domingo, 29 de março de 2015

Coisas que leio...

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Aceitará a população morrer passivamente?

As pessoas estão revoltadas. A parasitagem do território pela nova-rica classe política, é mais crua e brutal do que o foi a exploração das colónias. Fizeram-no e fazem-no sem ao menos mostrar um pingo de sentido de Estado. O país tornou-se politicamente inviável. Deixou de ser possível viver aqui, ou a breve prazo, deixará.

Mas as pessoas devem revoltar-se desde logo consigo mesmas. E não digam que os sinais não eram evidentes. Há muitos anos que o país está à beira da morte por inanição.

E as contas são simples: o território rondava os onze milhões em 1974 (talvez um pouco mais) e recebeu mais um milhão de retornados no ano seguinte. Em 1990 andava a população nos oito milhões (porventura um pouco mais). 

Uma quebra de população de quatro milhões de pessoas, aproximadamente, em 15 anos, equivale a uma hecatombe militar.

No final dos anos 90, e durante a primeira década do novo século, a droga roubou a vida a centenas de conhecidos meus. De todas as falanges sociais. Ninguém quis saber.

A minha geração, chegada aos 30 sem conseguir sair de casa dos pais e saturados de lhe chamarem “geração rasca”, decidiu emigrar. Este ano, foram 300.000. Mas não culpem disso Passos Coelho, que quando os mandou emigrar, fez a única coisa honesta de que me lembro ter sido feita por este governo. Noutros anos os “resultados” foram semelhantes. 

Já no Governo anterior não me lembro de honestidade nenhuma. Mesmo quando os cortes salariais eram aprovados, já no 3º PEC, a passividade catatónica continuou. Mesmo quando o próprio Estado, no governo sócrates, usou os recibos verdes em despudorada fraude à lei, para explorar mais e mais jovens. E até menos jovens. É interessante o grau de miséria que consegue construir-se prometendo a prosperidade.

A pergunta que se impõe, é evidente: quem é que agora vai pagar as reformas?
Nada obriga as gerações futuras a pagar seja o que for.
Nada as obriga sequer a continuarem aqui.
E a verdade é que esta é uma realidade da qual só agora a população em geral se apercebeu. Foi preciso, num ano, o país perder 300.000 jovens. Números oficiais (imaginem os reais).

Se António Costa é a solução?
Como é que o pode ser se foi e é parte do problema?
O que espera a geração dos meus pais?


Dino Barbosa in noticiasonline.eu

sábado, 28 de março de 2015

Verdes são os campos...




Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

Luis  Vaz de Camões

Vou lembrar-te assim, num dia feliz...



Oito meses já passaram. Mas hoje não quero ficar triste, agarrado apenas ao dia vinte e oito de Julho do ano passado, Mãe. 

Prefiro recordar-te assim num dia para ti e para nós, bastante feliz. 

O dia em que cumpriste as tuas 85 primaveras e estavas bem de saúde, toda janota e rodeada de quase todos os teus, no almoço que fizeste questão de promover para os celebrar.

E digo "quase todos os teus" porque não esteve lá a tua filha Maria da Luz com o marido, os filhos e netos já teus bisnetos, uma vez que a falta de condições neste maltratado país os levou a procurarem demasiado longe, o seu pão de cada dia.

Mas só estavam fisicamente ausentes porque nos nossos corações estiveram também presentes.

Foi a festa que tu quiseste ter.

Rodeada de muitos daqueles que amavas incondicionalmente.

E foi também por isso mesmo um dia muito importante para todos nós e especialmente para ti. 

Cumprem-se hoje oito meses que foste ter com os que também amaste sempre mas partiram antes de ti.  

Sei que estão agora todos juntos e em paz.

Por isso não vai ser um dia para ficar triste por já não te ter junto de mim. Vou antes ficar grato por te ter tido por Mãe e pelo privilégio de ter recebido a maior fatia desse amor infinito que nunca negaste a ninguém.

É muito gratificante poder ver assim o teu bonito rosto cada vez que a saudade aperta porque suaviza bastante a tua perda e ausência.

Um dia voltaremos a estar juntos, Mãe. 

Para sempre...

sexta-feira, 27 de março de 2015

Um sonho, um projecto, uma vida...



