quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Colhemos o que semeamos



Quem não cuidou, não pode esperar ser cuidado. Quem não foi capaz de apoiar, não pode esperar ser amparado. Quem não teve uma palavra para quem a aguardava, não pode esperar nada a não ser silêncio. Quem não soube estar perto, não pode esperar senão distância. Quem não soube abraçar, não pode esperar senão braços cruzados. Quem não soube estar presente, não pode esperar ser visitado. O amor não é uma obrigação. Não é algo só porque sim. Quem não valorizou, não pode esperar ser valorizado.

lado.a.lado
(excerto)
- 31. 08. 2023

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Mui Nobre e Sempre Leal




Em dia de Reunião da CPCJ Marvão, aproveito sempre para "bater" umas fotos à Vila mai'linda de Portugal.
- 29. 08. 2023

Para melhor, muda-se sempre


Decidi mudar muita coisa na minha vida e uma dessas mudanças foi o meu comportamento em relação a algumas pessoas, a minha forma de as tratar, o meu jeito de falar com elas e até a maneira de lhes dar atenção.

Decidi não me preocupar tanto com a maldade alheia, levar mais a sério os meus sonhos, objetivos e projetos, afastar-me do que me faz mal, ignorar o que me faz recuar nas minhas decisões, distanciar-me de amizades tóxicas, interesseiras e sufocantes, rejeitar os elogios de quem nem sei sequer se me quer bem e seguir em frente.

Há situações que acontecem e nos tiram o chão, mas nem tudo vem para nos derrubar, nem tudo é para nos prejudicar ou destruir. Há coisas que vêm para nos mudar, para nos fazer crescer, para nos ensinar a olhar a vida de uma forma mais ampla, mais aberta e com mais maturidade, a não esperar tanto dos outros nem permitir que isso limite a nossa felicidade. 

Se não conseguimos mudar o mundo, temos de ser nós a mudar.

Experimente pôr isso em prática e vai chegar à conclusão que as pessoas não mudam, que nem todas reconhecem os erros que cometem ou as suas imperfeições e que não será você que vai fazer alguém pensar diferente, que apenas pode você ser diferente neste mundo onde nem todos sabem o que é amar, o que é valorizar e respeitar o espaço, a vida e o coração dos outros”.

Cecilia Sfalsin

Foto José Coelho

ENSAIO

Viola e Áudio: - Professor Carlos Vilhalva
Vozes: - José Coelho e Tuna Sénior de Marvão
Fotos e Vídeo: - Pedro Coelho
(Igreja de Nossa Senhora do Carmo - Beirã)
30 de agosto de 2023

terça-feira, 29 de agosto de 2023

Coisas minhas...


Gosto da lua. Cresci a saltar pedras e barrancos à sua luz, primeiro na "retouça" quando gaiato, depois a fazer alguns biscates de contrabando já zagal e por fim nas visitas semanais a casa das namoradas antes d'ir p'rá tropa. 

Era muito bom poder ver onde punha os pés nessas noites de namorico quando tinha de atravessar tapadas e canchais desde a Beirã até aos Cabeçudos, ou até aos Aires, ou até à Torre, para lá do Pereiro. 

Não parava quieto!

É verdade que já nesse tempo havia as estradas que há hoje, embora não tão boas, mas caminhar pelos "atravessos" que havia por toda a parte tornava os percursos bem mais curtos e menos cansativos, porque a brincar a brincar, eram sempre uns bons quilómetros para calcorrear a penantes.

Havia por aqui muitas histórias de medos, com ou sem culpas da lua. Por exemplo aquela da galinha com pintos nas proximidades do cemitério que seriam um bando d'almas penadas a pedirem rezas às pessoas que por ali passavam em noites de lua. 

A propósito dessa crença, certa noite, quatro e tal de uma enluarada madrugada vinha eu de ir levar a moça a casa no fim de um baile, quando ouvi um estranho resmalhar: 

- Ressshhhh.... Ressshhhhh... 

Depois aquilo parava. E eu parei também. Não com medo mas intrigado, decidido a ver e a entender de onde procedia aquilo. 

Outra rabanada de vento e outra vez... 

- Ressshhhh... 

- Mau! Pensei. 

- Q'ués ver qué a galinha c'os pintos? 

