domingo, 15 de outubro de 2017

Coisas que leio...


A Vida


É impossível atravessar a vida
sem que um trabalho saia mal feito,
sem que uma amizade cause decepção,
sem padecer com alguma
doença, sem que um amor nos abandone,
sem que ninguém da família morra,
sem que a gente se engane em
algum negócio.
Esse é o custo de viver.
O importante não é o que acontece, mas como você reage.
Você cresce quando não perde a esperança, não diminui a
vontade nem perde a fé.
Quando aceita a realidade e tem orgulho de vivê-la.
Quando aceita o seu destino ou tem garra para mudá-lo.
Quando aceita o que deixou para trás, constrói o que tem pela frente e planeia o que está para vir.
Cresce quando se supera, quando se valoriza e sabe dar frutos.
Cresce quando abre caminho, assimila experiências e semeia raízes.
Cresce quando se impõe metas, sem se importar com comentários.
Cresce quando é forte de caráter, sustentado pela sua formação, sensível pelo temperamento e humano por natureza.
Cresce ajudando os seus semelhantes, conhecendo-se a si mesmo e dando à vida mais do que aquilo que recebe.

E assim se cresce...


Suzana Carizza

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Bom fim de semana...

Por do sol sobre os campos da Beirã - Foto by José Coelho

Quase tudo a Vida foi levando...

... até (e principalmente) o sorriso! 

Consegui! Sem padrinhos e sem cunhas, muito pelo contrário...

1985 - Início da carreira - Comandante de Posto - Nisa

2003 - Fim da carreira - Chefe da Secretaria-Geral 
Agrupamento de Instrução de Praças - Portalegre

Coisas (interessantíssimas) que leio...



Por vezes é preciso parar

Aqueles que fazem a pausa-análise percebem que toda a sua vida, até àquele dia, foi passada caminhando pelos passos dos outros e pelas vontades dos outros. Percebem que aquela vida não foi (na sua maioria) escolhida por eles mas por uma sociedade que os rodeia


Há um momento na vida em que temos de parar. Um momento em que temos de largar todos os companheiros de estrada, libertarmo-nos de todos pesos e amarras, sentar calmamente e analisar a nossa vida e a nós próprios.

Desde muito cedo que seguimos caminhos já trilhados por outros, caminhos pré-definidos. Os caminhos da nossa vida encontram-se traçados, praticamente, desde o nascimento. Quatro meses após abrir os olhos para o mundo e a maior parte de nós já entrou na rotina. Começamos pelo berçário, infantário, pré-escola, primeiro, segundo e terceiro ciclos, ensino secundário e, se a tanto nos chegar a vontade, a universidade. Rotinas pré-definidas desde o início. Pelo meio surgirão alguns namorados e, quando a idade for aquela que é considerada adequada, surgirá um namorado que permanecerá na nossa vida mais tempo do que o habitual e seguiremos o caminho natural que é o casamento. A seu tempo surgirão a casa, os filhos, o carro, quem sabe até o cão. A completar este quadro está um emprego que, grande parte das vezes, é rotineiro. Um emprego e uma vida que nos fazem contar os dias que medeiam entre a segunda e a sexta-feira, os dias para o próximo feriado, os dias para as próximas férias, ou os dias para ser realmente feliz.

E, um dia, acordamos e pensamos que a vida não tem sido mais que uma vagarosa sucessão de dias: dias que decorrem lentamente à espera de um “ser feliz” que não acontece. Percebemos que a vida se está a tornar rapidamente insípida e sem cor. Percebemos que não sabemos bem quem somos — nem quem fomos. Não sabemos para onde vamos. E é nesse momento em que acordamos para a realidade que percebemos que parar é essencial. Parar para pensar, parar para analisar, parar para fazer o balanço do que tem sido a nossa vida, parar para nos encontrarmos ou, quem sabe, reencontrarmo-nos.

Algumas pessoas percebem essa necessidade à medida que vão atingido a maturidade. Outros há, porém, que nunca irão dar esse espaço para parar e, como tal, nunca irão dar espaço para encontrar o seu verdadeiro eu.

