domingo, 29 de setembro de 2019

Ele abre (mesmo) portas…

Contra factos não há argumentos

Depois de muita preocupação e expectativa perante o quadro de grave lesão na coluna da minha esposa, já com cirurgia marcada para o dia 12 de Outubro próximo no Hospital Lusíadas - Lisboa, eis que o último e mais completo exame – ressonância magnética – revelou a surpreendente regeneração de uma das duas vértebras L1 e L2 fracturadas na noite de 18 de Dezembro numa aparatosa queda.

Continuando a necessitar de cuidados especiais para que o processo regenerativo da outra vértebra, algo mais lento por a fractura ter sido mais gravosa, possa prosseguir com sucesso, deixou, no entanto, de ser necessária a cirurgia previamente agendada e que consistiria na infiltração de cimento ósseo na cavidade lesionada a fim de, entre outras finalidades, diminuir as dores e o desconforto permanentes.

Tendo em conta a gravidade da situação que no início tantas preocupações gerou, fácil será imaginar a grata surpresa e alívio que o novo quadro clínico da paciente nos veio trazer. E porque não é a primeira vez que coisas destas inexplicáveis pela lógica nos surpreendem pela positiva, porque já vivemos outras idênticas, chegámos de novo à conclusão que, como alguém muito bem escreveu, “Deus abre portas até onde não há paredes…”

José Coelho
29.09.19

sábado, 21 de setembro de 2019

Nunca desistas de ser feliz...

Numa Noite de Natal, em minha casa

Podes ter defeitos, andar ansioso e viver irritado algumas vezes, mas não te esqueças que a tua vida é a maior empresa do mundo.
Só tu podes evitar que ela vá  à falência.
Há muitas pessoas à tua volta que te apreciam, te admiram e te querem.
Gostaria que recordasses que ser feliz não é ter um céu sem tempestades, um caminho sem acidentes, trabalhos sem fadiga, relacionamentos sem decepções.
Ser feliz é encontrar força no perdão, esperança nas batalhas, segurança no palco do medo, amor nos desencontros.
Ser feliz não é apenas valorizar o sorriso, mas também reflectir sobre a tristeza.
Não é apenas comemorar o sucesso, mas aprender uma lição em cada fracasso.
Não é ter alegria só com aplausos, mas ter também alegria no anonimato.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver a vida, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz não é uma fatalidade do destino, mas uma conquista de quem sabe viajar para dentro do seu próprio ser.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e tornar-se autor da sua própria história. 

É atravessar desertos fora de si mas ser capaz de encontrar oásis no mais longínquo da nossa alma.
É agradecer a Deus cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos seus próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um “não”.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que seja injusta.
É beijar os filhos, mimar os pais e os irmãos, ter momentos poéticos com os amigos, mesmo que eles nos magoem.
Ser feliz é deixar viver a criança livre, alegre e simples, que existe dentro de cada um de nós.
É ter maturidade para dizer ‘enganei-me’.
É ter a ousadia para dizer ‘perdoa-me’.
É ter sensibilidade para expressar ‘preciso de ti’.
É ter capacidade de dizer ‘amo-te’.
Que a tua vida se torne um jardim de oportunidades para seres feliz.
Que nas tuas primaveras sejas amante da alegria.
Que nos teus invernos sejas amigo da sabedoria.
E que, quando te enganares no caminho, comeces tudo de novo, pois assim serás mais apaixonado pela vida e poderás facilmente perceber que ser feliz não é ter uma vida perfeita.
Mas sim usar as lágrimas para regar a tolerância.
Usar as perdas para refinar a paciência.
Usar as falhas para esculpir a serenidade.
Usar a dor para lapidar o prazer.
Usar os obstáculos para abrir as janelas da inteligência.
Nunca desistas….
Nunca desistas das pessoas que amas.
Nunca desistas de ser feliz, pois a vida é um espectáculo imperdível.

Autor desconhecido

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Meu vício de ler...

Dia do Baptismo da nétinha Francisca

A gente pode morar numa casa mais ou menos, numa rua mais ou menos, numa cidade mais ou menos e até ter um governo mais ou menos.

