sexta-feira, 30 de maio de 2025

Bom fim de semana

Foto José Coelho 

Reconhecidamente grato

Foto 25 de maio 2025
 

Sem qualquer vaidade ou presunção verifico que um número bastante regular de seguidores visitam diariamente o meu blogue pessoal. Quem são e com que intenção só eles sabem e não precisam justificar porque o acesso é público e livre.

Contudo não deixa de surpreender-me, porque sinceramente não me acho famoso, pese embora também não me cause constrangimento algum a minha maneira transparente e séria de estar na vida.

As estatísticas que o blogue contabiliza automaticamente dizem que de 07 de março de 2015 até este preciso momento passaram por ele 108 132 visitantes o que dá uma média aritmética anual de 10 810, mensal de 900 e diária de 30.

Não me envaidece, nem me contraria.

Ainda assim não deixa de me confortar essa fidelização de quem não dispensa vir dar uma “espreitadela” naquilo que publico quase diariamente.

Tenho pena de nunca ter feito caso das estatísticas no blogue anterior que durante uma boa meia dúzia de anos existiu mas depois encerrei, substituindo-o pelo atual.

Provavelmente algumas destas pessoas já o seguiam também, deduzo.

O melhor e mais precioso momento destas minhas incursões pela internet foi aquele dia em que, procurando alguns registos de que necessitava, o meu primo-irmão Francisco de Alegria Alvarrão Coelho filho único do irmão mais novo do meu pai e que nunca conheci por terem emigrado para o Brasil pouco depois de eu nascer, inesperadamente se deparou com o meu www.https//tocadoscoelhosblogspot.com repleto de informações e fotografias das suas origens e família da Beirã.

Nada acontece por acaso…

Foi uma festa e tanto.

Pouco ou quase nada sabíamos uns dos outros desde agosto de 1981 quando a sua mãe, a querida tia Ana Alvarrão Coelho já viúva do tio Abílio Coelho veio a Castelo de Vide onde então eu morava e já era GNR, afim de vender a casa que cá tinham deixando em 1952 quando decidiram rumar para Maringá no Estado do Paraná - Brasil.

Desde esse memorável “encontro virtual” nunca mais nos largámos. E os milhares de quilómetros e oceano que nos separavam deixaram de ser barreira. Foram horas e horas de conversas, confidências e revelações. Ele e a sua esposa, eram funcionários públicos no município local, tinham três filhos mas não só, porque havia também frutos de outra paixão da sua juventude.

Tencionava visitar Castelo de Vide sua terra berço e de toda a sua família materna e paterna, tão depressa chegasse à aposentadoria. Fazíamos planos juntos, acreditávamos piamente que iríamos conhecer-nos pessoalmente num já não muito distante futuro.

A Vida tinha, porém, outros planos que nós jamais poderíamos imaginar. De férias nos Açores, foi lá que estupefacto e incrédulo, fui informado que o Chico Alegria – era assim que era por lá conhecido e se identificava – tinha partido ao encontro do seu pai na eternidade.

E dessa forma assaz dolorosa, mais uma vez me dei conta que somos nada, que nunca devemos dar seja o que for como certo, porque, não raras vezes, os nossos planos e projetos não coincidem com os que a Vida tem para nós.

Entretanto em seu lugar para perpetuar a sua memória, mantenho hoje uma amizade bonita que espero nunca acabe com uma das suas filhas, fruto da tal irreverência e juventude. Só por esse extraordinário encontro familiar a milhares de quilómetros de distância, valeu a pena o meu incurável vício de escrever.

Cada pessoa tem os seus hábitos e este, entre outros, é seguramente o que mais me cativa, entretém e ajuda a passar o tempo no dia a dia. Descontrai, afasta de mim as energias negativas e distrai-me de uma forma leve. Se por algum motivo tenho de passar alguns dias sem poder fazê-lo, sinto logo a falta.

Por isso lhe chamo vício.

Quem se dá ao trabalho de ler – o que reconhecidamente agradeço – sabe que a minha prosa incide maioritariamente sobre mim, a minha família de que muito me orgulho seja dos antecessores ou dos sucessores, a minha terra com a sua beleza, usos e costumes que enalteço e não quero que desapareçam na bruma do tempo. Às vezes sobre outras coisas também, mas sempre fazendo criterioso uso da boa educação e do respeito em geral.

Como não podemos agradar a todos, também há quem venha ler, mesmo não gostando de mim. É um direito que lhes assiste, e, sinceramente, estou-me nas tintas. Nunca as chamei, nem mandarei embora. O acesso é livre e assim continuará a ser. Enquanto forem de mim falando, bem ou mal, é sinal de que estou vivo.

E para me importar com isso teria de lhes dar alguma importância, coisa que não merecem, nem estou disponível para dar.