Aqueles que fazem a pausa-análise percebem que toda a sua vida, até àquele dia, foi passada caminhando pelos passos dos outros e pelas vontades dos outros. Percebem que aquela vida não foi (na sua maioria) escolhida por eles mas por uma sociedade que os rodeia. E é nessa tomada de consciência que muitas vezes as pessoas param e atiram uma vida de segurança pela janela, mudando radicalmente a sua existência. Mudam de emprego, divorciam-se, mudam de cidade ou até de país. Criam grandes alterações na sua vida, a nível pessoal, profissional ou a todos os níveis. Por isso a sociedade das regras, a sociedade dos caminhos trilhados e seguros considera, muitas vezes, que aquela pessoa enlouqueceu. Só a loucura poderia explicar esse acto de audácia e coragem! E poucos percebem que aquela pessoa não enlouqueceu. Poucos percebem que ela apenas decidiu parar (porque sentiu essa imperativa necessidade), para pensar e analisar a sua vida. E foi precisamente nesse momento que percebeu que não estava a viver a sua vida mas a vida que outros tinham pensado para ela. E revoltou-se contra esta situação. Decidiu oferecer-se tempo para pensar e tomar as atitudes necessárias a fim de se soltar dos pesos e amarras que lhe pesavam e começar a trabalhar, todos os dias, para ser feliz.

Tomada esta atitude, percebe-se que se adquiriu tempo e vontade para observar os caminhos que se quer seguir, as encruzilhadas que se poderá encontrar. Sabe-se que a vida foi tomada nas próprias mãos. A pessoa percebe que já não vive de acordo com as regras de uma sociedade bacoca mas de acordo com as suas próprias regras. Trilha caminhos desconhecidos. Só o poder de tomar esta decisão já lhe traz calma e felicidade. É serena. Não sabe se é feliz a 100% mas sabe que trabalha todos os dias para isso. Não se deixa cair na rotina e no marasmo.

A essa pessoa, e a todas aquelas que perceberam que é preciso parar, que tiveram a coragem de reflectir nesse momento de pausa e de mudar aquilo que não lhes fazia bem, apresento a minha maior admiração. Merecem a felicidade que possuem nas mãos.


(Texto de Estefânia Barroso • 11/10/2017 - In Jornal Público)

terça-feira, 10 de outubro de 2017

O mundo (anda mesmo) às avessas...

Imagem copiada do Google

Meados de Outubro e nem uma erva verde pelos campos. Os gados nos pastos lambem as hastes secas rentes à terra ressequida e árida perante o desespero dos seus donos que para os alimentar têm que se valer de caras rações e das palhas ou fenos que restam nos palheiros.

Não me lembro de nada assim nos já sessenta e (muitos) picos que levo de vencida. As duas ou três últimas décadas então têm sido profícuas em desatinos de toda a ordem. O mundo bonito e bom de que me consigo lembrar ainda, vai ficando cada vez mais lá para trás e pelos vistos está definitivamente perdido.

Em vez de um clima cálido e amoroso de chuvas outonais misturadas com temperaturas moderadas temos um outubro enxertado num verão que teima em ficar para queimar o que sobrou de julho, agosto e setembro. A azeitona, a castanha e os citrinos mirram nas árvores, amadurecem precocemente e caem sem qualquer préstimo.

No pinhal interior qual apocalipse antecipado continua o flagelo amaldiçoado dos fogos que tudo derretem incluindo vidas, espalhando, a centenas de quilómetros, um odor nauseabundo de matéria queimada e nuvens de fumo que cobrem quase Portugal inteiro. O sol em vez de ficar encoberto pelas nuvens outonais fica encoberto pelas nuvens desse maquiavélico elemento.

A vida nas aldeias de todo o interior, de norte a sul e sem qualquer excepção, está condenada a muito curto prazo. Já hoje não existem condições normais de sobrevivência em muitas delas para quem é velho e não tem carro para se deslocar, telefone ou internet para se comunicar com o resto do país onde vivem agora - que remédio - as camadas mais jovens, filhos e netos.

Como é possível deixar as coisas chegarem a este ponto, não sei. Cada vez mais Portugal é Lisboa, Porto e Coimbra e o resto é paisagem a que só se dá alguma atenção de 4 em 4 anos quando o voto desses habitualmente esquecidos faz falta para chegar aos poleiros do poder. Com todas as velhas artes profissionais extintas, valem os lares e centros de dia para gerarem algum emprego. Enquanto restarem alguns velhos, porque também esses se irão extinguir com o passar do tempo.

