domingo, 30 de abril de 2023

Bom Domingo...


... e para aqueles que ainda trabalham, um bom Dia do Trabalhador!

80 anos




Inaugurada em 16 de Julho de 1943 a Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Beirã foi elevada a Paróquia no dia 16 de Julho de 1953. Prepara-se assim para celebrar 80 anos da sua existência como templo e 70 anos como Paróquia, no pf dia 16 de Julho de 2023.
Em 29. 04. 2023

sexta-feira, 28 de abril de 2023

Uma Primavera que dificilmente esquecerei

Ressectoscópio Urológico para Ressecção Endoscópica Prostática
Imagem copiada do Google 



Os dias decorriam calmos e previsíveis dentro da monótona rotina em que se tornou a minha vida de reformado até que uma bela manhã o telefone tocou logo à hora do pequeno almoço. Era o Carlos, o diligente funcionário e excelente amigo do Centro de Saúde a perguntar-me se ainda demorava muito...

- Homéssa! Demoro muito para quê? Retruquei, surpreso. 
E ele: 
- Esqueceu-se, já vi...
- Mau! Esqueci-me de algum compromisso, Carlos?
E ele novamente na sua calma e profissional gentiliza:
- Da sua consulta de rotina da diabetes que tem agendada para daqui a cinco minutos. 

Fiquei perplexo. 

Cada consulta destas implica sempre a realização de análises e um ECC que costumo ir fazer uma semana antes, afim de estarem prontos para serem vistos pelo senhor doutor. Para esse efeito, ele entrega-me sempre, no fim de cada consulta, as respectivas requisições para a próxima que fica logo informaticamente agendada para dali a outros quatro meses. 

Desde 2003 que assim era. Nada mais fácil, mais entendível e mais bem organizado.

Mas eu, o perfeccionista, o pontual até ao exagero, o certinho-em-tudo o que seja compromissos, tinha-me equivocado na data. Não foi bem um esquecimento. Meti na cabeça, não sei por que carga d'água, que a consulta era só lá para o fim do mês e nem me dei ao trabalho de ir verificar a data exata. Enganei-me redondamente. A consulta fora marcada pelo senhor doutor, há quatro meses atrás para aquele exato dia de início do mês. 

E eu não apareci.

- Telefonei porque o senhor chega sempre uma hora antes e como hoje não aparecia, pensei que pudesse ter havido algum problema - continuou entretanto o diligente amigo Carlos pelo telefone.
- Mas não se preocupe. Vou avisar já o Dr que o senhor não vem e depois fale com ele para agendar nova data que lhe dê tempo de ir fazer os exames necessários. 

Assim fiz.

Ainda nesse dia liguei ao Dr que na sua habitual e calma bondade me tranquilizou dizendo:

- Não há problema sargento Coelho - é assim que ele me chama desde agosto de 1985, data em que nos conhecemos em Nisa. 

- Vá lá fazer as análises e o resto descansado. Depois quando tiver tudo pronto diga-me qualquer coisa e remarcamos a consulta. 

Obviamente tentei resolver a falta no mais curto espaço de tempo e poucos dias depois estava perante o Dr com tudo feito. Este excelentíssimo senhor não foi apenas o nosso médico de família durante mais de 36 anos. É também um insubstituível Amigo. Meu, da minha Maria, dos meus filhos e depois também até se reformar, das minhas noras e netas.

Por isso percebi imediatamente que algo não estava bem, perante o seu pouco habitual silêncio e semblante carregado. E perguntei: 

- Dr está tudo bem?

E ele, num seco monossílabo:

- Não!

- O seu PSA está altíssimo, continuou.

- E isso quer dizer que... Perguntei de novo.

- Que tem de ser imediatamente observado por um Urologista...

De seguida prescreveu-me a habitual medicação antidiabética mas sem marcar, como sempre tinha feito até ali, a data para a próxima consulta. Em vez disso, entregou-me duas requisições. Uma para ir fazer uma ecografia prostática e a outra a pedir com urgência uma consulta de Urologia.