Hoje já não sei se terá valido a pena!

Beirã... (e o pouco que vai restando)



Foi residência dos funcionários da alfândega nos tempos áureos da Estação Ferroviária Fronteiriça de Marvão-Beirã. 

Hoje é uma Unidade de Cuidados Continuados de Média e Longa Duração. 

Ali se acolheram famílias inteiras de gente boa e amiga durante décadas. 

Ali se acolhem hoje muitos doentinhos que precisam de cuidados especiais e onde são primorosamente  tratados por profissionais competentes.

Ali fechei os olhos da minha mãe numa triste tarde de Julho passado, no momento em que Deus a levou para junto d'Ele. 

Ali também, apesar da imensa tristeza dessa despedida, fiquei grato ao Senhor por me ter chamado para junto dela naquele instante.

Ficarei por isso mesmo ligado a esta casa-unidade até ao fim dos meus dias. 

Porque há momentos que nos marcam para sempre...

Sinais... (só não vê quem não quer)



Todos os dias somos confrontados com eles. Seja em apelativas primeiras páginas que visam simplesmente o aumento de vendas na imprensa escrita, seja na abertura dos televisivos telejornais, o propósito é exatamente o mesmo. O lucro. Quanto mais, melhor. Só que no audiovisual  apelidam-se liderança de audiências que são medidas em percentagens de shares, as quais, por sua vez, abrem um apetite voraz ao mercado publicitário que ali investe milhares para ganhar milhões na promoção do seu mundo sem fim de banha da cobra que, como sabemos, tanto pode ser um xarope para a tosse como um robot de cozinha que faz tudo sózinho. 

Entram-nos pelos olhos dentro sem qualquer pudor ou recato tantas vezes quantas aquelas que nós ousemos abrir um jornal ou ligar uma televisão, um computador, um tablet ou agora também já um telemovel. Conseguiram mesmo mudar por completo os nossos hábitos mais comuns enquanto sociedade. Basta olhar a esplanada do café com três ou quatro pessoas sentadas em cada mesa mas sem conversarem umas com as outras porque cada uma delas está ocupada com algo. Tablet, telemovel, quiçá mesmo um pc que lhes absorve por completo a atenção e as alheia de tudo o resto que as rodeia. E o mesmo acontece já também em muitas casas às refeições ou nos serões em família.

Está em curso um mundo novo. Um mundo de alta tecnologia que nos permite ver, no exato momento em que está a acontecer, qualquer evento em qualquer parte do planeta. Mas a que preço? Esse mundo maravilhoso é frio, insensível a sentimentos humanos. E curiosamente antagónico, porque enquanto nos aproxima daquilo que está a suceder a milhares de quilómetros, nos afasta simultaneamente da pessoa que está sentada ao nosso lado a escassos centímetros de distância. Talvez por isso estejamos também a ficar menos sensíveis, indiferentes e cada vez mais distantes uns dos outros. Cada um recolhido no seu casulo, absorto quase só já naquilo que lhe é oferecido por essa tecnologia moderna.

Depois...

Bem, depois, vemos com preocupação os atentados inexplicáveis que razão alguma justifica. Vemos e não compreendemos que tantos jovens se entreguem ao consumo de drogas letais e incapacitantes, que muitos outros fujam do seu seio familiar para irem alistar-se em seitas fundamentalistas e criminosas, que outros ainda cometam atentados medonhos como aquele que anteontem despenhou um avião cheio de inocentes contra uma montanha. E tantas, tantas outras manifestações esquisitas de que algo de muito mau está a contaminar perigosamente estas novas gerações.

E que dizer das reações violentas um pouco por toda a parte? Por exemplo, a agressiva indignação daquela multidão de gente na inauguração do BCE? De facto, ostentar tanta riqueza perante o desespero de milhões de famílias a viverem no limiar da pobreza, é no mínimo, obsceno. A inqualificável diferença na qualidade de vida, vencimentos, mordomias, poder de compra e protecção quer na doença quer na velhice entre  governantes e governados da maioria dos países europeus, é pura e simplesmente aberrante. 