E mentalmente, continuando a brincar com a situação, chamei: 

- Pipi... pipi... pipi... conforme a minha mãe fazia a chamar as nossas galinhas para lhes dar o milho. De súbito e enquanto eu cogitava naquelas parvoíces todas, um novo ressshhh... quase, quase, ao pé de mim. 

Olhei. 

Prestei atenção. 

E vi. 

E percebi. 

E...

- Eureka! Pensei para comigo:

- "Télé lá" o misterioso "resmalhar"?

- Homessa!

- Assim se inventava um medo...

Eram apenas algumas folhas secas dos enormes choupos que ladeavam naquele tempo a estrada. Porque era outono, as árvores estavam a desfolhar-se. E as folhas secas, encarquilhadas, levadas pelo vento a serem arrastadas pelo alcatrão, faziam aquele barulho que o silêncio da madrugada ampliava tornando-o estranho e de certo modo inexplicável, pelo sossego da hora. 

Caminhei ao seu encontro e pisei-as desfazendo-as debaixo dos pés para me certificar. Era mesmo aquilo. Um sopro mais vivo do vento e lá atrás outras irmãs daquelas que eu havia pisado, aprontavam-se para a sua viagem sobre o alcatrão até encontrarem aconchego e se acomodarem nalguma nesga entre os canchos: 

- Ressshhh... Ressshhh...


Excerto de: "Contos da lua cheia" no Livro Histórias do Cota, págs.127 e seguintes.

José Coelho

Tudo tem limites, até o perdão

Foto Pedro Coelho


Há pessoas que perdoam mil vezes, mas quando vão embora, nunca mais voltam


Num mundo cada vez mais distorcido dos seus valores e princípios, torna-se difícil saber em quem confiar e em quem depositar esperança, uma vez que as máscaras fazem parte da vestimenta de muita gente. E acabamos muitas vezes dando de cara contra o muro, simplesmente por julgarmos o coração dos outros de acordo com o nosso. 

Infelizmente, ser bom demais tornou-se perigoso.

Existe, no contexto de hoje, uma necessidade de se dar bem em todos os setores, mesmo que seja por meio de vantagens indevidas e de caminhos duvidosos, como se os fins justificassem quaisquer meios. Nessa perspectiva, a lealdade acaba por ser algo a não seguir, pois o que importa mesmo é subir os degraus da ascensão social, ascensão no trabalho ou na vida, o que torna as relações humanas cada vez mais frágeis e vazias.

Mesmo assim, muita gente ainda quer acreditar no ser humano, na amizade verdadeira, no amor, na afetividade sincera. Muita gente ainda persiste no propósito de ser feliz sem machucar ninguém, sem trair, sem maldizer, sem ferir o outro, colocando-se no lugar das pessoas com quem convive. E é assim que a gente se desilude, simplesmente porque várias pessoas acabam por confundir generosidade com obrigação e abusam do que fazemos para as ajudar.

Pessoas positivas e capazes de entender o outro acabam a perdoar com facilidade retomando o que havia com esperança renovada, por acreditarem na capacidade de o ser humano se reinventar e melhorar cada dia, aprendendo com os próprios erros. No entanto haverá sempre quem não valorize o perdão que recebeu, como se todos fossemos obrigados a perdoar e perdoar sempre. 

Muitos não refletem nem mudam, porque acham que é o mundo que está errado e não eles.

Uma coisa é certa: não há quem possa abusar da bondade do outro pelo tempo que quiser porque chega um momento em que as forças e a paciência se acabam ainda que haja amor e carinho. Pessoas boas perdoam infinitas vezes, porém, quando se cansam, desistem por completo. 

Então não haverá mais volta, perdão ou hipótese.


Autor desconhecido

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Tudo, menos isso


 "Que a gente perca tudo: A hora, os dentes, a razão em alguns momentos, o sono, os sapatos, as roupas, o cabelo… Qualquer coisa, menos os sonhos e a alegria de viver!"

