quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Amanhã fico triste, hoje não...

A acolitar o Padre Caetano no casamento do senhor amigo, referido neste texto.


Estávamos em 1958 quando comecei a servir como acólito (ou sacristão) na igreja de Nossa Senhora do Carmo da Beirã. Era pároco recentemente ordenado, o reverendo Joaquim Caetano – hoje de avançada idade mas ainda completamente lúcido a residir já no Lar para Sacerdotes do Seminário de Portalegre – e foi ele que me escolheu para substituir o António Sarzedas que chegado a meio moço não queria continuar. Para além dos meus pais, aquele reverendo sacerdote ensinou-me coisas e transmitiu-me valores tais que também a ele fiquei a dever muito do que fui pela vida fora quer como homem quer na formação do meu carácter e integridade. Por isso guardo até hoje uma amizade, um respeito e uma consideração sem limites, por ele.

Voltemos um bocadinho atrás no tempo. Contava muitas vezes a minha falecida Mãe que desde mui tenra idade, com 2 ou 3 anos apenas, eu desatava a correr rua abaixo mal ouvia repicar os sinos da igreja:

- Zéi, mas onde on’dé q’tu vas a correr tanto? Anda ma'sé p’ráqui antes que leves alguma nalgada…

- Ia à "misha", Mãe. Ia à "misha"…

Tinha que ser assim. Tudo indica que o meu fascínio pelo divino começou logo na inocência da mais tenra idade.

Veio então, dois ou três anos depois, o convite para acólito do padre Caetano que me tratava quase como a um filho. E porque os meus pais não tinham posses para me comprarem roupas novas, era ele quem comprava os tecidos e mandava fazer as minhas vestes domingueiras às costureiras que naquele tempo abundavam na aldeia, para o acolitar devidamente aprumadinho com calções ou calças de terilene, camisas de popeline, casacas e blusões. Até os sapatos domingueiros me trazia também da fábrica Ebro de Santo António das Areias, pois por norma eu andava de pés descalços durante a semana e para os domingos só tinha umas sapatilhas de contrabando, de fraco pano e muito fatelas.

Não haverá já por cá muita gente que se recorde destas coisas e as que houver se calhar não irão ler as minhas memórias porque ou já serão bastante idosas ou nem saberão ler. A propósito desta narrativa, aconteceu uma coisa curiosa no final da primeira Missa Vespertina da nossa paróquia. Saíamos da igreja eu e o novo Pároco quando apareceu um antigo e respeitável amigo - o Senhor Nicau - que fazia anos nesse dia. E entre outras coisas que conversou com o Senhor Padre Marcelino, disse-lhe também:

- Aqui o “nosso” Zé Manel foi o sacristão do Padre Caetano no meu casamento. Está lá nas fotografias! Ora se eu faço hoje 77 anos, veja lá o senhor padre há quantos anos isso foi…

Saíamos, escrevi eu, da primeira missa vespertina da Paróquia da Beirã. E fui propositadamente buscar algumas das minhas memórias para utilizar em jeito de introdução àquilo que vou escrever a seguir.

Sucedeu nesse dia o que há muito se previa mas sempre acreditámos demoraria ainda algum tempo a acontecer. Os sinos da igreja da Beirã que desde julho de 1943 tocaram ininterruptamente todas as manhãs de domingo por cerca das onze horas a convocar os fiéis para a missa, calaram-se a 10 de Setembro de 2016 para esse efeito, provavelmente para sempre. Como dizem os Evangelhos “a vinha do Senhor é grande e os trabalhadores são poucos”. Foram exatamente essas as circunstâncias que precipitaram e obrigaram a redesenhar o mapa dos acontecimentos com a inesperada partida para a eternidade do Reverendo Padre Luís Ribeiro. Tentando manter vivas as comunidades cristãs dentro dos curtíssimos limites do humanamente possível, a habitual Missa Dominical da Beirã teve que passar à categoria de Vespertina no final das tardes de sábado. Foi o melhor que conseguiu planear o novo Pastor que o veio substituir.

Não sendo nada fácil para ele, o nosso dever é não só acatar a nova realidade como também ajudá-lo. Pelo meu lado, embora a minha saúde não esteja por aí além muito famosa já, continuarei a fazer o que sempre fiz desde 1958. Mas fiquei triste. Inevitavelmente. São já quase incontáveis as perdas. Foram-se os entes queridos, quase todos os vizinhos e muitos bons amigos. Até os comboios que, não sendo gente, eram a vida e a alma desta aldeia. Nunca imaginei que amava sem dar por isso o agudo apito das ruidosas locomotivas pois só o descobri quando elas deixaram de vir e apitar. No dia 10.09.16 foi-se também a missa dominical, aquela cujo repicar dos sinos me fazia desatar a correr rua abaixo há mais de sessenta anos atrás. 

