quinta-feira, 29 de junho de 2023

Preciosidades


Tem 80 anos. O Estandarte da Padroeira da Beirã, Nossa Senhora do Carmo em seda natural com a Virgem pintada à mão, moldura e flores bordados também à mão a fios de ouro e seda. Pela sua provecta idade corria sério risco de se desfazer, pelo que foi mandado restaurar em oficina de restauros certificada após o que foi guardado definitivamente em segurança, podendo ser visto por quem o desejar. Para as procissões foi mandada fazer cópia idêntica.

Dia de dois Santos


Em 29 de junho não se invoca só o Apóstolo São Pedro,
mas também São Paulo! 

Há dias assim...


Dias há em que não consigo evitar a saudade de uma vida plena de dedicação e entrega à Causa Pública pela qual tive de superar tantos e por vezes tão difíceis obstáculos. Razão tinha Sigmund Freud quando escreveu: "Um dia, quando olhares para trás, verás que os dias mais belos foram aqueles em que lutaste."

Foto em 2003 a poucos meses de terminar tão honrosa Missão.

Raridade


Nascer do sol "pintado" pelas cores do fumo dos incêndios no Canadá que viajou milhares de Kms até à Beirã para me surpreender hoje com tão celeste raridade...


Foto sem filtros José Coelho
Toca dos Coelhos
- 28. 06. 2023

terça-feira, 27 de junho de 2023

Temos artista (2)


E para terminar este dia em grande, fomos até à cidade assistir à audição de final do 1º ano de Guitarra Clássica na Escola de Música Adágio, da netinha Mariana que é a segunda menina a contar da direita de trancinhas e guitarra branca. Estiveram todos muito bem. Parabéns...
Auditório da CMPortalegre
- 27. 06. 2023

Temos artista (1)

Francisca Coelho - Toca dos Coelhos - 26. 06. 2023

Pandemia de egoísmos


Sei hoje melhor do que nunca, depois da tremenda crise Covid19, quanto devo a quem me criou. Tudo o que o que me foi transmitido pelos meus pais na sua simplicidade, no seu dia a dia, na grandeza dos seus corações que lhes permitia viverem em paz apenas com o que podiam ter sem invejarem quem tinha mais e melhor do que eles.

E também passaram muitos maus bocados.

Duas guerras mundiais que devastaram a humanidade espalhando miséria por toda a parte e uma guerra civil mesmo aqui ao nosso lado, para além da pandémica “gripe espanhola”.

E sobreviveram.

Para mim mais assustador que a Covid19 foi o egoísmo atroz que se apoderou de muita gente. Corridas desenfreadas aos supermercados para açambarcar tudo quanto vinha à mão sem qualquer critério de prioridades como se o problema fosse a falta de alimentos em vez de um vírus que infetava e matava ricos e pobres, velhos e novos, sem distinção.

Vi, pessoalmente, numa superfície comercial, um cliente encomendar no talho cinquenta bifanas, cinquenta costeletas, cinquenta pernas de frango, seguindo-se uma volta pelas prateleiras adjacentes cinquenta latas de atum, cinquenta pacotes de leite, arroz e massas, cinquenta rolos de papel higiénico, até uma caixa inteira de frascos de álcool.

Três carrinhos a abarrotar de mercadoria e… setecentos euros a pagar na caixa registadora.

Para mim já tenho, os outros que se desenrasquem!

Atitudes assim só revelam a ausência de respeito pelo próximo e que existem pessoas que apenas sabem olhar para o seu próprio umbigo estando-se nas tintas para as mais elementares regras de civismo em comunidade.

Pior que qualquer vírus mortal é constatar que estamos rodeados de pessoas que não valem um chavo enquanto seres humanos e se comportam pior que os javalis nos matos, porque esses, só mesmo a fome os faz predadores.

Jamais havia imaginado quão rude, primitiva e sem caráter pode ser a índole humana e dou graças por ter sido educado a nunca me comportar assim.