(Ana Nunes)

* 14 de agosto 2021 *

A familia (materna) quase toda numa foto


Da esquerda para a direita em pé:

O primo Raimundo (das Astúrias, Espanha); a tia Maria Francisca (irmã da minha mãe); a senhora Emília Corchana (sogra do tio Joaquim); o tio Joaquim Lourenço (irmão da minha mãe); o tio Joaquim de Espanha (irmão do meu avô); o senhor João Nunes (cunhado do meu tio Joaquim e mais tarde sogro da minha irmã Joaquina Maria que nesta data ainda não havia nascido); a tia Maria José (esposa do tio Joaquim Lourenço); a minha mãe (a espreitar por detrás da cabeça do agora meu cunhado José António que estava ao colo da sua mãe, senhora Maria Joana); por detrás da minha mãe vê-se a cabecita loura do bébé e primo José Maria Lourenço ao colo da sua mãe (a minha tia e cunhada Maria Júlia Sérvulo); a prima Maria Flores (de Vitória - Espanha) e por detrás dela o seu namorado de quem não recordo o nome, e, a fechar, a minha avó Amélia, mãe da minha mãe.

Da esquerda para a direita de cócoras:

O senhor José Nunes (sogro do tio Joaquim Lourenço); o tio Francisco Lourenço (irmão da minha mãe) e o seu canito; a prima Maria Francisca; eu, de suspensórios, para não perder as calças; a minha irmã Adelina; a minha irmã Maria da da Luz ainda quase bébé meio escondida pelo cotovelo do rapaz da gorra basca que não sei quem é; e, finalmente, o meu avô José Lourenço, pai da minha mãe.


Esta foto foi feita na várzea das Amendoeiras nas margens do rio Sever, no início da década de 60, numa pescaria e respetiva almoçarada que juntava todos os anos a família quase toda.  Bons e saudosos tempos em que sem haver quase nada, éramos todos tão unidos e felizes. De toda estas pessoas há 13 que já não se encontram entre nós mas vivem permanentemente no nosso coração e saudade. Aos que continuamos por cá, o meu abraço de fraterno. Os que já partiram que descansem na paz eterna.

Fica este humilde testemunho, para que a memória jamais se perca...


José Coelho

domingo, 27 de agosto de 2023

Ser capaz de ser feliz...

O tempo passou e veio a idade, como vem a noite ao cair da tarde!

Nunca o meu sorriso foi forçado. Nunca na minha vida me ri com vontade de chorar como leio por aí que há quem faça. Se rio é porque tenho mesmo vontade, é porque no meu coração reina a serenidade, é porque estou bem. Não faço esses favores a ninguém. Ou é genuíno ou nem sequer existe. De igual modo também não sei, nunca soube, disfarçar a tristeza, a preocupação, a indignação. Se alguma coisa perturbar o meu espírito, a expressão sisuda e dizem que muito mal-encarada, revela e não deixa dúvidas que algo menos bom se passa comigo. 

Aprendi a batalhar pelo que queria desde muito pequeno. Contava a minha mãe que eu abalava a fugir rua abaixo assim que ouvia tocar o sino da igreja. Queria ir à missa, algo que nem sequer sabia ainda pronunciar porque lhe chamava "mixa". De pé descalço e calças remendadas que luxos não havia, lá tinha que vir do meio da rua até casa "a toque de caixa", que a tia Florinda não dava baldas nem poupava nas palmadas quando eram precisas, para mostrar que quem mandava era ela. 

E fizeram-me tão bem!

Ainda assim não deixei de levar sempre "a minha" avante. Com 5 anos fugi uma tarde à mestra, a querida senhora Vicência Olivença, para me apresentar na Sociedade Recreativa no dia que começaram os ensaios das crianças da catequese para um serão recreativo que se fazia todos os anos na Beirã para a população. Eu não andava ainda na catequese porque não frequentava a escola mas queria lá saber disso. Se as outras crianças podiam eu também tinha que poder. E como ninguém me convidou, fugi à mestra e fui.

Com tal sorte que a D. Mimi e o Sr. Cardoso acharam que eu era capaz de ficar bem no papel de um beirão de Monsanto a interpretar uma cantiga ao desafio com a neta da vizinha Joaquina Servo que era da minha altura. Logo no primeiro arremedo de ensaio assinámos o contrato artístico. 

Devia ser hilariante, porque toda a gente se ria à gargalhada. Eu era baixote e a miúda também, vestidos a condizer, aquilo correu mesmo bem. O pior foi a cara da mestra senhora Vicência quando terminou o ensaio. Dera pela minha falta e sabendo que havia ali atividades com crianças logo imaginou para onde eu me tinha escapulido sem sua licença e não achou graça nenhuma. Fui agarrado por uma orelha até casa dela e à noite queixa formal à mãe Florinda que me proibiu de voltar a por os pés na sociedade sob pena de levar uma sova. Valeu a diplomacia da senhora D. Mimi e do Sr Cardoso que conseguiram convencer mãe e mestra a deixarem-me participar.

