sábado, 31 de dezembro de 2016

Feliz 2017...

 Foto by Pedro Coelho in 2016-12-24

Para mim, 2016 foi um ano para esquecer. Vamos ver se 2017 vem com melhores intenções. Feliz Ano Novo Família & Amizades...

domingo, 25 de dezembro de 2016

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Boas Festas (e Boas Notícias)...

Foto by Pedro Coelho in 24.12.2012

Este é Menino Jesus que desde o Natal de 1944 tem vindo a ser adorado e beijado pelas gerações de Beiranenses que assistiam à Missa da Meia Noite (missa do galo), depois também no final da Missa do Dia de Natal e ainda durante todo o Tempo Litúrgico do Natal até aos Reis.

Belíssima e de uma perfeição espantosa, esta imagem do Deus Menino recém-nascido em tamanho natural prima pela beleza e esmerada conservação, apesar das suas mais de sete décadas de existência. Foi pertença da Família Vivas que só o trazia para exposição e adoração na igreja paroquial durante a época natalícia.

Contudo, no passado dia 16 de Julho de 2016, Dia da Padroeira, num gesto muito generoso e digno da maior gratidão, o Menino Jesus dos Natais da Beirã foi definitivamente oferecido  à igreja pelas descendentes - bisnetas - daquela ilustre Família, passando desde então a fazer parte integrante do seu espólio religioso.

Relembro que foi D. Manuel Vivas Pacheco que mandou erguer este templo e o doou posteriormente à Diocese de Portalegre e Castelo Branco para prática do culto religioso. Foi essa doação que esteve na origem da criação da Paróquia da Beirã.

Entretanto, no passado mês de Novembro de 2016 e por empenho do nosso novo Pároco, a Diocese de Portalegre e Castelo Branco decidiu por bem doar o templo à Fábrica da Igreja Paroquial da Freguesia de Beirã - Pessoa Colectiva Religiosa, tendo para esse efeito sido elaborada a competente escritura no cartório respectivo, razão pela qual a Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Beirã pertence agora já à sua Paróquia.

É caso para dizer que o Conselho Económico Paroquial, do qual o Revº Pároco é Presidente, eu sou tesoureiro desde 2001, sendo vogais a D. Maria José Martins e a D. Maria da Piedade Marques, tivémos, no presente ano, duas grandes prendas antecipadas de Natal. A imagem do Deus Menino e a transferência definitiva de propriedade da igreja para a comunidade católica que nela se acolhe.

Obrigado às bisnetas do ilustre fundador pela oferta do Menino Jesus dos Natais, obrigado também ao Senhor Bispo da Diocese pela justa doação do templo, obrigado ainda ao nosso novo Pároco que com o seu dinamismo e empenho transformou este sonho em realidade. 

Para eles e também para todos vós...

BOAS FESTAS

sábado, 17 de dezembro de 2016

Coisas q'escrevi...

Casa da Avó nos Barretos onde a Mãe nasceu
Foto by José Coelho


A Avó Francisca Neves


Filhotes:

Vou falar-vos hoje da vossa avó Francisca da Silva Neves e da imagem que guardo dela porque a conheci muito bem apesar de ela ter partido para sempre no dia 15 de julho de 1971 vitimada por uma trombose. Era mais conhecida na terra por Chica Loucena, apelido que terá “herdado” do seu padrasto e era um amor de pessoa, senhora de muito respeito, bondosa, corajosa, sociável e trabalhadora. Era mesmo o tipo de avó que qualquer neto gosta de ter e aposto que vocês iriam de certeza dar-se muito bem com ela.

Foi, como sabeis, abandonada pelo vosso avô Antero que a deixou sozinha com os seis filhos de ambos e dos quais só o tio António e a tia Maria Júlia eram já moços que algum tempo depois casaram. A vossa tia Manuela, menina ainda, teve por esse motivo que ir para Castelo de Vide servir como criada a dona Aurora do Morais onde ficou até se casar, enquanto a tia Maria José foi acolhida pela tia Maria Jacinta, irmã da Avó Francisca que vivia em Espanha. E por lá casou e ficou também definitivamente.  Em casa apenas ficaram a vossa mãe por ser a mais novinha, assim como o falecido tio Joaquim que após o serviço militar ingressou na PSP ficando a viver por Lisboa mas sem nunca deixar de ajudar a mãe e a irmã a quem vinha regularmente visitar.

A Avó Francisca teve por isso que ser a mãe e o pai da vossa mãe desde que ela nasceu. Coincidência – ou talvez não – o avô Antero saiu de casa precisamente no dia em que a sua filha Maria Manuela nasceu. E nunca mais regressou, porque, entretanto, terá arranjado outra mulher na zona de Torres Novas com a qual se juntou e passou a viver. A esse respeito ouvi algumas vezes comentários que lhe eram pouco abonatórios, pelo facto de ele ter deixado a mulher com quem casou e os seus filhos legítimos para ir criar os filhos dessa outra companheira que não eram filhos dele. Mas quanto a isso pouco mais sei e não faço qualquer juízo porque entendo não o dever fazer.

