terça-feira, 29 de novembro de 2016

Coisas (tão bonitas) que leio...

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En el camino


En el camino aprendí,
que llegar alto no es crecer,
que mirar no siempre es ver
ni que escuchar es oír
ni lamentarse sentir
ni acostumbrarse, querer


En el camino aprendí
que estar solo no es soledad,
que cobardia no es paz
ni ser feliz, sonreír
y que peor que mentir
es silenciar la verdad


En el camino aprendí
que puede un sueño de amor
abrirse como una flor
y como esa flor morir,
pero en su breve existir,
fue todo aroma y color


Rafael Amor

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Democracia não é matéria de aprendizes...

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Regressei à Beirã vindo da guerra no dia 8 de Junho de 1974 quase em vésperas dos santos populares e das fogueiras de rosmaninho que cada família fazia à sua porta para o alegre convívio de umas sardinhadas à mistura com uns pezitos de dança animados por músicas de gira-discos ou gravadores de cassetes.

Era tudo o que eu mais necessitava para matar as saudades de tão longa e sofrida ausência, esquecer os tão maus bocados vividos e reencontrar a harmonia interior na paz abençoada da família e da aldeia que muitas vezes temera não voltar a ver. A Beirã desse tempo tinha um grande grupo de jovens e era uma comunidade muito viva, atuante e participativa.

Aos serões, a malta de ambos os sexos juntava-se em grupos por aí. No Clube, na Sociedade, no Largo da Fonte, à porta da Loja Grande. Havia quem tivesse uma viola, havia até quem cantasse muito bem, havia, enfim, um estilo de vida completamente salutar e diferente do atual em que a amizade, a camaradagem e o espírito de grupo imperavam, dando origem a uma juventude unida, equilibrada e muito, muito feliz.

Quase ninguém tinha ainda televisão em casa. Qualquer programa de maior interesse era visionado pela população nas salas públicas acima referidas que tinham esse dispositivo para a utilização coletiva de quem o quisesse usufruir, o que, de algum modo, contribuía também muito para a juventude reunir e conviver quase diariamente.

Mas os ecos da recente revolução de abril foram, entretanto, cá chegando, mais ou menos ruidosos. E começaram, infelizmente, as tendências negativas do partidarismo, que, por sua vez, começou a dividir em claques os simpatizantes de cada partido. E muitos amigos de uma vida inteira começaram a olhar-se de lado como se de súbito se tivessem tornado inimigos.

Começou ali a nova era que, em meu modesto entender e como muito tenho escrito, não trouxe, nem pouco mais ou menos, tudo aquilo que se perspetivava e se prometeu, quer em termos de futuro, quer em termos de riqueza ou de bem-estar coletivos. Muito e muito pelo contrário. Por cá, a Beirã, a menina dos olhos do concelho de Marvão, iniciou, por essa altura, o seu processo de decadência imparável e irreversível.

Os primeiros excomungados da comunidade foram os agentes da PIDE/DGS com as suas famílias. Vizinhos e amigos nossos, independentemente daquilo que os ligasse ao anterior regime e ao que faziam no exercício da sua profissão, eram habitantes iguais a todos os outros e com os quais convivíamos em paz, em harmonia, e de quem não tínhamos qualquer razão ou motivo de queixa. Muito pelo contrário.

Depois… Bem, depois, foi o processo de integração de Portugal na União Europeia. Com a fronteira livre, a alfândega fechou, a circulação ferroviária reduziu de tal modo que mais de dois terços dos funcionários da CP foram colocados noutras estações longe daqui. Os escritórios dos despachantes oficiais também deixaram de ser necessários e a sombra do desemprego começou a pairar sem deixar lugar a dúvidas sobre muitas e boas famílias beiranenses que ali tinham garantido o seu ganha-pão há décadas.

Alguns que não eram de cá foram simplesmente embora para as suas terras de origem em busca das suas raízes para tentarem reconstruir as vidas desfeitas. Logo a seguir foi extinta também a guarda-fiscal. Golpe sobre golpe. E a Beirã entrou numa lenta agonia. Quem nos havia de dizer, a todos nós, os que continuamos ainda teimosamente por cá agarrados aos canchos, às giestas e aos velhos sobreirais, tão enraizados dentro de nós como o nosso próprio sangue, que iríamos assistir assim impotentes ao definhar lento e imparável da nossa amada aldeia.