Neste momento a melhor forma de vos dar conta do meu estado de espírito talvez seja reescrever o poema encontrado na parede de um dos dormitórios para crianças do campo de extermínio nazi de Auschwitz:

“AMANHÃ FICO TRISTE… AMANHÃ!
HOJE NÃO… HOJE FICO ALEGRE!
E TODOS OS DIAS, POR MAIS AMARGOS QUE SEJAM, EU DIGO:
AMANHÃ FICO TRISTE, HOJE NÃO…”

 José Coelho
In Histórias do Cota
(resumido)

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Meu vício de ler...

Imagem copiada do Google

Desculpe estragar a festa, mas o Natal não existe


Há uma ideia generalizada de que o Natal é a comemoração do nascimento de Jesus. Desculpe estragar a festa, mas Jesus não nasceu no dia 25 de dezembro nem há 2018 anos atrás. Então vejamos.

No tempo do Império Romano, havia uma festa dedicada a Saturno (deus grego Cronos/tempo e da agricultura), denominada de Saturnalia, marcando o solstício de inverno. Era uma data muito importante para os povos agrícolas, como o caso dos romanos. Uma festa popular, para agradar os deuses e pedir que o inverno fosse brando e o Sol retornasse ressuscitado, no início da Primavera, o renascimento da vida. O culto solar era celebrado nos dias 24 e 25 de Dezembro, data de nascimento da divindade. Era um período de suspensão do trabalho, de visitar parentes e amigos, de ser generoso, solidário, de oferecer prendas. Isso lembra o Natal, não?

No século IV, o politeísta imperador Constantino converte-se, oficializa o Cristianismo e nasce, assim, a Igreja Católica. Absorveu e ressignificou práticas pagãs diversas; neste caso, o festejo pagão da Saturnalia, transformando-o numa celebração cristã. O Papa Gregório XIII, no século XVI, com a criação do calendário gregoriano, fez o resto. A partir daí, o nascimento de Cristo (que não nasceu no dia 25 e ninguém sabe a data exata) começa a ser celebrado pelos cristãos.

Portanto, o Natal não existe, pelo menos não da forma como a maioria imagina – o nascimento do menino Jesus.

Em que se transformou, hoje, esta antiga data pagã?

Uma cultura do consumo. Capturada pelo comércio, a data é para vender coisas, na sua grande maioria supérfluas. Uma agressiva propaganda na televisão, jornais, revistas, na internet, provoca uma azáfama, planos, listas de compras, centros-comerciais lotados, lojas abarrotadas de gente, ávidas para comprar. As crianças de hoje, exageradamente mimadas, exigem e obtêm, um sem número de prendas. Às vezes, são tantas que não conseguem abri-las todas ou valorizam mais as embalagens do que os próprios brinquedos.

É a época dos políticos e governos, maioritariamente corruptos, que passam o ano a roubar e a esbanjar os impostos e, nesta data, mandam belas mensagens e participam em jantares junto com os pobres, com os sem abrigo, miseráveis estes que os próprios políticos e agentes do governo criaram (ou ajudaram a criar) ao desviar o dinheiro que poderia garantir a comida e o bem-estar deles o ano todo. É lógico que esta ‘solidariedade’ natalina dos políticos deve ser sempre acompanhada por uma ampla cobertura da imprensa.

É a época das pessoas famosas, do jet-set, atores/atrizes, jogadores de futebol, que passam o ano a ganhar milhões e a sonegar impostos (prejudicando os contribuintes e os mais pobres), aparecerem na TV em programas ‘beneficentes’ para dar a entender que são solidários. Ficam sempre bem vistos perante a sociedade.

As autarquias gastam imenso dinheiro com enfeites de Natal e deixam os desabrigados a dormir na rua. Por exemplo, Lisboa gasta todos os anos mais de um milhão de euros, quantia que dava para abrigar/proteger, tirar da rua, definitivamente, todos os moradores de rua da cidade.

Todos, decisores políticos ou não, deviam assistir o emocionante filme Cardboard Boxer (2016) para ter uma ideia da vida miserável destes excluídos da sociedade. Mas há outros marcantes filmes do género: deixem para lá o já cansativo Sozinho em Casa (1990), que repete todos os anos, e assistam The Saint of Fort Washington (1993), Accidental Friendship (2008), The Soloist (2009), Time Out of Mind (2014), alguns baseados em dramáticos factos reais e todos expondo, de maneira super realista, a extrema dureza da vida de uma pessoa sem um lar para chamar de seu e sem um Shelter (2014), um endereço fixo, para mandar uma carta ao Pai Natal.

O que podemos fazer então para celebrar o Natal? Simples: é ser (genuinamente) solidário com os mais necessitados e, seguindo os verdadeiros ensinamentos de Cristo, respeitar e amar uns aos outros. E, se pensarmos bem, por que é que temos de esperar pelo Natal para fazermos isso? Ah, e o mais importante de tudo: não precisamos de dizer a toda a gente e postar no Facebook as fotos da generosidade. Não se esqueçam da lição de Antoine Saint Exupéry, no Principezinho: “o essencial é invisível aos olhos”.