Contudo e por outro lado, também sempre ouvi dizer que a família do avô Antero, especialmente a mãe dele a bisavó Deodata, nunca deixou de ajudar como podia, a nora e os netos, apesar das poucas possibilidades que ela própria também tinha naquele tempo de miséria geral para todas as famílias de camponeses que viviam, sem qualquer excepção, no limiar da pobreza. Segundo se dizia a ti Deodata estimou sempre a nora e os netos, deduzindo eu por isso que ela não devia talvez ser muito de acordo com o abandono a que o filho os tinha votado.

Conheci ainda melhor a vossa Avó Francisca quando a tive como camarada e mestra pois foi ela que me ensinou a trabalhar nos secadeiros do pimentão e também na fábrica da conserva de massa do mesmo produto na herdade do Pereiro em campanhas sazonais que algumas vezes lá fui fazer. Nesse tempo, a vossa mãe, muito novinha ainda, frequentava a escola primária e ia almoçar à cantina escolar gratuitamente, como todas as outras crianças filhas dos muitos trabalhadores daquela grande casa agrícola.

O monte propriamente dito era então um povoado de tamanho razoável onde diariamente trabalhavam mais de duzentas pessoas, parte das quais viviam em instalações colectivas que se compunham de três casões. Um para as mulheres do trabalho ao dia, outro para homens também jornaleiros ao dia, e outro ainda que era o casão dos justos ao mês. Mas a maior parte era composta por famílias que moravam todo o ano no bairro habitacional construído de raiz para os trabalhadores, onde não faltava sequer uma creche para cuidar dos mais pequenitos, uma escola do ensino básico para os que atingiam a idade escolar, bem como uma cantina que servia o almoço a todas as crianças enquanto os pais trabalhavam.

Para além da grande aldeia que rodeava o palácio do Pereiro havia ainda também a Fadagosa, a poucas centenas de metros do monte, antigas termas balneares de águas sulfurosas muito conceituadas nos finais do século XIX, inicios do século XX e cujas instalações pertenciam à herdade, mas, por já estarem desativadas desde meados de 1950, todo o enorme complexo que as compunha foi aproveitado para moradias de mais famílias de trabalhadores do Pereiro e o antigo casino de jogos transformado em taberna-mercearia onde os homens se entretinham e as mulheres faziam os seus avios. Existia ainda na Fadagosa, embora neste caso nada tivesse a ver com a herdade, um posto da guarda fiscal cujos elementos e suas famílias faziam parte integrante da comunidade que habitava o antigo complexo termal, pagando obviamente a renda ao dono da herdade.

A Avó Francisca e a vossa mãe habitavam, durante a semana, no tal casão das mulheres. Ali comiam e pernoitavam com mais outras trabalhadoras de longe e só aos sábados à noite recolhiam às suas casas nas aldeias próximas. A Avó morou nos Barretos nessa casa que fotografei um dia que a vossa mãe me lá levou e que ilustra este texto. E, por casualidade, tinha um profundo vínculo de amizade com a vossa Avó Florinda. Visitavam-se frequentemente uma à outra, como se fossem irmãs. Também por isso, eu a conheci tão bem.

Percebes agora Pedro Coelho aquelas lágrimas da tua mãe quando a levaste ao Pereiro e ela se deparou com o “seu” antigo casão em ruínas? É que foi ali que se escreveram algumas páginas felizes da sua vida, enquanto menina e moça! Naquela lareira central da habitação, agora um monte de escombros, deixava a Avó Francisca, pela madrugada, antes de sair para o trabalho, o café e as migas de pão ao redor do lume para que não arrefecessem e para a mãe tomar de pequeno almoço antes de ir para a escola. Na tarimba de madeira que rodeava as paredes dormiam as duas lado a lado com outras trabalhadoras e os seus filhos pequenos. Infelizmente hoje só restam ruínas por toda aquela herdade e muita saudade nos corações de quem lá viveu e foi feliz.

Entretanto o tempo passou, a mãe cresceu. Por essa altura, foi construída a fábrica de calçado Celtex  em Santo António das Areias. Em 1967 a Avó Francisca deixou a herdade do Pereiro para ir trabalhar na fábrica de conservas de frutas e vegetais que existe até aos dias de hoje naquela localidade, enquanto a vossa mãe, com apenas 13 anos, entrou para operária fabril da Celtex onde trabalhou até dezembro de 1979 e de onde só saiu para vir tomar conta de nós e da nossa casa quando eu fui colocado no posto de Castelo de Vide, já o Manel Coelho jogava à bola.

A Avó Francisca e a filha Maria Manuela, eram inseparáveis. E grandes, grandes amigas. Tornava-se perfeitamente visível a cumplicidade e o carinho que existia entre as duas. A pouco e pouco  a vida de ambas foi melhorando bastante. Saíam de casa juntas de manhã cedo, regressavam novamente juntas à tarde, depois do dia de trabalho. Os ordenados passaram a ser já os das duas, e nas indústrias para onde se tinham mudado eram um pouco melhores que os da herdade. Por tudo isso, as dificuldades estavam bem mais atenuadas e a avó Francisca já conseguia até colocar de parte algumas poupanças a pensar no futuro.