Depois...

Depois toda a minha vida foi lutar constantemente para alcançar metas. A vida dura do campo e mais tarde a de cabouqueiro nas pedreiras com o meu pai, não me seduziam. Queria ser carteiro ou carregador da CP, empregos estáveis e com melhores ordenados. E por isso, mal completei os 17 anos convenci o meu pai a deixar-me ir voluntário cumprir o serviço militar pois sem esse obstáculo vencido não havia empregos possíveis. 

E fui. E passei um mau bocado mas voltei. 

Só que o regresso a casa deu-se em plena convulsão do 25 de Abril e os empregos viam-se por um canudo. Bem enviei requerimentos aos CTT e à CP mas... "lamentamos informar que nesta empresa não existe à presente data qualquer concurso para admissão de quadros". Então... Ala para as Minas da Panasqueira. Não imaginava o que era ser mineiro mas como era preciso ganhar a vida, fui. Parar é morrer, não? Ainda nas Minas, casei e fui pai. Então, a mãe, a mulher e filho convenceram-me que embora digno, aquele trabalho era sumamente perigoso e nada saudável. 

E convenceram-me a concorrer à GNR...

Nunca me senti mais corajoso ou ousado que qualquer outra pessoa. Só me sinto capaz de alcançar aquilo que acredito estar ao meu alcance. Tenho também o hábito de medir a distância de onde estou até onde penso que sou capaz de ir, de pesar todas as possibilidades na balança da prudência para não falhar compromissos, de não subestimar nunca qualquer dificuldade. Foram infinitas as inquietações. Os medos. As noites mal dormidas. Mas tudo valeu a pena porque infinitos foram também os momentos da mais profunda felicidade por cada conquista, por cada obstáculo vencido, por cada "consegui".

O tempo passou e veio a idade,
como vem a noite ao cair da tarde...

Veio a idade, vieram outras coisas inesperadas e dispensáveis com as quais tenho de conviver agora no silêncio dos meus dias. Acabaram-se as lutas por uma vida melhor mas iniciou-se há algum tempo a esperança de um dia de cada vez. E como não é possível melhor, que ao menos se mantenha assim. Com a noite a aproximar-se neste cair da tarde da minha vida, continuo, apesar do longo caminho percorrido, o mesmo petiz de pata descalça que corria rua abaixo ao ouvir o sino. Que agora já não corre, mas desce a rua em passo tranquilo e já pode ir à mixa sem a mãe lhe ralhar ou prender pela orelha.

Não foi fácil. Muito pelo contrário. A minha maior gratidão é para a maravilhosa Família em cujo seio nasci e a quem devo tudo o que sou. Depois estou também grato à Vida por tudo quanto vivi de bom e de mau. Guardo no coração sempre, em primeiro lugar, as memórias felizes, mas foram sem dúvida os tombos e as dificuldades que me ensinaram a lutar e a resistir. E nunca, em momento algum, perdi de vista aquele que me parece ser o principal objetivo na vida de qualquer pessoa: 

Ser capaz de ser feliz, apesar de tudo, mesmo de tudo...

José Coelho

Muitas vezes


 Às vezes a gente esconde-se no silêncio para que a paz nos encontre.

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Também se chama amor-próprio


Muitas vezes temos que tirar pessoas das nossas vidas, apagar algumas interrogações, colocar pontos finais e escrever novos episódios da nossa história. Essas atitudes não significam que tenhamos ódio no nosso coração mas apenas respeito por nós mesmos.