A gente pode dormir numa cama mais ou menos, comer uma comida mais ou menos, ter um transporte mais ou menos e até ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro.

A gente pode olhar em volta e sentir que tudo está mais ou menos...

Tudo bem!

O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum, é amar mais ou menos, sonhar mais ou menos, ser amigo mais ou menos, namorar mais ou menos, ter fé mais ou menos e acreditar mais ou menos.

Senão, a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos.

Chico Xavier

terça-feira, 17 de setembro de 2019

A republicar o que me parece que vale a pena relembrar...

A rua e a casa continuam (quase) iguais - Foto José Coelho


A taberna da ti’Arora

Lembro-me dela, como se lá tivesse estado ontem. Era na rua da igreja como todos na Beirã sempre lhe chamámos, ou então, por ser mais fino, Rua Vivas de sua graça. Situava-se muito perto da Estação de onde recebia o seu maior fluxo de fregueses. Ferroviários e passageiros dos comboios.

Era uma taberna pequenina com uma só divisão de 5 ou 6 metros quadrados e tinha apenas uma mesa redonda de ferro onde os fregueses jogavam as cartas ao truque, às copas ou à sueca e tinha também duas pipas de vinho, daquelas grandes e antigas de madeira, uma do branco, outra do tinto, de pé no vão da janela.

Tinha ainda um balcão a toda a largura e de parede a parede em frente de uma estante de madeira com prateleiras onde se alinhavam os copos – daqueles antigos que até meio era fundo do copo – de vidro muito grosso, à mistura com as garrafas de ginja, de anis, do abafado ou da aguardente, porque os vinhos branco ou tinto, esses, eram contidos em jarros de vidro que pousavam permanentemente sobre o balcão. Na parede do lado e por dentro do balcão, tinha uma modernice para a época, uma pia de marmorite com uma torneira de água canalizada, onde eram lavados os copos.

Atrás do balcão, sentado num banquito de madeira, era comum encontrar-se quase sempre o ti Afonso, já que a ti’Arora estava sempre mais no outro lado, na divisão onde tinham também uma pequena mercearia que comunicava com a taberna por uma porta interior.

Era daquela mercearia que vinha quase tudo o que comíamos em nossa casa. Arroz e açúcar avulso, massas, farinhas, banha caseira ao quilo, manteigas, azeite e vinagre também a granel, toucinho, morcelas, chouriço e farinheiras, sal ou bicarbonato, feijão, grão, sardinhas em lata ou atum.

A pronto pagamento ou fiado porque o dinheiro nesse tempo escasseava em quase todas as bolsas, mas nunca naquela loja se negou o avio necessário ao sustento de muitas famílias, a minha incluída, sem necessidade de fiadores e sempre com bom modo, confiando na certeza do completo ajuste das contas logo que as jornas fossem recebidas pelos chefes de cada família.

E era naquela taberna que o meu pai se entretinha depois do sol-posto até à hora da janta, onde e com os seus amigos jogava cartas ou bebia um copito, algumas vezes até mais do que a conta.

Boa gente, o ti Afonso e a ti ‘Arora. Quer um, quer o outro. Abriam as portas às 6 da manhã com a chegada à estação do comboio sardinheiro – assim chamado porque era nele que vinha o peixe do litoral para os peixeiros ambulantes como o ti Carlos e a ti Perpéta venderem de porta em porta pelas aldeias ou montes - e fechavam ao serão, normalmente depois da chegada do comboio das oito da noite.

Era também a parteira da aldeia “quase diplomada” a ti A’rora. Toda a rapaziada que nasceu nas décadas de 40, 50 e 60 por estes arredores, salvo algumas normais excepções, caía nas suas mãos mal saíam do ventre materno. Por isso era a "comadre A’rora" de uma infinidade de mulheres – incluindo a minha mãe – porque era uso e costume assim ficarem a chamar-se nesse tempo as mulheres parturientes e aquelas que faziam de parteiras na hora de trazerem os filhos ao mundo.