A precaridade nos empregos, a insegurança em relação ao futuro, a redução sistemática de salários e pensões, as políticas criminosas que permitem que uma minoria corrupta e oportunista enriqueça cada vez mais enquanto uma imensa maioria vê cada vez menos possibilidades de uma vida digna ou de uma velhice tranquila, estão a dar cabo da esperança não só nos corações de quem já viveu bastante e merecia envelhecer em paz, mas também nos corações daqueles que estão agora em tempo de iniciar a sua vida adulta e não têm quaisquer perspectivas no presente e ainda menos no futuro. 

Não serão essas políticas erradas, essas indignidades sem fim à vista que diariamente nos entram olhos dentro, cometidas quase sempre por quem tinha o dever de ser exemplo que estão a dar cabo de muitas cabeças? Não será o descrédito neste sistema pouco justo e muito corrupto de governos ditos democráticos e modernos que faz perder a esperança a jovens ou menos jovens levando-os a cometer as loucuras cada vez mais violentas, dia a dia noticiadas? O que pode levar milhares jovens de ambos os sexos e das mais diversas nacionalidades a fugirem para estados onde até se pode matar em nome de Deus mas que nada têm a ver com a sua cultura, religião ou modo de vida? 

Não serão todas essas atrocidades sinais muito preocupantes para todo o mundo? Eu acho que são. E que só não os vê quem não quer...

quarta-feira, 25 de março de 2015

Anunciação... (9 meses antes do Natal)


Imagem e texto copiados da página A Bíblia em Minha Casa, no Facebook.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas


Naquele tempo,
o Anjo Gabriel foi enviado por Deus
a uma cidade da Galileia chamada Nazaré,
a uma Virgem desposada com um homem chamado José,
que era descendente de David.
O nome da Virgem era Maria.
Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo:
«Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo».
Ela ficou perturbada com estas palavras
e pensava que saudação seria aquela.
Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria,
porque encontraste graça diante de Deus.
Conceberás e darás à luz um Filho,
a quem porás o nome de Jesus.
Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo.
O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David;
reinará eternamente sobre a casa de Jacob
e o seu reinado não terá fim».
Maria disse ao Anjo:
«Como será isto, se eu não conheço homem?».
O Anjo respondeu-lhe:
«O Espírito Santo virá sobre ti
e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra.
Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus.
E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril;
porque a Deus nada é impossível».
Maria disse então:
«Eis a escrava do Senhor;
faça-se em mim segundo a tua palavra».

Palavra da salvação.

Existe a saída 4...


 ~ Por conta dos pais até eles morrerem.

terça-feira, 24 de março de 2015

Cofres cheios? Ora porra...


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Tinha que ser neste país a falácia que faz correr rios de tinta e tanta celeuma vem causando. Temos os cofres cheios... Enriquecemos de repente? Passámos de pelintras sem tusto no bolso a agiotas cheios do bago assim num estalar de dedos? Não me parece! Contudo é o que anda na berlinda, porque, não sei em que contexto o terá feito, mas a senhora ministra das finanças te-lo-à afirmado exactamente nesses termos.

E logo um coro de protestos, vindos das mais diversas direções, se fez ouvir - quanto a mim, bem - pois de facto parece uma brincadeira de mau gosto, tendo em conta a precária situação de milhares de famílias, que, como todos também muito bem sabemos, vivem abaixo do limiar da pobreza. Quiçá até conheçamos, não muito longe de nós, quem viva assim nessa insuficiente forma de subsistência que deveria ser a vergonha de qualquer governo, fosse ele de direita, de esquerda ou do centro.

Nem sequer é preciso ver as delatoras reportagens dos sem abrigo a viverem debaixo da ponte porque nunca em mais de 40 anos se viveu tão mal e porcamente neste país, seja em que zona for. Todos temos a noção dos porquês que nos conduziram a esta censurável situação mas eu nem quero ir por aí, até porque nunca me cansarei de afirmar que a minha aldeia, outrora um pequeno oásis de progresso e vida, foi das mais duramente atingidas por decisões de quem quer pode e manda, só não sei se bem.

