quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

De Um Senhor Poeta e Ilustre Marvanense...

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Folha Caída


Sou um velho sem valor,
Sou um estorvo na vida…
Vou perdendo o meu vigor,
Sou uma folha caída!


Tudo aquilo que fui já
Fui perdendo a pouco - e pouco,
Vou até ficando louco
Com o que a vida me dá!
Então de há tempos p’ra cá
Penso na vida a rigor,
Ela me faz o favor
De me deixar ir vivendo,
No entanto vou dizendo:
Sou um velho sem valor.


Já fui veloz, fui ativo,
Hoje sou lento e pesado;
Fui bem visto e invejado,
Hoje sou mais do passivo!
Cativei, já não cativo,
Fui tudo em certa medida,
Minha fama vai perdida
Com o avançar da idade,
Perdendo a mobilidade
Sou um estorvo na vida.


Hoje vivo da saudade
Dos bons tempos que deixei,
Desses dias que passei
Cheios de felicidade!
Belos tempos de verdade
Tão cheios de vida e cor!
Belos momentos de amor
Que passaram de repente
E agora lentamente
Vou perdendo o meu vigor.


Nos anos que fui contando
Desde o dia em que nasci,
Tudo aquilo que aprendi
Fui aos outros ensinando;
E sem saber como e quando
Terei a missão cumprida,
Levo os anos de vencida
E a planta verde que eu era
Já não tem mais primavera
Sou uma folha caída.


2016.01.27
José da Silva Máximo

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Coisas que leio... (e subscrevo na íntegra)

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Os outros donos disto tudo

Houvesse um Ali Babá na história e o título desta crónica era outro. Mas não há. Os 30 deputados que pediram ao Tribunal Constitucional para verificar a constitucionalidade da redução das subvenções vitalícias optaram por fazê-lo pela calada. Entende-se porquê. O despudor é tão grande que até eles o perceberam.

Quem recorre ao Tribunal Constitucional para contestar a validade de uma qualquer lei ou norma à luz da Constituição costuma fazê-lo com prévio e bem audível anúncio público e como prova de empenho numa luta por uma causa que considera justa.
Tivemos muito disso nos últimos quatro anos, como sabemos, com ameaças consequentes de pedidos de verificação de muitos diplomas que saíram da maioria PSD/CDS.
Mas desta vez foi diferente. Os 30 deputados que pediram ao Tribunal Constitucional para verificar a constitucionalidade da redução das subvenções vitalícias para titulares de cargos políticos optaram por fazê-lo pela calada, em silêncio e na esperança de que nunca se soubesse quem eram os autores de tal iniciativa. Entende-se porquê. O despudor é tão grande que até eles o perceberam.
O TC analisou e decidiu. Depois, os jornalistas fizeram o seu trabalho e hoje sabemos quem são. A lista está aqui, no final deste artigo. Devemos conhecê-la e guardá-la.
Há ali gente dos dois principais partidos, PS e PSD. E haverá ali de tudo em termos de seriedade, competência, entrega à causa pública, honestidade financeira e intelectual e o mais que quisermos. Uma lista de 30 é suficientemente abrangente para lá ter de tudo.
Mas uma coisa, pelo menos, os une a todos: a ideia de que têm o direito a receber de forma vitalicia uma renda mensal paga pelos contribuintes equivalente a 80% do seu último ordenado só pelo facto de terem desempenhado cargos políticos durante pelo menos 12 anos. Isto independentemente de terem outras fontes de rendimento, pensões de reforma, ordenados, o que quer que seja. E é uma ideia tão forte, esta de que o privilégio desproporcionado é um direito, que até estiveram dispostos a lutar juridicamente por ele, dando-se ao trabalho de o contestar junto do TC.
É uma falta de vergonha sem nome. Sobretudo porque o contexto em que aconteceu é o que sabemos. Nos últimos anos, foram milhões os portugueses que viram cortados direitos que davam como adquiridos: salários, reformas, subsídios de subsistência, indemnizações em caso de despedimento e tudo o que sabemos. Mas também porque a norma que constava do Orçamento do Estado de 2015 e que o TC agora declarou inconstitucional salvaguardava a eventual necessidade dos beneficiários da subvenção vitalícia: só era cortada a quem não tivesse rendimentos superiores a 2.000 euros por mês. Apesar disso eles avançaram. Chocante, não é? Mas aconteceu.
Não diabolizo o TC, que tem que fazer aplicar a Constituição que existe, de acordo com o entendimento do seu colectivo, e não outra qualquer que não temos. Mas não deixa de ser curioso que muitos dos que aplaudiram as decisões do TC que reverteram muitas medidas de austeridade nos últimos anos e acusaram o governo anterior de estar a governar contra a Constituição sejam agora os mesmos que criticam esta decisão dos juízes. Incluo aqui o PCP e o BE que estão contra a existência da subvenção vitalícia, posição que subscrevo na íntegra. Mas temos que apelar aos deputados destes dois partidos que sejam consequentes com essa sua posição: apresentem no Parlamento uma lei que acabe com ela de vez para todos e, se necessário for, avancem com uma proposta de revisão da Constituição que o permita. Passem das palavras aos actos que a causa bem o merece.
Em 2005, o Governo de José Sócrates deu um enorme contributo para se acabar com este absurdo privilégio ao legislar que ele terminaria daí para a frente. Resta agora completar o serviço e terminar com as sinecuras antigas que ainda sobrevivem e que tão bem simbolizam o chamado Bloco Central dos interesses. Um país que obriga os contribuintes a um pagamento vitalício a Armando Vara e Dias Loureiro pelos bons serviços prestados ao Estado - só para citar dois casos que beneficiavam dele em 2013 - não é um país decente. É um sítio que teima em manter-se mal frequentado.