Mantivemo-nos em casa eu e a minha companheira, obviamente preocupados com toda a nossa família, inquietos com o caos nas urgências dos maiores hospitais do país, mas cientes de que não nos faltaria o suficiente para sobrevivermos sem passar fome e sem qualquer necessidade de armazenar produtos que poderiam fazer falta na despensa ou na cozinha de outras pessoas.

Pensar nos outros não é apenas um dever, é uma obrigação. É praticar a cidadania e a consideração pelo nosso próximo. É em momentos de crise coletiva como foi a Covid19 que vem à tona o melhor de muitas pessoas, mas também, infelizmente, o pior de muitas outras.

Presunção e água benta cada um toma a que quer e a carapuça só serve a quem a enfiar. Contudo, o mais relevante em tão grave situação, foi constatar-se que quanto mais humildes aparentavam ser as pessoas, mais evidente aparentava também ser a sua integridade de carácter e a generosidade do seu coração.

Como se não fosse já suficientemente mau o que estava a acontecer à nossa volta, assistimos ainda a outros atos de censurável egoísmo amplamente difundidos nos meios de comunicação social que denunciaram países ricos e supostamente amigos, a “desviarem” do seu percurso meios indispensáveis para salvar vidas em países mais pobres a braços com a falta desses meios que sorrateiramente eram desviados pelo poder do dinheiro.

Nem as leis naturais da selva são tão desumanas e ultrajantes.

Foi o salve-se quem puder, o espelho de uma geração que irremediavelmente vai perdendo os mais elementares valores e princípios herdados daquelas que nos antecederam. Aparentemente essa crise foi controlada. Contudo e apesar da minha modesta formação académica, não tenho grandes dúvidas que outras virão...

 

José Coelho 

Foto publicada no DN em 16.01.2021

segunda-feira, 26 de junho de 2023

Alentejo, Alentejo - Grupos Corais e Orquestra.

O que se não cuida, perde-se



Colhemos o que semeamos. É verdade. O tempo é a árvore que nos dará o fruto dos nossos gestos. Esse fruto será doce ou será amargo, conforme a ternura ou o azedume que deixarmos pelo caminho que formos lavrando, e virá sempre no tempo certo. O fruto dos nossos gestos nunca vem fora de época, sabe sempre quando o devemos provar.

Quem não cuidou, não pode esperar ser cuidado. Quem não foi capaz de apoiar, não pode esperar ser amparado. Quem não teve uma palavra para quem a aguardava, não pode esperar nada a não ser silêncio. Quem não soube estar perto, não pode esperar senão distância. Quem não soube abraçar, não pode esperar senão braços cruzados. Quem não soube estar presente, não pode esperar ser visitado. O amor não é uma obrigação. Não é algo só porque sim. Quem não valorizou, não pode esperar ter valor para quem ignorou.

Quem só foi capaz de agredir, não pode esperar carinho. Quem esperava poder humilhar contando que essa humilhação fosse esquecida, enganou-se. Às vezes, sim, o tempo enfraquece a memória, mas aquilo que o coração guarda nunca se perde. Para o bem e para o mal. Os corações nunca esquecem. Quem nunca mostrou disponibilidade, quem nunca esteve para o que desse e viesse, não pode esperar receber amor de volta. O amor só regressa a quem o soube dar, o amor só regressa de livre vontade. Ninguém ama à força.

 

lado.a.lado

domingo, 25 de junho de 2023

Almoço Pai & Filhos 2023






São estes momentos que temos de guardar na nossa memória para neles nos ancorarmos quando a vida nos trouxer alguns menos bons. Vocês são o meu orgulho e a melhor parte da minha vida, filhotes! Obrigado.
- 24. 06. 2023

sexta-feira, 23 de junho de 2023

O meu Céu, na Terra


Aqui começa a Rua Fernando Namora, sempre a descer...


 ... passa à minha porta e vira à direita, ladeira abaixo...


... para logo a seguir virar à esquerda...


... rumo ao adro da Igreja...


... antes porém, cruza-se com a Rua Barcelos Maia quase ao fundo...


... e com acesso pedonal à nossa linda estação...