Mas não foram só os funcionários da estação que foram “expulsos” pelo “progresso” da revolucionária mudança na política nacional. Antes dessa sangria humana que levou consigo quase toda a vida da aldeia, devo ter sido eu também um dos primeiros beiranenses a ter que “emigrar” para outras paragens, porque a oferta de trabalho, mesmo na agricultura, começou por aqui a escassear bastante. Mas não só. Outros perversos motivos me “empurraram” de cá para fora. Motivos que muito me magoaram e desiludiram, mas que, ao mesmo tempo, muito me ensinaram também acerca da imprevisibilidade da índole humana, até de quem julgamos conhecer bem.

Eu apenas queria constituir a minha família, casar e assentar de vez. Mas precisava primeiro, para isso, de um emprego fixo, conforme vinha idealizando desde muito novo, sendo esse o principal motivo que me levara a oferecer-me voluntário para a tropa apesar de plenamente consciente também que seria quase certo ir ser mobilizado logo a seguir para a guerra a comer o pão que o diabo amassou e ainda com forte possibilidade de lá deixar ficar a pele. Mas, com a graça de Deus, coragem, força e determinação, nunca me faltaram. Nem as lágrimas da minha então aflita mãe me demoveram.

Voltando ao que vinha escrevendo antes do último parágrafo, tive que inesperadamente “emigrar à força” e ir embora para as Minas da Panasqueira, no coração da Beira Baixa, onde permaneci nos cinco anos seguintes até 1979, o ano em que ingressei definitivamente nas forças de segurança. E a principal causa da minha necessidade de partir para tão longe à procura de trabalho não foi, como já escrevi, apenas a falta de oferta de emprego por estas bandas. Foi também e sobretudo o tal partidarismo analfabeto e vesgo que se transformou em fanatismo puro e duro para muito boa gente, pessoas que até ali considerava excelentes amizades de toda a vida, mas que não toleravam o meu livre e democrático direito de optar por “cores” diferentes das suas.

Cedo percebi por isso que os cravos de abril nos libertaram de facto da velha e caduca ditadura do estado novo, mas, paralelamente, para muitos democratas-aprendizes e sem qualquer formação, em aldeias como a minha, no Portugal profundo, quem não militasse na sua “cor” partidária é porque era contra. Logo, um potencial alvo a abater, fosse de que maneira fosse. Democratas tão inteligentes e bem formados que, sem se darem conta, estavam a praticar exatamente e na íntegra a odiosa política totalitária de Salazar e do lema fasciszoide do “quem não é por mim, é contra mim”.

Sofri bastante com tudo isso àquela época, confesso. Nunca desejei mal nenhum a quem tentou por diversas formas, algumas delas bem sujas e cobardes, fazer-mo a mim. A vida encarregou-se de colocar todas as coisas no seu devido lugar. E eu fui compensado com o privilégio sem tamanho de conhecer e conviver com a gente boa da Beira, de trabalhar cinco belíssimos anos ao lado de íntegros e generosos beirões que tudo quanto levavam para o seu almoço repartiam comigo no fundo da mina. Com eles aprendi o inexplicável valor da solidariedade e da verdadeira amizade, aquela que só os mais nobres corações sabem oferecer sem nada esperarem em troca.

Ah e aprendi também a ser grato na mais bela linguagem beirã. Bem hajam…


José Coelho in Histórias do Cota

Beirã - memórias...

A desativada Escola Primária - Foto by José Coelho

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce...

O velho soalho de pinho da Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Beirã, com 73 anos de idade, todo podre e esburacado há 10 dias atrás...

E o novo soalho de afizélia. Obra terminada e entregue hoje mesmo, 10 dias depois. Um encanto para o olhar e mais um sonho do Conselho Económico Paroquial concretizado. Obrigado a Vós, Senhor do Sacrário e Virgem Mãe do Carmo.  Obrigado também à Junta de Freguesia de Beirã e Câmara Municipal de Marvão pela generosa ajuda. Aos poucos, esta santa morada que a todos nós acolhe, vai recuperando a dignidade...

Há pessoas que escrevem coisas tão bonitas...

Copiei do Facebook by fb/fernandocoutoribeiro

sábado, 19 de novembro de 2016

Hoje foi um dia muito bom de formação permanente...


“Que quando as nossas pernas estiverem cansadas, possamos caminhar com a força que existe no nosso coração. Que quando o nosso coração estiver cansado, possamos mesmo assim seguir adiante com a força da nossa Fé! "


Paulo Coelho

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Bom fim de semana...

O rosto é o espelho da alma, dizem. Têm razão.

Coisas que leio...

