quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Feliz 2022

Foto Maria Coelho

Cada fim de ano é tempo de celebração, mas também de reflexão, de análise e de recomeço. Para trás fica o ano que acaba. Dele, guardemos apenas o que foi bom. Tentemos, ainda que seja algo difícil, esquecer tudo o que nele tenha sido menos bom.
Do sofrimento que possa ter-nos causado, guardemos apenas a certeza que conseguimos sobreviver-lhe. Dos erros que porventura possamos ter cometido, guardemos os ensinamentos que deles colhemos. E das inevitáveis dificuldades, guardemos somente a lembrança daquele momento em que conseguimos superá-las.
Sintamos gratidão por mais um ano de vida, e, apesar de tudo o que tenha acontecido, o importante mesmo é que chegámos até aqui, que nos tornámos mais experientes, mais fortes e mais sábios.
Agora é tempo de enchermos o coração de otimismo, de esperança e de sonhos, assim como é também tempo de recomeçar e renovar os nossos projetos de vida para o novo ano que está a chegar.
Saibamos viver e aproveitar cada dia, cada hora, cada minuto.
A toda a minha Família e Amizades, assim como a quem não seja nem uma coisa nem outra, desejo um Feliz e Próspero Ano de 2022. Cuidem-se, mimem-se, façam tudo o que estiver ao vosso alcance para serem felizes. E Boas Festas.
José Coelho
30.12.2021

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Feliz Natal 2021, Família & Amizades

Três mini-presépios, dois dos quais elaborados pela dona da Toca
O Menino Jesus (oferecido pelo Padre Luís) que desde 2005 
nos faz companhia todos os natais na nossa sala de estar
Árvore de Natal de última hora a pedido da neta Francisca
A "carrada" de mimos que os filhotes Caçulas nos trouxeram
Dia 8 de Dezembro de cada ano, a Toca veste sempre os trajes de Natal
À espera que a pandemia permita que nos reunamos com filhos e netas
Esta obra de arte foi bordada à mão pela irmã mais velha da dona da Toca
Fotos Pedro Coelho e José Coelho
 

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Natal de Campo Maior

Coisas (inspiradoras) que leio


Compreendi que viver é ser livre. Que ter amigos é necessário. Que lutar é manter-se vivo. Que para ser feliz, basta querer.
Aprendi que o tempo cura. Que a mágoa passa e que a decepção não mata. Que hoje é o reflexo do ontem. Compreendi que podemos chorar sem derramar lágrimas. Que um amigo verdadeiro permanece. Que a dor fortalece. E que vencer engrandece.
Aprendi que sonhar não é fantasiar. Que para sorrir tem que se fazer alguém sorrir. Que a beleza não está naquilo que vemos, mas naquilo que sentimos. E que o maior valor está na conquista.
Compreendi que as palavras têm força. Que fazer é mais útil que falar. Que o olhar não mente. Que viver é aprender com os erros. Aprendi ainda que tudo depende da nossa vontade e que o melhor é sermos nós mesmos. Que o segredo da vida é... Viver.
Outra coisa que aprendi, é que devemos viver, "apesar de". Que "apesar de" devemos seguir em frente. Que "apesar de" devemos amar. E que, muitas vezes, o próprio "apesar de" é que nos empurra para a frente. Foram precisamente os "apesar de" que me deram a força vencedora da minha própria vida.
Clarice Lispector.

sábado, 18 de dezembro de 2021

Imagens do Natal na Toca dos Coelhos

- Algumas destas fotos foram feitas por mim, outras pelo filho Pedro Coelho, na nossa casa em natais passados mas já também no presente ano. A fotomontagem é da autoria do meu camarada da guerra e excelente amigo Furriel Fernando Pereira o qual não voltei a ver desde que regressámos a casa em junho de 1974 e a quem, eu e a minha esposa agradecemos a amizade, bem como esta e muitas outras gentilezas suas. Bem haja. Deixo também os nossos votos de Boas Festas a todos os Cavaleiros do Maiombe, onde quer que se encontrem, extensivos aos seus familiares.

Maria e José Coelho

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Boas Festas...

... a toda a minha Família, particularmente a que está longe. A todas as minhas amigas e amigos de perto e de longe, mas também para quem não for nem uma coisa nem outra. 

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

"Conto" de Natal do meu "mestre" preferido


— Consoamos aqui os três — disse, com a pureza e a ironia de um patriarca. — A Senhora faz de quem é; o pequeno a mesma coisa; e eu, embora indigno, faço de S. José.”

