quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Meu vício de ler...

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Pedrógão, uma vergonha coletiva


Há um estranho desconforto que se apodera de nós perante os crescentes pormenores de irregularidades no processo de reconstrução de Pedrógão Grande. Podemos apontar o dedo e alegar que felizmente nunca seríamos aquilo, mas nas trapalhadas e denúncias a que vimos assistindo está um pouco do país espelhado.

Poderes e serviços que deviam ser garante do cumprimento da lei e da boa gestão dos bens públicos encolhem os ombros e tentam minimizar as falhas cometidas. Pessoas que abusaram da sua condição de vítimas justificam-se com os erros dos outros e elaboram desculpas para transformar o puro oportunismo num direito. Contratações e subcontratações feitas sem transparência resultam em obras sem qualidade e sem sentido das prioridades. À distância, uma sociedade inicialmente solidária e presente demarca-se, generaliza os abusos e admite desconfiar de tudo.

A tragédia de Pedrógão Grande foi única na dimensão dos estragos e na exposição da vulnerabilidade do interior. Mas foi igualmente única na enorme mobilização de apoios, nas demonstrações de solidariedade, na quantidade de instituições e respostas no terreno. Se, por uma vez, fomos obrigados a olhar para as nossas maiores fragilidades de país desequilibrado, exigia-se que com isso tivéssemos aprendido alguma coisa. E que a tragédia de Pedrógão se transformasse em oportunidade - dolorosa, sempre, mas ainda assim uma oportunidade.

O que vemos, pelo contrário, é uma tragédia transformada em vergonha. Uma vergonha apenas possível porque ao longo dos anos fomos normalizando comportamentos abusivos nos poderes políticos, nos serviços públicos e na intolerável tendência para procurar ou condescender os "favorzinhos". Que ninguém desvie o olhar de Pedrógão. Do que foi e do que é urgente conseguirmos ser.


Inês Cardoso in JN 27.08.18

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Saudades...

Foto by Pedro Coelho

Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?

Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.

Chamo aos gritos por ti — não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.

Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!

Miguel Torga

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Seis dias (e seis noites) de vigília forçada...

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Foi a primeira dor de dentes da minha vida. Sem ser de grandes pieguices, vi-me e desejei-me com a dita cuja. Latente, insuportável, chata, persistente. Não imaginava que fosse tão violenta. Duas visitas ao dentista e três raios x depois, foi diagnosticada infecção. Mas só passados seis dias a insistente e aguda dorzinha cedeu às bombas de antibiótico e me deixou descansar um pouco.

Uffff...

Vamos ver o que se segue. Para mim o melhor remédio é... Sol na raiz! Oxalá o dr Sousa Martins seja da mesma opinião daqui a uns dias. Já sabem agora o que me tem mantido afastado do meu vício. Todo o tempo foi pouco para cirandar da sala para a cozinha e da cozinha para a sala estes dias. Só quem já passou por elas saberá do que falo.

Vai lá, vai ...

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Bodas de prata dourada...

Em 4 de Agosto'18 no batizado das netinhas de um bom amigo

Cumprem-se hoje os 42 anos de matrimónio da Maria Manuela com o Zé Manel Coelho. Nem tudo foram rosas, nem tudo foram espinhos, como (provavelmente) todos os outros matrimónios de muito longa duração.  Mas, apesar de tudo, chegámos, pelo menos, de 14 de Agosto de 1976 a 14 de Agosto de 2018.

Os primeiros 25 foram, quase na íntegra, vividos em função dos filhos. Foi fácil perceber que o Manel e o Pedro tinham a máxima prioridade e que por eles era preciso caminhar e lutar juntos.  Valeu a pena. Oh se valeu. Só que eles, mal tinham deixado as fraldas, já eram adultos.

O tempo, esse malvado que às vezes parece tão lento, mostrou-nos o quanto é fugaz e passageiro. Os nossos meninos em menos de um ai já eram homens e foram-se embora porque constituíram a sua própria família, deixando-nos sozinhos. É a lei da vida, na sua mais perfeita normalidade.

Estamos a começar a envelhecer. E a ficar rabugentos. Os dois. Dizem, às minhas escondidas, que eu sou muito mais. Mas quem o diz deve ter também espelho em casa julgo eu. Ainda assim assumo que sou chatinho e que qualquer casca de alho serve para resmungar.