Foto by Pedro Coelho

Alentejo

A luz que te ilumina,
Terra da cor dos olhos de quem olha!
A paz que se adivinha...
Na tua solidão
Que nenhuma mesquinha
Condição
Pode compreender e povoar!
O mistério da tua imensidão
Onde o tempo caminha
Sem chegar!...



Miguel Torga

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Coisas (bonitas) que leio...

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Se eu pudesse…


Se eu pudesse, te daria as estrelas.
Mas não posso.
As estrelas foram feitas para brilharem no céu.

 Se eu pudesse, te daria o céu.
 Mas não posso.
 O céu é a casa de Deus.

Se eu pudesse, te daria a Lua.
Mas não posso.
A Lua tem que iluminar as nossas noites.

Se eu pudesse, te daria o Sol.
Mas não posso.
O Sol tem que iluminar os nossos passos todos os dias.

Se eu pudesse, te daria o mar.
Mas não posso.
Os peixes precisam do mar para viver.

Se eu pudesse, te daria a chuva.
Mas não posso.
As plantas precisam da chuva para viver.

Se eu pudesse, te daria o tempo.
Mas não posso.
O tempo corre e nunca atende os nossos desejos.

Se eu pudesse, te daria os anjos do céu.
Mas não posso.
Eles têm que guiar os nossos caminhos.

Se eu pudesse, te daria todos os tesouros do mundo.
Mas não posso.
Os maiores tesouros conquistam-se a cada dia.

Se eu pudesse, te daria tanta coisa.
Mas só o que eu tenho para oferecer-te é o meu amor.
Amor, que pode iluminar as tuas noites.
Que pode guiar os teus passos todos os dias.
Que é a minha fonte para viver.
Amor, que supera o tempo e a distância.
Que dá vida a um jardim sem flores.
Que é o maior de todos os tesouros.
Amor, que me faz pensar em ti todos os dias.
Que me faz feliz.
Que me faz chorar.
Amor, que está guardado no meu coração.
Que nasceu e cresceu no meu peito.
Mas que te pertence a ti...
Meu Grande Amor!

Autor desconhecido

sábado, 12 de novembro de 2016

Estou tristinho...


As coisas estão de tal modo mudadas por aqui que a  missa em que participei toda minha a vida ao domingo, passou para o sábado. Tem que ser, eu sei, mas dói a forma como aos poucos tudo acaba. Ainda assim, eu adorarei ao Deus da minha vida. Sempre. E em qualquer circunstância. Bom domingo amanhã para todos vós, já que o meu foi hoje...

Bom fim de semana...

Foto by José Coelho

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Versejando...

Nossa Senhora do Carmo, Padroeira da Beirã - Foto by José Coelho

Oração

Senhor que o mundo criaste
Com tanta sabedoria
E a seguir o povoaste
Dividido em noite e dia

Dividido em noite e dia
Senhor Deus omnipotente
Pelo sol que me alumia
Louvado sejas p’ra sempre

Louvado sejas p’ra sempre
Pela lua branca e bela
Por todo o firmamento
E p'la luz de tanta estrela

E p'la luz de tanta estrela
Obras tuas, meu Senhor
Ao olhá-las vejo nelas
O Teu infinito Amor

O Teu infinito Amor
Que só um Pai sabe dar
E p'ra ser dele merecedor
Nunca eu cesse de Te honrar

Nunca eu cesse de Te honrar
Hoje, sempre, a cada instante
E os Mandamentos praticar
Amando o meu semelhante

Amando o meu semelhante
De todo o credo, raça ou cor
Nunca me deite ou levante
Sem Te dar graças, Senhor

Sem Te dar graças, Senhor
Pedindo com humildade
Perdão por ser pecador
Pai de infinita bondade

Pai de infinita bondade
Faz de mim merecedor
Por Tua santa caridade
Louvado sejas, Senhor

Louvado sejas, Senhor
Nunca me desamparaste
Sempre tive o Teu amor
Senhor que o mundo criaste



Beirã, Setembro de 2005
José Coelho In Histórias do Cota

Coisas q'escrevi...



O aprendiz de xico-esperto


Tinha nove anitos. Era por isso já meio frangote e algo sabido – ou julgava que era – quando certa tarde a professora da Escola Primária Masculina da Beirã, a D. Clarisse Quezada me chamou, para me mandar ir à Virgínia da loja da ti Zabel no Largo da Fonte, com uma nota de 50 escudos, para a trocar por pesetas. 