Estava ainda também habilitada a dar injecções a quem precisava de as levar, com grande perícia e sabedoria. Não havia posto de saúde permanente na Beirã. Vinha cá o Senhor Dr. Machado uma vez por semana, esse extraordinário homem que era tudo em um porque exercia medicina geral, parteiro às vezes nos partos mais complicados e era ainda também dentista, entre outras “especialidades”. Fazia consultas numa dependência da antiga sociedade recreativa preparada para esse efeito, porém, os tratamentos por ele prescritos eram depois feitos em casa de cada um e lá se tinha que ir à ti A’rora muitas vezes, levar as injecções receitadas pelo senhor doutor.

Todas as “qualificações” que ela tinha eram, suponho eu, em grande parte devidas ao facto de ser uma das poucas pessoas do seu tempo e do seu extracto social que sabia ler e escrever, pois isso, parecendo que não, era uma mais-valia que lhe dava acesso a alguma formação, para além evidentemente do carisma bondade e jeito muito seus para desempenhar todas as funções descritas e que a constituíam um precioso auxílio para quem delas necessitava.

Não tenho dúvidas em afirmar que, quer pelo comércio por eles exercido, quer pela forma como eram prestáveis para toda a gente, este bondoso casal e a sua casa comercial farão sempre parte da memória colectiva da nossa Beirã, pese embora ainda ninguém se tivesse dado ao trabalho de enaltecer o seu contributo.

Aqui fica então, com muito respeito pela sua memória, a minha modesta homenagem aos dois.

José Coelho 
in Histórias do Cota

Quantas vezes...

Home - Foto José Coelho

"Às vezes construímos sonhos em cima de grandes pessoas. O tempo passa e descobrimos que grandes mesmo eram os sonhos, mas as pessoas pequenas demais para os tornar reais."

(Bob Marley)

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Sol nascente de ontem...

Foto de José Coelho da varanda da residência em Beirã

Sentido de responsabilidade...

08.09.19

(Não publico foto de todo o grupo por falta da devida autorização de acordo com a Lei de Protecção de Dados)

"Poucas coisas na vida são tão gratificantes como deitar a cabeça no travesseiro com a consciência tranquila, e esse é um privilégio das pessoas que não têm nada a esconder..."  (Luiza Flecher).

Depois dos festejos do Dia do Concelho de Marvão e da sua Padroeira Nossa Senhora da Estrela, bem como dos preparativos indispensáveis que há dias, semanas e meses vinham sendo desenvolvidos para tudo sair o melhor possível, o resultado final dessa congregação de esforços superou todas as expectativas.

Como Marvanense – ou Marvanejo como tão bem canta à Senhora da Estrela o Rancho Folclórico da Casa do Povo de Santo António das Areias – sinto um particular e genuíno orgulho.

“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce” diz o ditado popular. Se Deus quer, não podemos ver. Se o homem sonha, também não é possível observamos a olho nu. Mas o que não pode, de todo, ser invisível aos olhos de ninguém é uma obra a ser concebida por um grupo de pessoas que se unem em redor de um só objectivo: 

Preparar o Dia Maior do Concelho de Marvão.

Este ano o Presidente, Vice-Presidente e todo o restante staff de Vereadores do Município de Marvão, o Provedor e demais Órgãos Sociais da Santa Casa da Misericórdia e o Rev.º Padre Marcelino Marques, empenharam-se activamente em trazer até nós a RTP1, para, em directo, ser transmitida a Solene Eucaristia da Padroeira Nossa Senhora da Estrela a todos os Marvanenses – mas não só – espalhados pelo mundo inteiro.

Coube por sua vez à Tuna Sénior de Marvão, orientada pelo Professor Carlos Vilhalva e da qual faço parte mais a minha esposa, a animação litúrgica desta solene celebração. Coube-me depois a mim apesar de todas as minhas limitações em termos de conhecimentos de música, coadjuvá-lo na preparação dos cânticos litúrgicos, uma vez que habitualmente sou também quem há vários anos orienta o coro da Paróquia de Nossa Senhora do Carmo da Beirã, e às vezes outras, quando necessário.