- E a próxima consulta da diabetes, dr? Esqueceu-se...

- Não, não esqueci!

- A próxima consulta fica para depois de resolvermos isso.

Não costumo ser alarmista nem medroso mas vim para casa a pensar que devia ter algo muito preocupante para o Dr nem sequer prever quando iríamos voltar a encontrar-nos rotineiramente como sempre se fez durante anos.

Tudo o resto foi meteórico. O filho Pedro e a nora Ana a quem enviei por email o resultado das análises e a requisição da ecografia, bem como da consulta de urologia que entretanto digitalizei, ambos com muito mais conhecimentos que eu em especialistas e hospitais, conseguiram marcar, ainda naquela noite, uma ecografia prostática e uma consulta de Urologia para dali a dois dias, num dos mais conceituados hospitais particulares mas com quem a nossa SAD tem acordos, o Hospital Lusíadas Lisboa, assim com o Dr João Varregoso, Coordenador da Unidade de Urologia daquela unidade hospitalar. 

Dois dias depois fiz a ecografia às três da tarde, para, duas horas depois, o Urologista a poder analisar uma vez que sendo os exames realizados no hospital ficam imediatamente acessíveis no sistema informático, prontos para serem visualizados. Contudo, pelo sim, pelo não, a simpatiquíssima funcionária administrativa que nos atendeu no guichet no momento da marcação do exame, aconselhou-me a informar o Dr que me ia fazer a eco, que ia ter consulta ainda nessa tarde com o dr Varregoso.

- Fez bem em me avisar - disse o dr da Imagiologia - porque assim vou já fazer o relatório para o Dr Varregoso ler, uma vez que só o registo das imagens ecográficas sem o respetivo relatório, de pouco lhe serviriam.

Dito e feito. O dr Varregoso viu mas quis porém confirmar qualquer coisa e fazer novo exame. Das conclusões a que chegou, a mais imediata foi que o meu problema não seria só prostático mas também bexiga a funcionar menos bem, pelo que mandou fazer mais um outro exame. Uma Urofluxometria. Em seguida consultou a agenda e marcou uma biópsia prostática que quis ser ele próprio a fazer 48 horas depois. 

Consegui que o novo exame requerido fosse marcado para a mesma manhã da biópsia e às 8,30 desse dia estava a fazer a Urofluxometria e às 9:30 a biópsia prostática. 

Conclusão: 

Numa semana foi detetado o PSA com valores de 12,9 quando o normal é até 4.0. Quatro dias depois tinha feito todos os exames necessários para se perceber qual a origem do problema. Restava só já aguardar o resultado das seis amostras de tecido prostático retirados para biópsia e enviadas ao Instituto Ricardo Jorge que demoraria segundo um mínimo de 10 dias e por isso foi para essa data que se marcou nova consulta. 

E lá estava eu. 

Com o seu ar tranquilo o Dr mostrou-me o resultado. Temos aqui um problema que é urgente resolver com uma cirurgia moderna que se denomina Ressecção Endoscópica Prostática. 

- Vá para casa, pense, e depois decida, disse o Dr.

- Está pensado e decidido, Senhor Dr. É preciso fazer, faz-se. Respondi.

Assim a data foi imediatamente marcada numa agenda sempre repleta do Dr Varregoso, que não chega para as encomendas. 

Internamento às 11 horas do dia 16 de junho para ser operado às 18. Como se pode ver na imagem, esta cirurgia é a introdução do tubo metálico de um aparelho pela uretra abaixo até à próstata. O tubo tem na ponta uma lâmina rotativa que tritura o adenoma dentro da próstata e tudo à sua volta, após o que aspira tudo para o exterior pelo mesmo tubo. A massa líquida extraída é novamente enviada ao Instituto Ricardo Jorge para o diagnóstico final.

