quarta-feira, 25 de junho de 2025

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 Inteligência artificial é o fim da autoria humana?

Às vezes dou comigo a olhar o ecrã do computador, à espera que as palavras venham. Como se escrever fosse um gesto mágico, íntimo, único. Algo que brota da alma e encontra forma. Mas hoje, ao lado da minha tentativa, há uma outra presença, silenciosa, veloz, eficiente. Uma inteligência artificial que sugere frases, corrige desvios, antecipa as minhas ideias. E eu pergunto-me de quem é, afinal, o que está a ser escrito?

Não é medo — ou talvez seja. Um receio subtil de dissolução. A sensação de que algo que antes era exclusivamente humano, agora está sendo dividido. A autoria, essa expressão de identidade, começa a escorrer pelos dedos. Como água. Como código.

Mas talvez não se trate de um fim. Talvez seja só uma mudança de forma. A IA não sonha, não sofre, não ama. Pelo menos, não ainda. Ela produz, mas não sente. E é aqui que ainda estamos. No sentir. No silêncio, antes da palavra. No gesto de quem hesita antes de escrever, porque tem algo mais do que linguagem, dentro de si.

A autoria humana, talvez não desapareça. Talvez se torne mais rara. Mais preciosa. Como cartas escritas à mão, num mundo de mensagens instantâneas. Como um suspiro que escapa, entre palavras geradas em massa.

A questão não é se a IA vai tomar nosso lugar. A questão é saber o que vamos fazer com o que ainda é só nosso?

A pausa. A dúvida. A memória.

O erro que se revela.

A dor que escreve.

Enquanto houver isto, talvez a autoria humana não acabe e apenas mude de tom.

Helena Sacadura Cabral

Imagem da net