Eis senão quando, crueldade das crueldades, neste cenário de merecido sossego e harmonia familiar, a Avó Francisca foi acometida de uma trombose num tranquilo momento em que se arranjava para ir acompanhar a filha a um baile. Caiu inanimada e não mais se levantou vindo a falecer oito dias depois no hospital de Portalegre. Tinha 56 anos de idade. Que injusto, não é verdade? Mas a vida é mesmo assim. Imprevisível, madrasta, e, quantas vezes, mãe para uns, madrasta para outros.

A doce Avó Francisca que tantos e tão maus bocados deve ter passado, quer quando se viu sozinha cercada de filhos, quer quando teve que tomar a decisão de se separar de alguns deles para o bem de todos, bem merecia ter desfrutado de uma velhice abençoada e sem mais sobressaltos junto de quantos a amavam. Ter saúde, viver em paz, conhecer e dar colinho a todo os netos que com toda a certeza iria amar incondicionalmente e na medida exata daquele seu bondoso coração que tão bem sabia doar...



José Coelho in Histórias do Cota

Cumplicidades...

Foto original by Pedro Coelho 
Foto Rouge by José Coelho

Um sábado tranquilo...


quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

A Beirã acordou assim hoje...

Foto by José Coelho

Bom dia...

Imagem copiada do face

Coisas q'escrevi...

Imagem copiada do Google


O avô Antero Maria Servo


Meus filhos:

Gostava de poder escrever acerca deste vosso avô como escrevi acerca do avô António Coelho, mas tal não é possível, dado que também pouco sei. E desse pouco que sei, relativamente à sua conduta para com a vossa avó Francisca e muito particularmente em relação à vossa mãe, não sendo factos agradáveis de recordar, são, contudo, passíveis de voltarem a causar algum sofrimento, por irem tocar em sentimentos profundos de quem os viveu.

Assim sendo e seguindo aquela máxima que recomenda "se não tens coisas boas para dizer de alguém então deixa-te ficar calado" é isso mesmo que vou fazer. Guardar silêncio. Porque tudo o que aquele vosso avô fez durante a sua vida ou a forma como a conduziu, bem ou mal, foi da sua única e exclusiva responsabilidade. E quem somos nós, para o julgar?

Tenho sérias razões para acreditar que ainda em vida se terá arrependido e fui testemunha de que ele tentou emendar algumas coisas. Mas quem ele magoou mais profundamente não conseguiu dar-lhe essa oportunidade. E desde esse dia nunca mais o voltei a ver. Decerto que de todos os seus erros já prestou contas ao Criador, para junto do qual foi chamado há algum tempo, como sabeis.

Era filho de muito boa gente. Toda a sua família, aquela que por consanguinidade materna é também a vossa,  sem excepção alguma, é tudo muito boa gente. Em toda a acepção da palavra. E não conheço antecedentes nem precedentes que indiciem que alguém possa ter aprovado o seu comportamento como esposo da vossa avó, ou como pai da vossa mãe.

Além disso, nada do que ele possa ter feito em vida impede que continue a ser para sempre o vosso legítimo Avô materno. O vosso Avô Antero Maria Servo. Que descanse em paz...



José Coelho in Histórias do Cota

domingo, 11 de dezembro de 2016

Que bem escreve este senhor...

Imagem copiada do Google

Uma relação entre duas pessoas que se amam tem de se basear na capacidade de erigir um edifício. Pedra a pedra. Tijolo a tijolo.
Poucas obras de engenharia são mais complexas do que uma relação entre duas pessoas que se amam.

Nenhuma obra de engenharia é mais complexa do que uma relação entre duas pessoas que se amam.

Nada é mais exigente fisicamente do que uma relação entre duas pessoas que se amam.

Tem de haver uma entrega absoluta. Até à última gota. Para que cada pedra esteja no local certo. E por vezes há que caminhar quilómetros com essa pedra às costas para a colocar no local certo. Nem mais um centímetro à frente nem mais um centímetro atrás.

Cada pedra que constróis também pode ser cada pedra que destrói, que faz derribar todo o edifício.

Todas as relações são feitas de pedra. Mas está na nossa mão. Está na mão dos dois constituintes de uma relação entre duas pessoas que se amam definir se a pedra serve para separar se a pedra serve para unir.

Todas as relações são feitas de pedra.

E é assim que construo. É assim que pela primeira vez construo. Estou a construir. Digo-te cada verdade e sei que estou a colocar as pedras que nos separavam nos locais certos. Para que o edifício cresça quando já estava quase a cair. Para que possas depois perceber se queres construir comigo ou se queres que tudo isto que somos caia de vez.

Olho-te nos olhos e sei que choras. Sei que choras a cada verdade que te entrego, a cada pedra que te coloco nas mãos.

Não sei se terás força para as suster, se terás força para as aguentar, para as suportar dentro de ti. Não sei se algum de nós conseguirá levar mais longe este edifício. Mas sei que me sinto enfim a ser eu em ti como tu sempre foste em mim.

Todas as relações são feitas de pedra.

Há que construir.
Há sempre que construir.


Pedro Chagas Freitas in Prometo Perder

Hoje é dia de festa...




...cantam as nossas almas!

sábado, 10 de dezembro de 2016

Bom fim de semana...