Paulo Ferreira in SAPO 24

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Tal & qual...



Curto e grosso...



Coisas que leio...

Ainda ontem era um miúdo e hoje já sou avô...

Ser velho

Ser velho, é estar quase no fim
de um caminho percorrido.
Ser velho, é para mim
ter muitos anos vivido.

Ser velho, é termos chegado
quase ao fim da caminhada.
Ser velho, é termos andado
E estar quase no fim da estrada.

Se és novo nunca te rias
ao passar por um velhinho.
Sem dar por isso tu estás
seguindo o mesmo caminho.

Vais ver como o tempo passa
sem licença de ninguém.
Mais tarde, não achas graça
pois estás velho também.

Desconheço o autor

Bora lá então mudar...


domingo, 17 de janeiro de 2016

Bom domingo...


Mil e uma recordações...


... na simplicidade de uma foto. 

A casinha onde nasci, pobre mas nossa;
O comer feito ao lume pela minha mãe;
O meu pai sentado ao canto da chaminé a fumar o seu cigarrito de onça (Duque) ao serão;
O ronronar do gato ao borralho;
A trempe para a sertã (e também para o assador de castanhas que conservo velhinho mas intacto);
As cadeirinhas de assento de buinho para a gaiatada que resistiram ao tempo e ainda por aí sobrevive uma ou outra;
O ambiente acolhedor de lar e de aconchego, nas noites frias de inverno (mas também nas de verão);
A família, a harmonia, a benção de estarmos vivos, felizes e (ainda) todos juntos;
E tantas, tantíssimas outras, doces, dulcíssimas, lembranças!

Era tão feliz e não sabia. 

Oh meu Deus que melancolia enorme me invadiu de repente...

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Coisas que leio...


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Filho predilecto

Perguntaram a uma mãe qual era seu filho preferido,
 aquele que ela mais amava.
 E ela, deixando entrever um sorriso, respondeu:
 "Nada é mais volúvel que um coração de mãe.
 E, como mãe, lhe respondo: o filho predileto,
 aquele a quem me dedico de corpo e alma,
 É o meu filho doente, até que sare.
 O que partiu, até que volte.
 O que está cansado, até que descanse.
 O que está com fome, até que se alimente.
 O que está com sede, até que beba.
 O que estuda, até que aprenda.
 O que está com frio, até que se agasalhe.
 O que não trabalha, até que se empregue.
 O que namora, até que se case.
 O que casa, até que conviva.
 O que é pai, até que os crie.
 O que prometeu, até que cumpra.
 O que deve, até que pague.
 O que chora, até que se cale.
 E já com o semblante bem distante daquele sorriso, completou:
 O que já me deixou...
 ...até que o reencontre...

 Erma Bombeck

Mais vale tarde...



sábado, 9 de janeiro de 2016



Coisas que leio...

 
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A humilhação quinzenal
José Soeiro
08.01.2016 às 12h12 – In Expresso
 
Perder o emprego é quase sempre uma desgraça. Não é apenas o rendimento que se perde, é o quotidiano que se esfrangalha, é o isolamento que cresce e o sentimento de utilidade que fica em causa.
 
Quem recebe o subsídio passa ainda a ter de atestar, a cada quinze dias, a permanência na sua morada oficial, apresentando-se no centro de emprego, na Junta de Freguesia ou numa instituição que tenha protocolo com o Instituo de Emprego. Como se tivesse cometido um crime e fosse arguido com termo de identidade e residência. O não cumprimento, por duas vezes, da obrigação da apresentação quinzenal, resulta na anulação da inscrição no Serviço de Emprego e na perda do direito ao subsídio de desemprego.
 
Para que raio serve esta humilhação? Por que razão o IEFP, que tem como missão apoiar os desempregados e encaminhá-los para uma nova função compatível com as suas competências profissionais, os trata como suspeitos?
 
Desde há uns anos, com a disseminação do conceito de “empregabilidade”, introduziu-se uma lógica de culpabilização do desempregado pela sua situação. Multiplicaram-se os dispositivos que visam a “ativação dos beneficiários, passou a punir-se os desempregados diminuindo o valor do subsídio ao longo do tempo, como se a situação de desemprego não resultasse de escolhas de política económica, mas sim de défices individuais e como se a solução para o desemprego pudesse ser imputada exclusivamente aos próprios desempregados. Foi neste contexto que surgiram as famosas “apresentações quinzenais”.
 