Com infinita pena o sinto e escrevo mas sei que já não vou ver o meu país, a minha Beirã, os meus filhos e as minhas netas a viverem tranquilos e felizes como eu vivi e fui antes de as coisas tomarem este desgraçado rumo. Vai ser o salve-se quem puder. Alguma vez na minha vida eu pensei que um dia a minha irmã com mais de 50 anos ia ter que emigrar para Inglaterra com o marido, os filhos, genro e netos? Como é possível? Se antes, com tão pouco, era possível vivermos todos perto uns dos outros, que raio de prosperidade é esta que cada um tem que fugir para seu lado se quiser sobreviver?

Temos os cofres cheios. Com dinheiro emprestado que vai servir para pagarmos as monstruosas dívidas aos credores nos próximos... 50 anos? Ora porra!

domingo, 22 de março de 2015

Cumplicidades... (de Vôvô & Netinha)


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Manta de retalhos

Os meus papás e os meus vovôs são todos de uma região muito bonita do Alto Alentejo no Distrito de Portalegre. O Concelho de Marvão.

A Vila de Marvão foi construída no cume de uma serra com 800 metros de altura. Fica tão lá no cimo que se diz por lá que é a terra onde se podem ver os pássaros pelas costas.

No sopé da serra de Marvão existiu uma cidade romana muito povoada. Chamava-se Cidade da Ammaia. Existem ainda por lá as ruínas dessa cidade perdida e um museu no local dessas ruínas.

Quem observa os campos em redor da serra e da Vila de Marvão no vale da Aramenha onde se situava a cidade romana, fica com a sensação de estar a observar uma manta de retalhos e já explico porquê.

Vistas lá do alto do castelo, algumas parcelas de terreno mostram a cor escura da terra lavrada outras a cor verde das searas, outras ainda o feno florido de papoilas e dos malmequeres, alternando assim as cores de cada um daqueles quadrados de terra fazendo por isso parecer uma manta de retalhos.

Se nunca la foram e não conhecem fica desde já o convite para visitarem Marvão. Não se vão arrepender porque é mesmo muito invulgar e de rara beleza.

A minha família também quase se pode comparar com uma manta de retalhos porque os meus papás e avós são do Alentejo mas a minha bisavó paterna era espanhola e temos família espalhada por todo o mundo. Tios e primos em Espanha, no Brasil, na Inglaterra e na Irlanda.

Eu gosto muito das minhas origens e da minha família toda.

Francisca (...)

Oficialmente já é... Mas não parece.



Esta foto é já antiga. Foi feita por mim numa outra primavera, daquelas que havia dantes quando toda a natureza se vestia com o seu fato de gala nesta época do ano e tudo à nossa volta eram verdes pastos salpicados de papoilas, malmequeres ou mil outras flores e cores.

Lá está ele com as coisas de antigamente, dirão vocês. Sim, dou a mão à palmatória. Escrevo sempre muito sobre tudo o que já passou e conheci, porque de facto sinto que foi bem melhor em quase todos os aspectos esse passado, do que são os tempos que correm e em que vivemos.

Apetece-me dizer com algum desconsolo neste noss0 linguajar regional: - Porra! Até a porcaria do tempo já não é o que era!
Basta olharmos. A tal prima Vera chegou ontem dia 21 de Março como era sua obrigação. Mas onde está ela? O frio não arredou pé, e, como no inverno pouco choveu, não há pastos, não há flores, não há quase nada daquilo que era costume haver neste tempo. 

Só as giestas alveirinhas aguentaram os gelos do inverno e estão a dar um ar da sua graça e a encherem-se das alvas cores da maia que lhe confere o nome. Lá mais para a Páscoa serão as negrais que se irão cobrir  com o seu único e vistoso véu amarelo-forte. De resto, os campos estão completamente pelados, os ribeiros e barrocas quase enxutos, as fontes à beira das estradas a correrem só um fio.

Cá para mim o Donodistotudo lá de cima zangou-se a sério conosco. (Não, não é o outro do banco que faliu porque esse era só designado por DDT). E sinceramente eu não entendo. É que os DDTs cá de baixo são corruptos e gananciosos mas lá em cima não há outros governantes ou administradores. É mesmo só Ele. E ensinaram-me de forma muito convincente que é nosso pai. Por eu também ser pai é que não consigo entender um cada vez maior número de coisas.