A Beirã vista da fonte onde a avó Amélia ia sempre buscar água
Foto by José Coelho

Agradando ou não, seja você em todos os sentidos. Viva, ame, perdoe, agradeça e doe sempre o seu melhor a quem merecer. E a quem não merecer, também. Não queira fingir que gosta porque um coração disfarçado não se realiza. Mas também não queira perder o seu tempo plantando o mal. A vida trata de trazer até si aquilo que o seu coração oferecer aos outros  e Deus tratará de fazer florescer o bem que você semear. Ignore o rancor e, se possível for, espalhe só o amor.

Cecilia Sfalsin

Beirã - para memória futura...

Casas  típicas da aldeia na Avª António Matos Magalhães 
Foto by José Coelho

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Uma iniciativa inédita e muito positiva...

Foto by José Coelho - Arranjos florais by Joaquina Coelho

Porque se aproxima a passos largos a celebração do centenário das Aparições de Fátima e integrada nesse espírito celebrativo, circula de casa em casa, desde o dia 7 de Setembro, nas paróquias do concelho de Marvão, um pequeno oratório com a Senhora e os Pastorinhos, afim de permanecer por um dia em todos os lares cujos habitantes o queiram receber. 

Na nossa Beirã circulou desde aquele dia até ontem, 7 de dezembro. E hoje, em solene celebração, o oratório foi entregue à paróquia de Santo António das Areias. Quis, em boa hora e numa iniciativa inédita, o Revº Pároco Marcelino Marques, que fosse assim: 

A imagem da Senhora de Fátima da paróquia da Beirã acompanhou o oratório até à entrada de Santo António das Areias em coluna processional auto. Por sua vez, a imagem da Senhora de Fátima daquela paróquia, acompanhada por largas dezenas dos seus paroquianos, veio ao mesmo local "receber" o oratório e a visita da sua irmã da Beirã. 

Organizou-se então ali uma procissão solene com todos os fiéis das duas paróquias vizinhas e nela foram integradas as três imagens, desde a entrada da aldeia até à igreja. Nem sequer faltou, para dar ainda mais brilho e solenidade ao evento, a participação da banda filarmónica de Castelo de Vide. Foi de facto, muito acolhedor.

Chegados à igreja seguiu-se a solene Eucaristia. O templo estava a abarrotar, completamente cheio de gente. A Celebração da Palavra, num gesto muito sugestivo, foi partilhada por elementos das duas paróquias como se de uma só se tratasse. Gostei. União precisa-se. Somos tão poucos já por cá que, bem unidos, seremos com certeza sempre mais irmãos e mais fortes.

A encerrar com chave de ouro a tarde magnífica de partilha na fé, segui-se depois, ainda dentro da igreja, um concerto de Natal, interpretado pelo Coro Infantil dos Assentos - Portalegre. Simplesmente magnífico. No regresso a casa, eu e a minha família, viemos com o coração completamente a transbordar de harmonia e de paz. Haja mais momentos destes, se possível.

Foi uma tarde a todos os níveis diferente, porque, pelo menos que eu me lembre, foi também aquela em que, pela primeira vez, as duas comunidades vizinhas se uniram e partilharam com fraterna amizade e devoção, um evento comum. Oxalá a semente hoje lançada pelo Revº Pároco Marcelino Marques caia não só em boa terra, como ainda frutifique, forte e duradoura...

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Coisas q'eu escrevi...

O gigantesco Muro que deu nome ao lugar e sobre o qual assenta a
via férrea do Ramal de Cáceres, numa foto feita pelo meu Pedro Coelho


A Avó Florinda Lourenço


Nasceu no dia 7 de outubro de 1926 num lugar a que chamam" O Muro" algures nas margens do ribeiro da Sapateira já não muito longe da sua foz a nordeste da então freguesia de Santo António das Areias. Contudo e por força da criação da freguesia da Beirã em 24 de junho de 1944, o território geográfico de abrangência da mesma foi desanexado ao de Santo António das Areias pelo que o Muro pertence desde essa data à Beirã.

O pai – o meu avô e grande amigo – de seu nome José Lourenço mas mais conhecido por Zé Cabreiro, por ser guardador de rebanhos na Herdade do Matinho que ficava muito próxima do lugar onde vivia numa pequena casita que ainda hoje lá existe e na qual nasceram os seus oito filhos.

A mãe – minha avó, confidente e amiga – aquela santa velhinha que ela acolheu em nossa casa e de quem cuidou amorosamente durante os oito anos em que a nossa querida anciã esteve acamada e dela totalmente dependente até ao dia em que faleceu, chamava-se Amélia da Conceição, a qual, entre os nascimentos dos oito filhos que teve, era jornaleira na monda, na sacha ou na rega das searas e das várzeas pertencentes à herdade.

Teve mais 7 irmãos a Avó Florinda. Ela era a mais velha, seguida pelo Francisco, depois o Joaquim, o Raimundo, a Jacinta, a Maria Francisca, a Júlia e um outro, o mais novo, do qual não sei o nome, porque não sobreviveu. Por ser a primogénita coube à avó Florinda logo a partir dos seus tenros 6 ou 7 anitos ter de cuidar dos irmãos mais novos em casa enquanto o pai e a mãe trabalhavam de manhã à noite para o sustento da casa.