Feitios. Cada um tem o seu. No entanto, não tenho nada de meu. Preocupo-me. Com quase tudo e seguramente muito mais com os outros do que comigo mesmo. Sempre assim foi. Da mesma forma que também sempre senti que não são muitas as pessoas que se preocupam por mim. Pois.

Hoje celebra-se o nosso 42º aniversário matrimonial. Pela primeira vez a noiva a 235 km do noivo para cuidar de uma das netas porque a escolinha fechou para férias mas os papás estão ambos ainda a trabalhar. E é para isso que existem as avós. A pequenita esteve cá três semanas conosco. Agora foi a avó que teve que ir com ela por uns breves dias, até os papás ficarem também de férias.

E o Noivo, Pai, Avô, ficou em casa a cuidar da propriedade mas não só. É, sem dúvida e por muito justa causa, um aniversário diferente, mas nem por isso menos importante. Parabéns a nós dois, Noiva, Mãe, Avó, Maria Manuela...

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Coisas que escrevi e vou repetir...

Foto by José Coelho

É o por do sol - já o disse inúmeras vezes - o meu momento de eleição de cada dia. Fico enlevado no encanto destas paisagens que me viram nascer e que considero únicas e irrepetíveis. Estranhamente, a natureza parece que pára por completo nos momentos que antecedem cada despedida do astro-rei. E isso acontece todos os dias. Todos. São só uns breves minutos mas é deveras surpreendente. Hoje, a minha companheira, sentada ao meu lado na varanda da nossa casa, comentou:

- Que sossego! Nem os passarinhos se ouvem!

- É verdade! Respondi-lhe. E continuei:

- Até aquele cão ali de baixo que parece estar sempre zangado com o mundo inteiro, se calou! 

- Que estranho, não?  Perguntou, antes de se remeter também ao silêncio.

A luz do sol tomara entretanto um brilho amarelo pálido rodeado de matizes laranja e azul. Os canchos e o montado lá ao longe pareciam iluminados por uma luz artificial semelhante à dos holofotes que iluminam à noite as muralhas de Marvão e que lentamente se foi extinguindo até desaparecer por completo. No momento seguinte, a barra cinzento-escura da noite começou a aproximar-se suavemente e a cobrir de sombras os mesmos calhaus e montado que minutos antes estavam iluminados. 

Deve ser a hora em que Deus desce à terra todos os dias. E por isso toda a Natureza Sua Criação fica no mais profundo silêncio em adoração.

Rodeado por tão completa harmonia invade-me sempre uma paz de espírito que não é fácil de explicar. É uma tranquilidade íntima tão doce que instintivamente fecho os olhos e dou graças por ter nascido, por estar vivo, pela minha vida inteira. Pelos pais e avós maravilhosos que tive, pelas irmãs, filhos, netas, esposa, família em geral e amigos que ainda tenho, a profissão e a reforma do meu sustento de cada dia, a casa que consegui erguer e me acolhe, enfim, o infinito rol de graças e bendições com que fui e continuo a ser agraciado pelo Criador de todas as coisas, cada dia do meu viver. 

É mais natural rezar e agradecer nesses instantes, do que algumas vezes na igreja, se bem que, como é óbvio, respeito infinitamente a Casa onde o Senhor se faz presente no Sacrário. Todos quantos me conhecem sabem que sou crente quase desde que nasci mas instintivamente dou graças em qualquer lugar onde me encontre nesse momento, quando subitamente tudo em meu redor se cala e permanece na mais indescritível quietude. É algo tão sublime que fica impossível de explicar.

Nunca repararam nisso? Então experimentem. Subam a um monte, escolham um local sossegado e aguardem o por do sol. Até sentados na muralha de Marvão acontece esse fenómeno intrigante. Ou mesmo no vosso tranquilo quintal, como eu faço no meu. Quase me atrevo a apostar que se irão surpreender com o sossego e silêncio que de súbito se instalará em vosso redor. 

Serão só uns breves instantes, como já disse. Apenas o tempo que o sol demora entre tocar a linha do horizonte e desaparecer por completo por detrás dela. É algo tão raro que nós quase nem nos atrevemos a respirar, não vá o "barulho" da nossa respiração perturbar o silêncio que tudo envolve. 