Felizmente o resultado da minha foi: 
"Nesta amostra não se documenta tecido neoplásico." 

Trocado por miúdos quer aquilo dizer que o adenoma era benigno. Ainda assim, porque "terra que cria batatas nunca dá só uma" no entender do Dr Varregoso, desde 2016 que tenho de voltar a fazer exames de prevenção, no mínimo uma vez por ano.

O pós-operatório e posterior recuperação "disto", deixo à vossa imaginação...

Termino como comecei: 

Dificilmente esquecerei no resto da minha vida a Primavera de 2016. 


José Coelho

Bom fim de semana prolongado


Entrada do quintal da Toca dos Coelhos - Foto José Coelho - 28. 04. 2023

quinta-feira, 27 de abril de 2023

Caminhadas de final de tarde



Fotos José Coelho e Maria Coelho - 27. 04. 2023

Vivendo e aprendendo





Quando em Agosto de 1986 fui comandar o primeiro Posto Eventual da GNR de Alvor, provisoriamente instalado naquele ano pela Junta de Freguesia numa escola da localidade, fui convidado certo dia para ir almoçar com os pescadores uma bela caldeirada de peixe feita por eles.
Até aqui nada de novo, a não ser acrescentar que deve ter sido a melhor que comi na minha vida. Retirados os ingredientes sólidos - peixes e legumes - para os pratos, ficou o tacho ainda quase meio de caldo que eles voltaram a pôr ao lume acrescentando-lhe uns punhados de cotovelinhos e que, para rematar tão soberbo pitéu, foi servido em jeito de sobremesa.
Desde então, sempre que faço caldeirada de peixe cá em casa guardo o caldo da mesma, não para servir no final, mas para o almoço do dia seguinte. E hoje foi um desses dias. Ora vejam:
- 27. 04. 2023

Carpe Diem

Estrada Municipal 1024 - Beirã - Foto José Coelho - 24. 04. 2023

Aproveita o dia, não deixes que ele termine sem teres crescido um pouco, sem teres sido feliz, sem teres alimentado os teus sonhos.

Não te deixes vencer pelo desalento.

Não permitas que alguém te negue o direito de expressar-te que é quase um dever.

Não abandones a ânsia de fazer da tua vida algo extraordinário.

Não deixes de crer que as palavras e as poesias podem mudar o mundo, porque, passe o que passar, a nossa essência continuará intacta. Somos seres humanos cheios de paixão.

A vida é deserto e oásis, derruba-nos, lastima-nos, ensina-nos e converte-nos em protagonistas da nossa própria história.

Ainda que o vento sopre contra, a poderosa obra continua, tu podes trocar uma estrofe. Não deixes nunca de sonhar, porque só nos sonhos pode ser livre o homem.

Não caias no pior dos erros: o silêncio. A maioria vive num silêncio espantoso. Não te resignes, nem fujas.

Valoriza a beleza das coisas simples, pode fazer-se poesia bela, sobre as pequenas coisas.

Não atraiçoes as tuas crenças. Todos necessitamos de aceitação, mas não podemos remar contra nós mesmos. Isso transforma a vida em um inferno.

Desfruta o pânico que provoca ter a vida toda a diante e procura vivê-la intensamente sem mediocridades. 

Pensa que em ti está o futuro, encara a tarefa com orgulho e sem medo.

Aprende com quem pode ensinar-te as experiências daqueles que nos precederam.

Não permitas que a vida se passe sem a teres vivido.

