quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Boas Festas

Auto-retrato 13Dez'18

Um fraterno abraço para toda a minha Família, Amizades e Conterrâneos onde quer que se encontrem, com os mais sinceros votos para que o Natal 2018 venha cheio de saúde, pão na mesa e muita serenidade para todos.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Bom fim de semana...

Poço do Monte Velho com bebedouro milenar
Foto by José Coelho

Meu vício de ler...


Esta imagem não faz parte do texto, fui eu que a copiei do Google 


A corporação do Parlamento

No país do SNS, os deputados, até os de esquerda, acham bem, entre vários privilégios eticamente indefensáveis e práticas que podem ser criminosas, receberem um seguro de saúde… ilegal desde 2007.

Leio as principais conclusões do relatório do Tribunal de Contas (TdC) referente à atividade do Parlamento português e sinto vergonha, vergonha mesmo, ao saber que os deputados estão sob a suspeita de fraude fiscal por alegados pagamentos indevidos.

Repare-se: já não estamos a falar apenas daquelas mulheres e homens que representam os Açores e a Madeira. Essa possibilidade já ficara conhecida com o caso Carlos César, presidente do PS, um dos que duplicava o subsídio semanal de 500 euros atribuído em São Bento com o direito ao subsídio social de mobilidade, pago através dos CTT, e devido a todos os portugueses que residam nas ilhas.

O que o TdC admite agora é que existe um “risco elevado” de terem sido pagas viagens fantasmas a todos, devido à dispensa de apresentação de comprovativos.

Para além do caso das viagens, o relatório obviamente foca o ineficaz controlo das presenças, no centro das atenções devido, entre outros, a José Silvano, secretário-geral do PSD, e na possível (eu diria quase certa…) desatualização de dados relativos às moradas de residência – o que tem depois a ver com o recebimento de verbas várias, de ajudas de custos.

Estamos perante um caso que honra a tradição portuguesa da pescadinha de rabo na boca. As notícias estão aí publicadas, sem bolinha no canto superior direito, e sem atender a que podem estar a ser consumidas por menores de idade. É só aceder.

Perante este esgoto a céu aberto, não sei que mais lamentar: se o facto dos deputados serem suspeitos de poderem ser capazes de, individualmente, se comportarem como vulgar gente desonesta ou de, coletivamente, terem dado pelo tempo fora a certeza de, nos seus interesses pessoais, formarem uma grande irmandade unida por um silêncio capaz de ir da direita à extrema-esquerda. É que não existe notícia de nenhum destes 230 deputados alguma vez ter pretendido dar conteúdo ético aos privilégios da função, abdicando de alguns deles ou denunciando práticas obscenas.

E há um privilégio que é, obviamente, de estarrecer: o pagamento de um seguro de saúde, desde 1990, que é ilegal desde 2007, momento em que a lei do orçamento passou a proibir o financiamento público de sistemas privados de proteção social e de cuidados de saúde. Torna-se penoso ver como a corporação do Parlamento tenta defender que este seguro faz sentido num país no qual existe o Serviço Nacional de Saúde. Mais: que nunca nenhum deputado de esquerda, de Jerónimo a Catarina Martins, passando por Isabel Moreira e outros faróis de virtude, alguma vez se tenha incomodado com esta outra duplicação que lhes deveria ferir as extremadas convicções ideológicas.

Ao ler estas notícias, não posso deixar de me lembrar da transparência do deputado federal brasileiro Tiririca (“Vota Tiririca, pior que tá não fica”), um humorista popular eleito já três vezes por São Paulo e que também disse, logo a abrir: “Venho para defender os interesses dos mais necessitados, a começar pelos meus e os da minha família…”. Aos deputados portugueses só falta este despudor. O resto está lá tudo. E agonia.

João Marcelino – Jornal Económico, 07 Dezembro 2018

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Talvez seja...

Cópia quase perfeita porque o pai não usava óculos
e eu não uso bigode


Muitas vezes, ao longo da minha vida, tive momentos de desânimo e vontade de baixar os braços. Não foi fácil, embora haja quem pense o contrário, mas não é para carpir dificuldades que estou a escrever estas linhas.

