que dias melhores estão a nossa espera.

Wandy Luz

Foto José Coelho

quinta-feira, 25 de abril de 2024

Simbolismo antagónico


Desconheço o autor desta foto mas aposto que quem plantou o craveiro não imaginava que ia ficar sem o seu emprego nesta Estação...

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Boa semana

Flor da tremocilha - Foto José Coelho


A vida ensinou-me a sorrir para as pessoas que não gostam de mim e mostrar-lhes que sou diferente delas.

Charles Chaplin

Foto José Coelho

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Desde 1971


O que é o amor? É uma construção inteligente de duas pessoas que decidem ser companheiros, amigos, cúmplices, camaradas e amantes. Que apesar dos problemas que nunca faltam se escolhem a cada manhã para continuarem caminhando juntos pela vida.

Salmo Responsorial do IV Domingo da Páscoa

DOMINGO DO BOM PASTOR

Por aí...

Há quem diga que existem muitas formas de amar. 
Eu só conheço uma. A que cuida!
Foto - Maria Coelho

terça-feira, 16 de abril de 2024

Um "falar" de todos nós


A propósito de uma moda que “a malta” do meu tempo cantava ao desafio com as moças nos trabalhos do campo, propus ao grupo de que então fazia parte, umas “saias à moda antiga” deliberadamente escritas na pronúncia característica desta região. Não são só os usos e costumes, não é só a paisagem que tem características próprias. Também a fala é património nosso, parte integrante do todo. E como tal, entendo que deve ser preservada e defendida sem motivo para escândalo ou complexos.

Contudo, ao apresentar aquela velhinha “moda”, logo duas ou três vozes se levantaram para afirmarem que “a gente nã fala assim”. Ai fala, fala, reafirmei convicto. Poucas são as pessoas que pronunciam o “não” corretamente, e, em vez disso, dizem simplesmente “nã”. E também o “eu” é pronunciado “ê”.
Exemplos?
É para já:
- Eu cá não vou…
Nós pronunciamos:
- Ê cá nã vou…
Um “vais” é reduzido a “vás”, o “nem” dizemos “nim” um “dizem que” pronunciamos “diz que” e em muitas, em muitíssimas mais palavras, são “comidas” parte das suas sílabas. É o nosso falar. Não há qualquer motivo para dele termos vergonha ou gerar censura.
Cada povoação, até num só concelho, tem o seu próprio sotaque.

Novo exemplo:
- Vais às compras aí? Dizem que nessa loja nem os sacos dão!
E nós pronunciamos:
- Vás às compras aí? Diz que nessa loja nim os sacos dão!
Nós os da parte norte do Concelho de Marvão, falamos assim:
- V’zinha atão diz qu’este ane vai haver corse no carnaval?
- Diz’que sim. Mas ê cá nã poss’ir. Nim amanhã nim na terça. E tu, vás?
- Ê cá tenhe tençõns d´ir se Dês queser…
Já na zona da Escusa, no mesmo Concelho mas na parte sul, nasalam-se mais as sílabas:
- Abalaste munto çôde?
- Nasçô-me o sol ô Talaiã…
Mas não somos só os Marvanejos que temos um falar muito nosso. Nos concelhos vizinhos sucede o mesmo. O meu Pai, nascido e criado no Bom Jesus em Castelo de Vide, trouxe consigo para Marvão onde casou e viveu a maior parte da sua vida, aquele seu falar característico da Vila que pronuncia o “a” em vez do “e” que origina chamar-se aos Castelovidenses “os da terra do bonáque”.
Para ele nunca fui o seu filho Zé, mas o sê filhe Zá.
- Zá! Oh Zá… Chega lá aqui, filhe…
Tomara eu continuar a ouvi-lo ainda hoje!
Também em Nisa onde trabalhei e convivi com aquela gente boa de todas as suas freguesias, conheci o encantador e genuíno modo de falar que começa logo pela exclamação “dé” a anteceder qualquer conversa.
- Dé…
- Pode lá sê? Um home tã rique e morrê!!!
E não resisto a transcrever uma quadra popular Nisorra que por lá aprendi e acho absolutamente genial:
Os olhos daquela àquela
Os olhos daquela ali
Ô tu le tens amezéde
Ô ela tarátati
É o puro falar de cada terra. Tão nosso como tudo o que de mais genuíno existe por estas bandas. E sinto-me no dever de defendê-lo como defendo as outras coisas nossas porque são únicas e encantadoras. Os usos e costumes e entre eles o nosso falar, são também um património de que devemos orgulhar-nos e urge defender.

José Coelho

sábado, 13 de abril de 2024

Cuidem-se


Maturidade é vivermos em paz com o que não podemos mudar.

Bom domingo, sejam felizes...

13. 04, 2024

Um dia mais é também um dia menos

Resplendor do sol em fim de tarde no Vale do Cano - Beirã
Foto José Coelho

Acordei cedo. Muito cedo, como sempre. O restauro e ampliação desta casa cheia de grandes janelas foi na íntegra por mim concebido. As mais amplas são as voltadas ao Nascente. Por isso, logo que a aurora começa a clarear por terras d’Espanha por detrás da Murta, a suave luminosidade filtrada pelas persianas e cortinados – associada ao cantar dos também madrugadores galos da vizinhança – fazem-me despertar. Claro que não me ponho logo a pé a essa hora, embora já não consiga dormir mais. Deixo-me ficar sossegado para não acordar a “patroa” enquanto vou apreciando o despertar de toda a natureza que rodeia estes meus domínios.