Alexsandra Zulpo

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Mais do mesmo


A chegar a casa vindo do ensaio da Tuna Sénior no Porto da Espada - Marvão onde estacionado à sombra dos plátanos junto ao Lar de Nª Sª das Dores marcava 39º. À medida que fui descendo a serra para a Beirã foi subindo a temperatura: 40°, 41°, 42°, 43°. Quando parei o carro em frente à garagem para abrir o portão e guardar o carro, marcava estes 44° como se pode ver...
- 23. 08. 2023

terça-feira, 22 de agosto de 2023

Uma pedra só, não faz parede

Foto Pedro Coelho - 16. 07. 2023

Passavam poucos minutos das cinco da tarde no penúltimo sábado deste final de Agosto quando entrei na Igreja para assistir à missa vespertina que substituiu a missa de domingo ininterruptamente celebrada durante mais de setenta anos nesta Casa que sirvo dedicadamente desde os seis anos de idade, quando o então reverendo e saudoso padre Joaquim Caetano me escolheu para seu sacristão, "ofício" que, feliz com a escolha, exerci até terminar a escolaridade obrigatória e só abandonei quando o meu pai me pôs a guardar um rebanho de ovelhas logo a seguir ao exame da quarta classe.

Fui propositadamente mais cedinho por saber de antemão que a escassa meia dúzia de pessoas que vai assistir à missa só começa a chegar quase em cima da hora e assim eu poderia ficar alguns momentos a sós com a Senhora do Carmo ladeada pelas imagens em miniatura dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria, do Santíssimo Sacramento presente no Sacrário a Seus pés, assim como com todas as outras imagens entronadas nos altares laterais do templo: A Rainha Santa Isabel, a Senhora de Fátima, o S. José com o Menino, o Menino Jesus de Praga e a Senhora da Conceição na nave, mais o velhinho São João Baptista que discretamente preside à pia baptismal no Baptistério onde eu fui batizado há 71 anos, depois as minhas irmãs mais novas, a seguir os meus filhos, e, mais recentemente, as minhas netas.

Neste local sagrado casaram ainda os meus pais, casámos eu e as minhas três irmãs e casaram também os meus filhos. Como não hei-de sentir-me tão bem neste lugar que para além de Templo de Deus e da Senhora do Carmo é também o cofre onde guardo as mais doces recordações da minha vida, assim como, com toda a certeza, da vida de centenas de Beiranenses que vivem longe mas aqui continuam espiritualmente ligados. Existe por parte de todos uma mística muito especial de devoção à Senhora do Carmo, particularmente comprovada ano após ano no dia da sua festa, quando aqui comparecem às dezenas, vindos de todos os lugares para onde a vida os obrigou a irem viver pelas mais diversas razões, mas principalmente pelo encerramento da estação e via férrea.

Cedo me dei conta que a Beirã estava a esvair-se lentamente diante dos meus olhos e a Paróquia a seguir o mesmo caminho. Sem pessoas não há vida mas para a Paróquia era aparentemente mais ameaçadora a falta de presbíteros do que a falta de fiéis, pois os que teimámos em resistir e continuamos cá, particularmente no que a mim e à minha família diz respeito, tudo temos feito para colaborar e manter viva esta comunidade. Não tem sido fácil e nem importa sequer enumerar as dificuldades que foram substancialmente agravadas com a morte inesperada do Reverendo Padre Luís Marques que mudou tudo radicalmente. Se aos domingos não compareciam já muitos fiéis - porque já então éramos poucos - aos sábados "a coisa" ficou mais escassa. 

Há celebrações em que somos apenas seis ou sete presenças. E não há retorno possível.

Foi sobre tudo isso que comovido até às lágrimas, em silêncio e a sós, "conversei" mentalmente com Jesus do Sacrário e com a Senhora Sua Mãe neste sábado, antes de abrir as portas da igreja e preparar o ambão para as leituras da Palavra, porque os paramentos do pároco já estavam preparados na sacristia e as alfaias para a Consagração Eucarística sobre o altar, colocados poucas horas antes pela Maria Manuela Coelho que lá foi preparar tudo o mais, como faz semana após semana por já não haver acólitos. Custe ou não, a verdade é por demais evidente. Sacrificando a missa dominical com recurso à missa vespertina no sábado, o Senhor da messe providenciou o Pastor como foi possível para que a celebração semanal continuasse. Não é, portanto, a falta de presbíteros que está a deixar vazias as celebrações. 

É a falta de pessoas. 

E como dizia o meu pai, uma pedra só não faz parede.