O défice, o rating, a dívida, o pib, a troika, bruxelas, as agências de notação financeira e muitos mais destes modernos palavrões são hoje o que importa ao país. A vida das pessoas é para ir remediando de qualquer maneira e depois logo se vê. Ah e tal, o banco X teve éne milhões de prejuízos! Mas os administradores continuam lá a ganhar o décuplo do que ganham os funcionários do balcão. Ah! Mas as reformas vão ter no mínimo 10 euros de aumento. Quais? As que são inferiores a... pouco mais de uma centena de euros.

Entretanto vem pelo correio (que por enquanto ainda é porta a porta) uma carta da seguradora da casa. Estimado cliente, bla bla bla, a partir de outubro deixaremos de enviar correspondência em papel pelo que qualquer documento a emitir será enviado apenas em suporte digital via e-mail. Bonito gesto, sim senhor. Precisas? Imprime na tua impressora, gasta do teu papel e do teu tinteiro porque a seguradora está vocacionada apenas para o lucro. Não tens internet nem impressora? Desenrrasca-te...

Socorro! Tirem-me deste filme...

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Coisas que publico noutros sítios...

Foto by José Coelho

"Levantar-se uma pessoa pela manhãzinha de 9 de Outubro e ao abrir a porta deparar-se com um dia cinzento-escuro... Finalmente a chuva? Nãããoooo... É o fumo negro dos incêndios que lavram no centro do país e encobre o sol por completo, tira a visibilidade e espalha por toda a parte um horrível odor a queimado. Numa época do ano em que deveria sentir-se sim o odor de terra molhada e a ser fecundada pelas sementeiras do outono, decididamente os deuses enlouqueceram de vez!"

domingo, 8 de outubro de 2017

Carta para a minha Mãe...


Mãe…

Hoje seria o dia do teu aniversário se estivesses ainda connosco. Mas mesmo não estando já cá, o dia 8 de Outubro há-de ser para sempre o dia em que nasceste. Quantos anos farias? É irrelevante. No meu coração continua a ser lembrada a tua força anímica, a tua bondade e coragem, mas, sobretudo, aquele teu sorriso fácil como o da fotografia que propositadamente escolhi para compor este meu texto. Uma foto que foi feita pelo teu neto Pedro à mesa das refeições em nossa casa e que conseguiu captar na perfeição o teu semblante habitualmente descontraído e feliz. É assim que quero lembrar-te sempre.

Se não tem sido fácil esquecer-me do sofrimento por que te vi passar nos últimos meses da tua vida, tenho no entanto plena consciência que tudo quanto humanamente esteve ao nosso alcance e nos foi possível fizemos, para tentar ajudar-te e minimizar o teu desconforto. Sofri contigo como nem imaginas. Doía-me profundamente assistir impotente à tua agonia lenta, dolorosa e irreversível mas o teu coração tinha tanto de doce como de resistente e não se rendeu facilmente, como tu também nunca te rendeste às tempestades e rudezas da vida que não foram poucas.

A ti devo tudo o que sou. Na humildade do teu analfabetismo foste melhor professora do que muita gente letrada que conheço. Os livros de onde nos ensinavas eram unicamente os exemplos diários e permanentes que nos transmitias, repletos sempre de impecável conteúdo. Dona e senhora de grandes virtudes, o asseio e a arrumação eram a tua mais forte característica. Foste sempre de um brio excepcional como dona de casa, esposa e mãe. Trabalhaste continuamente durante toda a tua vida ajudando tudo e todos, por isso foste, inequivocamente, o pilar fundamental da nossa família. Eras também promotora e praticante da mais absoluta honradez e seriedade. Mereceste sempre, por tudo isso, a amizade o respeito e o carinho de toda a gente que te conhecia. 

Todos os dias me lembro de ti, Mãe. E sinto tanto a tua falta. A minha vida desabou por completo no dia 28 de Julho de 2014. Não por ter sido surpresa pois era um fim anunciado há tempo suficiente para estarmos preparados. Mas não é assim. Percebi nesse dia que nunca estamos e nunca estaremos preparados para perder quem nos trouxe ao mundo. E se de verdade me doeu muito a partida do meu pai e teu companheiro de quase toda a tua vida, porque me doeu terrivelmente sim, verdade é também que a tua partida me doeu infinitamente mais. Ele também perdeu a mãe dele e minha avó Adelina e por isso sei que, onde quer que esteja, o Pai António Coelho me entende.

