sábado, 16 de março de 2024

Bom fim de semana

Foto José Coelho
 

Hoje, mais do que nunca, somos convidados pelas circunstâncias a ter fé. Consciência, bom senso, empatia, amor e fé. Ao contrário do que o muitos pensam, acredito que a fé não é ausência do medo. Com fé podemos enfrentar a tempestade descansando na certeza de que cedo ou tarde ela irá passar e o sol voltará a brilhar. Ter fé não nos impede de sofrer, de temer ou de ficarmos ansiosos, é justamente pela fé que conseguimos passar por todos esses momentos, acreditando que o melhor nos espera logo ali na esquina, que todos os processos sejam eles bons ou ruins são necessários e nos estão a levar para onde devemos ir. Tudo aquilo que nos desafia também nos ensina. Espero que diante de dias encobertos pela nuvem do medo, da incerteza e da insegurança possamos aprender, crescer, despertar e evoluir. O discurso bonito precisa sair do papel e passar a existir nas nossas escolhas e atitudes diárias. A nossa fé precisa de ser ativada e as nossas mãos precisam de ser dadas. É hora de agir por nós, por eles, pelo mundo."

Wandy Luz

quinta-feira, 14 de março de 2024

Decididamente (2)

Foto José Coelho

 

Este já não é o meu velho e querido país. Aquele país de gente alegre e genuína na sua maneira de viver tão diferenciada quanto o são as tradições usos e costumes de cada província e região. A alegria que sempre nos caracterizou foi sendo substituída pelos nossos semblantes fechados em consequência de inúmeras e sucessivas preocupações. O desemprego, a precaridade laboral com os seus baixos salários, o galopante custo de vida em contraciclo com os quase sempre míseros aumentos salariais, as pandemias e as guerras, enfim, esta incerteza no dia de amanhã que se abate sobre as nossas cabeças e dos nossos herdeiros qual cancro maligno sem remédio nem cura.

Jamais aceitarei ou irei entender que se atribuam pensões com menos de metade do valor do ordenado mínimo nacional à maior parte das pessoas que se reformam atualmente depois de trabalharem e descontarem uma vida inteira. Será que essas pessoas passam a comer só metade do que comiam, a pagar só metade de renda da casa, ou deixam de necessitar de roupa, de calçado e medicamentos, a partir do dia em que se reformam?

Porque é que 40 anos de descontos dão direito a tão pouco, mas na política bastam 12 anos de berros e insultos uns aos outros na Assembleia da República para se ter tanto?

Será que os políticos quando se reformam passam a comer em dobro e a pagar também em dobro nas suas compras?

Nunca entendi os cortes na saúde para poupar orçamentos de estado, enquanto milhares de milhões de euros são injetados regularmente na banca para proteger sabe-se lá que interesses. Por mais anos que eu ainda viva, nunca me irei esquecer da "briga" que tive com aquela digníssima senhora doutora no banco de urgências de um hospital onde a minha mãe agonizava há várias horas com pavorosas convulsões resultantes - soubemos depois - de uma sepsis, que, como quase toda a gente também sabe, em 90% dos casos é letal.

Mas a excelentíssima senhora doutora entendeu dar-lhe alta porque, disse-me, "aquele quadro" era normal na idade da doente, o que me fez "saltar a tampa" e já completamente "passado" lhe berrei aos ouvidos:

- Se a minha mãe fosse a sua mãe, senhora doutora, também a mandaria para casa neste estado?

Sabia com toda a certeza que ainda hoje me dói, que aquelas ordens "vinham de cima" e tinham de ser cumpridas. A contenção de despesas não se compadece com o estado por vezes crítico de doentes como era o caso da minha mãe que, por ter 87 anos e estar a atingir o limite do seu tempo de vida, estava a ser enviada para casa para ir morrer longe. E assim se pouparia uma injeção, uns comprimidos, quiçá algum frasco de soro para fazer baixar as despesas correntes daquela unidade hospitalar.

Estou hoje em paz com a minha consciência porque sei que pelo menos naquele dia e com aquela minha furiosa falta de ética para com a senhora doutora no banco de urgências, talvez tivesse salvo a vida da minha mãe. No momento seguinte, a senhora doutora perplexa com a minha emotiva reação mandou-me sair sem assinar os papéis da alta que era suposto eu ter de assinar, e, passados vinte minutos, um senhor enfermeiro veio ter comigo trazendo na mão um saco que continha as roupas da minha mãe para me dizer:

- A sua mãe fica internada e está na cama 1 do SO.