Bom ou mau é passado e a vida é hoje com esperança no amanhã, apesar de a nossa memória guardar, por incrível que pareça, imagens de alguns momentos que, por mais tempo que passe, nunca conseguimos esquecer. Muitas vezes dou por mim a cerrar os olhos para ir ao encontro dessas memórias, "visualizando-as" mentalmente.

É comum andar no meu quintal a plantar as minhas hortaliças e "ver" o meu velho pai e querido amigo, a ensinar-me como fazer um rego de sementeira direito, como ajeitar os dentes de alho na terra para não tombarem quando o sacho de terra os cobre.

Sei lá...

Tantas e tantas coisas lhe vi fazer e ele me explicou com aquela paciência que o caracterizavam. De tal modo que às vezes tenho a ilusão de ouvir aquela saudosa voz que tanto me ajudou sempre.

Uma das suas principais características era o amor pelos animais. Como o vi chorar desconsoladamente quando uma cabrita que trazia sempre atrás dele morreu enleada na corda que a prendia, enquanto ele veio almoçar. O carinho com que tratava a canita Toiota que o seguia para toda a parte.

Foi sem dúvida o meu ídolo, o meu principal mestre, o meu guia.

Foi por sua expressa decisão que tive que comprar esta casa e a reconstruí. Sabe Deus a pena infinita que senti por não o ter já connosco quando a reconstrução dela terminou. Tenho a certeza que ficaria feliz.

É em sua memória que aqui continuo e "copio" cada um dos seus rituais nas minhas sementeiras, no carinho pelos animais, na luta cada vez mais complicada de manter unida a família, como ele também tanto gostava.

Agora que estou a envelhecer, sinto um profundo orgulho de me parecer fisicamente cada dia mais com ele. Quando pela manhã me barbeio, o espelho devolve-me uma cópia quase fiel do seu rosto. As mesmas rugas, a mesma expressão sisuda. De tal modo que chego a comentar em voz alto: Caramba Zé Coelho estás a ficar "igualinho" ao ti António!

Talvez sejamos mesmo parecidos ou talvez sejam apenas as minhas saudades dele.

José Coelho, 04 Nov'18

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Tão breve...

Auto-retrato Nov'18

A vida

A vida é o dia de hoje,
a vida é ai que mal soa,
a vida é sombra que foge,
a vida é nuvem que voa,
a vida é sonho tão leve,
que se desfaz como a neve,
e como o fumo se esvai...

A vida dura um momento,
mais leve que o pensamento,
a vida é folha que cai...

João de Deus

Volta do ribeiro - Beirã



 Fotos by José Coelho - Nov'18

A minha alma chorou...

Foto by José Coelho - Nov'18

Abandonada

A velha casa, onde (moraram os meus avós) outrora
e que há muito está desabitada,
silenciosa envolveu-me, ao ver-me agora,
num triste olhar de amante abandonada.

Com que amargor no íntimo lhe chora
uma alma sensitiva e ignorada,
que não tem voz para queixar-se, embora
se veja só, de todos olvidada!

Casa deserta e fria, que envelheces
ao desamparo sem uma afeição,
bem sinto que me vês, que me conheces

e relembras os dias que lá vão…
Eu esqueci-te, amiga, e tu pareces
toda magoada dessa ingratidão.


Roberto de Mesquita
(levemente modificado)

A aldeia mais bonita do mundo...

Foto by Maria Coelho

Meu vício de ler...

Parque Terra Nostra - S. Miguel - Açores - Abril'18

Não morremos assim de qualquer maneira

A semana passada deixei de comer chouriços. E presunto. E fiambre. E mortadela!!! Esta semana deixei de comer queijo. “Afecta a mesma molécula das drogas duras”, dizia um estudo. Eu não quero ter nada a ver com isso, gosto muito de queijo, mas não quero ter nada a ver com drogas, muito menos ser visto como um agarrado ao queijo. Acabou-se com o queijo cá em casa. Também já tinha acabado com o pão, por isso…

O mês passado deixei de beber vinho branco. Um estudo dizia que fazia mal a não sei quê. Se calhar era cancro também. Passei a beber só tinto que dizia um estudo ser ideal para uma série de coisas. Esta semana voltei a beber branco porque, entretanto, saiu um estudo a dizer que afinal o branco até tem propriedades que fazem bem e muito tinto é que não. Comecei a reduzir no tinto, mas também acho que compreendem, não quero morrer assim de qualquer maneira.