Se antes ia regularmente ao cemitério, hoje que devia ir mais, vou menos. Ainda não consegui fazer o luto de ti por completo e fiquei demasiado perturbado as poucas vezes que lá fui. E tu sabes que eu até não sou de muitas pieguices. Mas fui sempre muito agarrado a ti, Mãe. E tu a mim também. Amava-mo-nos infinitamente um ao outro. O momento mais doloroso da minha vida ocorreu na casa mortuária algumas horas depois de teres partido. A família tinha ido não sei onde fazer não sei o quê e fiquei só eu, da família próxima, à tua cabeceira, embora a sala estivesse cheia de gente vizinha e tua amiga que quis estar ali a acompanhar-te.

De súbito um pranto incontivel e profundo brotou finalmente da minha alma meio estupidificada desde as três da tarde quando deste o teu ultimo suspiro agarrada à minha mão e à mão da mana Joaquina. Acho que só naquele momento me dei finalmente conta que te tinha perdido para sempre. E desatei a chorar perdido de dor e angústia durante muito tempo sem conseguir e sem querer conter-me. Só me lembro de a nossa vizinha Joaquina Brites se ter levantado da sua cadeira bastante comovida para me vir confortar dizendo-me muito baixinho “não chores já mais Zé Manuel, a tua Mãe deixou de sofrer e está agora em paz”.

Foi tão duro, Mãe.

Cá em casa o teu quarto mantem-se como era quando tu o habitavas. E os teus “santinhos” e as demais “coisinhas” que eram tuas, continuam na cómoda do quarto algumas, na estante do meu escritório outras. Até os caramelos de café que me trazias sempre continuam guardados num frasco de vidro aqui ao lado das tuas outras coisas porque ainda não consegui deitá-los fora pese embora três anos depois já não se devam poder comer. É, acho eu, uma forma de te sentir ainda perto de mim.

Um dia vou conseguir diluir mais este sentimento de profunda perda. Será talvez apenas uma questão de mais algum tempo. Mas até agora ainda não consegui. E hoje é o dia do teu aniversario natalício, Mãe. Onde quer que estejas e acredito que seja junto do meu pai, dos meus avós, dos meus tios e primos, obrigado pela Mãe maravilhosa que sempre soubeste ser. Como não posso cantar-te os parabéns, deixo no seu lugar e em tua memória um verso lindo que adoro mas não sei quem escreveu:

Se Deus atendesse um dia,
minha prece ingénua e doce,
quem fosse Mãe não morria,
por mais velhinha que fosse.

Voltaremos a ficar juntos Mãe e então será para sempre. Um beijo repleto do carinho imenso que punhas em cada um dos muitos que me deste durante toda a tua vida, felizmente para mim...

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Bom fim de semana...


E quando damos conta, já passou...

Hoje a Francisca já na escola e a Mariana na pré...


A idade de ser feliz


Existe somente uma idade para a gente ser feliz.
Somente uma época na vida de cada pessoa
em que se pode sonhar e fazer planos,
e ter energia bastante para realizá-los,
a despeito de todas as dificuldade e obstáculos.

Uma só idade para a gente se encontrar com a vida
e viver apaixonadamente,
com o entusiasmo dos amantes
e a coragem dos aventureiros.

Fase dourada em que se pode criar e recriar a vida
à imagem e semelhança
dos nossos desejos;
e sorrir e cantar, e brincar e dançar,
e vestir-se com todas as cores
e experimentar todos os sabores
e desfrutar de tudo com toda a intensidade,
sem preconceito nem pudor.

Tempo em que cada limitação humana
é só mais um convite ao crescimento;
um desafio a lutar com toda energia
e a tentar algo novo, de novo e de novo
e quantas vezes for preciso.

Essa idade tão especial e tão única
chama-se presente.

E tem apenas a duração do instante que passa…


Geraldo Eustáquio de Souza

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

E bom feriado...


O melhor de dois mundos...


Foto José Coelho (da varanda do meu quintal)


Gosto de me levantar com o sol porque tenho o privilégio de morar ao cimo da mais alta colina da aldeia e a minha casa concebida com mestria pelo meu pai permite que esteja simultaneamente dentro da povoação e no meio do campo. Explico porquê. As traseiras são voltadas para o nascente. A parede do quintal divide a minha propriedade de uma rústica paisagem com princípio na Tapada da Rabela e continua depois, tapada após tapada até à fronteira do rio Sever e Espanha adentro até à linha do horizonte lá muito, muito longe. Já no lado oposto, a frontaria da casa, voltada ao poente, confronta com a urbanizada Rua Fernando Namora, em absoluto contraste com o outro lado.