Depois quando nos encontrarmos por aí contem-me como foi, se quiserem. A Vida, a Natureza, o Mundo, são maravilhosos. Às vezes nós é que não olhamos. Ou olhamos mas não vemos. Eu acredito que é obra do Criador. Contudo, respeito de igual modo quem não acredita. 

Cada um sabe de si...

Meu vício da leitura (I)


Foto by Pedro Coelho

A tua caminhada ainda não terminou.
A realidade te acolhe
dizendo-te que pela frente
o horizonte da vida necessita
das tuas palavras
e do teu silêncio.

Se amanhã sentires saudades,
lembra-te da fantasia e
sonha com a tua próxima vitória.
Vitória que todas as armas do mundo
jamais conseguirão obter,
porque é uma vitória que surge da paz
e não do ressentimento.

É certo que irás encontrar situações
tempestuosas novamente,
mas haverá que ver sempre
o lado bom da chuva que cai
e não a faceta do raio que destrói.

Tu és jovem.
Atender a quem te chama é belo,
lutar por quem te rejeita
é quase chegar à perfeição.
A juventude precisa de sonhos
e de se nutrir de lembranças,
assim como o leito dos rios
precisa da água que corre
e o coração necessita de afeto.

Não faças do amanhã
o sinónimo de nunca,
nem o ontem te seja o mesmo
que um nunca mais.
Os teus passos ficaram.
Olha para trás
mas vai em frente
pois há muitos que precisam
que chegues, para poderem seguir-te.


Charles Chaplin

Meu vício da leitura (II) ...

Foto by Maria Coelho

Acho que me viciei em ficar em paz, sozinho

Ultimamente, estou tentando depender menos dos outros, pois ficar contando muito com as pessoas acaba trazendo deceções demais. Não perco mais tempo correndo atrás de ninguém e, se necessário, vou a todos os lugares sozinho, sem implorar para alguém me acompanhar.

Por muito tempo, eu valorizei a companhia das pessoas, a ponto de procurar sempre estar acompanhado, querendo sair toda vez que tivesse oportunidade, achando que ficar em casa seria coisa para quem fosse idoso ou doente. Por conta disso, não me permitia ficar em casa aos finais de semana, nos feriados, prolongados ou não, pois não queria perder tempo.

Por muito tempo, eu achei que diversão significava ir a bares, baladas, festas, para me encontrar com a galera. Ansiava por conhecer cada vez mais pessoas, por visitar lugares variados, correndo atrás mais de quantidade do que de qualidade. Ficar em casa, podendo viajar ou sair, soava como sacrilégio, disparate, afinal, precisava aproveitar o tempo junto com pessoas, fora de casa.

Sem perceber, acabei aceitando amizades que não eram verdadeiras, aproximando-me de pessoas que nem curtiam a minha companhia, até mesmo mendigava atenção, correndo atrás de quem estava muito bem sem mim. Fui a lugares que nada tinham a ver comigo, com gente que não pensava como eu, participando de programas lotados de pessoas e vazios de sentimentos.

Com o tempo, percebi que, mesmo conhecendo muita gente ou saindo para vários lugares, ainda assim eu poderia me sentir sozinho, porque o que nos preenche afetivamente é aquilo que toca os nossos corações com verdade e reciprocidade. E eu, muitas vezes, sentia solidão bem ali no meio de tantas pessoas, de tanta música, de tantas festas e sorrisos. Parei e notei o quanto eu cobrava dos outros aquilo que deveria vir naturalmente, aquilo que eu poderia, inclusive, encontrar dentro de mim.

Ultimamente, estou tentando depender menos dos outros, pois ficar contando muito com as pessoas acaba me trazendo deceções demais. Não perco mais tempo correndo atrás de ninguém e, melhor ainda, aprendi a curtir meus espaços, em frente à televisão, lendo um bom livro, apreciando tudo o que sou e tenho.

Aliás, estou me viciando em ficar em paz, sozinho, porque é humilhante demais forçar as pessoas. Se quiserem vir comigo, muito bem; se não quiserem, ótimo na mesma. Quando a gente aprende a gostar da própria companhia, a gente se basta e vive feliz onde estiver, com alguém ou sem ninguém. 

Simples assim.