Dias depois foi transferida para outro hospital a 100 km de distância, não sei se por necessidade, se por vingança pelo meu protesto, mas pelo menos recebeu os tratamentos e os cuidados que o seu estado de saúde carecia naquele crítico momento. E nós fomos de igual modo visitá-la todos os dias, mesmo àquela lonjura.

Sinto vergonha de ter nascido num país que tem parido gente capaz desta e de tantíssimas outras indignidades em nome de políticas que hipocritamente visam um pretenso bem comum. Porque não poupam antes nas suas obscenas mordomias? Porque vivem os mentores destas decisões no bem-bom, no luxo e conforto onde nada falta nem aos seus filhos, nem aos seus pais, nem aos seus afilhados ou padrinhos.

Quem já viu um senhor ministro, um senhor deputado, um simples senhor secretario de estado, um CEO, um Administrador ou afins, na fila de espera da urgência de um hospital público durante sete horas com uma pulseira de plástico enfiada num dos pulsos como se fosse um objeto etiquetado para ir para arquivo?

Decididamente, não foi neste país que eu nasci…


José Coelho  

quarta-feira, 13 de março de 2024

Segunda pele


"A farda não é uma veste que se despe facilmente. É uma segunda pele que adere à própria alma, irreversivelmente".

Capacete do Grande Uniforme para Infantaria na Guarda Nacional Republicana que me foi oferecido quando passei à reforma e pelo qual tenho grande estima.

Indigência, ou modo de vida?


Sete-Rios e a sua estação intermodal de transportes públicos é simultaneamente um ponto diário de convergência de milhares de pessoas de todas as nacionalidades que chegam e partem em direção a todos os pontos cardeais deste jardim à beira-mar plantado, tal é a diversidade na oferta de destinos.
Foi numa das minhas últimas viagens que me foi dado observar o que hoje me ocorre escrever. Passava pouco das quatro da tarde quando aportámos eu e a minha companheira ao sempre muito concorrido bar que fica do lado oposto da gare, junto da passadeira para peões.
Somos abordados quase sempre por um sem-número de indigentes das mais diversas nacionalidades que com os semblantes deliberadamente contritos para causarem mais dó, suplicam uma moeda porque…
- Ainda hoje não comi nada!
É absolutamente notória a forma como vestem e calçam roupas mais ou menos asseadas, mais ou menos desleixadas, fazendo talvez tudo aquilo parte da “encenação” para ludibriar as pessoas caridosas mais incautas ou menos atentas. De ambos os sexos, são tantos a abordar-nos assim que nos apeamos do autocarro que se torna evidente que aquilo não é na sua esmagadora maioria por indigência, mas uma forma de vida.
Até uma jovem a fingir-se grávida, sendo absolutamente perceptível que a volumosa e redondinha barriga era postiça. E de tal modo o disfarce era evidente que a minha marida confrontou-a dizendo-lhe:
- Você está tão grávida como eu...
Acomodámo-nos, entretanto, numa das mesas da esplanada, enquanto aguardávamos a hora de partida do Expresso para o regresso a casa. Imediatamente fomos abordados pela segunda ou terceira vez em poucos minutos por um dos “pedintes” a quem respondi que não tinha moedas.
Foi um modo de me ver livre dele, mas de facto não tinha mesmo.
Numa das mesas ao nosso lado duas senhoras lanchavam placidamente enquanto nos observavam também. E ao darem conta da minha recusa em doar uma moedinha ao “pobrezinho” quiçá indignadas pela minha “insensibilidade” imediatamente o chamaram:
- Psst… Psst… Ó senhor, chegue aqui!
E ele acercou-se. Convidaram-no sentar-se coisa que ele não fez, enquanto uma das senhoras se levantou e dirigiu ao balcão a comprar uma sanduiche e uma bebida para o “infeliz”. Todos estes movimentos estavam a ser observados por um dos empregados de mesa que por ali andam sempre atentos para impedir que aqueles falsos “pedintes” incomodem os seus clientes e que só dali se “evaporam” assim que alguma patrulha da PSP se acerca do bar.
A senhora no seu ato caridoso regressou e pousou sobre a mesa um prato com a sanduiche mais a lata do refrigerante. O “pedinte” retrucou logo que preferia uma moedinha enquanto pegava na sanduiche e na lata para se afastar de seguida.
Porém, ainda dentro do alcance visual de todos os presentes, antes de desaparecer pela escada abaixo em direção à gare dos comboios, atirou deliberadamente a sanduiche e a lata do refrigerante para um contentor do lixo sem sequer as ter aberto.
As caridosas senhoras exclamaram um desolado “oooohhh” enquanto o rapaz das mesas as consolava num acentuado sotaque brasileiro:
- São uns cafagestes…
Provavelmente para se confortar a si mesma, a senhora que solicitamente tanto se tinha esforçado para matar a fome daquele “desgraçado” respondeu-lhe:
- Cumpri com o meu dever e isso é que importa.
Prezo muito a minha forma de estar na vida na qual dei, dou e darei sempre, supremacia absoluta no respeito e amor ao próximo. Mas tento também não deixar que me comam por parvo.
Ah pois…