Rendo-me à evidência. É tempo de mudar de pensamento e de vida, de procurar e encontrar alguma solução que torne menos deprimentes os dias que eventualmente ainda temos para viver. Há mais mundo, há mais vida, há opções que embora difíceis podem ser tomadas. Fiz o que pude, enquanto pude. Para quê lutar mais? Dom Quixote de la Mancha só houve um e na Beirã nem sequer existem moinhos de vento, existe agora uma áurea de euforia que são os AL's na tentativa de repovoar a aldeia com turistas. 

Oxalá seja duradoura, mas já não acredito muito em milagres...


José Coelho

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Grande mestra ela é


Aos poucos a vida vai-nos ensinando pelo que vale a pena continuar a lutar e também do que devemos desistir para sempre, por lógica sensatez.
(Memórias do baú)

Senhora das Dores 2023




Celebração litúrgica em louvor de Nossa Senhora das Dores - Barretos - Beirã. 
Fotos Jorge Rosado (a quem agradeço a gentileza) 20. 08. 2023.

domingo, 20 de agosto de 2023

E mais não digo

Preciosidades

Encontrei esta preciosa foto ao acaso na net. Não sei quem foi o fotógrafo ou quem a publicou, não sei se é um cortejo, um casamento ou se apenas vinham para alguma festa, mas sei que é nas Chorilhas e no sentido Barretos - Beirã porque a paisagem continua lá quase na mesma, pouco mudou, apenas a estrada - N 359 - deixou de ser em terra batida, hoje é um pouco mais larga e foi alcatroada. Logo, este registo deve ser da minha idade ou pouco mais velho que eu, anos 40/50 do séc. XX.

Obrigado a quem fez o favor de a partilhar!

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Bom fim de semana


Pessoas vão embora de todas as formas: vão embora da nossa vida, do nosso coração, do nosso abraço, da nossa amizade, da nossa admiração, do nosso país.
E muitas a quem dedicamos um profundo amor, morrem. E continuam imortais dentro da gente. A vida segue: doendo, rasgando, enchendo de saudade...
Depois vem a aceitação que ameniza a falta trazendo apenas a lembrança que não machuca mais: uma frase engraçada, uma filosofia de vida, um jeito tão característico, aquela peculiaridade da pessoa.
Mas pessoas vão embora. As coisas acabam. Relações esvaem-se, paixonites escorrem pelo ralo, adeuses começam a fazer sentido. E se a gente sente com estas idas e também vindas, é porque estamos vivos. Cuidemos deste agora.
Muitos já se foram para nos ensinarem que a vida é só um bocado de momento que pode durar cem anos ou cinco minutos. E não importa quanto tempo você teve para amar alguém, mas o amor que você investiu durante aquele tempo.
Alguns segundos, podem ser eternidades... ou não. Depende da ocasião.

Marla de Queiroz

- 18. 08. 2023

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Tentemos acendê-la por onde passamos

Gastronomia (também) é Cultura


Chamam-lhe "butelo" e é um produto da Galiza, mas também de Trás-os-Montes. Talvez porque as duas províncias fazem fronteira entre si e foi o meu almoço em Oimbra - Ourense faz hoje quatro anos, a primeira e única vez que o comi.
É sem dúvida, uma delícia.
Trata-se de um bucho de porco que depois de lavado e preparado por sábias mãos é cheio de pedaços de carne com osso - entrecosto e outras - temperados no alguidar e vai ao fumeiro a curar juntamente com todos os outros enchidos das matanças.
Na Galiza é servido com batatas cozidas no caldo onde se cozeu o butelo. Em Trás-os-Montes é acompanhado com casulas - feijão seco ao sol na casca - um legume que os meus pais também sempre preparavam no verão para se comer no longo e frio inverno após ser demolhado de um dia para o outro para ficar macio e fazia uma sopa divinal.
Na minha terra chamam-se "bajas secas" e em Trás-os-Montes chamam-lhe "casulas". Quer numa, quer na outra região são um produto difícil já de se encontrar porque não vai havendo hortas nem gente que saiba as voltas que este feijão na casca tem de levar para ficar em condições de se armazenar por vários meses sem se deteriorar.
Coisas boas e saberes que irão desaparecer na voragem do tempo e é pena porque a gastronomia de cada região é também, toda ela, parte integrante da sua cultura, do seu povo.
Seja em que país for.