Marcel Camargo

As duas pipocas de férias na Toca...



 
Alegres e felizes nesta tranquilidade do campo
Fotos que o avô Zé Coelho fez dia 7-8-18

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Até sempre, vizinha Julia...

Foto que fiz ao acaso enquanto as duas vizinhas e amigas
punham a sua conversa em dia

Uma das melhores coisas que tem o viver na aldeia é a proximidade entre as pessoas que nela habitam, mesmo que umas morem no cimo, outras no fundo da rua, umas a norte, outras a sul da mesma. Há um sentimento de quase família que aproxima e une inquestionavelmente todos os habitantes. E quando têm que partir para outras bandas e se encontram por acaso assim afastados da terra, a alegria desses encontros é em tudo idêntica ao encontro de irmãos que por qualquer razão tiveram que viver longe uns dos outros.

Sei do que falo porque vivi alguns anos fora da Beirã e quando me cruzava com um ou uma Beiranense algures, era uma festa.

Cada vizinho que parte é uma perda que deixa sempre saudades.  Mormente vizinhos de quase toda a vida como os meus, como por exemplo a Família Brito Dias, a Família Rosado Maroco, a Família Antunes, e tantas outras, rua acima ou rua abaixo, que aqui residem ou residiram tantas décadas como quase todas aquelas que eu conto de vida e onde vamos sendo cada dia menos. Que o digam as dez casas fechadas da Rua Fernando Namora e outras tantas na Rua da Escola (Avenida Dr Matos Magalhães) aquelas que dão acesso ao "meu bairro".

Logo pela manhã recebi um telefonema para acionar o toque de finados do sino da igreja em sinal de luto por uma dessas vizinhas que hoje faleceu. Já não residia há algum tempo na sua casa, quase em frente da minha, por motivo de doença. A sua família, que vive longe, acolheu-a, para cuidar dela. Veio visitar a sua casa há poucas semanas atrás, trazida por esses familiares e a minha mulher, sua grande amiga, gostou muito de a ver, de conversar com ela, tendo achado até que estava bastante animada, na medida do possível e das limitações que o seu problema de saúde lhe impunham.

Eu não a vi no dia que cá esteve. Pouco saio também de casa e muitas coisas passam-me por isso ao lado. Mas tive um pressentimento e comentei com a minha Maria que talvez a vizinha Júlia tivesse vindo cá não só matar saudades da sua casa mas também despedir-se dela. Senti exatamente isso e confirmei esse meu pressentimento quando há uma semana atrás me chegou a notícia que a vizinha Júlia tinha sofrido um segundo AVC e dificilmente iria sobreviver. Há coisas que sentimos e não sabemos explicar. Quiçá ela tivesse também pressentido que estava próximo o seu fim e quis estar, ainda que por breves momentos, naquele chão que foi seu quase toda a sua vida, pelo qual muito se sacrificou e trabalhou e onde certamente foi muito feliz.

Descanse em paz querida vizinha Júlia. Ganhou, tenho a certeza, o seu lugar junto de Deus. Não sei se são leitores deste meu sítio virtual mas ainda assim quero deixar uma palavra de sentidos pêsames e de conforto a toda a sua família, muito particularmente à sua filha Rosa Mota nossa querida amiga também, a qual, por imprevisível acaso, cumpre hoje mais um aniversário. Para todos, o nosso amigo, sincero e sentido abraço de solidariedade.

Beirã, 7 de agosto de 2018

Ao vosso dispor, os vizinhos amigos

José Manuel e Maria Manuela Coelho

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Somos uma raça em auto-destruição...

Uma das muitas fotos publicadas na net 
Desconheço o autor
Foto da autoria do Prof. João Bucho

Foto da autoria do Prof. João Bucho


Marvão anda frequentemente nas bocas do mundo não só pela sua incomparável beleza de burgo medieval impecavelmente conservado, como também pelas paisagens a perder de vista que se desfrutam de todos os seus pontos cardeais e que, de tão deslumbrantes, alcançam de quem lá vai e as vê, o estatuto de inesquecíveis.

Não foi por acaso que José Saramago escreveu um dia: 

"De Marvão vê-se o mundo todo…”

Contribuem muito também para a sua merecida fama, um conjunto de eventos que ao longo do ano ali se desenvolvem, como, por exemplo, o famosíssimo Festival Internacional de Música de Marvão que há poucos dias atrás decorreu, trazendo como sempre até nós, os mais famosos músicos de todos os continentes.