Dizem os seus defensores que é um mecanismo de combate à fraude. Mas os desempregados, os técnicos de emprego e os profissionais das Juntas sabem que é apenas um calvário burocrático humilhante, cansativo e inútil. Até porque a justiça e o controlo na atribuição do subsídio de desemprego já estão garantidos por uma dezena de outras obrigações impostas na lei, cujo não cumprimento implica a perda de subsídio: comunicar a alteração de residência e a ausência do território nacional; aceitar o chamado “emprego conveniente” e o perverso “trabalho socialmente necessário”; aceitar a formação profissional, o plano pessoal de emprego, as medidas ativas de emprego; provar que se procurou “ativamente” emprego, mostrando mails e carimbos das empresas; comparecer às convocatórias do centro de emprego e às entidades para onde foi encaminhado por aquele.
 
Em Portugal, tristemente, a maior parte dos desempregados já não tem sequer acesso ao subsídio de desemprego, porque teve trabalhos precários que não lhes permitem aceder àquela prestação ou porque estão desempregados há demasiado tempo e o subsídio já terminou. Nos centros de emprego, escasseiam as ofertas de trabalho. Perante isto, conceber os desempregados como uma espécie de preguiçosos, obrigados a demonstrar que procuram trabalho como quem procura água no deserto e a fazerem prova de vida quinzenal não serve a fiscalização. É apenas um desrespeito e uma humilhação inútil que as pessoas não merecem. Devia acabar.

Bom fim de semana...


segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Venho dar-vos os Bons Anos... (assim diziam os antigos)


Selfie by Pedro Coelho em Setúbal 25-12-2015

Sem tempo para escrever desde a ante véspera do Natal neste "ponto de encontro" virtual, por motivos (creio) facilmente entendíveis, uma vez que, por excelência, esta é a época do ano especialmente dedicada ao convívio familiar no recato e intimidade de cada lar. Desde que me conheço foi sempre a festa maior da nossa família, talvez aquela que mais enche de gratas recordações a minha já muito recheada memória. Não devo ser o único.

Este ano eu e a minha Maria fomos até Setúbal consoar com a nossa netinha primogénita, os seus papás e os seus outros dois vôvôs, os nossos excelentíssimos compadres. Foi muito agradável no sossego de um cómodo e bonito apartamento, onde, apesar da modernidade, não falta sequer uma belíssima lareira com lume de chão (sem portas de vidro) para que as labaredas de azinho pudessem aquecer (e enriquecer) ainda mais o nosso Natal.

Foto by Pedro Coelho

Acho extraordinário que num prédio moderno, no meio da cidade, o seu arquitecto tenha concebido, em todos os andares, uma sala de jantar com uma lareira à antiga de lume no chão, à frente da qual nos podemos sentar, desfrutar as brasas e as chamas ao vivo, pegar na tenaz para ajeitar os madeiros, ver o fumo subir pela chaminé sem nos incomodar, sem que um bafo sequer saia de lá para fora. Aposto que o tal arquitecto, seja ele quem for, tem no seu ADN genes do meu Alentejo. E sem o conhecer, dei-lhe mentalmente os meus parabéns.

O Natal passou e regressámos a casa para preparar a chegada do novo ano. Expectativas? Poucas. Se calhar, nenhumas. Já não acredito em quase nada. Infelizmente. E se dúvidas surgirem, basta-me pensar nos quatro anos antecedentes e na derrocada dos direitos que se foram, dos valores e princípios arrastados pela lama e ruas da amargura, barbaridades sem fim a que impotentes assistimos e as consequências que descambaram em muitas centenas de milhares de famílias. 

Pessoas como nós. 

Podia ter sido eu. 

Podias ter sido tu. 

Podia ter sido ele, nós, vós, eles.

Será que já passou?

Será que vai voltar?

É aflitivo viver numa época assim. 

Ninguém merece.

Mas deixemos a tristeza e o medo do amanhã, mesmo depois de o doutor Anibal, o ainda ilustre representante máximo de todos os portugueses nos ter amedrontado com o seu discurso "do tempo de incerteza". Chegou 2016. Dificilmente será pior que o 2015, ou o 2014, ou 2013... 
É apenas mais um. 
Andemos p'rá frente que atrás vem gente! 

Cá em casa demos-lhe as boas vindas uma vez mais em reunião de família. A família possível. A que mora mais próxima e que é já tão pouca:
A netinha caçula mais os seus papás e a sua maninha.  
A mana Jaquina mai-lo cunhado Zé e a sobrinha Ana Lúcia.
A tia materna que toda a vida foi cá de casa. A nossa Júlia. Quase mais irmã do que só uma tia.
A lareira acesa, a mesa composta e gente feliz. Conforto, alimento e amor fraterno. Que mais é preciso? 

Agradeço ao Senhor por me  conceder quanto me faz falta: Este confortável Lar, o Pão de cada dia sobre a nossa mesa, esta maravilhosa Família, alguma Saúde, bastante Serenidade e muita Paz. 

Tenham um excelente 2016