... mas também ao antigo edifício dos funcionários da alfândega que foi
convertido em Unidade de Cuidados Continuados...


A Senhora do Carmo, Padroeira de todos os Beiranenses,
prestes a celebrar 80 anos - 16. 07. 1943 / 16. 07. 2023.

Bom S. João. Sejam felizes...


Imagem de S. João Batista existente no Batistério da Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Beirã a presidir aos batismos de todos os Beiranenses que, como eu, ali foram batizados a partir de 16 de julho de 1953.


quinta-feira, 22 de junho de 2023

O importante fica


E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre.”

Miguel Sousa Tavares

Foto José Coelho

Fazer o bem, não olhar a quem

Foto no Belize - Cabinda - Angola - Ano de 1973 

Duas meninas da mesma idade das minhas irmãs. Uma já moçoila como a minha Luz, e a outra ainda de tenra idade como a Joaquina, a aguardarem boleia para o Buco-Zau nas viaturas do MVL que depois de descarregarem tudo o que era destinado ao nosso quartel no Belize tinham seguido para norte a levar mantimentos aos outros camaradas aquartelados em Caio Guembo, Sanga Planície e Miconje.

Pouco depois chegaram, vindas da sanzala, as duas pequenas. E sentaram-se nas escadas do edifício da Secretaria da CCS mesmo em frente à porta do posto de rádio onde eu me encontrava de serviço às Transmissões nessa manhã.

Vieram demasiado cedo porque a espera pela coluna de reabastecimento seria seguramente longa dada a distância e complexidade do percurso de ida e volta.

As horas foram passando e chegou a hora do almoço que o cozinheiro de dia mandava sempre por um dos faxinas ao refeitório levar a quem estava de serviço sem poder abandonar o seu posto como era o meu caso.

Lembro-me como se tivesse sido ontem, mesmo passados já mais de cinquenta anos. A ementa, como sempre, não era famosa. Uma posta de pescada cozida, com três ou quatro batatas e um ovo.

Naquele fim de mundo poderia até ser considerada um luxo de refeição porque era a possível. E apesar de modesta ninguém se queixava, cientes todos da distância que nos separava da civilização.

Quantas vezes, enjoados do reiterado peixe cozido e daqueles estilhaços de frango com arroz que mais parecia cola, nós matávamos a fome com os dulcíssimos abacaxis ou bananas monumentais do Maiombe, como nunca mais vi, nem comi, na minha vida.

Entretanto, quando ia começar a almoçar, dei de caras com aqueles quatro olhitos das duas pequenas a olharem para o meu prato. Não consegui meter uma batata sequer para a boca. Estavam ali havia mais de quatro horas e era imprevisível quantas mais iriam ter de esperar pela coluna que as iria levar para sul.

Não tive quaisquer dúvidas que estariam cheias de fome e de sede debaixo daquele pegajoso calor tropical. Nem pensei duas vezes. Chamei-as, sentei-as na mesa do posto de rádio e ofereci-lhes o almoço.

Olharam-me, olharam uma para a outra várias vezes inquietas ou amedrontadas mas acabaram por fazer o que eu lhes dizia e comeram tudo.

Fiquei muito mais saciado com a gratidão que vi naqueles dois rostinhos negros, do que se tivesse almoçado uma boa carne de porco à alentejana.

Foi o que vi sempre fazer à minha mãe e aprendi com ela.

Repartir. Repartir. Repartir.

Apesar de ter sido sempre tão humilde a minha família, sabiam repartir quanto fosse preciso e estivesse ao seu alcance. O que ali aconteceu naquele dia não me fez sentir nem herói, nem santo.

Apenas foi feito o que era necessário fazer.

Quando chegou a hora da mudança de turno e fui substituído por outro camarada radiotelefonista, as pequenas ainda lá continuavam. Mas antes de ir à minha vida e elas à delas, pedi ao camarada fotógrafo da CCS que nos fotografasse porque queria um dia poder mostrar aquelas duas meninas também às minhas irmãs.

E mostrei.