O metálico debicar dos pardais na caça aos insetos para o pequeno-almoço da sua prole no algeroz do beirado, onde já uma vez construíram um monumental ninho vingando-se talvez por eu não ter permitido que o construíssem nos tubos do motor do ar condicionado, no verão anterior. Também pelas redondezas vive há muitos anos um numeroso bando de rolas turcas que nidificam nos abundantes sobreiros da Tapada da Rabela anexa ao nosso quintal – o ano passado até  o fizeram na laranjeira sem receio do alcance das nossas mãos – e pousam no telhados ou nas chaminés onde cantam, cantam, cantam, de manhã à noite, atentas aos besouros que circulam pelas redondezas e às sementes das espigas na horta, bem como aos dois baldes de água fresca que todos os dias coloco à sua disposição e onde vão beber à vez.

Ah! E chegaram já também os famintos estorninhos que chiam como ratos enquanto devoram os primeiros figos-lampos das figueiras que também abundam por aí, sem os deixarem sequer amadurecer!

Longe vai já o tempo em que tinha de levantar-me às seis da manhã para cortar a barba, tomar um duche e o pequeno-almoço antes de marchar às minhas obrigações profissionais. Muitos dias houve também que, em função das mesmas, o nascer do dia era exatamente a hora em que a minha ronda noturna na proteção de pessoas e bens terminava. Aí então, em vez de acordar, era a hora de me deitar e dormir.

Por isso este é o tempo de descansar e desfrutar da paz e tranquilidade dos meus dias, naquele que para mim é também o melhor lugar do mundo. A Toca dos Coelhos. Aqui nasci, aqui passei inquestionavelmente os momentos mais doces da minha vida, aqui me despedi para sempre dos entes mais queridos, aqui tenho a grata bênção de envelhecer agora. Se não tenho uma vida perfeita – acho que ninguém tem – é seguramente a vida menos agitada que poderia ambicionar.

Os problemas – maioritariamente de saúde – são idênticos aos de tanta outra gente que conheço com as mesmas limitações e constrangimentos, minimizadas o quanto possível, mas sempre aceites com ânimo e resignação. Queixumes nada adiantam porque nada resolvem, por isso vou vivendo, desfrutando e agradecendo, um dia de cada vez. Mesmo com limitações, entendo a Vida como um dom valioso que me foi concedido e que tenho o dever de aceitar e fazer valer a pena. Até mesmo os dias mais difíceis. Nem sempre é fácil, nem sempre consigo estar alegre e bem-disposto, mas todos os dias tento superar o que me puxa para baixo, levantar a cara e enfrentar decididamente aquilo que me perturba.

O perigo que vivemos nos últimos anos é a mais evidente prova do quão somos impotentes perante a força da natureza e que nunca saberemos do que ela é capaz para se defender de tantas agressões e nos remeter à nossa humana insignificância. Deveríamos ser mais cuidadosos com ela e respeitar os seus ciclos naturais sem os corromper abusiva e constantemente. A pandemia foi uma tão contundente como letal resposta à irresponsável ousadia de o ser humano achar que pode fazer tudo, alterar tudo, substituir tudo.

Não pode.

Andamos – acho eu – a mexer há demasiado tempo com aquilo que não devemos e a caminhar para a autodestruição. Nunca, jamais ou em tempo algum, o Homem conseguirá substituir a Natureza. Poderá imitá-la, poderá substituir alguns dos seus efeitos por outros similares, mas nunca conseguirá superá-la. E de tanto ousar vai perder o controle e sofrer as consequências. Quiçá a Covid 19 seja apenas um começo. Sem qualquer pretensão de me julgar mais perfeito que os demais, tenho, no entanto, plena consciência que sempre a admirei e respeitei.

Sou um dos seus mais fiéis seguidores e admiradores. A atestá-lo, os milhares de imagens do meu acervo fotográfico onde mais de noventa por cento são a fauna, a flora, as paisagens rústicas e ambientais, o céu azul ou nublado, para além das cores do por do sol que em meu modesto entender são a obra-prima mais incrível que se pode contemplar, a magnificência e o esplendor na forma mais perfeita que nos são oferecidos diariamente pelo Criador.

Mas também me parecem imponentes as cores da aurora desde a primeira rosada auréola celeste, até o astro-rei se elevar na linha do horizonte. Curiosamente o nascer do dia traz consigo o despertar barulhento de toda a vida sobre a terra, enquanto o seu ocaso a emudece quase por completo.

Poucas coisas admiro mais.

Em cada acordar tenho por hábito agradecer mais um dia de vida. E antes de adormecer, o dia vivido. Não o faço por costumeira beatice mas por absoluta convicção do meu dever de gratidão. Ser grato, atento e disponível fazem, fizeram sempre, parte do meu ADN. Vivo cada dia como se fosse o último serenamente, não por ser agora recomendado em virtude da pandemia, mas porque sempre fui assim.

Entendo que cada dia que amanhece e soma mais um à nossa vida, é simultaneamente um a menos do total que temos destinados para viver. Essa é, seguramente, a mais precisa equação matemática. Nunca se esqueçam dela. E procurem ser felizes, mesmo quando não conseguirem alcançar tudo quanto acham ser preciso para o conseguir…

José Coelho