Assim, se saio pela porta da frente, fico no meio da aldeia. Se saio pela porta do quintal, estou no meio do campo. Para completar este cenário único, sou brindado cada manhã com a ímpar suavidade dos tons laranja que o sol projecta no céu a elevar-se por detrás dos penedos da Anta, para lá da Murta, acompanhado pelo musical dlim-dlom-dlem de melodiosos chocalhos e campainhas do gado que pastoreia pelos campos em redor da aldeia e que a essa hora parecem ainda mais melodiosos. Como se não fosse já suficientemente belo, há também o chilreio da passarada no arvoredo, enquanto um bando de rolas turcas todos os dias vem pousar na vedação do quintal à procura das migalhas do pão que vai nas toalhas de mesa que a dona da casa sacode sempre para a terra, ou também para matarem a sede a beber nos baldes de água fresca que diariamente para esse efeito coloco à sombra das árvores e da casa, durante todo o verão.

Não há dinheiro que pague estes momentos. Quando ouço falar de paz para aqui, paz para acolá, penso de mim para mim que tenho a sorte de conhecer e cumprimentar na primeira pessoa, diariamente, essa falada senhora. A dona Paz. Vive e reina por aqui em cada madrugada, em cada nascer e por do sol. Se quiserem conhecê-la basta virem até cá e deixarem que ela se instale no vosso coração, uma vez que não é visível aos nossos olhos e apenas conseguimos senti-la no nosso íntimo. Mas há outros lugares onde a podemos encontrar para além do meu quintal, da minha aldeia, dos bonitos campos cheios de boas lembranças e vestígios milenares por onde caminho com frequência. Por exemplo, no castelo de Marvão. Experimentem ir lá sem pressa e esperem pelo por do sol. Ficarão, posso assegurar-vos, absolutamente deslumbrados.

Passe a publicidade à Vila Medieval mais bonita de Portugal, vou voltar de novo para o melhor dos meus dois mundos que é o privilégio de viver no meio da aldeia e simultaneamente no meio do campo desde que nasci. Se das janelas do primeiro andar voltadas ao nascente me é permitido vislumbrar mais de metade da minha freguesia até à fronteira com Espanha assim como a sua paisagem de sonho, também das janelas voltadas ao poente e para o meio da aldeia a paisagem não é menos magnífica. Um cuidado laranjal mesmo em frente faz o outro lado da rua. Imaginem o perfume que dali se desprende no início da primavera. É algo único e indescritível. Sublime e envolvente o aroma que exala de milhares de alvas flores que se espalha por toda a rua e nos faz sentir no paraíso, pois se ele existe, só pode ser idêntico a isto.

Mas não só.

Mais uma casa a seguir à minha, e, poucos metros acima, o elegante lavadouro público ainda em plenas funções apesar de já pouco utilizado, porque o tempo foi levando as antigas lavadeiras e não voltou a trazer outras. É o último edifício do lado direito da "minha" Rua Fernando Namora que entronca a seguir na Avenida Doutor António de Matos Magalhães onde já não mora também quase ninguém, apesar de as casas continuarem muito cuidadas. Essa é a pior parte deste meu mundo de sonho. O sucessivo fecho de portas e janelas que não voltam a abrir-se diariamente, onde já nunca se vê qualquer luz à noite. 

Mas hoje não quero falar nisso. Num discurso oposto ao que escrevo normalmente sobre o quanto me dói a desertificação que reina por cá, prefiro hoje agarrar-me ao lado bom e deixar no vosso e no meu espírito quanto vale a pena – ainda – acordar cada manhã num lugar assim: Na minha casa e na minha Beirã...

José Coelho
04.10.17

Coisas que leio...



Fiz mudanças na minha vida e nelas incluí algumas pessoas que eram priorizadas por mim e que hoje não são mais. Eu não disse que deixei de as amar, pelo contrário, sempre me foram muito importantes porém deixaram-me de lado pelas suas próprias razões. Há quem diga que é por falta de tempo, eu digo que é por falta de consideração, de zelo ou até por pensarem que não estão mais no mesmo degrau que a gente. Só sei dizer que isto já não me dói como antes e que nenhuma semente, por mais boa que seja, dá bons frutos se não for cuidada. A inconstância e o descaso faz com que qualquer laço afectivo se afrouxe, e, mesmo que se refaça, já nunca volta a ser como antes. Os bons amigos protegem-se da distância, da falta de tempo e do desamor.