Todos sabemos que o mundo anda completamente do avesso e muitos homens enlouqueceram de vez. As barbaridades a que assistimos diariamente nos noticiários deixam-me muitas vezes apreensivo e incrédulo. Mas nem todos os homens são assim criminosos, loucos e merecedores de grandes castigos pelas atrocidades cometidas. Às vezes (se calhar ingenuamente) penso que estamos todos a pagar por isso...

sexta-feira, 20 de março de 2015

Coisas...

... que falam de nós.

Não vou, não vou, e não vou...


Foto by Pedro Coelho

Com os dias primaveris das duas últimas semanas que nos fizeram arrumar os kispos, os gorros e os cachecóis, deixou de apetecer estar à lareira, apagou-se o lume e arrumou-se a tenaz, a ferra e vassoura. Bastava só já o pequeno aquecedor à noite, para se passar um confortável serão.

Pois é... Devia ser, mas não foi!

O tempo não precisa de tempo para mudar o tempo. Sempre ouvi dizer. Talvez melindrado por estarmos a menosprezar a sua índole agreste, o inverno resolveu mostrar-nos que ainda cá se encontra e que por isso é ele quem continua a mandar. 

Sacana mesmo, o traste.

Sem qualquer aviso prévio foi à sua arrecadação e trouxe de lá uma noite de geada inesperada para queimar as batatitas das hortas tão felizes com os dias amenos e a deitarem as orelhitas de fora para espreitarem o sólinho que as fazia crescer.

Como se isso não bastasse, trouxe também uma chuvinha gelada, um vento suão agressivo e cortante que se mete pelas costuras do nosso fato e nos enche de frio e desconforto. - Ai vocês acham que eu me fui já embora? Deve pensar o gajo. Pois enganam-se: - Não vou, não vou, e não vou...

Fazer o quê? Vá-se lá com um burro destes à feira? Não há mais nada a fazer senão acender outra vez o lume e ir à arca buscar outra vez os kispos, os gorros e os cachecóis. Eu fui, mas o gajo não se livrou de eu vir aqui enxovalhá-lo e dizer-lhe cara a cara que o acho um grande traste.

Não bastavam já semanas e semanas do mais tiritante gelo sem uma gota de chuva para me fazer  andar sempre arreganhado, de pingo no nariz, além de me queimar o limoeiro do quintal, as couves e os espinafres da horta? Até a hortelã se mirrou.

Ai não queres ir-te embora? Não? Mas vais! Ai vais, vais, porque a primavera já embarcou e está mesmo mesmo a chegar à sua bonita estação. E vai dar-te um pontapé tão grande nesse rabo que só vais parar lá para o mês de Dezembro.

Mas, enquanto vais e não vais, a minha belíssima lareira ali está a queimar valentemente mais alguns madeiros e a mostrar-te que aqui em casa não tens ordem para entrar. Toma e embrulha...

sábado, 7 de março de 2015

O meu pote de ouro no fim do arco-íris...

 
 
É indescritível a felicidade que me enchia o peito quando me via dentro destas furgonetas dos anos 60 repletas de livros que eu podia levar para casa e ler. Era para mim a mais perfeita Fábrica de Sonhos e não fossem elas nunca os teria podido alcançar. Obrigado caríssimo Calouste Gulbenkian onde quer que estejas, por tanto bem que me fizeste...


sexta-feira, 6 de março de 2015

Progresso assassino...


 
Flores no quintal da vizinha Teresa que já cá não mora

Demasiados têm sido os momentos de despedida  por estas paragens nos últimos tempos. A nossa rua, tal como outras infelizmente, vai ficando vazia de moradores. As casas sucedem-se umas às outras num sossego confrangedor. Restamos só já cinco moradores cá bem no cimo, divididos por apenas três lares e outros tantos ou poucos mais, ao fundo, no início da mesma.

Um silêncio aflitivo já se instalou por toda esta rua que é das mais antigas da minha Beirã. Silêncio que não é prenúncio de paz nem de harmonia ou de bom augúrio. É uma quietude que  nos incomoda, que  nos fere a alma e causa estranheza de tão evidente que é   abandono que solidifica ao nosso redor. 

É o alto preço daquele progresso que nos foi prometido.


Mas...