 

 Walt Whitman

(1819-1892)

quarta-feira, 26 de abril de 2023

Conveniências


Há pessoas esquecidas.
Esquecem-se do lugar onde estacionaram o carro, do bolo no forno. Esquecem-se das datas. Mas lembram-se das pessoas.
Depois, há as pessoas que se fazem de esquecidas.
As pessoas que se fazem de esquecidas não se esquecem do lugar onde estacionaram o carro nem do bolo no forno. Nem das datas. Esquecem-se das pessoas.
As pessoas que se fazem de esquecidas são aquelas que só se lembram das outras quando precisam. Depois, as pessoas que se fazem de esquecidas querem fazer com que as pessoas de que precisaram caiam no esquecimento.
Esquecem-se de que as ausências são as presenças mais notadas.
Esquecem-se de que uma pessoa esquecida tem uma excelente memória.
in lado.a.lado
- 26.04.2023

- 25. 04. 2023

Tuna Sénior de Marvão

Fotos António Gil - 25. 04. 2023
 Eucaristia Solene de S. Marcos - Santo António das Areias - Marvão

Consciência tranquila...

Arquivos anuais de 2002 a 2022 das contas da Paróquia da Beirã

Terão causado desconforto e não caíram bem a alguns dos presentes numa reunião de Conselhos Económicos Paroquiais, o que certa vez senhor bispo D. Antonino Dias referiu a propósito de algumas paróquias mas sem mencionar quais, que nunca apresentam à diocese e muito menos às suas comunidades, as contas das receitas e despesas anuais normalmente geradas com a administração das mesmas, para as quais são mandatados os Conselhos Económicos Paroquiais.

Estranhei o facto mas sinceramente aquilo não me beliscou minimamente. Nem me agradou, nem desagradou. Cada paróquia, como a minha, julgo, terá o seu CEP, presidido obrigatoriamente pelo reverendo pároco que é coadjuvado por um ou mais tesoureiros e no mínimo também dois vogais. Logo, se uma paróquia não cumpre, é meu entendimento que o primeiro responsável dessa irregularidade terá que ser o presidente desse CEP e por conseguinte, terá de ser ele o primeiro a ser chamado a contas, pois todos os outros elementos funcionam sob a sua orientação. 

Nunca o contrário.

Disse também o senhor bispo que os membros de cada CEP têm, entre outras obrigações, a de "informar" o seu pároco dos ofertórios cativos nas respectivas datas e não só. Aqui também estranhei a recomendação que me pareceu terem de ser os membros dos CEPs a ensinar o pai-nosso ao padre, mas, como dou sempre o benefício da dúvida, achei que aquelas palavras haveriam de ter outra qualquer interpretação menos complexa. 

E uma vez mais não me senti nada incomodado ou atingido. Tudo o que foi dito me pareceu, tão só, meras recomendações tendentes a uniformizar e agilizar procedimentos. Nada mais.

Uma coisa disse naquela reunião o senhor bispo que me caiu muitíssimo bem pela simples razão de ser exatamente aquilo que eu faço desde 2002. Sua Eminência aconselhou que "os dinheiros devem ser sempre contados por mais do que uma pessoa, para que nunca haja dúvidas nem boatos". 

Tiro e queda, pensei eu, pois sem que nunca alguém me o tivesse recomendado ou sugerido sequer, a primeira coisa que fiz - quando por impossibilidade do CEP que até ali estivera em funções, tomei conta por solicitação dos párocos Tarcísio Alves e Luís Ribeiro, sendo posteriormente mandatado pelo senhor bispo para tesoureiro do CEP da Paróquia da Beirã - foi providenciar para que os dinheiros que me são entregues, desde então e até hoje, e seja qual for a sua proveniência, serem sempre primeiro conferidos por terceiras pessoas que não eu ou a minha esposa. 

Esses dinheiros já depois de conferidos logo que me são entregues imediatamente são registados em folha própria no capítulo de receitas de um programa informático que me foi fornecido ensinado e explicado pelo padre Luís, após o que são depositados na conta bancária da paróquia. Com as despesas, procedo exatamente do mesmo modo. Cada cêntimo gasto, seja onde for, tem de ser obrigatoriamente justificado por fatura ou recibo e é também a seguir lançado na folha informática referente às despesas. 