Cortei nas azeitonas também porque um estudo dizia que têm demasiada gordura, são muito insaturadas, ou lá o que é, mas não parece nada bom.

Andava praticamente a peixe até perceber que os portugueses comem peixe a mais e são, por isso, prejudiciais ao ambiente. Eu sei que não moro no continente mas como sou português e ainda contam todos para o estudo, sei lá, os que estão e os que não estão, e como eu não quero ser acusado de inimigo do ambiente, ando a cortar no peixe também. Especialmente no atum que está cheio de chumbo e o bacalhau também porque causa daquele estudo que saiu sobre a quantidade de sal mas, também, acho que compreendem, não quero morrer assim de qualquer maneira.

Esta semana saiu um estudo a dizer que afinal o vinho em geral faz mal. Fiquei devastado. Há dois meses foram as couves roxas. Vi até um especialista na televisão dizer que não devíamos comer nada cuja cor seja roxa; “é sinal que não é para comer”, dizia. Arroz também quase não como porque engorda, quanto mais esfregado pior, e saiu um estudo a dizer que implica com uma função qualquer mais ou menos delicada. Não é a reprodutora porque acho que essa é com a soja. Dá hormonas femininas aos homens, e consequentes mamas, o raio da soja (!) e prejudica as funções todas. Não, soja nem pensar!

Leite também já há muito que me livrei dele. Foi, salvo erro, desde que saiu um estudo a dizer que o nosso corpo não está preparado para leites. Por isso, leite não. Sumos de frutas também dispenso enquanto não resolverem o problema levantado no estudo que apontava para… não sei muito bem para quê, mas apontava e não era nada excitante mas, também, acho que compreendem, não quero morrer assim de qualquer maneira.

Carne vermelha, claro, também não. Ataca o coração, diz o estudo. Galinha nem sonhar porque umas estão cheias de gripe e as outras encharcadas de antibióticos. Além de que carne de galinha a mais, como dizia outro estudo, impacta com o desenvolvimento dental, o que até parecia óbvio mas ninguém percebia, pois as galinhas não desenvolvem dentes. Cortei a galinha há muito tempo. Porco? Só a brincar. É óbvio que não há cá porco. Não chegassem as salsichas e afins ainda veio este outro estudo, ou ainda não leu? Pois então, diz que o excesso de carne de porco pode provocar uma diminuição de massa cinzenta e o aumento dos ciclos atópicos do mastoideu singular. Ninguém quer passar por isso! Você quer? Eu não mas, também, acho que compreende, não quero morrer assim de qualquer maneira. Esqueça-se a carne de porco, pelo amor da santa!

Ah!… Já me esquecia do glúten! Glúten, também não. É que nem pensar! Durante muitos anos nem sabia que existia, mas desde que me apercebi da existência de semelhante coisa arredei tudo o que tivesse glúten. Deixa-me pouca escolha mas, também, acho que compreendem, não quero morrer assim de qualquer maneira.

Ovos! Claro que também não como ovos. Primeiro porque não sou nenhum ovíparo e depois por causa das quantidades de coisas que aquele estudo que saiu a semana passada dizia. É um rol senhores, um rol e colesterol! Vão ver e admirem-se! Os ovos! Quem diria os ovos… Enfim, é a vida: ovos nem vê-los! Como a manteiga: é só gordura! Desde que acabei com o pão e com o queijo, a manteiga também, por assim dizer, deixou de fazer falta. Ainda a usava para fritar ovos mas agora também não se pode comer ovos… Pois, a manteiga, dizia o estudo, é só gordura animal e animais não devem comer a gordura uns dos outros. Pareceu-me um bom fundamento e acabei com a manteiga.

Ia fazer uma salada. Sem muito azeite, claro, porque, compreendem, não quero morrer assim de qualquer maneira, sem sal, naturalmente e vinagre só do orgânico, porque, compreendem, não quero morrer assim de qualquer maneira…

É quando recebo um email com o título “Novo Estudo Aconselha a Ingestão Moderada de Saladas e Hortaliças”.