Era vulgar naquela época as senhoras mais abastadas da Beirã irem às compras a Valência de Alcântara bastando para tanto pedirem autorização verbal ao senhor doutor da alfândega que por norma não se opunha, e, de seguida, apanharem um dos muitos comboios que nesse tempo circulavam pelo Ramal de Cáceres de dia e de noite, numa ida e volta constantes entre as estações dos dois países irmãos.

E lá fui eu contente e todo lampeiro fazer o recado. A Virgínia – muita gente se deve ainda lembrar – a criada da ti Zabel que nos atendia ao balcão da loja, fez as contas ao câmbio e trocou a nota de 50 escudos portugueses por notas e moedas de pesetas espanholas que me entregou.

Nessa época um escudo valia mais ou menos duas pesetas “grosso modo”. Assim sendo e segundo o meu iluminado raciocínio, deveria ter recebido em troca, 100 pesetas. Porém e porque o câmbio sem que eu disso soubesse estava uns pózitos mais favorável ao escudo, a Virgínia deu-me 105 pesetas e não as 100 que eu havia calculado.

- Enganou-se! Pensei eu. Ora! Ainda bem…

E sem pensar duas vezes meti ao bolso as cinco pesetas que julgava serem em excesso por engano da Virgínia e entreguei à D. Júlia, a criada da D. Clarisse que entretanto foi quem veio atender-me quando bati de novo à porta, apenas as outras 100 pesetas redondinhas. Não imaginava eu, xico-esperto de meia tijela, que a transação estava corretíssima porque a peseta tinha desvalorizado mais umas décimas e por isso o câmbio dava a quantia que me fora entregue.

Vendo tão poucas vezes a cor do dinheiro e com umas preciosas cinco pesetas no bolso senti-me um milionário. Corri à taberna do ti Rascalho onde comprei um pacote de tremoços, e, como ainda sobraram umas perras-chicas daquelas que tinham um buraco no meio, passei de caminho pela loja do ti João Batista porque dava para comprar ainda uma gasosa. Em seguida, não fosse algum amigo aparecer de improviso e eu ter que dividir com ele o meu inesperado “banquete”, marchei sozinho para as acácias do cancho da cegonha no penedo da rainha e ali me deliciei com as tão apetecidas iguarias.

Quando ao fim de uma hora de lá vim, qual não foi o meu espanto ao ver que o meu pai, coisa inédita, andava á minha procura! A D. Clarisse, sabendo a como estava o câmbio da moeda, mal a criada lhe entregou as 100 pesetas, logo terá logo exclamado: “Isto está mal”… E mandou a criada à loja da Virgínia reclamar. Como é lógico, a Virgínia, pessoa séria e de muito boas contas, explicou que tinha entregue ao portador 105 e não apenas as 100 pesetas! E, sem grandes dificuldades, concluiram o resto.

O meu pai, para mal dos meus pecados nesse dia, estaria já entretanto, na taberna ao lado da mercearia da ti Zabel e logo ali foi informado da minha xicoespertice. Escusado seria dizer que, no momento seguinte, andava ele á minha procura para me obrigar a devolver o que eu tinha roubado e também para me “untar o faval” coisa que até esse dia nunca tinha acontecido.

É verdade! Foi a única sova que o meu pai me deu, que eu me lembre.

E como eu a mereci!

Assim que me viu aparecer ainda a lamber os beiços dos tremoços com gasosa, chamou-me e vociferou furibundo:  - Anda comigo lá a casa que temos que ir fazer umas contas…
- Mau, maria… Pensei eu!
Nunca o tinha visto tão zangado! Mas logo comecei a cogitar como me havia de safar, e, antes de chegar à porta da nossa casa, larguei a correr dizendo-lhe:

- Vou à frente pai, para ir ver de um lápis, para lhe fazer as suas contas…

Xico-esperto de novo hein?!...

Mas… Não me valeu a esperteza!

O meu pai deu duas ou três grandes passadas entrou logo atrás de mim e antes de eu poder fazer mais qualquer coisa, agarrou-me pela blusa e jogou-me um chapadão tão grande que fui arremessado contra a parede do corredor. Ainda não me tinha sequer refeito da surpresa e… Bumba! Outro valente chapadão com aquela mão calejada que mais parecia uma tábua. E os meus ouvidos a zunirem que pareciam duas campainhas… Tziiiiiiiiiing!

- Caraças que isto doeu…

Como em toda a minha ainda curta vida e até àquele preciso momento nunca o meu pai me tinha tocado nem com um só dedo – nem nunca mais tocou no resto da sua vida – fiquei deveras acagaçado e só talvez ali é que comecei a perceber que tinha metido a pata na poça e até ao joelho…

- Seu cabrão! Vociferava ele com os dentes cerrados, completamente danado! Nesta casa somos pobres mas nunca cá houve gatunos… Onde é que estão as pesetas que roubaste à professora?