Nesse tempo a família era muita mas o dinheiro pouco e o ordenado do avô Zé Lourenço era, em grande parte, pago em géneros. Azeite, centeio, feijão, queijos e uma “peara” de gado que consistia no direito de pertença de oito cabeças adultas e respetivas crias do rebanho que guardava e cuidava, para além da mensalidade em dinheiro ajustada ano a ano.

Para fazer pão tinha a avó Florinda que, uma vez por um mês, levar à cabeça um taleigo com centeio em grão e caminhar a distâcia que distanciava o lugar do Muro do moinho do Ti Domingos no rio Sever - cerca de cinco km - para moer o grão mediante o pagamento de uma maquia e regressar de novo a casa já com a farinha centeia de novo à cabeça para poder depois amassar, tender e cozer no forno de lenha, o pão de cada semana para a família toda.

Já agora vou explicar também o que era a tal “maquia” muito utilizada como pagamento de diversos produtos agrícolas naquela época em virtude de quase ninguém poder pagar de outra forma. No caso que referi, o moleiro e dono do moinho tirava para si uma certa quantidade do grão que tinha que moer. Por exemplo, para moer 20 kg de centeio, tirava para si 5 ou 6 kg. Só os restantes 14 ou 15 kg iam para a mó para transformar em farinha. Dependendo da qualidade do grão, a maquia era maior ou menor. Se, por exemplo, o grão a moer fosse trigo, por ser mais valioso, a maquia era mais pequena. E em vez de 5 ou 6 por cada 20 kg, seria de apenas 2 ou 3.

Não foi ainda há muitos anos que essa forma de pagamento deixou de ser utilizada. Estou a lembrar-me, por exemplo, dos anos em que colhi azeitona para fazer azeite para nosso consumo de casa e que ia depois ser moída nos lagares da região onde o pagamento era feito exatamente por maquia. Imaginando que a nossa azeitona produzia 100 litros de azeite, só trazíamos 80 para casa. Os outros 20 eram pertença do lagar como forma de pagamento pela moagem da azeitona.

Feita esta explicação que me pareceu oportuna para melhor entendimento da minha narrativa e porque é bom recordar esses usos e costumes antigos, voltemos à avó Florinda depois de ela estar em casa  e o saco da farinha centeia já arrumado na arca do pão. 

Cuidar dos irmãos mais novos não se resumia só a olhar por eles e a dar-lhes de comer. Se um deles adoecia, lá tinha que ir a magricela Florinda a pé com o doentinho escarrapachado na anca a caminho de Santo António das Areias que distava uns bons 9 ou 10 quilómetros do Muro, a fim de o ir “amostrar” ao médico. Aproveito para explicar de novo que, quando se estava doente por aqui, antigamente, não se dizia “vou ao médico para uma consulta” mas apenas “vou-me amostrar” e toda a gente depreendia que aquele “amostrar” era ir ao médico por se estar doente.

Por tudo quanto dela sei, acho sinceramente que a vossa avó foi quase toda a sua vida e desde muito menina, uma quase-tudo-em-um. Irmã/mãe de todos os seus irmãos, assim como, mais tarde, foi também avó/mãe de quase todos os netos, a começar logo pelo seu adorado Manuel Coelho. Acolheu também sempre em sua casa os irmãos quando estes decidiram “juntar-se” com as namoradas e foi quase como que uma segunda mãe para as suas cunhadas que muito a estimaram sempre.

Tão bondosa criatura só não teve mesmo tempo para ser menina, coitada. Mal chegou aos 11 anos e já com os irmãos mais crescidos e mais ou menos autosuficientes, foi logo promovida a criada de servir no Monte dos senhores do Matinho como ajudante da cozinha,  da queijeira e da horta, tendo que contribuir com o seu ganho para as despesas da casa paterna sem deixar de ser, da mesma maneira, o braço direito de sua mãe, até à idade adulta.

Aos 19 anos conheceu o avô António Coelho, 16 anos mais velho que ela, facto que não a impediu de gostar logo dele e de, apenas um ano depois, fugirem os dois para o Vale do Cano onde ele tinha uma grande várzea de pimentões. E nesse dia se constituiu a nova família de nós somos a hoje continuação. Ocorre-me ainda e para encerrar esta narrativa, a ternurenta resposta que ela me deu numa conversa que tivemos os dois à porta da igreja quando saíamos da missa. Ela ia muito cuidada como sempre. Mas nesse domingo, além do fato domingueiro, levava um colar de pequenas perolas negras em volta do pescoço.

Achei-a tão bonita que, brincando, lhe sussurrei com ternura ao ouvido: 
- Florindinha! Toda jeitosa hoje, hein?!... 
- Té lé se o António Coelho cá voltasse hoje e te visse... Vai lá vai…
Resposta pronta da Florinda, viúva já então havia 15 anos:
   - Se o António Coelho cá voltasse hoje, era com ele que eu me casava outra vez…

Deste diálogo há uma testemunha que vai com certeza ler o que escrevi e é capaz de se lembrar da cena. Foi a nossa muito estimada vizinha Alzira Sobreiro que se encontrava perto de nós e ao ouvir a pronta resposta da avó, exclamou com genuína admiração:
- É assim mesmo vizinha Florinda. Você é cá das minhas! Ora dê cá um beijinho…

E beijaram-se efetivamente, na maior amizade.