Donizete Rodrigues, Professor de Sociologia, Universidade da Beira Interior, in Observador.pt - 22.12.2018

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Meu vício de ler...



São demasiado pobres os nossos ricos

A maior desgraça de uma nação pobre é que, em vez de produzir riqueza, produz ricos. Mas ricos sem riqueza. Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados. Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro e dá emprego. Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. Ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.

A verdade é esta: são demasiado pobres os nossos «ricos». Aquilo que têm, não detêm. Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros. É produto de roubo e de negociatas. Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. Vivem na obsessão de poderem ser roubados. Necessitavam de forças policiais à altura. Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia. Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade. Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem.

O maior sonho dos nossos novos-ricos é, afinal, muito pequenito: um carro de luxo, umas efémeras cintilâncias. Mas a luxuosa viatura não pode sonhar muito, sacudida pelos buracos das avenidas. O Mercedes e o BMW não podem fazer inteiro uso dos seus brilhos, ocupados que estão em se esquivar entre chapas, muito convexos e estradas muito concavas. A existência de estradas boas dependeria de outro tipo de riqueza. Uma riqueza que servisse a cidade. E a riqueza dos nossos novos-ricos nasceu de um movimento contrário: do empobrecimento da cidade e da sociedade.

As casas de luxo dos nossos falsos ricos são menos para serem habitadas do que para serem vistas. Fizeram-se para os olhos de quem passa. Mas ao exibirem-se, assim, cheias de folhos e chibantices, acabam atraindo alheias cobiças. Por mais guardas que tenham à porta, os nossos pobres-ricos não afastam o receio das invejas e dos feitiços que essas invejas convocam. O fausto das residências não os torna imunes. Pobres dos nossos riquinhos!

São como a cerveja tirada à pressão. São feitos num instante mas a maior parte é só espuma. O que resta de verdadeiro é mais o copo que o conteúdo. Podiam criar gado ou vegetais. Mas não. Em vez disso, os nossos endinheirados feitos sob pressão criam amantes. Mas as amantes (e/ou os amantes) têm um grave inconveniente: necessitam de ser sustentadas com dispendiosos mimos. O maior inconveniente é ainda a ausência de garantia do produto. A amante de um pode ser, amanhã, amante de outro. O coração do criador de amantes não tem sossego: quem traiu sabe que pode ser traído.

Mia Couto

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Respeito e solidariedade por quem nos defende...

 Foto José Coelho

Toda a gente sabe que as actividades policiais das forças de segurança nunca param dia e noite. E quem assegura esse funcionamento 24 sobre 24 horas de 1 de Janeiro a 31 de Dezembro seja Natal, Páscoa, ou fins-de-semana?

Pois é!

Enquanto o cidadão comum em Dezembro consoa feliz o seu natalício bacalhau e as filhós no aconchego familiar ou degusta depois na primavera o pascal cabrito assado no forno e se diverte, outros cidadãos exactamente iguais a eles mas menos comuns nos direitos e deveres, têm, nessas noites e nesses dias, que permanecer nas ruas, estradas, esquadras e postos, prontos para acorrer a qualquer anormalidade no desempenho da complexa profissão que deles exige disponibilidade total e permanente.

Ah pois… E coisa…  Foram para lá porque quiseram, são pagos para isso, estão lá porque querem, se não gostam vão-se embora…

É fácil e corriqueiro tirar tais conclusões que não passam de mera retórica. Difícil é conseguir perceber-se o respeito que merece o desempenho de tão exigentes e nada fáceis funções. Mais difícil ainda é perceber a intolerância geral perante qualquer falha, erro, ou omissão cometidos por algum agente da autoridade, deixando de se ter em conta que sob cada farda se encontra um falível Ser Humano - como todos os outros - sujeito a cometer faltas ou omissões, o qual, como qualquer outro, deveria sempre também ser merecedor de humana compreensão.

É para mim sumamente confrangedor verificar frequentemente como alguns marginais capazes de darem um tiro e matar uma pessoa à queima-roupa para a roubarem depois, facilmente são considerados, com a maior tolerância e leviandade "indivíduos problemáticos com dificuldades de inserção social” gastando-se milhares de euros do erário público para os “ajudar” a reintegrarem-se, mesmo sabendo-se de antemão que não vai resultar.

Em contrapartida, um agente da autoridade que precise efectuar um disparo com a arma lhe está distribuída como ferramenta no desempenho das suas funções e para dela fazer uso no integral cumprimento do seu dever conforme está transcrito na lei "... em defesa da sua própria integridade física ou de terceiros, para impedir ou evitar por todos os meios ao seu alcance o cometimento de crime iminente ou em já em curso..." mas se dela tiver que fazer uso, logo a seguir o seu comportamento é analisado ao pormenor por meio mundo a começar de cima e imediatamente é crucificado na praça pública, ele sim vítima depois de burocracias absurdas, de conclusões fáceis, cómodas e popularuchas que o "condenam" porque “excedeu” ou “abusou” da sua autoridade e competência. 