E claro, a inigualável hospitalidade das suas gentes. O modo de bem receber e ainda melhor acolher cada visitante é, talvez, uma das suas melhores características, entre todas as outras não menos boas.

No passado fim de semana, porém, Marvão foi notícia em todos os noticiários e redes sociais mas pelos piores motivos. Fogo. O flagelo maldito que não poupa nada nem ninguém e derrete tudo o que apanha pela frente transformou o verde da vegetação que envolvia a altaneira muralha em cinzas e negrume. 

Em poucas horas.

A sólida e elegante estrutura medieval protegeu ao menos os seus moradores e visitantes. Ciente das inexpugnáveis paredes e firme construção que a caracterizam, a torre de menagem bradou com desdém ao monstro incandescente que a cercava:

- Não, velhaco!  Aqui não entras…

E não entrou, pese embora tivesse chegado mesmo, mesmo, às Portas da Ródão, o principal acesso à Vila. Quero crer que não entrará nunca, tão seguro e bem construído foi aquele reduto que afronta sóis e canículas, ventos e tempestades, ocupações e contendas, há muitos, muitos séculos.

Mas não foi só a paisagem verde que se perdeu nas encostas de Marvão. Tão importante como o aquilo que os nossos olhos vislumbram é o ar que respiramos e as árvores produzem e ajudam a purificar. Por isso os sufocantes 44º de calor que aí temos há 3 dias, por isso as tempestades súbitas e destruidoras um pouco por toda a parte no pino do verão como nunca se viu, por isso, em resumo, todo um clima em colapso acelerado que em vez de vida produz morte.

Não gosto de mediatismo seja por que motivo for. Pese embora tenha consciência que aquilo que faço é uma gota de água no oceano, prefiro contribuir com as minhas atitudes no dia a dia para o bem comum. E por isso, evito tudo o que possa causar algum transtorno colectivo não deixando lixo no ambiente, reciclando tudo o que é reciclável, contribuindo de todas as formas ao meu alcance para um ambiente melhor e mais limpo.

Sem alardes nem selfies.

Pelas minhas netas e por todas as crianças que merecem um mundo como aquele em que eu nasci, fui criado e tão feliz. Na idade da minha Francisca, ia com o meu pai para o Ribeiro das Águas no pino do verão. Ele ia tirar areia do ribeiro para vender aos empreiteiros da construção civil. Só nas margens do ribeiro havia juncos verdes. Tudo quanto a vista alcançava para além disso, eram tapadas com searas secas ou restolhos já ceifados.

A minha missão era cozer o almoço. Levávamos uma panelinha de barro com feijões, duas batatas e um pedaço de toucinho. O meu pai fazia um aceiro no meio do pasto seco com uma enxada. No centro do aceiro punha uma laje e a panela dos feijões encostada a um pequeno lume de gravetos secos que eu ia apanhando por ali para o manter aceso, enquanto o meu pai pegava no rodo enorme de madeira e ia à sua vida de retirar areia do leito do ribeiro juntando-a em grandes montes pelas margens.

A minha responsabilidade era pois cuidar do lume. Criança de tenra idade, 5 ou 6 anos apenas. E nunca havia fogos como estes agora. Até os ceifeiros faziam lume no meio das searas para cozerem os seus almoços. Em aceiros como aqueles que o meu pai fazia. E não havia fogos. Havia cuidado. Havia responsabilidade. Havia respeito. Para com a natureza e de uns para com os outros. Tudo coisas que hoje não há.

E o resultado está aí…

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Melhor que ser pai de um filho...

Éééé... ser pai de dois!
Tchim-tchim

Este ano nã há v'rão. Dizia-se...

Foto by José Coelho in 03.08.18 às 13,00 horas
Foto by José Coelho in 03.08.18 às 18,00 horas
E como não há duas sem três...
34º às 22,30 deste 03.08.18

Do alto da sabedoria dos seus quase 90 anos, bem disse o meu amigo João Forte da Broca: 

- Est'ano nã chove?
- Est'ano o calor nã vem?
- Ind'ãnd'encher a barriga...