José Coelho in Histórias do Cota

Coisas que leio...


MAIS DO QUE A MORTE, ASSUSTA-ME A SOLIDÃO DOS VELHOS

Este flash de fim de vida, intensamente estampado na fotografia, de Jorge Vieira, cala bem no fundo da nossa sensibilidade, não pela sombra do companheiro que partiu, já liberto e descansado das dores do corpo e da alma, mas pela irreversível solidão da que ainda espera pelo começo dessa viagem.

Tudo dói na crueza desta imagem. É a expressão no rosto da velha senhora e o seu corpo, que se adivinha ressequido, escondido numa roupa que, por isso, ficou vários números acima. São os sapatos e as meias, de quem não tenciona sair à rua. É a toalha, grande demais para a pequena mesa a dois, agora dobrada e a dizer que, estendida, serviu uma família inteira que se esfumou. Pelos vincos bem marcados, esta toalha, talvez de linho, que ela própria bordou em tempos de jovem casadoira, a juntar ao enxoval, mostra que acabou de sair de um velho baú, com anos e anos de dobrada e adormecida ao lado de um saquinho de alfazema.

Texto e imagem integralmente copiados da página do Professor António Galopim de Carvalho, no facebook

Também o levo, aonde quer que vou...

O mê monti - Foto by José Coelho

Trago Alentejo na voz
do cantar da minha gente
ai rios de todos nós
que te perdes na corrente
ai planícies sonhadas
ai sentir de olivais
ai ventos na madrugada
que me transcendem demais

amigos, amigos
papoilas no trigo
só lá eu as tenho
e de braço dado contigo a meu lado
é de lá que eu venho
e de braço dado
cantando ao amor
guardamos o gado, papoilas em flor,
que o vento num brado
refresca o calor
e de braço dado, contigo a meu lado
cantamos o amor

ai rebanhos de saudades
que deixei naqueles montes
ai pastores de ansiedades
bebendo água nas fontes
ai sede das tardes quentes
ai lembrança que me alcança
ai terra prenhe de gentes
nos olhos duma criança


António Zambujo

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Beirã - para memória futura...

Foto by José Coelho
Depósito que abastecia de água a estação ferroviária e antigo edifício-moradia dos funcionários da alfândega que ficou devoluto quando Portugal aderiu à União Europeia. Foi adquirido pela Associação A Anta e posteriormente ampliado para ser transformado numa excelente Unidade de Cuidados Continuados de Média e Longa Duração que ali está instalada há já alguns anos.

O melhor de todos os amigos...



O Avô António Coelho


No dia 5 de Novembro do ano de 1910 no sítio do Bom Jesus da freguesia de Santa Maria da Devesa do concelho de Castelo de Vide nasceu o primeiro filho do casal Faustino do Nascimento Coelho e Adelina Gargaté. Deram ao menino o nome de António Maria Coelho. Desconheço por que motivo não lhe foi dado o apelido materno mas como naquele tempo a vida era tão complicada e as pessoas tão pouco informadas, essas omissões eram frequentes.

Da infância e juventude deste rapaz pouco sei, porque ele, pessoa de poucas conversas, raramente falava de si próprio. Tinha mais duas irmãs e um irmão: a Maria d’Alegria Coelho, a Francisca Coelho e o mais novo de todos, o Abílio Coelho. A mãe Adelina e minha avó paterna faleceu aos cinquenta e poucos anos com problemas cardíacos. O pai Faustino Coelho, conhecido de toda a gente, foi cantoneiro na estrada da Póvoa e Meadas onde trabalhou diariamente quase toda a sua vida no arranjo, conservação e limpeza das valetas, fazendo-se diariamente transportar no seu burrito. Ainda hoje é lembrado por muitos castelovidenses. Basta falar-se no seu nome aos mais velhos da vila.

Alguns anos – poucos – após enviuvar, o avô Faustino Coelho juntou-se com uma senhora também viúva da qual só sei a alcunha que era “burrica”, com a qual viveu maritalmente muitos anos mas que não teve escrúpulos em o abandonar quando ele ficou velho, trôpego e a necessitar de mais cuidados. Valeu-lhe o filho António, o vosso avô, que o acolheu em sua casa – a nossa Toca – onde  viveu sossegado, bem tratado e feliz. Desde que veio morar connosco repartíamos o meu quarto até ele falecer poucos anos depois numa noite de Natal.

O avô António Coelho veio trabalhar para estas bandas da Beirã em meados dos anos 40 quando conheceu a minha mãe com quem se juntou e mais tarde casou e tiveram quatro filhos. As vossas três tias e eu. A sua irmã Maria d’Alegria casou com um guarda-fiscal de seu nome Ciro Bento da Silva e foram pais de dois filhos, o Joaquim e a Antonieta. Residiam em Lisboa na Rua das Escolas Gerais em plena Alfama. Muitas vezes lá fui acolhido com carinho nas minhas andanças pela capital quando estive na tropa, mas não só. Seguia-se a irmã Francisca Coelho que demandou a terras de além-mar com o marido Pedro Maniés e os três filhos, a Beatriz, de quem o avô era padrinho, o Abílio e o Augusto. Todos residiram em Luanda até à independência daquela antiga colónia portuguesa, altura em que regressaram a Castelo de Vide. O irmão mais novo do avô, o Abílio Coelho, emigrou para o Brasil acompanhado da esposa Ana Alvarrão e do filho Francisco e por lá se estabeleceu como comerciante de secos e molhados – nunca soube que produtos se incluiriam nessa categoria comercial – na cidade de Maringá no Estado do Paraná onde veio a falecer e onde se encontra sepultado.