Não faz sentido! Cá para mim, sinceramente, os valores fundamentais neste nosso País andam completamente invertidos, ou a ser muito mal interpretados. 

E quando tais coisas acontecem, quem vem dar a cara em defesa do agente da autoridade?

A cadeia hierárquica de comando? 
Sim! Normalmente para, pública e pomposamente, anunciar que já foi instaurado um processo de averiguações para o cabal apuramento de responsabilidades.

A Comunicação Social? 
Muito pelo contrário porque, naturalmente, ela precisa da notícia para vender o produto, e, para o conseguir, todos os meios justificam os fins. Não há deontologia profissional que valha.

A Opinião Pública? 
Pior um pouco! Se uma voz disser “matem-no” outras cem dirão em coro “esfolem-no”…

Porque será que tantos guardas e polícias se têm suicidado ultimamente?

Será porque…
- São devidamente apoiados?
- É uma profissão muito compensadora?
- É fácil?
- Passam a vida de papo para o ar a gozarem os seus chorudos rendimentos de pouco mais que o ordenado mínimo nacional?

Já fui um deles. Por isso os compreendo tão bem e os defendo publicamente com unhas e dentes. Eu também errei inadvertidamente algumas vezes. Quem é que nunca erra? Só posso garantir com absoluta certeza que nunca agi deliberadamente dessa forma. Nem para exceder o uso da minha autoridade. Nem para impor a minha vontade. Nem por simples maldade, arrogância, desleixo ou má fé.

Errei porque estava… a trabalhar. Errei porque estava… no desempenho das minhas legais funções nas quais fui, como todos eles, publicamente investido. Porque estava, decerto também, a cuidar do superior interesse da comunidade ou de alguém que individualmente necessitava de ajuda. Errei porque sou humano e como tal imperfeito. Como todos vós que estais a ler isto neste momento e também todos aqueles que apregoam moralidade mas não sabem ver-se ao espelho nem sabem pôr a mão na sua própria consciência.

Todos erramos.

A terminar por hoje, poderia referir a minha extensa folha de serviços prestada à Causa Pública durante os anos em que a servi, os quais foram hierárquica e publicamente reconhecidos de diversos modos e na qual não existe a menor mancha nem consta a mais ínfima irregularidade. Antes pelo contrário. Poderia, mas não vou referi-la. Apesar de me haver sensibilizado muito o seu reconhecimento por diversas entidades, não me envaideci. Senti sempre que apenas cumpri com o meu dever no cabal desempenho das obrigações profissionais. 

Basta-me a consciência tranquila e a paz de espírito que me proporcionam a mais absoluta serenidade no meu viver de cada dia. Mas continuo a ser e serei sempre, solidário com quem lá continua, 24 sobre 24 horas, 365 dias por ano, a dar o seu melhor pela segurança e tranquilidade de todos nós.

José Coelho
07.11.2019

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

No teu dia e onde estiveres, um abraço cheio de saudades, Pai...

António Maria Coelho 
05-11-1910 // 23-01-1994

"Desde que chegara a Lisboa, eu estava muito piegas. As lágrimas assomavam-me aos olhos por tudo e por nada inexplicavelmente. E acho que nunca mais me curei da pieguice de que nada me envergonho por ser coisa que herdei do Pai, o qual, muitas vezes e com a maior facilidade, chorava. Bastava dar-lhe um beijo ou um abraço ou fazer-lhe um carinho qualquer. Fossem os filhos ou os netos. Penso que por ser pessoa tão bondosa, comovia-se facilmente e muitas vezes sem qualquer razão aparente.

O elegante comboio azul TER chegou por fim à estação de Castelo de Vide, a penúltima antes da Beirã. Faltava um quarto para as onze. A paisagem tão querida e tão familiar começou a desenrolar-se diante dos meus extasiados olhos. Que delícia! Que saudades eu tivera das minhas pedras, dos meus sobreiros e giestas, daquele aroma cálido e perfumado dos campos secos do início do verão, longe do húmido, pegajoso e interminável verde, da floresta tropical.

Parecia ainda quase um sonho mas ali estava Castelo de Vide de um lado da linha, e, do outro, os canchais pontilhados de carvalhos, sobreiros, oliveiras, hortas e casas brancas isoladas, aqui e além. Era mesmo verdade. Ia no comboio que me levava finalmente para casa, para junto de todos os entes queridos. Passámos a Ponte das Águas e mais além avistei o Monte da Broca com a grande e sempre tão bem cuidada horta do Pai.

Ufff…

Ainda hoje me arrepio com essa recordação!