Não foi tarefa fácil porque da Tuna fazem parte pessoas que simultaneamente são também elementos dos coros litúrgicos das suas paróquias e outras pessoas que desses cânticos não têm qualquer experiência. A primeira grande dificuldade a transpor foi exactamente essa. Cada coro de cada paróquia tem o seu modo de interpretar e executar os cânticos. Cada um tem o seu estilo. Nenhum será perfeito mas também nenhum é melhor ou pior que os outros. Porém, para esta solene celebração era fundamental uniformizar todos num só modo. 

E conseguimos.

Somos tão poucos os que nos dispomos a “dar a cara” ao serviço das nossas pequenas comunidades que devemos ser gratos a quem generosamente se atreve a chegar-se à frente. A “nossa” Tuna Sénior conta com cerca de 35 elementos – 31 senhoras e 4 senhores – mas raramente estamos todos disponíveis. Vai quem pode e quer, quando pode e quer. Extraordinariamente, o grupo inteiro quis fazer parte e assumir a responsabilidade de animar a Eucaristia da Senhora da Estrela, mesmo antes de se saber que vinha a RTP1.

Apesar dos inúmeros acertos e sucessivos ensaios até à noite da véspera, a devoção à Senhora e o amor a Marvão falaram mais alto no coração de cada uma e de cada um de nós. Por isso respondemos à chamada cumprindo com elevada dedicação e empenho aquilo que nos foi solicitado. Sobre os meus ombros particularmente, pesou duramente tamanha responsabilidade, quantitativamente mais inquietante quando se confirmou em definitivo a transmissão televisiva em directo. Mas uma vez mais assumi a responsabilidade de tentar ensinar a todos o pouco que sei e me foi também ensinado a mim em sedes próprias.

Se é verdade que a importância da celebração de uma Eucaristia é sempre igual seja para uma dezena de fiéis ou seja para um milhão, não é menos verdade que a responsabilidade de quem a celebra e coadjuva aumenta significativamente em proporção da quantidade de participantes nas mesmas. Tomemos como exemplo de comparação uma Eucaristia na nossa pequena Paróquia com uma Eucaristia de 13 de Maio em Fátima. A importância e valor eucarísticos são exactamente os mesmos, sim, mas a responsabilidade é completamente desproporcional.

Foram para mim, por isso mesmo, dias de desassossego e noites mal dormidas, porque, embora às vezes não pareça, sei muito bem quais são as minhas limitações. E sei também qual é o meu lugar na vida. Jamais pretendi qualquer espécie de protagonismo. Pelo contrário, prefiro sinceramente e muito mais o anonimato, o sossego das paisagens onde sempre encontrei paz, sentar-me tranquilamente no cimo de um cancho a ouvir o sussurro do vento, o canto da passarada, o monótono badalar dos chocalhos dos gados a pastarem pelos campos, ou não fosse eu filho de dois saudosos e humildes camponeses, e também neto de um querido guardador de rebanhos. Porém e porque amo incondicionalmente a minha terra e a minha gente, nunca hesitei em colaborar fosse no que fosse, por ambas. Mas só faço o que sinto ser capaz de fazer sempre que é preciso.

Jamais assumi uma responsabilidade sem ter certeza de ser capaz de a conseguir levar a cabo. E coadjuvar o Professor Carlos Vilhalva na preparação dos cânticos para a Eucaristia da Senhora da Estrela 2019 perante as câmaras da televisão foi apenas mais uma dessas conscientes decisões. Porém, tão positiva e gratificante prova registada em suporte digital para todo o sempre, não foi conseguida apenas por mérito meu mas pelo consciente esforço colectivo de toda a Tuna Sénior de Marvão, um excelente grupo de pessoas que, dando cada um o seu melhor, teve ainda que aturar as minhas impaciências produzidas invariavelmente pela enorme responsabilidade que sobre os ombros de todos nós pesava.

Como podemos hoje confirmar, felizes pelo resultado, mereceu a pena.

Grato por tudo, pedindo desculpa se alguma coisa disse ou fiz ainda que sem intenção e possa ter sido interpretada como menos correta, reitero o imenso orgulho de ser Marvanense e mais ainda de fazer também parte da Tuna Sénior de Marvão.

José Coelho
09.09.2019