O vosso avô António Coelho doutorou-se com distinção em duas Artes, na Faculdade da Vida: A de cabouqueiro e a de hortelão. A primeira foi aquela que exerceu na maior parte da sua existência como subempreiteiro de empresas do concelho de Marvão, mormente a do senhor engenheiro Ventura do Porto de Espada, embora tivesse participado também, na sua juventude, na grande obra de construção do Ramal de Cáceres entre as estações de Castelo de Vide e Beirã pois ouvi-o referir-se à montagem da grande ponte ferroviária da Ribeira David toda ela feita em grandes blocos de granito muitos dos quais ele rachou e sobre os quais assenta a gigantesca estrutura de ferro que suporta a via férrea.

Não havia cancho, por maior que fosse, que o intimidasse. De broca manual e com dois camaradas marteleiros um de cada lado a martelarem com toda a sua força uma broca de aço de ponta em diamante que ele sabiamente ia rolando com as mãos e com uma tremenda audácia, enquanto os dois martelões, de oito quilos cada um, subiam e desciam batendo sincronizadamente, à vez e sem falhar, sobre a cabeça da broca mesmo em frente do seu rosto. Ainda hoje sinto admiração na confiança absoluta que tinham uns nos outros, aquela equipa de verdadeiros mestres. Que certeza! E se um dos marteleiros falhasse o alvo e o atingisse com o pesado martelão? Era com certeza morte certa. Mas não. Pareciam máquinas de precisão sem nunca falharem a broca continuamente manipulada pelo chefe. Não era serviço para principiantes. Direi mesmo que não era serviço para qualquer um.

Passadas duas ou três horas de cansativo exercício, assim que se atingia a profundidade considerada suficiente, o avô Coelho, o homem sem medo de nada e que estava tecnicamente preparado para manipular explosivos de pedreira, atacava os furos com pólvora seca ou cartuchos de dinamite depois de lhes ter introduzido as respetivas escorvas com o estupim ou rastilho, cobriam tudo cuidadosamente com feixes de giesta para evitar projeção de pedras para longe que pudessem ferir alguém nas redondezas e a seguir acendia um a um os rastilhos, fazendo explodir, uma atrás da outra, todas as cargas que assim fracionavam os enormes maciços graníticos em pedaços menores para posterior elaboração do “rachão” para os alicerces de estradas ou de obras públicas, para “quatar” também calçada de rua, sendo as lascas mais pequenas depois reaproveitadas para transformar em brita.

Por ser o mais leve e porque eu tinha só 13/14/15 anos, era esse o meu serviço de cabouqueiro-principiante na pedreira. Juntava as lascas que saltavam do rachão e da calçada e ia fazendo montes para depois partir em quadradinhos mais pequenos, a brita, com uma pequena marreta do tamanho de um punho mas cujo cabo de castanho me “insava” (enchia) as palmas das mãos de bolhas que doíam com’á puta que as pariu. E os mestres, rindo das minhas caretas de desconforto, aconselhavam-me, brincalhões: - Mija-lhe para cima Zéi que o mijo desinfeta-te as “empolas” e curte-te a palma das mãos!

Ai os trastes... Mas  era tudo na boa amizade e confiança, mesmo.

Os atuais canchos em frente da Escola da Beirã eram um cerro de calhaus gigantescos que o avô Coelho com os seus camaradas do costume – estou a lembrar-me por exemplo do tio António Viegas, do irmão dele o tio José Viegas, do tio João Alexandre e de muitos outros que vinham dos Barretos e dos Cabeçudos – conseguiram reduzir a metade. O anterior maciço granítico foi desbastado à força de explosivos e de martelões muitas vezes com o avô Coelho pendurado por cordas, qual trapezista, até o deixarem reduzido à sua atual dimensão. Essa dura empreitada foi levada a cabo para se poder rasgar a toda a sua largura a Avenida Dr António Matos Magalhães, vulgo rua da escola. Também a rua traseira que desemboca no Largo da Fontee e precisamente onde hoje mora a tia Maria Júlia era um enorme e arredondado cancho que formava uma passagem estreitinha. O artífice da pedra bruta mestre Coelho, esmigalhou-o todo. Fê-lo em pedaços para dar lugar à bela e larga rua Miguel Barcelos Maia ali existente desde então.

Também quase todas as pedras das calçadas da Beirã, com exceção das de paralelos em granito azul, foram obra do avô António Coelho e dos seus companheiros de profissão que na pedreira da Broca esquartejaram os calhaus até os reduzirem àquilo que nós pisamos agora todos os dias. E o “enroncamento” (alicerce) para pavimentação de estradas do concelho de Marvão, como, por exemplo, a da Herdade dos Pombais, a da Herdade do Pereiro até à ponte do ribeiro do Vale do Cano, a dos Barretos até ao partir dos termos com Castelo de Vide, guardam ,todas elas, muitas gotinhas de  suor desses valentes parte-pedras de quem já ninguém se lembra, mas que foram os obreiros e mestres de muito do património público por aí existente.