Logo a seguir o campo da bola e o Penedo da Rainha. E lá vinha ele quase a correr pela estrada do Pereiro antes da cancela da passagem de nível. O meu Pai! E a porra da janela do TER que não abria! O comboio era climatizado por isso as janelas eram de vidros fixos! Fiz-lhe adeus. Ele viu, conheceu-me e fez-me adeus também. Depois de tanto tempo. Depois de ter temido tantas vezes não voltar a abraçá-lo.

Poucos minutos depois, especado à porta da nossa casa, ofegante ainda pela correria desde a horta, aguardava-me com os olhos marejados de grossas lágrimas. 

- Meu querido Pai...

- Até que enfim, filho! 

Abraçá-mo-nos um ao outro a chorar parecendo duas madalenas arrependidas como se ainda temêssemos que fosse mentira num inesquecível momento de mútuo carinho que guardarei na memória o resto da minha vida..."


José Coelho 
in Histórias do Cota 
(excerto)

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Só quem semeia, colhe...


























Não tenho conseguido tempo para escrever como gosto, ocupado que ando noutros afazeres. Assim que o outono "amaciou" e vieram os primeiros pingos de chuva imediatamente meti mãos à terra para fazer a horta de inverno, a única que posso fazer pois não tenho poço nem furo no quintal, e, cá neste alto das pedras onde moro na Beirã, nem merece a pena pensar fazê-los porque seguramente não dariam água senão a grande profundidade. E mesmo assim, não sei.

Fazer uma horta de verão a regar da rede pública é de todo impensável quer pela insensatez de esbanjar o precioso líquido potável quer porque seria incomportável em termos de custo. Depois, apesar de não ser demasiado grande o quintal, ainda dá bastante trabalho porque não possuo também nenhum motocultivador e não é pelo seu custo mas porque prefiro fazer como o meu pai fazia e com tanto empenho me ensinou; cavar a terra à enxada, embelgar, semear primeiro, transplantar depois, "acarinhar" continuamente o plantio para eliminar ervas daninhas e precaver pragas.

Além disso adoro mexer na terra com as mãos para sentir o seu odor bendito, ver as frágeis sementes brotar e transformarem-se em robustas plantas, entreter-me dias inteiros sem quase dar pelo correr das horas. Não há nada para mim mais saudável, pacífico e relaxante. Um grande amigo meu e doutor de leis que comprou uma propriedade por estas redondezas, diz, com muita convicção que “um dia na quinta é mais relaxante do que uma ida ao psicólogo”. Concordo. O contacto com a natureza e a paz que naturalmente dela emana são seguramente mais benfazejos que muitos medicamentos.

Como escreveu uma escritora que leio amiúde “nasci em tempos rudes” e neles “aprendi a viver”. Não tenho qualquer dúvida que foi essa rudeza que fez de mim a pessoa que sou porque rudes eram também as gentes desse tempo. Não uma rudeza que maltratasse, muito pelo contrário, eram rudes no trato pela aspereza da vida mas no carácter e nos princípios eram mais puros e cristalinos que os diamantes. São inexplicáveis as saudades que sinto cada dia e cada vez mais deles e de tudo o resto.

Além de conseguir fartura de verduras para consumo familiar todo o inverno com a minha hortazinha, as alfaias agrícolas que herdei do meu pai – enxadas, sachos, forquilhas, ancinhos, rodos, pás e picaretas entre outros – levam-me sem qualquer esforço mental até junto dele quase sempre. Tento imitar o seu modo de fazer, a perfeição do seu trabalho, os toques e retoques para que cada rego ficasse perfeito, retilíneo como feito à régua e esquadro, o modo de plantar, de cuidar, de amanhar tudo, tratando as plantas com o mesmo cuidado e esmero com que sempre tratava as pessoas e os animais, no ingénuo carinho e doce trato que tanto o caracterizavam, fazendo com que toda a gente o estimasse e respeitasse também.

Não é a primeira vez que escrevo isto, mas vou escrevê-lo de novo sem qualquer pudor. A sua presença na minha saudade é tão forte que muitas vezes me parece sentir no quintal e perto de mim o seu odor, do tabaco de onça e mortalha que sempre o acompanhavam e nunca lhe fizeram mal já que até o vício de fumar dele era também diferente de todos os outros que eu conhecia. Não aspirava o fumo para dentro dos pulmões. Limitava-se a queimar o cigarro entre os lábios e a saboreá-lo apenas na boca. Assim viveu tranquilamente comigo até aos 83 anos e foi um tumor na próstata que o venceu.

Suponho que três quartos do meu ADN são dele – até a minha cara hoje é quase uma cópia fiel da sua – e só um quarto é da minha mãe, apesar de também ter sido abençoado com o seu incondicional e profundo amor desde que nasci, até que a perdi. Nunca na minha vida por isso me senti pobre ou carente. O dinheiro sempre foi à conta, algumas vezes a esticar mais que a conta, mas acabou sempre, mais sacrifício, menos esticadela, por chegar. De afectos porém, de amor fraterno, de educação, de respeito e honradez, na nossa casa e família fomos sempre milionários.