E arranjei um desgosto à caçula Joaquina Coelho quando lhe disse que a pequenita africana era parecida com ela – no tamanho – e ela desatou num pranto porque percebeu que era parecida por ser também morena e com o cabelo encaracolado, mas não queria ser assim tão escura!

Perguntem-lhe se isto não foi verdade…


José Coelho

quarta-feira, 21 de junho de 2023

Como agulha em palheiro


Tenho a sorte e o privilégio de ter amizades da categoria "raras e de verdade". Só mesmo elas sabem que o são porque lhes agradeço e retribuo cada dia, de todo o coração. Bem hajam.

terça-feira, 20 de junho de 2023

E não voltarão nunca mais...



Nota informativa

Foto José Coelho

Como alguns de vós sabeis, sou desde o já distante ano de 2002, um dos membros do Conselho Económico Paroquial da Paróquia de Nossa Senhora do Carmo da Beirã, atualmente denonimada, para efeitos fiscais, por Fábrica da Igreja Paroquial da Freguesia da Beirã.
Aproxima-se, a passos largos, o nosso Dia da Padroeira. E este ano comemoram-se também em simultâneo o 80º Aniversário da Inauguração desta Sua Igreja que ocorreu em16 de julho de 1943, bem como o 70º Aniversário da criação desta Sua Paróquia que ocorreu em 16 de julho de 1953.
Sem pompa nem circunstância porque a Comunidade Paroquial está irremediavelmente reduzida ao menor denominador comum desde a sua criação, iremos celebrar as três efemérides conjuntas com empenho e muita dignidade.
Às pessoas que eventualmente possam estar interessadas em participar nesta celebração, peço que tomem nota.

Obrigado

Estava escrito nas estrelas...

Foto José Coelho - 20. 06. 2023

No silêncio e tranquilidade da minha casa, rua e aldeia só o canto da passarada que habita pelas árvores das redondezas, quebram o habitual sossego. As primeiras horas de cada manhã são por mim quase diariamente dedicadas à leitura de alguns jornais diários em suporte digital para “espreitar” o mundo, e, de vez em quando, escrever alguma coisa como estou a fazê-lo neste preciso momento, para o “Meu vício da escrita” ou redes sociais. 

Por companhia, apenas a brisa já meio morna deste início de verão que se filtra pelas venezianas das janelas em direção às outras divisões da casa para se transformar numa suave corrente de ar que refresca o rés-do-chão de forma natural bem melhor do que muitos ares condicionados, na suave penumbra em que a dona da casa se empenha em a manter, como boa alentejana que é.

De vez em quando uma voltinha ao quintal a ver como vai o crescimento dos novos limões no limoeiro, ou o das laranjas na laranjeira, ou o dos cachos na latada, mudar a água dos baldes onde a passarada bebe e trocá-la por água fresca, regar os trinta pés de couve galega já plantados para o outono, a salsa, as dálias e as roseiras dos vasos, e pronto! Está feita a manhã. Segue-se o almoço com a minha companheira, depois escriturar algumas coisas da contabilidade relativa aos compromissos a favor da comunidade que assumo há vários anos e assim se passam as horas até ao cair da tarde.

Quando me lembro o quanto aspirei pela reforma, quantas vezes pensei se algum dia lá chegaria e as mil e uma coisas que iria fazer, estava tão, mas tão equivocado. O tempo é sem dúvida o melhor mestre. Quando somos crianças ansiamos ser adultos. Quando somos adultos queremos ser maduros e quando atingimos a maturidade queremos voltar às nossas raízes, começamos a planear como vai ser bom ter o tempo todo só para nós e longe de todas as preocupações. 