Era ainda também exímio o avô Coelho na abertura de poços para rega de hortas e quintais. Muitos deles, nestes nossos solos rochosos, eram abertos só à força de explosivos, com pá, picareta e uma roldana de madeira com oito braços chamada "sarilho", à volta da qual enrolava uma grossa corda atada na ponta a uma cuba também de madeira que servia para retirar o entulho à medida que o poço ia afundando. Só trabalho braçal, porque nesse tempo não havia a maquinaria que há agora. Eu próprio trabalhei com ele na abertura de pelo menos dois desses poços, que me lembre. Um na Beirã que é o poço do quintal do senhor Luís Curinha, e um outro, numa várzea perto do Monte da Torre, este por conta de um senhor que já faleceu, o tio Chico Couzinho, grande amigo meu desde que nasci.

Na horta, então, mais que doutor, o avô António Coelho era Mestre. Das suas mãos saíam belgas de tudo. Feijão, batata, tomate, pimentos, beringelas, repolhos, couves, nabiças, melões, melancias, cebolas, alhos, espargos, morangos. Um sem-fim de mimos que pareciam crescer e frutificar só com o olhar dele. Era magnífico. Na nossa casa podia faltar muitas vezes o dinheiro para roupas ou sapatos novos mas nunca faltou o que meter na panela da sopa porque ao fim de cada verão a despensa parecia um celeiro onde havia de tudo um pouco. E todas as donas de casa da aldeia lhe compravam também legumes diversos, melancias e melões. Tudo aquilo sei na arte de hortar aprendi com ele. Mas nem lhe chego aos calcanhares, obviamente. Contudo e passados tantos anos depois de ele ter partido para sempre, continuo atento aos seus ensinamentos e não há dia nenhum que não me lembre dele com saudade.

A terminar por hoje que já vai longa a epístola, resta-me referir-vos que, como ninguém nasce perfeito, tinha também um senão o avô António Coelho. Gostava do seu copito. De vinho e de aguardente. Mas não tratava mal ninguém. Nunca. Pelo contrário, era ainda mais carinhoso connosco quando estava assim já “alegrote”.  Aliás, ele era uma criatura bondosa, dócil e meiga para com toda a gente. Um tanto ou quanto mal-encarado como eu, de poucos sorrisos e ainda menos falas, mas uma doçura de pessoa. Se via algum dos filhos ralhar com os seus netos ou dar-lhes alguma palmada por qualquer traquinice feita, ralhava logo indignado:  - Nã batas no cachopinho, porra! Anda cá filho! Anda cá ô vô…

Foi, sem sombra de dúvida, o melhor pai e avô deste mundo…



José Coelho In Histórias do Cota

domingo, 4 de dezembro de 2016

Final de tarde magnífico...

Autor da foto José Manuel Ramilo Pires
Após a Eucaristia Solene celebrada pelo nosso Revº Pároco Marcelino Marques na inauguração das obras de restauro da igreja de Nossa Senhora do Carmo da Beirã em 3 de Dezembro pelas 18:00 horas, a população que encheu por completo o templo foi agraciada por um magnífico Concerto de Natal oferecido pelo Orfeão "Estrela da Planície" da Comenda. Foi um final de tarde inesquecível. Pela parte que nos toca, eu e a minha família presentes na celebração, agradecemos particularmente maravilhados e gratos. Bem hajam...

Beirã - para memória futura...

Foto by José Coelho
A sócha e o miradouro da Beirã são uma obra recente com pouco mais de vinte anos e resultaram do ajardinamento dos "canchos da escola" situados bem no coração da aldeia. Alguns dos Beiranenses que se ausentaram há muitos anos provavelmente não conhecerão este espaço como ele se encontra hoje...

sábado, 3 de dezembro de 2016

A primeira página...

Foto by Pedro Coelho no batizado da Francisca
(que eu desfoquei, porque sim, mas a original está fantástica)


Prólogo


Meus filhos:

Como vocês sabem, comecei a escrever estas “coisas” há uns anos atrás, sem quaisquer pretensões de me “armar” em escritor, mas tão só e apenas convencido que vale a pena dar-vos a conhecer a história autêntica das pessoas que foram os vossos antepassados, as suas características, bem como o seu modo de vida. 

Entretanto…

Já com umas dezenas de páginas escritas - mais de 40 - guardadas num disco rígido de computador, em virtude provavelmente dos precários conhecimentos destas tecnologias informáticas, alguém (se calhar eu mesmo) apagou inadvertidamente e sem hipótese de recuperação tudo o que já tinha escrito.

É impossível reconstituir o que foi apagado porque a “inspiração” não é recarregável, mas, como as pessoas e os factos a descrever são os mesmos e foram reais, basta deixar que as recordações vão fluindo espontâneamente das profundezas da minha memória e tentar ordená-las de forma cronológica.

Espero conseguir o que me proponho e que vocês gostem do meu trabalho que com muito amor vos é dedicado.


O vosso pai


José Coelho in Histórias do Cota