Tento, desde que comecei a ser responsável, imitar os meus queridos progenitores e competentes mestres em tudo o que me foi por eles ensinado. Dando como eles o exemplo. Creio que consegui pois os meus filhos e a vida que fazem são indubitavelmente a minha maior felicidade e orgulho. Nem sequer me incomoda nada o facto de nenhum deles ter aprendido o que o pai aprendeu com o avô. A cavar a terra, a semear e plantar nabiças ou couves. Cada geração tem a sua particularidade e nenhuma é melhor ou pior que a anterior, assim como as vindouras não o serão em relação à actual.

Mudam-se os tempos mudam-se as vontades. Mas há uma coisa que nunca mudará venham os tempos que vierem. Quem quiser colher terá que saber semear. Na horta ou na vida.

José Coelho
29.10.2019

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Dia ganho...

Foto José Coelho

Abrantes, dezanove de outubro deste Ano da Graça de dois mil e dezanove numa jornada de formação para revalidar o mandato trianual pessoal e intransmissível que visa apoiar em duas tarefas específicas quando e se necessário os Párocos que nos indicaram para esse efeito ao Senhor Bispo. De três em três anos lá vamos nós, um punhado de paroquianos oriundos de todos os pontos da Diocese de Portalegre – Castelo Branco, repartidos por três grupos em três dias, três datas e três pontos de encontro.

Desde 2001 que frequento esta e outras formações que muito têm enriquecido os meus conhecimentos sobre a Igreja e aprofundado a minha fé. Algumas no Seminário de Portalegre, outras na Casa de Mem Soares – Castelo de Vide, outras no Seminário de Alcains, também na Sertã e este ano em Abrantes. Para além da imprescindível preparação são também dias de fraterno convívio e partilha entre participantes. A parte da manhã é dedicada especificamente ao tema que ali nos reúne e após o almoço são formados diversos grupos para debate e partilha das experiências de cada um no desempenho das funções.

Cada participante revela as dificuldades com que se deparou e como as resolveu tendo em conta que naqueles momentos não havia por perto nenhuma entidade a quem se pudesse pedir apoio. Parecendo à partida uma tarefa muito simples não o é, requer não só conhecimentos como também elevada sensibilidade pela sua delicadeza e intrínseco valor. E há ainda que ter em conta a debilidade física das pessoas a quem normalmente é levada. Temos sempre algo novo a aprender assim como temos sempre algo para repartir. Ninguém sabe tudo, ninguém faz mais ou melhor que ninguém e a humildade é comum a todos.

Este ano, depois de mais uma manhã de formação e reflexão conjuntas, coube-me fazer parte de um grupo com participantes de Nisa, Vila Velha de Ródão, Abrantes e Arronches. Cada um de nós fez a sua apresentação pessoal completa e referiu a paróquia a que pertencia bem como as tarefas que normalmente desempenha na mesma em prol da comunidade e a sua convicção no desempenho das mesmas. Falar de nós para um grupo de pessoas que não conhecemos de lado nenhum não é fácil no princípio mas sucede quase sempre gerar-se nestas palestras uma empatia tal que sem nos darmos conta estamos em pouco tempo todos a conversar como se nos conhecêssemos de sempre.

De tal modo assim sucedeu na passada segunda-feira que houve ocasião até de repartirmos uns com os outros alguns problemas pessoais e familiares que embora nada tendo a ver com o desempenho da missão que ali nos reuniu acabou por despertar o interesse comum já que uma das pessoas que pôs sobre a mesa o seu problema estava bastante fragilizada. Não sei o que se passou no íntimo de cada uma das outras pessoas do grupo à volta da mesa mas no meu gerou-se imediatamente uma incontível vontade de fazer alguma coisa que suavizasse um pouco aquele visível sofrimento.

Ouvi sem interromper até que o desabafo terminou. E perante o profundo silêncio que se instalou na sala quando a pessoa se calou, pedi licença para dizer também de minha justiça e relatei à mesa algumas peripécias iguais ou parecidas que me sucederam ao longo da vida assim como o quanto me tinham causado dúvidas existências semelhantes às que acabara de ouvir. Sugeri-lhe que não baixasse os braços, pois foi o que eu fiz. E que jamais deixasse de acreditar ou de lutar pelas suas convicções. Parafraseando algo que li algures disse-lhe ainda que “perder uma batalha não implica perder uma guerra”, muito menos quando sabemos que a razão está do nosso lado. E rematei:

- Em vez de desistir, de ficar sentado a chorar à beira do caminho com muita pena de mim mesmo, levantei-me decidido a enfrentar todos os obstáculos. E um a um os venci. Olhando hoje para trás quase me parece um sonho mas posso dizer bem alto: Consegui! E verá como a senhora vai conseguir também.