Por sua vez os processos completos com receitas, despesas e saldos, têm, por cada mês, um processo próprio cuja ultima página é sempre o comprovativo dos depósitos na conta à ordem. Tenho comigo como se pode verificar na foto que ilustra este escrito, os processos anuais de que sou responsável desde que tomei conta desta responsabilidade em 2002. No início de cada ano são sempre apresentadas as contas à diocese com tudo discriminado, entregue o que lhe é devido respeitante ao ano findo, sendo posteriormente por mim apresentadas à comunidade paroquial e afixadas no placard da igreja onde permanecem todo o ano expostas para informação de quem as queira consultar.

Ando assim nestas"andanças" desde 2002, data em que o último pároco residente na paróquia demandou a terras da Beira e nos deixou temporariamente sem pastor definido até serem nomeados "in solidum" os revºs Cónego Tarcísio e Padre Luís, do arciprestado de Castelo de Vide a que então a Beirã pertencia, os quais se revezavam na assistência religiosa às paróquias dos dois concelhos vizinhos, Marvão e Castelo de Vide. 

Já ao anterior pároco eu disponibilizara desde 1994 a minha colaboração naquilo que podia, mas que se limitava a pouco mais do que ser parte no coro paroquial como salmista e sob a sua orientação.

Embora entregues a nós próprios por falta do maestro que muito nos ensinou, sem saber uma nota musical sequer "segurei" eu o coro da paróquia continuando a promover os ensaios semanais para continuarmos a dignificar as celebrações dominicais e festivas. Foi nesse contexto de colaboração paroquial que os revºs párocos Tarcísio e Luís me convidaram para os coadjuvar de forma mais abrangente. 

Para me prepararem um pouco melhor para " outras coisas" fui por eles sendo enviado para a frequência de vários cursos. Para leitores e salmistas em Mem Soares, para o curso de cristandade no seminário de Alcains, para um curso de formação de MECDAP no qual continuo mandatado pelo senhor bispo da diocese, e, finalmente, para um CAF no seminário de Portalegre que durou todos os sábados das 9 às 17, durante 3 anos letivos inteiros. 

Devo ainda esclarecer que nunca aceitei qualquer ajuda financeira da paróquia para essas ou outras atividades. Paguei do meu bolso viagens, cursos, livros, almoços e as despesas que houve para pagar. Vi muitos colegas dos cursos serem ressarcidos pelas suas paróquias de todas essas despesas mas eu decidi não sobrecarregar a minha, onde, pela sua pequena dimensão, os dinheiros eram escassos.

Quando recebi as contas da paróquia havia apenas duas promissórias no valor total de 2500 euros, uma conta à ordem extremamente magra e a igreja estava quase em ruínas a pedir obras de restauro e manutenção urgentes. Não quero de modo algum armar-me em benemérito porque de certo modo entendi que o benefício também era meu, por estar a adquirir conhecimentos inimagináveis. 

Fui-me dando conta, curso após curso, que "da igreja" pouco mais sabia do que rezar pais-nossos.

Fico perplexo por vezes ao ouvir as opiniões de pessoas que nunca fizeram nada em benefício da sua comunidade e limitam a sua participação a uma ida semanal à missa, sem se importarem minimamente se aquelas poucas pessoas que gratuitamente zelam o ano inteiro pela conservação e asseio de um património que a todos pertence necessitam de alguma ajuda. Não se disponibilizam para colaborar seja no que for mas acham-se no direito de mandar bitaites.

Para finalizar, uma reflexão acerca  do primeiro parágrafo deste texto, que me parece óbvia:

Que motivos tem para se melindrar com o que se diz ou deixa de dizer, quem tem a consciência tranquila?