Enchi um copo de água, filtrada, naturalmente, de garrafa de vidro e sorvi um golo ávido. Espero que não me faça mal.”


Encontrei na net e desconheço o autor

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Meu vício de ler...




A nossa religião é aquilo que fazemos quando o sermão acaba


É mais do que conhecida a máxima de que os exemplos e as atitudes é que valem, porque discursos e palavras leva-os o vento. Podemos dizer frases bonitas, argumentar com propriedade, porém, a forma como vivemos e o que fazemos é que determinará o que somos, o que temos dentro dos nossos corações.

O mundo anda carente de amor, de respeito, de empatia, de se reparar no outro, de se perceber que somos parte de um todo. A vida corre também fora de nós e estende-se muito além da nossa zona de conforto. Temos que cuidar do que ocorre dentro de nós, dos nossos sentimentos, porém, caso só nos preocupemos com o nosso eu, estaremos a negligenciar o nosso papel social, a nossa capacidade de nos relacionarmos e de fazermos uma diferença positiva nas vidas alheias.

É interessante notar que as pessoas procuram diferentes formas de se comunicarem com Deus para se sentirem bem. (...) Mesmo assim, apesar de toda essa multidão que frequenta igrejas, cultos, terreiros, ainda assistimos a cenas de total falta de compaixão em relação ao próximo. Nem mesmo crianças e idosos são poupados a atitudes violentas, ultimamente.

E, ao lado dessa violência explícita, ainda há a violência velada, implícita, indirecta, mas também extremamente prejudicial. Um simples olhar, o desprezo, o silêncio diante do mal e outras atitudes que implicam violência e maldade. Muitas pessoas, inclusive, conseguem ser muito melhores na rua do que em casa. Encenam uma figura boníssima na sociedade, porém, transformam os seus lares em verdadeiros infernos, sendo cruéis com seus familiares nas mais variadas formas.

Como se vê, muitas pessoas se contradizem diariamente, fingindo o que não são, tentando expiar as suas culpas em locais religiosos, fazendo caridade como obrigação e tentativa de receber perdão, porque, na verdade, têm consciência do mal que espalham. Porém, de nada adianta orar e continuar praticando os mesmos erros. A religião está dentro de cada um e só existe na prática. Porque a religião não se discute, pratica-se.


Marcel Camargo (Adaptado)

Boa semana...

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Meu vício de ler...

By Facebook in November'18


Tudo o que eu preciso


Tudo o que eu preciso para viver, carrego sem ocupar as mãos.
Tudo o que eu preciso para ser feliz, não se transporta numa caixa, não se guarda numa mala, não pesa nos ombros.
Carrego comigo só o que preciso para me movimentar livremente, neste mundo tão cheio de coisas.
Aquilo que eu carrego não tem peso, nem forma, nem volume.
São coisas que me alimentam, sem que eu precise comer.
Que me levam de um para outro lado, sem que eu precise caminhar.
Que me alegram, sem que eu precise adquirir.
Carrego comigo a sabedoria herdada dos meus pais.
A dignidade conquistada com o meu trabalho.
As lições aprendidas na dor.
O amor dos meus afectos.
E a força da minha fé.
Com apenas isso eu posso ir mais longe do que qualquer viajante carregado de bagagem.
É mais fácil viver ou andar por aí.
Porque  as coisas ocupam espaços, atravancam caminhos, bloqueiam a visão.
E as coisas que não cabem no coração, pesam nos braços.
Por isso eu só carrego coisas que caibam nos sonhos que inventei para ser feliz.


(Um texto de Lena Gino, adaptado)

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Meu vício de ler...