O tempo para reflexão dos diversos grupos havia entretanto terminado e chamaram-nos para o encerramento da formação na biblioteca onde cada grupo apresentou as dúvidas que haviam surgido, para, na medida do possível, serem dadas indicações de como as resolver no futuro. No nosso grupo nada havia para esclarecer e ficámos por isso todos em silêncio a ouvir os outros. A última actividade do dia foi a participação na Eucaristia celebrada na capela existente no edifício onde nos encontrávamos. Algumas das pessoas, por serem de perto, quiseram saír para irem tomar parte nas Eucaristias das suas comunidades, ficando ali apenas os participantes de mais longe como nós, de Marvão.

Preparava-me para descer as escadas para a capela no rés-do-chão quando fui interpelado pela senhora que havia desfiado a sua amargura na palestra de grupo dessa tarde e me quis dizer diante de todos os presentes:

- Obrigado, José. Dê cá um beijinho. Não sabe o bem que me fizeram as suas palavras…

Voltaremos a ver-nos? Provavelmente não! Apesar desta formação se realizar em cada triénio os grupos são numerosos, os locais diversos e distantes uns dos outros, por isso raramente se juntam os mesmos participantes. Não pretendo de modo nenhum desvalorizar a importância da formação que frequentei mas, honestamente, este resultado valeu para mim muito mais do que todo o resto daquele dia que inesperadamente ganhei.

José Coelho
21.10.19

E por vezes...

Luanda - Casa de Fados "O Campino", 10 de Março de 1972


E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos


David Mourão - Ferreira 

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Nada de equívocos hein?...

Foto Pedro Coelho - Beirã, 10-03-18

Era aquele Senhor Guarda um beirão dos sete costados, oriundo de uma aldeia muito conhecida das cercanias de Monsanto, na Beira Baixa. Tendo sido colocado no Algarve muitíssimo longe de casa e da sua família quando terminou o alistamento e porque naquele tempo mudar do batalhão do Alentejo para o batalhão das Beiras demorava sempre uma boa dúzia de anos, muitos desses “ratinhos” optavam por pedir transferência dos postos mais a sul para outros postos do mesmo batalhão mais a norte como era o caso do posto de Nisa, por fazer “fronteira” com a Beira Baixa.

Por isso os efectivos daquele posto, na sua esmagadora maioria, eram militares oriundos das cercanias beirãs. Castelo Branco, Cebolais, Idanha-a-Nova, Monsanto, Sertã, Covilhã, Fundão, Vila Velha de Ródão, ou de muitas outras localidades vizinhas. E por ali permaneciam o tempo necessário até serem finalmente transferidos de batalhão e colocados mais perto das suas terras de origem. Casos houve em que alguns desses beirões acabaram por se estabelecer. Ou porque trouxeram a família compraram casa e criaram raízes, ou por serem solteiros, conhecerem, namorarem e acabarem por casar com raparigas de Nisa e arredores, fundando por ali a sua nova família e optando por ficarem definitivamente no Alentejo.

Não era porém o caso deste militar a que me refiro hoje. Mas era de facto uma pessoa excelente. Bom camarada, de uma educação exemplar, muitíssimo atento aos seus deveres e nunca se escusando em caso algum a tomar conta de um serviço, por mais bicudo que pudesse ser. E era também um tudo-nada gago de nascença. Em situações tranquilas quase nem se dava por isso. Mas se o faziam irritar ficava tão excitado que inconscientemente gaguejava mais.

Como humanos que somos e com inúmeros defeitos que temos, gostamos por vezes de nos rir à custa dos outros. Por isso os camaradas o faziam algumas vezes zangar deliberadamente. Fosse por o Benfica ter perdido um jogo e ele ser benfiquista ferrenho, fosse por outro motivo qualquer, daqui que dali lá o ouvia eu a estrebuchar fulo sem conseguir expressar-se tão rapidamente como desejava nos seus irados desabafos.

Certo dia foi o dito cujo militar requisitado pelo tribunal local para depor no julgamento de um crime de desobediência em que ele e outro camarada tinham sido intervenientes. O militar mais antigo fora o participante e ele era a testemunha. Nada de grave nem de transcendente. Apenas um daqueles processos vulgaríssimos em que a patrulha detectava algo errado e dava uma ordem legal mas que não era obedecida, o que levava, nesse tempo, à imediata constituição de arguido do desobediente depois de lhe ter sido correctamente explicitado que se persistisse na sua atitude estaria a incorrer num crime previsto e punido por Lei.

Naturalmente, depois da asneira feita, o desobediente quando se via “entalado” num processo-crime, tratava logo de arranjar um advogado para o defender e representar. E foi o que aconteceu neste caso também. Ao longo da minha carreira profissional tive alguns “embates” com esses excelentíssimos profissionais mas ficámos amigos na mesma porquanto sempre entendi que dentro da sala de audiências eu representava a minha parte de acusar e provar o ilícito criminal que me tinha levado a deter o arguido, enquanto os senhores doutores advogados cumpriam a parte que lhes competia e para a qual eram contratados de tentarem atenuar o dolo ou culpa dos seus clientes usando de todas as estratégias legais para conseguirem a sua absolvição ou pelo menos uma pena mais leve.