José Coelho

sexta-feira, 8 de março de 2024

Dia Internacional da Mulher


A Mulher tem a delicadeza da flor, a força de ser mãe, o carinho de ser esposa, a reciprocidade de ser amiga, o dom de iluminar a todos com um sorriso e o amor apenas por ser mulher.

Feliz Dia da Mulher 2024 

quinta-feira, 7 de março de 2024

Se eu de ti me não lembrar, Jerusalém

Salmo do IV Domingo da Quaresma 

Tanto me faz


Não me importa nada que me critiquem, exatamente como não me importa nada quando me elogiam. Tanto me faz que uma pessoa me elogie, como que me censure, porque eu considero isso uma opinião pessoal e não comparo com coisa nenhuma. Eu próprio não tenho opinião pessoal a meu respeito. Não me sinto herói, nem criminoso, sinto que vivo, sinto que sou.

Agostinho da Silva

PS
E quem não gostar, ponha no bordo do prato!

sexta-feira, 1 de março de 2024

No mundo dos insetos


Todos os dias a formiga chegava cedinho ao escritório e pegava a sério no seu trabalho.

A formiga era produtiva e feliz.

O gerente, o besouro, estranhou ver a formiga trabalhar sem supervisão. Se ela era produtiva sem supervisão, seria ainda mais se fosse supervisionada.

E colocou uma barata, que preparava belíssimos relatórios e tinha muita experiência, como supervisora.

A primeira preocupação da barata foi a de padronizar o horário de entrada e saída da formiga.

Pouco depois, a barata precisou de uma secretária para ajudar a preparar os relatórios e contratou também uma aranha para organizar os arquivos e controlar as ligações telefónicas.

O besouro ficou encantado com os relatórios da barata e pediu também gráficos com indicadores e análise das tendências, que eram mostradas em reuniões.

A barata, então, contratou uma mosca e comprou um computador com impressora multifuncional colorida.

Logo, a formiga produtiva e feliz, começou a lamentar-se de toda aquela movimentação de papéis e reuniões!

O besouro concluiu que era o momento de criar a função de gestor para a área onde a formiga produtiva e feliz, trabalhava.

O cargo foi dado a uma cigarra que mandou colocar uma carpete no seu escritório e comprar uma cadeira especial...

A nova gestora cigarra logo precisou também de um computador e de uma assistente, a pulga (sua assistente na empresa anterior) para a ajudar a preparar um plano estratégico de melhorias e o controlo do orçamento para a área onde trabalhava a formiga, que já não cantarolava e cada vez ia ficando mais aborrecida.

A cigarra, então, convenceu o gerente besouro, que era preciso fazer um estudo da rentabilidade do trabalho da formiga.

Mas, o besouro, ao rever as contas, deu-se conta de que a unidade na qual a formiga trabalhava já não rendia como antes e contratou a coruja, uma prestigiada e muito famosa consultora, para que fizesse um diagnóstico da situação. A coruja permaneceu três meses nos escritórios e emitiu um volumoso relatório que concluía: Há gente a mais nesta empresa!

E adivinhem quem o besouro mandou demitir?

A formiga, claro, porque andava muito desmotivada e aborrecida.

Já viram este filme antes?

Bem me parecia…

Bom trabalho a todas as formigas!

 

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Notas:

1. Qualquer semelhança com o mundo dos humanos (não) é mera coincidência.

2. Autor - desconhecido

3. Foto José Coelho

Cuidem-se!