Dourado entardecer pelos campos da Beirã
Foto by José Coelho

Aproveita o dia,
Não deixes que ele termine sem teres crescido um pouco,
sem teres sido feliz, sem teres alimentado os teus sonhos.
Não te deixes vencer pelo desalento.
Não permitas que alguém te negue o direito de te expressares que é quase um dever.
Não abandones a tua ânsia de fazer da tua vida algo extraordinário.
Não deixes de crer que as palavras e as poesias, sim, podem mudar o mundo.
Porque, passe o que passar, a nossa essência continuará intacta.
Somos seres humanos cheios de paixão.
A vida é deserto e oásis.
Derruba-nos, lastima-nos, ensina-nos, converte-nos em protagonistas da nossa própria história.
Ainda que o vento sopre contra, a poderosa obra continua, tu podes trocar uma estrofe.
Não deixes nunca de sonhar, porque só nos sonhos pode ser livre o homem.
Não caias no pior dos erros: o silêncio.
A maioria vive num silêncio espantoso. Não te resignes, nem fujas.
Valoriza a beleza das coisas simples, pode fazer-se poesia bela, sobre as pequenas coisas.
Não atraiçoes as tuas crenças.
Todos necessitamos de aceitação, mas não podemos remar contra nós mesmos.
Isso transforma a vida num inferno.
Desfruta o pânico que provoca ter a vida toda por diante.
Procura vivê-la intensamente sem mediocridades.
Pensa que em ti está o futuro, encara a tarefa com orgulho e sem medo.
Aprende com quem pode ensinar-te as experiências daqueles que nos precederam.
Não permitas que a vida se passe sem a teres vivido…


Walter Whitman (1819 – 1892) foi um jornalista, ensaísta e poeta americano considerado o “pai do verso livre” e o grande poeta da revolução americana.

Beirã - Lugares...

Anta da Cabeçuda
 Foto by José Coelho

Nota:
Este monumento funerário megalítico foi restaurado em meados da década de 80 mas voltou a ruir provavelmente pela força dos dos ventos e das intempéries, encontrando-se actualmente como esta minha imagem documenta.

Hoje seria o teu aniversário, meu querido Pai...

Nunca te esquecerei

terça-feira, 30 de outubro de 2018

A gente nunca mais esquece...

Foto by José Coelho, 16.06.2016

Ressecção endoscópica prostática


16 de Junho de 2016
Hospital Lusíadas Lisboa
Ressecção endoscópica da próstata para me ser retirado um tumor (adenoma).
Acompanhado pela esposa e pela nora Ana Batista que foi levar-me para ser internado às 11 da manhã.
A cirurgia foi marcada para as 18 horas mas teve que ser alterada para as 22 por motivo de força maior.
O cirurgião, Dr João Varregoso, foi chamado a uma situação de urgência devida a um acidente de viação grave.
Para me manterem calmo e alheado das horas, sedaram-me.
Acordei quando a equipa de enfermagem foi buscar-me ao quarto para me levar ao bloco operatório.
Um enfermeiro jovem e sorridente deu-me as boas-vindas no bloco apresentando-se como o enfermeiro chefe assistente e dizendo o seu nome que já esqueci.
Toda a equipa assistente do Dr Varregoso era disciplinada, eficiente e muitissimo simpática.
A seguir veio a Dra cardiologista que me ligou ao electrocardiógrafo.
Depois a Dra anestesista.
- Isto não vai doer nada...
Tudo gente simpática e bem disposta.
Mais parecia a recepção de um hotel do que o bloco operatório do mais conceituado hospital particular do nosso país.
Completamente grogue mas dando conta que a doutora anestesista esteve sempre à cabeceira da mesa de operações do lado direito a falar para mim.
Não recordo nada do que me disse e a sua voz parecia vir do fundo de um túnel.
A doutora cardiologista também esteve sempre à cabeceira da mesa mas do lado esquerdo a controlar os bip bips dos aparelhos a que eu estava ligado.
- Preciso de outro balde, ouvi alguém pedir, daqueles que estavam a assistir o cirurgião, a meio da mesa de operações.
- O doutor está quase a terminar, disse-me a médica cardiologista..
- Já? Demorou tão pouco! Respondi atabalhoadamente.
- Duas horas! Já é meia noite! Respondeu a doutora.
Sem qualquer perceção do passar do tempo dei por mim já operado no recobro cheio de frio.
Depois fui levado para o quarto todo entubado.
Credo...
Como cabem tantos tubos?
Foi duro.
Mas já passou.
Dois anos e meio…
A gente nunca mais esquece
A gente nunca mais fica como era
Ainda assim, há que dar graças
Podia ter sido pior…

José Coelho, Out’18
(Republicado com alguns acertos)

sábado, 27 de outubro de 2018

A mística inexplicável de se nascer Beiranense...