“De sacola e bordão, o velho Garrinchas fazia os possíveis para se aproximar da terra. A necessidade levara-o longe de mais. Pedir é um triste ofício, e pedir em Lourosa, pior. Ninguém dá nada. Tenha paciência, Deus o favoreça, hoje não pode ser – e beba um desgraçado água dos ribeiros e coma pedras! Por isso, que remédio senão alargar os horizontes, e estender a mão à caridade de gente desconhecida, que ao menos se envergonhasse de negar uma côdea a um homem a meio do padre-nosso. Sim, rezava quando batia a qualquer porta. Gostavam... Lá se tinha fé na oração, isso era outra conversa. As boas acções são que nos salvam. Não se entra no céu com ladainhas, tirassem daí o sentido. A coisa fia mais fino! Mas, enfim... Segue-se que só dando ao canelo por muito largo conseguia viver.

E ali vinha de mais uma dessas romarias, bem escusadas se o mundo fosse de outra maneira. Muito embora trouxesse dez reis no bolso e o bornal cheio, o certo é que já lhe custava arrastar as pernas. Derreadinho! Podia, realmente, ter ficado em Loivos. Dormia, e no dia seguinte, de manhãzinha, punha-se a caminho. Mas quê! Metera-se-lhe na cabeça consoar à manjedoira nativa... E a verdade é que nem casa nem família o esperavam. Todo o calor possível seria o do forno do povo, permanentemente escancarado à pobreza.

Em todo o caso sempre era passar a noite santa debaixo de telhas conhecidas, na modorra de um borralho de estevas e giestas familiares, a respirar o perfume a pão fresco da última cozedura... Essa regalia ao menos dava-a Lourosa aos desamparados. Encher-lhes a barriga, não. Agora albergar o corpo e matar o sono naquele santuário colectivo da fome, podiam. O problema estava em chegar lá. O raio da serra nunca mais acabava, e sentia-se cansado. Setenta e cinco anos, parecendo que não, é um grande carrego. Ainda por cima atrasara-se na jornada em Feitais. Dera uma volta ao lugarejo, as bichas pegaram, a coisa começou a render, e esqueceu-se das horas. Quando foi a dar conta passava das quatro. E, como anoitecia cedo não havia outro remédio senão ir agora a mata-cavalos, a correr contra o tempo e contra a idade, com o coração a refilar. Aflito, batia-lhe na taipa do peito, a pedir misericórdia. Tivesse paciência. O remédio era andar para diante. E o pior de tudo é que começava a nevar! Pela amostra, parecia coisa ligeira. Mas vamos ao caso que pegasse a valer? Bem, um pobre já está acostumado a quantas tropelias a sorte quer. Ele então, se fosse a queixar-se! Cada desconsideração do destino! Valia-lhe o bom feitio. Viesse o que viesse, recebia tudo com a mesma cara. Aborrecer-se para quê?! Não lucrava nada! Chamavam-lhe filósofo... Areias, queriam dizer. Importava-se lá.

E caía, o algodão em rama! Caía, sim senhor! Bonito! Felizmente que a Senhora dos Prazeres ficava perto. Se a brincadeira continuasse, olha, dormia no cabido! O que é, sendo assim, adeus noite de Natal em Lourosa...

Apressou mais o passo, fez ouvidos de mercador à fadiga, e foi rompendo a chuva de pétalas. Rico panorama!

Com patorras de elefante e branco como um moleiro, ao cabo de meia hora de caminho chegou ao adro da ermida. À volta não se enxergava um palmo sequer de chão descoberto. Caiados, os penedos lembravam penitentes.

Entrou no alpendre, encostou o pau à parede, arreou o alforge, sacudiu-se, e só então reparou que a porta da capela estava apenas encostada. Ou fora esquecimento, ou alguma alma pecadora forçara a fechadura.

Vá lá! Do mal, o menos. Em caso de necessidade, podia entrar e abrigar-se dentro. Assunto a resolver na ocasião devida... Para já, a fogueira que ia fazer tinha de ser cá fora. O diabo era arranjar lenha.

Saiu, apanhou um braçado de urgueiras, voltou, e tentou acendê-las. Mas estavam verdes e húmidas, e o lume, depois de um clarão animador, apagou-se. Recomeçou três vezes, e três vezes o mesmo insucesso. Mau! Gastar os fósforos todos é que não.

Num começo de angústia, porque o ar da montanha tolhia e começava a escurecer, lembrou-se de ir à sacristia ver se encontrava um bocado de papel.

Descobriu, realmente, um jornal a forrar um gavetão, e já mais sossegado, e também agradecido ao céu por aquela ajuda, olhou o altar.