(Texto e foto)
16. 08. 2019

terça-feira, 15 de agosto de 2023

Reflectir faz bem à saúde

Há dias na nossa vida em que nos sentimos perdidos e tudo parece dar errado. Quando essa sensação persiste é necessário mudar. Não adianta insistir e continuar por um caminho que não leva a lado nenhum porque haverá sempre outro. A vida é composta de mudanças e temos de aceitá-las sem medo quantas vezes forem necessárias para que nunca nos acostumemos ao que não nos faz felizes.

Foto Maria Coelho

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Bom fim de semana


Não me arrependo de ter feito o melhor que podia. Mas não o repetiria!

Hóspedes ou vizinhos?

Encostado à parede do forno, um dos baldes com água para a passarada

Deabulam pelo quintal sem cerimónia e comiam até a meias com a nossa Suri, a rafeira alentejana que já se finou, servindo-se do granulado que ela comia, escolhendo aquele que melhor ou mais mal conseguiam levar no bico e iam depenicá-lo para os ramos das árvores mais próximas.

Era interessante ver como nos vigiavam à sucapa e sempre a postos à hora das refeições da cadela, estrategicamente empoleiradas entre as folhas da figueira ao lado do canil. E assim que nós voltávamos costas esvoaçavam discretamente para a cerca em frente do mesmo e dali lá para dentro, para partilharem as refeições para as quais não eram convidadas.

Garganeiras agarravam-se às vezes a granulado maior do que o alcance do seu bico e não raro a vizinha Joaquina Brites a dizer-me que lhe aparecia granulado da Suri espalhado pelo seu quintal vinte metros acima do nosso. Eram elas ao voarem para as árvores do outro lado da parede que o deixam cair por não conseguirem segurá-lo.

Quem são estas personagens? Um bando de lindíssimas e melodiosas rolas turcas vindas não sei de onde - há quem diga que foi o Parque Natural da Serra de S. Mamede que o repovoou desta resiliente espécie - e se instalaram nos arredores da nossa casa há mais de duas décadas não sei se como moradoras, se como hóspedes, ou apenas como vizinhas permanentes, porque nunca mais daqui arredaram pé, nem de verão nem de inverno.

Despertador certo e seguro assim que raia o dia, empoleiram-se em cima das nossas chaminés a anunciar a alvorada e cantando em competição com os galos da vizinhança. Só há uma coisa que que me irrita um pouco. Nas horas de maior calor esvoaçam silenciosas entre as árvores do quintal para esgaravatarem e se espojarem como os burros em volta das plantas - salsa, hortelã, coentros, alfaces e outras - a fim de se refrescarem na terra regada de fresco e às vezes estragam.

Como bom anfitrião, bom hospedeiro e bom vizinho que me prezo de ser, cuido desta "malta" toda com esmero o ano inteiro. Durante o verão há sempre no quintal dois baldes cheios de água fresca para beberem quando necessitam. E todos os dias à hora de maior calor mudo a água já morna e renovo-a com água fresca. Até as toalhas da mesa das nossas refeições diárias a minha companheira sacode sempre para o quintal para comerem as migalhas. 

As rolas e toda a outra passarada.

Há duas famílias a fazerem ninho na nossa latada e nas oliveiras todas as primaveras. Uma de verdelhões, outra de pintassilgos. Assim que me apercebo que já estão a construí-los quase nem me acerco do local para não os perturbar, até os filhos voarem. Esta primavera uma rabanada de vento mais forte quase derrubou o do verdelhão. Não fosse eu ver o desastre iminente e correr a amarrar a pernada que tombou, com um bocado de ráfia, lá se iam os ovinhos todos estatelar no chão. 

Os melros preferem o limoeiro por ser mais fechado. As rolas a laranjeira, por ser mais aberta. Até já no loureiro um casal fez ninho também sem eu me ter apercebido e só ao cortar alguns ramos dei com ele já vazio, mas pela quantidade de excrementos deu para perceber que ali procriaram em absoluto sigilo.

Ainda assim e no meio desta "malta" toda há também os indesejáveis predadores. Pardais, carriças e estorninhos. Depenicam as couves e deixam-nas tão esburacadas que em vez de folhas para caldo verde mais parecem alinhavados de Nisa. Vão à caça dos insetos que por ali habitam e de caminho comem-nos com a verdura para a dieta ficar mais completa. 

Não acho graça nenhuma, mas sempre ouvi dizer que roubar para comer nunca deverá ser considerado crime...

José Coelho