José Coelho

terça-feira, 25 de abril de 2023

Porque sim




Hoje coloquei na lapela do casaco a minha insígnia de Antigo Combatente que o Ministério da Defesa me atribuiu e enviou há um ano atrás, quase cinquenta anos depois. Porque sim. Mais vale tarde, que nunca...
25. 04. 2023

segunda-feira, 24 de abril de 2023

Bom feriado


Dente-de-leão à beira do caminho 
Foto José Coelho - 24. 04. 2023

Em vias de extinção

Será falta de crentes? Não! É mesmo falta de gentes. 
Foto José Coelho

Não adianta continuar a assobiar para o lado e fingir que está tudo bem, ou que não nos damos conta do que salta à vista e se agiganta aos nossos olhos. Somos cada vez menos portugueses porque nascem cada vez menos crianças no nosso país. 

Razões? 

Mil. 

E todas muito bem definidas.

Os jovens casam ou juntam os trapinhos cada vez mais tarde. E quando por fim decidem  largar "as saias da mãe" para formar família já passaram sempre dos trinta. Às vezes dos quarenta. A precaridade no emprego é também, entre muitos outros, o principal obstáculo que impede os jovens de constituírem família e terem mais do que um filho. 

Há de facto mais acesso à formação de um modo geral, mas não há depois como, nem onde, tirar dela o devido proveito na esmagadora maioria dos cursos eleitos por cada candidato ao seu futuro. E resta-lhes quase sempre, salvo raríssimas excepções, deitar mão à primeira coisa que lhes aparece a troco de um salário mínimo que não dá para quase nada.

Na minha freguesia por ano nascem para aí uns 2 fregueses, enquanto falecem 22, na sua maioria idosos.

É uma precária estatística bem sei, porque precária é também em habitantes a região onde ela se desenvolveu. Onze alminhas por quilómetro quadrado, li algures. Mas não tenho qualquer dúvida que o mesmo sucede por esse país fora, seja no interior já desertificado em que eu habito, seja nos grandes centros urbanos do resto do país.

Sem ter grande formação académica mas suficientemente perspicaz, não acredito mais que algum governo consiga reverter esta situação. A sua gravidade é de tamanha ordem que não haverá incentivos suficientemente sérios nem capazes de dar a volta a isto. Porque já batemos no fundo. 

E 49 anos de desleixo não se recuperam em 4 ou 5. 

Nem sequer noutros 40 ou 50.

Mais de metade do território continental tem sido votado a um completo abandono. 

Primeiro pelos sucessivos governos democraticamente eleitos desde o 25 de abril que amanhã comemora 49 anos com pompa e circunstância. 

Depois pelas populações que foram forçadas a buscar o sustento e fixaram naturalmente residência definitiva no novo território que as acolheu, em função da sua nova situação  laboral e familiar. 

Este povo honrado e trabalhador foi sempre assim. Se aqui já não dá, há que procurar onde dê.  E sem olhar para trás. Porque para traz mija a burra! 

Não há volta a dar. 

Um povo com mais de oito séculos de história e de gloriosos feitos, caminha hoje em passo de corrida rumo à extinção por absoluta incompetência ou falta de visão de quem deveria prever o seu futuro coletivo mas só se preocupa em prever o de si próprio ou o das suas elites e no imediato.

Viva o 25 de Abril!

José Coelho

Casa arrumada

A primeira foto na classe de Sargentos, já no Estágio em S. João da Madeira

No Dia da Guarda 3 de Maio de 1986 num gesto implícito de público agradecimento, organizei no quartel um almoço-convívio comemorativo da efeméride e para ele convidei de novo todas as entidades de todos os organismos públicos de Nisa, ao qual todos compareceram. Foi interessante ver a cara de espanto de alguns daqueles convidados que lá tinham ido em visita de cortesia oito ou nove meses antes.

O quartel estava um brinco. Restaurado, pintado de fresco e cheirando a asseio, nada tinha a ver com aquele outro bafiento e ruinoso que tinham visto antes. Continuava a ser um edifício velho e a avisar quem de direito que tratasse urgentemente de providenciar um novo quartel, mas pelo menos agora tinha alguma dignidade.