Puro engano. Quando alcancei o sonho, fartei-me dele em três tempos. Os primeiros meses, foram, de facto, de puro deleite. Deitava-me à hora que me apetecia sem preocupações para o dia seguinte, levantava-me quando me dava na real gana sem olhar sequer para o exigente relógio que durante décadas me gritava às sete da manhã: 

- Levanta-te Zé…

Assim que tomava o pequeno almoço ia a correr para o quintal onde nenhuma erva tinha sequer autorização de assomar à face da terra, quanto mais de crescer, porque eu andava quase de binóculos a vigiá-las para as arrancar no momento seguinte. Depressa percebi o ridículo do meu comportamento, porque ninguém pode impedir a erva de nascer ou os maios de florir. E aos poucos os malvados dias passaram a ser enormes e enfadonhos. Raios partam a reforma -  resmungava de mim para mim. Quem dera ter me levantar de novo cada manhã para ir trabalhar! 

Vá lá a gente entender. Nunca estamos satisfeitos com aquilo que temos. 

Verdade mesmo...

No entardecer dos meus dias vejo-me assim rodeado apenas pelo silêncio em que tudo à minha volta se transformou. Nem um grito de gaiato, nem uma mãe a chamar "Ó Zéééiii" nem um apito de comboio nos agora inúteis carris estendidos por quilómetros desde a Beirã até à Torre das Vargens ou a Valência de Alcântara. Bolas! Como pode o mundo dar estas cambalhotas tão grandes que só faltou mesmo virar-se o norte para o sul ou o nascente para o poente? 

Recebi dos meus pais e avós um mundo que não era de todo perfeito, mas sinto que vou deixar para os meus filhos e netas outro mundo bem mais complicado e perigoso. Quando era "pequeno" eu sabia o que me esperava quando fosse "grande". Estava escrito nas estrelas. Trabalhar, trabalhar, trabalhar. No que quisesse. Padeiro ou sapateiro, cavador ou pastor, pedreiro ou carpinteiro, ferroviário ou carteiro… 

Mas o que foi feito de todos esses ofícios? 

O que dizem hoje as estrelas aos nossos vindouros ou para que querem eles tantos cursos superiores se ao terminá-los ficam com o canudo debaixo do braço e têm de ir trabalhar para o que mais depressa lhes aparece, se aparece? Os sinais são cada dia mais inquietantes, pressinto por isso que o que espera as futuras gerações seja bem diverso daquilo que me esperava a mim ao nascer. 

E pela lógica, não deveria ser assim. 

Sei, tenho plena consciência de que alcancei todos os meus objetivos sem ajudas de ninguém, guiado apenas pelo meu querer e à custa de muito trabalho. No mundo atual só consegue alguma coisa quem tiver ajudas e padrinhos, só consegue singrar quem tiver quem lhe dê a mão e o puxe para cima, seja a que preço for. 

Boa semana!


José Coelho

segunda-feira, 19 de junho de 2023

Happy moments...


Tão bom recordar, Pipoquinha!
Vídeo Ana Batista - 2016

Boa semana


Por orgulho, nós queremos respostas para tudo. Por sabedoria, desistimos de certas perguntas.

Z. Magiezi

- 18. 06. 2023

sábado, 17 de junho de 2023

Ave rara em (quase) tudo ...

Imagem da net


Na primeira metade da década de 50, aquela em que nasci logo no ano segundo, a minha mãe tinha de levantar-se muito antes de nascer o sol para acompanhar o meu pai na labuta de semear, sachar, regar e colher, pimentos, batatas, cebolas, tomates, melancias e melões, ora nas várzeas do Vale do Cano, ora nas da Nave, ou nas do Matinho e Amendoeiras, onde ele foi durante grande parte da sua vida, hortelão-mor.

Levavam com eles a minha irmã Adelina já moçoila porque mais velha que eu quatro anos e a mim deixavam-me na “mestra” – era assim que se chamavam naquele tempo as senhoras que nos aceitavam em suas casas, transformadas em infantários da gaiatada dos trabalhadores rurais mediante o pagamento de uma modesta mensalidade.

(Quiçá tenha sido essa época o embrião dos sofisticados infantários e átêéles atuais)

Para nos manter sossegados a Senhora Vicência Olivença - era esse o seu nome -  entregava-nos uma ardósia e um lápis de pedra e punha-nos a copiar o a-e-i-o-u, os algarismos, a tabuada, em suma, as primeiras noções básicas da escola primária. De tal modo eu “encarrilhei” com tudo aquilo que aos 5 anos já sabia ler, escrever e contar.