Quase invisível na penumbra, com o divino filho ao colo, a Mãe de Deus parecia sorrir-lhe. Boas festas! — desejou-lhe então, a sorrir também. Contente daquela palavra que lhe saíra da boca sem saber como, voltou-se e deu com o andor da procissão arrumado a um canto. E teve outra ideia. Era um abuso, evidentemente, mas paciência. Lá morrer de frio, isso vírgula! Ia escavacar o arcanho. Olarila! Na altura da romaria que arranjassem um novo.

Daí a pouco, envolvido pela negrura da noite, o coberto, não desfazendo, desafiava qualquer lareira afortunada. A madeira seca do palanquim ardia que regalava; só de cheirar o naco de presunto que recebera em Carvas crescia água na boca; que mais faltava?

Enxuto e quente, o Garrinchas dispôs-se então a cear. Tirou a navalha do bolso, cortou um pedaço de broa e uma fatia de febra e sentou-se. Mas antes da primeira bocada a alma deu-lhe um rebate e, por descargo de consciência, ergueu-se e chegou-se à entrada da capela. O clarão do lume batia em cheio na talha dourada e enchia depois a casa toda. É servida?

A Santa pareceu sorrir-lhe outra vez, e o menino também.

E o Garrinchas, diante daquele acolhimento cada vez mais cordial, não esteve com meias medidas: entrou, dirigiu-se ao altar, pegou na imagem e trouxe-a para junto da fogueira.

— Consoamos aqui os três — disse, com a pureza e a ironia de um patriarca. — A Senhora faz de quem é; o pequeno a mesma coisa; e eu, embora indigno, faço de S. José.”

Miguel Torga

sábado, 11 de dezembro de 2021

Bom fim de semana


Mesmo só, quando ao pé do fogo da lareira
Ponho-me a recordar o que fui e o que sou,
A minha sombra - a eterna companheira
Que em dias bons e maus sempre me acompanhou,
Fica perto de mim de tal maneira
Que não parece sombra. E' alguém que ali ficou.
Somos dois. Cada qual mais triste e mais calado.
Anda lá fora o luar garoando no jardim...
Tenho pena da sombra imóvel a meu lado
Possuída da expressão de um silêncio sem fim.
E recordo em voz alta o meu tempo passado
E a sombra chega mais para perto de mim.
Ah! Quem me dera ter um bem que se pareça,
Que lembre vagamente outro que longe vai:
As mãos da minha Mãe sobre a minha cabeça,
O consolo de amigo e a fala do meu Pai.
E antes que a noite passe e a alma se me enterneça,
Abro a janela e espio a lua que se esvai...
Qual! E' inútil. Por mais que esta lembrança esqueça,
Uma lágrima cresce em meus olhos e cai...
Deus há de permitir que eu adormeça
Com as mãos da minha Mãe sobre a minha cabeça,
Ouvindo a fala comovida de meu pai.
Olegário Mariano (Poema)
José Coelho (Vídeo)
11.12.2021

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

A criança que fui chora na estrada

Julho 1974

 

I

A criança que fui chora na estrada.

Deixei-a ali quando vim ser quem sou;

Mas hoje, vendo que o que sou é nada,

Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou

A vinda tem a regressão errada.

Já não sei de onde vim nem onde estou.

De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar

Um alto monte, de onde possa enfim

O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,

E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar

Em mim um pouco de quando era assim.

II

Dia a dia mudamos para quem

Amanhã não veremos. Hora a hora

Nosso diverso e sucessivo alguém

Desce uma vasta escadaria agora.

E uma multidão que desce, sem

Que um saiba de outros. Vejo-os meus e fora.

Ah, que horrorosa semelhança têm!

São um múltiplo mesmo que se ignora.

Olho-os. Nenhum sou eu, a todos sendo.

E a multidão engrossa, alheia a ver-me,

Sem que eu perceba de onde vai crescendo.

Sinto-os a todos dentro em mim mover-me,

E, inúmero, prolixo, vou descendo

Até passar por todos e perder-me.

III

Meu Deus! Meu Deus! Quem sou, que desconheço

O que sinto que sou? Quem quero ser

Mora, distante, onde meu ser esqueço,

Parte, remoto, para me não ter.


Fernando Pessoa

22.09.1933

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Bom fim de semana

Foto José Coelho - 03.12.2021

"Já não tenho paciência para algumas coisas, não porque me tenha tornado arrogante mas simplesmente porque cheguei a um ponto da minha vida em que não aceito perder mais tempo com aquilo que me desagrada ou fere. Perdi a vontade de agradar a quem não agrado, de amar a quem não me ama, de sorrir para quem quer retirar-me o sorriso. Deixei também de ter qualquer consideração por quem não merece a minha."

Meryl Streep

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021