Os dois comandantes, quer o oficial, quer o sargento que me antecedeu no comando do posto, não devem ter gostado da forma como em meia dúzia de meses se requalificara o velho edifício que pela sua total indiferença eles quase tinham deixado ruir, com o pretexto de que os responsáveis pelo edifício eram a Guarda ou o Governo e que deviam esses sim, preocuparem-se com isso, porque não tinham eles de andar a pedir favores nem à câmara municipal, nem a ninguém.

Nada disso me afetou. Eu previa que iria ter de passar ali um punhado de anos no comando do posto e resolvi as coisas à minha maneira, tendo agora os militares umas instalações velhas mas com um mínimo de dignidade, assim como a residência do comandante do posto, ao contrário deles que só se tinham preocupado em manter minimamente decentes, os seus gabinetes.

Fiquei sem querer um dia sabendo que o meu camarada sargento se referiu a mim, seu substituto,  sem imaginar que o senhor para quem estava a falar era um dos meus tios e lhe disse que eu era “um comuna”.

Continuava com o preconceito que o caracterizava, mas que nunca me intimidou. Cada vez que experimentou medir forças comigo querendo fazer uso da sua patente dois degraus acima da minha – eu era segundo-sargento e ele sargento-ajudante – teve sempre de recuar na atitude porque com a maior firmeza lhe fiz notar que tanta obrigação tinha eu de o respeitar a ele, como tinha ele de me respeitar a mim. Assim acabou por desistir pura e simplesmente quando percebeu que nunca levaria a melhor.

Entretanto e infelizmente para ele foi acometido de uma doença incurável que lhe ditou uma aposentação precoce que não teve tempo de desfrutar, porque faleceu poucos meses depois. Que descanse em paz e que a terra lhe seja leve.

Encontrei-o casualmente um dia em Lisboa no Centro Clínico da Guarda já muito debilitado e sinceramente condoeu-me vê-lo assim, porque apesar de me ter tratado tão injusta e incorretamente, nunca lhe desejei mal algum. Desejava tão só e apenas que fizesse a sua vida e me deixasse fazer a minha em paz.

No exato momento em que o vi dirigi-me imediatamente a ele para saber do seu estado de saúde e pude ver como os olhos se lhe humedeceram. Não sei se por se sentir doente, se surpreso com o meu gesto ao qual ele já não pôde responder porque tinha perdido definitivamente a voz – eu não sabia disso – e por esse motivo limitou-se a aceitar o meu cumprimento apontando para o enorme penso que lhe cobria na garganta o local da recente intervenção cirúrgica a que fora submetido para lhe retirarem um tumor maligno.

Recordo ainda a tristeza que eu próprio senti por vê-lo assim. Por essas e por outras, nunca deixo de pensar o quanto é incompreensível que andemos constantemente às turras uns com os outros quando a vida é tão imprevisível que de um momento para o outro toda a nossa força e energia, caem por terra. Duras lições que tenho aprendido pelo caminho da minha já longa vida e por isso procuro viver em paz com toda a gente que também queira viver em paz comigo. Detesto intrigas, ódios, desavenças e filha-de-putices.

Em todo o meu percurso profissional desde o momento que ascendi à classe praças, depois à de Cabos e a seguir à de Sargentos, fiz sempre questão de pautar a minha conduta pelo respeito institucional para com toda a gente, quer da minha patente quer superiores hierárquicos ou subordinados, quer ainda as autoridades civis e administrativas, exigindo, contudo e do mesmo modo, ver também respeitados os meus direitos, perante fosse quem fosse.

Na minha função de comandante de posto nunca me acomodei no conforto do meu gabinete, nele permanecendo apenas as horas necessárias ao despacho daqueles afazeres que eram de minha exclusiva responsabilidade. Porém, assim que os terminava, logo estava dentro de um jipe ou mesmo também a pé para alinhar com os cabos e os guardas no policiamento aos campos, às estradas, às aldeias e a outros sítios da área do posto que eram imensos e dispersos.