Tanto assim foi que em outubro de 1958 quando entrei para a Escola Primária Masculina da Beirã, a senhora professora D. Clarisse Quezada, ao constatar o estado avançado dos meus conhecimentos básicos, colocou-me imediatamente na fila destinada à rapaziada da 2ª classe.

Hoje isso não seria possível com certeza mas naquele tempo uma senhora professora era uma autoridade reconhecida, respeitada e obedecida por toda a comunidade, logo a seguir ao senhor padre e ao senhor regedor.

Foi esquisito à brava porque assim eu aprendi toda a matéria da segunda classe logo no meu primeiro ano escolar, mas depois em junho, nas provas de passagem, tive que fazer a Prova de Passagem da Primeira para a Segunda Classe que de facto me competia.

(Curiosamente tenho esses documentos ainda hoje em meu poder porque a senhora minha Mãe - que Deus a guarde - tinha tudo isso religiosamente guardado como se fosse um tesouro que eu encontrei quando vim viver definitivamente para cá em virtude de a casa já ser minha, mas ter sido por nós acordado por compromisso verbal à data da compra, o usufruto comum enquanto eles vivessem).

E assim se cumpriu escrupulosamente.

Mais esquisito ainda foi depois das férias grandes desse meu primeiro ano escolar, em outubro seguinte, quando a D. Clarisse me colocou novamente na fila das carteiras da malta da terceira classe, em virtude de eu já ter dado a matéria da segunda.

Desse modo fiz pois todo o meu percurso escolar sempre um ano adiantado, mas a fazer as Provas de Passagem de Classe naquelas que me efetivamente me pertenciam, coisa que em nada me favoreceu porque depois na quarta classe tive de injustamente marcar passo dois anos sem nunca ter chumbado... 

Apesar de já ter dado a matéria, oficialmente pertencia à classe anterior, de onde nunca devia ter sido retirado, acho eu. De que me valeu o reconhecimento pela professora da minha aptidão se depois não me podia mandar a exame no final? Os meus companheiros foram a Marvão fazê-lo enquanto eu tive de ficar inutilmente a repetir tudo o que já sabia. 

Ave rara desde que nasci - porque só eu varão em quatro partos muito bem sucedidos da Mãe Florinda - em 1969 enquanto metade dos jovens fugiam à tropa para não irem à guerra eu ofereci-me voluntário sabendo quase de certeza que ia lá malhar com os ossos. Tinha 17 anos. Sabia lá eu, provinciano ingénuo sem nunca daqui ter saído, o que era a tropa, o que a guerra, o que era o mundo. 

Mas fui.

Safei-me, dou graças por isso. Olhando hoje para trás e revisando toda a minha vida enquanto o alzaimer  não a apagar da memória, dou por mim muitas vezes a pensar:

- Ó Zéi - era assim que a minha santa mãe me chamava sempre - só te faltou mesmo seres rico, para poderes acreditar que a sorte existe!


José Coelho

sexta-feira, 16 de junho de 2023

Bom fim de semana


 A vida ensinou-me:

- Que há decisões que temos de tomar.
- Que há mudanças que precisam de acontecer.
- Que há medos que temos de enfrentar.
- Que há solidões que precisamos suportar.
- Que há lágrimas que temos de chorar.
- Que há recomeços que precisam florescer dentro de nós.

E que mesmo quando pensamos que já não somos capazes de suportar mais nada, o tempo vai revelar-nos que somos muito mais fortes do que pensávamos e ainda mais corajosos do que imaginávamos...

Vídeo Manel Coelho

Quem ama, cuida...


Com a chegada em força da canícula alentejana houve que mudar os manjericos para debaixo da frescura da latada para não se queimarem. Entre os vasos, estrategicamente camuflado, um bebedouro sempre cheio de água fresca para os melros e pardais, pintassilgos e verdelhões, rolas e outras que tais, poderem vir matar a sede, nas horas de maior calor...

- 15. 06. 2023