Sem qualquer intento de vangloriar-me mas apenas com profissional satisfação, posso ainda hoje afirmar que nos muitos processos judiciais e consequentes audiências de julgamento em que fui interveniente como participante, nenhum detido por mim foi absolvido alguma vez. Quer isso dizer apenas que só apresentei em tribunal os casos em que não tive qualquer dúvida do ilícito criminal cometido, pois que, na dúvida, nunca avancei para esse procedimento

Talvez por isso mesmo sempre senti da parte dos meritíssimos juízes e também dos excelentíssimos advogados a grata consideração de raramente porem em causa a licitude das minhas actuações enquanto Órgão de Polícia Criminal. E era nesse sentido que instruía e orientava também os meus subordinados. Na dúvida, não se fazer nada. Se dúvidas houvesse quanto à licitude de um procedimento ou se não fosse imediatamente deduzível o ilícito criminal, essas dúvidas tinham sempre que reverter a favor do suspeito. Em processo penal mais vale pecar por defeito do que por excesso porque o defeito pode não ser condenável mas o excesso pode configurar imediatamente o crime de abuso de autoridade e não só.

Não foi o caso do julgamento que aqui estou a relatar hoje. A patrulha tinha agido em conformidade. Porém e muito naturalmente, durante o decorrer da audiência de julgamento o senhor doutor advogado de defesa do arguido interrogou os guardas com aparente animosidade. Actuação normalíssima e própria do calor do debate. Até que, a dado momento, interpelou a única testemunha, o nosso militar meio-gago, com algumas perguntas acutilantes, conseguindo enervá-lo. 

Em consequência desse nervosismo, começou o digníssimo Guarda a gaguejar inadvertidamente com maior evidência. Provavelmente por pensar tê-lo atrapalhado porque isso convinha aos seus interesses, o senhor doutor insistiu um pouco mais elevando significativamente o tom da voz. Foi quando, já manifestamente irritado, o nosso militar pediu respeitosamente licença ao senhor doutor juiz para se dirigir frontalmente ao senhor doutor advogado, dizendo-lhe na sua mais que justa e irada gaguez:

- Ó-ó se-se-nh-nhor  do-dou-to-tor a-ad-advogado! O-o-olhe q-q-que e-e-eu n-nã-não t-t-tou a-at-atra-pa-pa-lhado, ne-ne-nem com-com me-me-medo d-de ssss-ssss-si. Sss-sou-sou, é-é-é ga-ga-go, de-de-de na-na-nas-nascença!...

Não vos digo, nem vos conto! Quando horas mais tarde no final do julgamento isto foi relatado no posto, chorámos de tanto rir! E, muito convicto da justeza da sua valente atitude, o nosso digníssimo camarada retorquia ainda mais convictamente:

- O-o-o g-ga-ga-jo jj-ju-julgava qq-queu tt-ta-tava co-co-com mm-me-medo d-de-dele…

Não há muito tempo ainda encontrá-mo-nos no Jumbo de Castelo Branco. Ele acompanhado pela sua mulher e filhos e eu já só com a minha mulher. Ao reconhecer-nos dirigiu-se-nos de imediato para nos cumprimentar, e para, em seguida, irmos todos juntos tomar um café, enquanto recordávamos alegremente esses bons tempos já algo distantes mas fundadores destas recordações tão saborosas, bem como de uma sã amizade para a vida toda…

José Coelho
In Historias do Cota

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Beirã - Preciosidades com 76 anos...

Nossa Senhora do Carmo salvando almas do Purgatório 
Painel de azulejos no hall de entrada direito da Igreja da Beirã

Nossa Senhora do Carmo a entregar o Santo Escapulário a S. Simão Stock
Painel de azulejos do hall  de entrada esquerdo da Igreja da Beirã
Fotos - Maria Coelho - 09.10.2019

Meu vício de ler (***) ...


Imagem copiada do Google

Deixa…

“Eh, pá, deixa. Deixa estar o que não podes mudar. Deixa ficar o que não podes levar. Deixa para trás o que não te deixa ir em frente. Deixa ir quem não te deixa seguir. Deixa ir quem te deixou ir. Deixa de crer nas pessoas que não te querem. Deixa de querer que te queiram. Deixa de pensar em deixar e deixa mesmo. Deixa de querer fazer tudo, deixa de fazer tudo o que querem. Deixa. Deixa-te disso. Só de ti nunca. Nunca te deixes de lado. Nunca te deixes ir onde não és tu. Nunca te deixes levar por coisas que não levam a lado nenhum. Não deixes de gostar de ti. Não deixes de aprender. Deixa acontecer a felicidade. Não vivas para deixar nada a não ser saudades e o exemplo de quem não deixou que lhe roubassem a alegria. A vida é a tua deixa. O resto, eh, pá, deixa ficar.” 

In Lado.a.lado - 06.08.2019