Nunca me julguei a omnipotente figura com direito de ficar no bem bom, enquanto os subordinados policiavam ao calor ou ao frio no exterior. Muito pelo contrário. Senti-me sempre e só apenas mais um deles, naquela excelente equipa de trinta e seis competentes profissionais. A única diferença era a de ter de ser apenas eu a assumir a responsabilidade de planear os giros por forma a termos toda a área do posto vigiada e sob controlo, mas até nisso fui sempre ajudado pela excecional competência e lealdade de todo o efetivo que me transmitia as preciosas informações que discretamente iam recolhendo junto da população e eram meio caminho andado para um planeamento muito mais eficaz.

Éramos uma equipa e todos nunca fomos demais.

 

José Coelho in Histórias do Cota

domingo, 23 de abril de 2023

Sonhar é preciso

O coração da Beirã - Foto José Coelho

Sem sonhos, as pedras do caminho tornam-se montanhas, os pequenos problemas são insuperáveis, as perdas são insuportáveis, as decepções transformam-se em golpes fatais e os desafios em fontes de medo.

Voltaire disse que os sonhos e a esperança nos foram dados como compensação das dificuldades da vida. Mas precisamos de compreender que os sonhos não são desejos superficiais. Os sonhos são bússolas do coração, são projetos de vida. Os desejos não suportam o calor das dificuldades. Os sonhos resistem às mais altas temperaturas dos problemas. Renovam a esperança quando o mundo desaba sobre nós.

John F. Kennedy disse que precisamos de seres humanos que sonhem o que nunca foram. Tem fundamento o seu pensamento, pois os sonhos abrem as janelas da mente, arejam as emoções e produzem um agradável romance com a vida.

Quem não vive um romance com a sua vida será um miserável no território das emoções, ainda que habite em palácios, tenha carros luxuosos, viaje em primeira classe nos aviões e seja aplaudido pelo mundo.

Precisamos de perseguir os nossos mais belos sonhos. Desistir é uma palavra que tem de ser eliminada do dicionário de quem sonha e deseja conquistar algo, ainda que nem todas as metas sejam atingidas. Não se esqueça de que você vai falhar 100% das vezes em que não tentar, vai perder 100% das vezes em que não procurar, vai ficar parado 100% das vezes em que não se atrever a andar.

Como disse o filósofo da música, Raul Seixas: 
"Tenha fé em Deus, tenha fé na vida, tente outra vez..." 

Se você sonhar, poderá sacudir o mundo, pelo menos o seu mundo.

Se você tiver de desistir de alguns sonhos, troque-os por outros. Pois a vida sem sonhos é um rio sem nascente, uma praia sem ondas, uma manhã sem orvalho, uma flor sem perfume.

Sem sonhos, os ricos ficam deprimidos, os famosos aborrecem-se, os intelectuais tornam-se estéreis, os livres tornam--se escravos, os fortes tornam-se tímidos. Sem sonhos, a coragem dissipa-se, a inventividade esgota-se, o sorriso transforma-se em disfarce, a emoção envelhece.

Liberte a sua criatividade. Sonhe com as estrelas, para poder pisar a Lua. Sonhe com a Lua, para poder pisar as montanhas. Sonhe com as montanhas, para pisar sem medo os vales das suas perdas e frustrações.

Apesar dos nossos defeitos, precisamos de ver que somos pérolas únicas no teatro da vida e compreender que não existem pessoas de sucesso ou pessoas fracassadas. O que existe são pessoas que lutam pelos seus sonhos, ou desistem deles...

Augusto Cury

Bora lá, à'nimar a malta

Foto Leonor Caldeira - 22. 04. 2023

Foto João Caldeira - 22. 04. 2023

Foto António Gil - 22. 04. 2023

Tuna Sénior de Marvão - Foto António Gil - 22. 04. 2023