terça-feira, 3 de junho de 2025

A vida é (mesmo) assim


Não culpemos o vento por ele ter tombado a jarra das flores, porque fomos nós que abrimos a janela e o deixámos entrar. De igual modo não nos culpemos a nós por termos aberto a janela, pois não podíamos prever que viria o vento.
Na vida tudo acontece quando e como tem de ser. Nada consegue mudar isso. Por mais cuidadosos e prudentes que sejamos e por melhores que sejam as nossas intenções, jamais seremos capazes de prever o imprevisível.
Acreditar que as pessoas são, como nós, bem-intencionadas, é também absolutamente normal, porque até prova em contrário somos todos confiáveis, dignos do crédito e do respeito de quem conosco convive ou priva.
Desde o berço fui assim moldado e todos os dias da minha vida dou graças por isso. A minha árvore genealógica é humilde de pergaminhos mas felizmente abastada de princípios e valores, dos mais básicos e simples de manter, aos mais elevados e difíceis de conservar.
Aprendi pelo permanente exemplo desses meus queridos mestres que a bondade, a honestidade, a educação e o respeito de uns para com os outos são invioláveis, porque cada um deles encerra em si a multiplicação de todos os outros.
E juntos promovem a dignidade humana que é devida e merece cada um de nós.
Infelizmente ao longo do meu já extenso caminho, fui conhecendo de tudo um pouco. Do melhor e do pior. Do melhor foi, felizmente, a parte maior. Do pior, apesar de ter sido a menor parte, foi aquela que me mostrou a cor mais negra da alma humana.
Não vou, porque não sou de lamechices, mencionar seja o que for.
Está tudo arrumado no sótão da minha memória e disso só deixei alguns marcadores para quando necessito reaprender a superar a dor cada vez que voltam a acontecer.
Obviamente voltam e continuam a repetir-se. Mais do que deveriam com novos e cada vez mais letrados protagonistas.
Mas a sua cor, amargor e a deceção que causam, são iguais, ou ainda mais acentuados.
Os catedráticos diplomas são importantes mas não conseguem cultivar mentes que já nascem perversas.
E não há como evitá-lo, porque primeiro não é possível mudar a maneira de ser de cada pessoa, e, segundo, nem a tal bondade, educação e respeito invioláveis conseguem reproduzir-se em corações que nascem tortos e por isso tarde ou nunca se endireitam.
Não é, também, de todo, defeito das sementes.
É mesmo a aridez dessas almas que não deixa que nasçam e muito menos que se reproduzam.
Apesar de ter disso consciência, jamais deixarei de lutar por um mundo melhor e mais justo.
Não serão muito vastas as minhas capacidades, mas são limpas e verdadeiras.
Iguais às daqueles a quem as agradeço.