- Ai agora!  Pensei eu, ainda mais apavorado!
E lá tive que explicar-lhe como as tinha gasto e que por isso já não as poderia devolver.

- Muito bem – respondeu ele – eu vou à Virgínia comprar as cinco pesetas mas quem as vai levar à professora na minha frente e pedir-lhe desculpa, és tu. E é agora mesmo!

Dito e feito, lá tive que ir então atrás do ti Antónho Coelho, de rabinho entre as pernas envergonhadíssimo e sem saber como encarar a professora, que, como vocês todos se devem ainda lembrar, não era nada dada a meiguices e tinha também umas mãozinhas muito lampeiras. E eu bem sabia, pois muitas vezes as tinha já experimentado!

- Vou papá-las dela tamém... Pensei, com mau agoiro.

Porém, enganei-me. A professora, talvez pela presença do meu pai, não me tocou e apenas me disse muito carrancuda: - Fizeste uma coisa muito feia José Manuel e eu agora já não quero as cinco pesetas. Mas vais entregá-las no próximo domingo na missa ao senhor padre no cesto das esmolas à frente de toda a gente para toda a Beirã ficar a saber o que tu fizeste…

- Jesus credo, “amalssoadas” pesetas… Pensei em pânico.

Mas assim teve mesmo que ser. Foi cá um destes vexames… O maior – e  felizmente o único – em toda a minha vida.

Mas foi também, disso tenho absoluta certeza, a melhor e mais dura lição que recebi. Nunca mais, mas mesmo nunca mais, tive tentações de repetir tal esperteza.

Era assim que naquele tempo educavam a gente. E que eficácia tinha!
Coitado do meu pai que todo o resto da sua vida teve pena e algumas vezes chorou por me ter dado aquelas “orelhadas”.  Vezes sem conta se culpou por me ter agredido daquela maneira pois ele não era mesmo nada dado a violências – quem o conheceu sabe que ele era a bondade em pessoa – e incapaz de ser agressivo fosse com quem fosse e pelo quer que fosse, muito menos com os filhos que adorava.

Mas eu reconheço até hoje do fundo do coração que me faziam falta e me fizeram muitíssimo bem. Se pudesse falar com ele, dir-lhe-ia carinhosamente:

- Obrigado por m’as teres dado querido pai! Aquelas tuas valentes “lambadas” foram para mim uma vacina contra a desonestidade de tal modo eficaz que o seu efeito foi vitalício. Nunca mais perdeu a validade...




José Coelho in Histórias do Cota

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Coisas que publico noutros sítios...

Alistamento 03 de novembro de 1986 e 30.º aniversário
em 03 de novembro de 2016, no mesmo local
    Nunca na minha vida imaginei ter um pelotão inteiro de excelentes e sinceros Amigos, passados 30 anos. Estou profundamente grato a todos pelo convite, mas também pelas inúmeras demonstrações de afeto e de consideração destes últimos dias. O meu enorme respeito por todos vós começou exactamente no dia 03NOV1986 no CIP/PORTALEGRE e permanece intacto em 03NOV2016. Como adjunto do comandante do pelotão e porta-voz em primeira mão das vossas dificuldades, dúvidas e expectativas, apenas cumpri o meu dever e a minha obrigação ao dedicar todo o meu empenho para vos ajudar a ultrapassá-las. Dá para perceber que valeu a pena...

Coisas que leio...




Sabes aquela solidão que nem aquele abraço especial é capaz de apagar, apenas fazer doer menos? Aqueles dias em que o peso do mundo é tão avassalador que nem consegues levantar a cabeça? Em que não te sentes capaz sequer de abrir os olhos porque a realidade é tão crua que achas que não vais aguentar? Aquela sensação de vazio que nada preenche? 

Aqueles dias em que por mais amor que te dêem não parece suficiente para preencher o buraco que se abriu na tua alma? Dias de chuva, cinzentos ou mesmos negros como bréu, em que não há raio de sol capaz de atravessar as nuvens?

Sim, existem. Também fazem parte da vida. Mas não duram sempre.

Prometo. E olha que eu não sou de promessas.....

Nami

(Texto e imagem copiados da página "Palavras feitas de vento")

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Uma preocupação a menos...

O Sr Dr disse que, por ora, tá tudo bem!
Venha então fevereiro de 2017,
 para o próximo diagnóstico.