Que progresso se pode assim chamar quando traz consigo a extinção de lugares como a minha Beirã? De modos de vida que geravam trabalho e que ele matou? De laboriosas herdades cheias de vida votadas agora ao mais negro abandono? De milhões de hectares de terras cultivadas mas agora incultas e a encherem-se de mato? 

E, não menos sério, o descrédito total num sistema corrupto que a esta situação nos conduziu.

Sei, porque o sinto, que não estará longe o dia em que irei embora para não mais cá voltar. E em boa verdade, anseio por ir. Não é este o mundo no qual nasci e fui tão feliz. Eu pertenço à aldeia repleta de vida de gente e bulício. Não a esta aldeia que o progresso matou. E culpo-o a ele por todo o silêncio, pelo abandono e por este vazio outrora tão cheio de vida e labor. Levou as pessoas e os seus empregos. Levou-nos também os nossos comboios. E até as lojas ele fechou. Só resta este nada que a pouco e pouco tudo contamina como praga daninha.

Por isso a Beirã já não é um lugar onde dê gosto viver. O silêncio que reina invade o nosso íntimo, afoga os nossos sonhos, sufoca a alegria. Haverá no futuro hipótese alguma de voltar de novo tudo o que nos foi tirado? Sei que não há. As flores da vizinha continua a  florir desafiando o silêncio e a solidão. Mas eu não sou planta e não sei viver só de sol e de vento. Preciso ver gente. As lágrimas dos vizinhos que misturei com as minhas no dia que abalaram para a Santa Casa, não foram motivadas só pela despedida. Brotaram também porque  o nosso mundo está a morrer muito antes de nós.

E não é natural que assim aconteça.

Porquê este nome...

Vem de longe o meu fascínio pelas letras. A Senhora minha Mãe a par das suas lides de dona de casa tinha também diariamente o cabo de um sacho à sua espera para trabalhar no campo ao lado do meu pai. Por esse motivo tinha que me entregar aos cuidados de uma Mestra, a Senhora Vicência, de quem ainda hoje me lembro com carinho. Com menos de três anos fui então fazer companhia a um punhado de gaiatos e gaiatas da minha idade. Éramos entregues manhã cedo e recolhidos ao cair da tarde. 

Hoje chamam a esses locais infantários e educadoras às senhoras que cuidam da rapaziada miúda. 

Para nos manter sossegados, entretidos e na linha, a bondosa Mestra mandava-nos sentar nuns tropeços de cortiça ou em banquinhos de madeira levados pelos nossos pais para esse efeito e punha-nos no colo uma ardósia (pedra) onde nos entretínhamos a fazer rabiscos com lápis também de pedra. Em pouco tempo os primeiros rabiscos davam a vez ao a-e-i-o-u e aos primeiros algarismos de tal forma que aos cinco anos já quase todos éramos capazes de compor algumas palavras e fazer pequenas contas. Quando aos seis anos entrei para a escola, levava sabida e muito bem sabida, a matéria da primeira classe.  Por isso mesmo, a Dona Clarisse entendeu que eu devia ser logo integrado na turma da segunda classe. E assim fiz toda a escolaridade obrigatória sempre um ano à frente dos gaiatos do meu ano sem grande aparato.

Terminada a escolaridade obrigatória, no dia seguinte ao exame da 4ª classe em Marvão, comecei a guardar ovelhas. Na bolsa da merenda além do pão e do conduto levava sempre livros que me eram emprestados por algum amigo ou pela carrinha-biblioteca da Gulbenkian que vinha todos os meses à aldeia, recheada de sonhos para todos os gostos. Para mim aquele espaço repleto de estantes a abarrotar de livros era uma perfeita Lâmpada de Aladino. A Ilha Misteriosa, com centenas de páginas, as Vinte Mil Léguas Submarinas, toda a coleção das Aventuras dos Cinco da Enid Blyton e muitas, muitas outras dezenas, quiçá centenas de livros fui "devorando" desde então até hoje. 


Tenho agora provavelmente mais livros em estantes na minha casa do que aqueles que vinham na tal carrinha da Gulbenkian quando era miúdo. Mas nem só a leitura se tornou de mim inseparável. Também nunca deixei de escrever. Horas a fio. Coisas minhas. Por vício. Por necessidade. Por gosto. E por isso mesmo faz todo o sentido este título de Meu vício da escrita...