Cecilia Sfalsin

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Boa semana...


A última? Não! A única...



Pronto. Acabou mais um ciclo e outro começa. Novas eleições autárquicas e outra campanha eleitoral com as nuances do costume, vencedores e vencidos, mais ou menos conformados, mais ou menos democratas, mais ou menos extremistas na arte de denegrir os adversários. Maledicência quanto baste e a superar sempre a razoabilidade, muitas promessas de cada candidatura daquelas que raramente são integralmente cumpridas, tão raramente quanto nelas o povo acredita já.

Escrevi por aqui algures que não me seduz a política apesar de já ter sido formalmente convidado a integrar listas partidárias em eleições autárquicas anteriores. Não recusei por comodismo nem por me achar incapaz de servir a população da minha freguesia pois quem me conhece sabe que sou capaz. A única razão que me mantém fora desses projectos é o facto de ter plena consciência que já fiz bem a minha parte no que concerne a serviço público, fardado que andei desde os 17 – ainda no tempo da outra senhora – até aos 53 anos – já no tempo desta – para servir o meu país que quer numa quer na outra, foi sempre o mesmo.

Primeiro no exército como voluntário que me valeu mais de um ano a deambular por Elvas, Lisboa, Estremoz e Santa Margarida, seguindo-se a mobilização para a guerra a sério durante vinte e sete longos meses em África onde quase ia deixando a pele. Depois e porque não havia outra escolha já, o ingresso na carreira de agente de uma força de segurança até à aquisição das condições – tempo de serviço, claro – para a passagem à reforma prevista na lei. Entendo por isso que nada mais me pode ser exigido em prol do bem comum, uma vez que já dei de mim bastante durante mais de dois terços da minha vida.

Não deixo contudo de cumprir sempre os meus deveres cívicos e nunca prescindi de comparecer nas assembleias de voto para expressar a minha escolha consciente. Vou votar sempre em conformidade com a minha convicção e respeitando cada candidatura, concorde ou não com elas. Para mim cada candidato merece ser considerado, porque, se eu não estou disponível, há quem esteja. E quem dá a cara, quem se disponibiliza para servir os seus concidadãos, seja de que força politica for, merece ser respeitado.

Infelizmente aquilo a que assistimos campanha após campanha eleitoral é um autêntico e deprimente circo com a candidatura A a denegrir a candidatura B ou C, com protagonismos lamentáveis que não se coíbem de vasculhar a vida anterior e possíveis deslizes do adversário para o denegrir e lhe ganhar vantagem. Eu é que sou bom, ele é assim e assado. Lamentável. E o pior é que o exemplo vem de cima. Vemos e ouvimos nos noticiários televisivos diários que nos entram casa adentro coisas do arco da velha, exemplos do mais elementar primitivismo e falta de pudor democrático.

Depois, como somos exímios a imitar o que deveria ser inimitável, por estes meios afastados e isolados do Portugal profundo os maus exemplos multiplicam-se e assumem por vezes contornos de mesquinhez. E a campanha que culminou no acto eleitoral de ontem dia 1 de outubro de 2017 não podia ser diferente. E não foi. Uma vez mais fui surpreendido pela negativa. Alguém que eu julgava conhecer muito bem, teve, a meu ver, o comportamento e a atitude mais deplorável a que alguma vez me lembro de ter assistido. Se todos temos direito a exprimir pública e livremente a nossa opinião, há, no entanto, regras que nenhuma liberdade nos dá o direito de ultrapassar.

Li algures que existem pessoas que se julgam a última bolacha do pacote. Não sei bem porquê. Talvez porque se consideram melhores que as outras? Talvez… Cada pessoa interpreta o que escreve – ou o que lê – à sua maneira e da forma que mais lhe convém como é óbvio. Só que a mim parece-me agora e depois de tudo aquilo a que assisti nesta última campanha eleitoral que também existem pessoas que não se julgam apenas e só a última bolacha do pacote! Qual quê. Muito para lá de última, sentem-se... 

A ÚNICA.