Foto de José Coelho
 27.10.2018 - 19,05 h

Fiz esta imagem com o meu telemóvel no final da missa vespertina do 30º Domingo do Tempo Comum. Desde Setembro de 2016 que assim é. A escassez de sacerdotes e provavelmente também por sermos uma comunidade em vias de extinção que já quase nunca enche o templo, fez com que fosse decidido por quem de direito que a missa de domingo que se celebrava desde que a igreja foi construída há mais de 70 anos até esse mês de Setembro, passasse a ser celebrada às 18 horas de cada sábado.

Sinais dos tempos. Continuo a ir, é claro. O que não tem remédio, remediado está. Mas não fui nem um só sábado alegre e feliz. Levo sempre o coração triste. Cortar pela raiz um hábito que fazia parte da minha vida desde sempre, doeu. Dói ainda. Provavelmente doerá sempre. Ando de volta desta Senhora desde os meus 6 anos de idade. Desde que me conheço que nutro por ela um amor infinito, uma fé inabalável, uma devoção total. A Ela e ao Divino Filho que tem ao colo e habita no Sacrário que está sob os Seus pés, na forma de partículas consagradas.

Não sei quantas imagens d'Ela publiquei já. Sei que foram muitas e que todas foram imediatamente vistas pelos muitos Beiranenses que vivem um pouco por toda a parte. É também a pensar neles que o faço, para que nunca se esqueçam d'Ela. Há uma mística inexplicável de profundo amor a esta Senhora no coração de quem aqui nasceu e cresceu, ainda que muitos possam nem sequer frequentar já a igreja como frequentaram aqui. Algo ficou gravado na memória, no coração, na saudade, no que quer que seja, algo que não se apaga nem com a ausência nem com a distância.

Mas o mais complexo dessa inexplicável mística é que não só quem nasceu Beiranense ficou agarrado à Beirã, à Senhora do Carmo, a estes usos, costumes, gentes e lugar. Houve quem por cá passou e permaneceu pouco tempo, outros alguns anos, outros ainda algumas décadas, mas todos, todos, levaram a Beirã no coração para sempre. Provavelmente acontecerá o mesmo noutros lugares, não sei. Eu nasci aqui, moro (ainda) cá, faço o que posso para manter viva a memória de tudo isto, apesar de cada dia, cada semana, cada mês e ano que passa, mais se torne visível o despovoamento da aldeia e o consequente silêncio que vai tomando conta das ruas.

Naturalmente, a afluência à igreja é consonante com a afluência de gente nas ruas e nas casas. Pouca. Daí a não merecermos (digo eu) ter missa ao domingo como as comunidades maiores ainda têm. Jesus bem disse que "onde estiverem reunidos em Meu Nome dois ou três, Eu estarei no meio deles" mas se calhar (digo eu) não previu que iria haver uma União Europeia que iria concentrar tudo nas cidades do litoral despovoando o interior e que também deixaria de haver pastores suficientes para os Seus rebanhos de fiéis como está a acontecer. Já cheguei a pensar que a Beirã ia morrer diante os meus olhos e primeiro que eu, mas à velocidade a que vejo as pessoas a desaparecerem à minha volta, acho que qualquer dia me vai tocar a mim também e Deus queira que sim.

Para terminar, a propósito disso, tenho uma vizinha amorosa já velhinha que me viu nascer e adoro, a qual uma vez me disse algo que nunca mais esqueci. Foi num dia em que a vi andar a regar as suas laranjeiras (e são muitas) indo buscar a água ao chafariz público do outro lado da rua com dois pequenos baldes que não levariam mais de cinco litros cada um. Eram o que a sua força lhe permitia para assim mitigar a sede do seu querido pomar. Despejava dois baldes em cada laranjeira. E explicou-me, em poucas palavras, com duas lágrimas furtivas nos seus doces olhos, porque é que se dava a tanto trabalho: - Não quero que elas morram primeiro que eu...

Apesar do estado avançado de abandono em que se encontra já a minha Beirã, principalmente do lado de cá da linha, eu também não quero que ela morra primeiro que eu. Já me chega o barulho ensurdecedor do silêncio que campeia pela Rua Fernando Namora e por todas as outras adjacentes.


José Coelho, 27Out'18