Cada um é feliz à sua maneira. Quem me quiser mal seja muito feliz com isso, tal como eu sou também por não me importar absolutamente nada. Nunca tratei mal ninguém muito pelo contrário. Por isso desengane-se quem se acha capaz de perturbar a minha tranquilidade de espírito, porque sou e vou continuar a ser completamente imune à sua maldade que também não me assusta.

Quem não deve não teme. Tudo aquilo que fizermos de bom ou de mau vai um dia voltar a quem o praticou. É a lei do retorno que nunca falha. 

Por isso durmo todas as noites pacificamente, em paz e de consciência tranquila.

Obrigado pela vossa visita, voltem sempre!

 

José Coelho

quinta-feira, 29 de maio de 2025

Esta tradição ainda é o que era


 Quinta-feira da Ascensão
O Manel e a Maria
Saíram com alegria
E foram com devoção
À espiga nesse dia

(Cancioneiro popular português)

Foto José Coelho
29 maio 2025

Ninguém, ninguém, e ninguém de novo


 

Vivo num país a quem dei o melhor de mim sem nunca pestanejar nem hesitar. Sem perceber “um boi” da política que originou o eclodir da guerra no então denominado “ultramar” ofereci-me para cumprir voluntariamente a parte que era exigida e obrigatória a todos os mancebos saudáveis iguais a mim, porque sem essa obrigação resolvida não havia “pão cozido” para ninguém, ou seja, possibilidade de qualquer emprego e vida estáveis.
Toda a minha vida paguei pontualmente as minhas contas, os meus impostos e obrigações. Sem falhar uma só vez. E continuo a fazê-lo ainda que já sem a convicção de estar a colaborar para o bem-estar comum daqueles que me rodeiam e amo, assim como dos meus concidadãos em geral.

Quem é que se importa com isso?
Ninguém. Porque é considerada uma obrigação, um dever de cidadania.
E pelo cumprimento dos direitos de cada contribuinte/cidadão quem é que zela?
Ninguém, também.
O oportunismo e incompetência que campeiam por todo o lado, sector público, privado, ou público-privado é de tal ordem revoltante que, se pudesse, não pagaria nem mais um cêntimo, porque sei que os meus impostos irão ser usados para aqui e acolá, para tapar buracos de milhões que nunca devi a ninguém, para altos ordenados e comissões a CEOS e Administradores, Doutores e Engenheiros, Políticos, Banqueiros e seus derivados.
Já o meu vizinho, coitado, até a luz de presença da campainha da sua porta optou por desligar para poupar energia elétrica que tem de pagar dos trezentos e trinta euros da sua “brutal” pensão de reforma.
Vivo num país em que os pensionistas idosos atacados de moléstias próprias da sua provecta idade passam horas nas urgências como se fossem meros móveis a decorar as salas de espera, torcidos nas cadeiras de rodas já sem posição de estar por tanto tempo ali sentados, em que o mais simples exame tem de ser minuciosamente analisado nas secretarias para posteriormente ser ou não autorizado pela administração, e, quando é, ficar marcado para dali a vários meses.
A título de – mais um – mero exemplo, a minha companheira de vida necessitou de uma cirurgia urgente para ablação da vesícula. E por ser portadora de doença cardíaca crónica medicada com anticoagulantes, a nossa médica de família alertou que em virtude desses condicionalismos ela não devia arriscar ter de ser operada de urgência. Requereu por isso, a quem de direito, marcação da respetiva consulta de cirurgia.
De facto na semana seguinte – fevereiro de 2023 – foi convocada. E, perante todos os condicionalismos já descritos, confirmada a necessidade da intervenção cirúrgica oportunamente detetada pela médica de família.
Mas…
A lista de espera naquele hospital para cirurgias era tão grande que a cirurgiã – com vergonha até de o dizer (textualmente as palavras que a doutora proferiu para nós) – só conseguiria operá-la em novembro seguinte.
Dali a dez meses.
Resultado. Resolver no privado pagando do nosso bolso. Vão-se os anéis, fiquem os dedos…
A esmagadora maioria dos atuais pensionistas/enfermos trabalhou e descontou durante a sua vida inteira – eu próprio contabilizei quarenta e um anos certinhos desses descontos porque até me foi exigido o pagamento integral dos três anos do serviço militar e comissão de serviço na guerra em Angola, e que, por ser uma soma tão avultada para o meu modesto vencimento mensal, tive de pagar em prestações descontadas mês a mês durante cinco anos – mas conheço outros, como por exemplo o meu cunhado mais novo, que fez descontos durante mais de cinquenta, dos 14 aos 66 anos.
Pergunta pertinente:
- Quem defende as pessoas que têm de suportar dores e consequente falta de qualidade de vida durante esses longos meses – anos até – de espera?
Ninguém!
Pelo contrário. Tudo isso é aceite como normal.
Porém, contra todas as possibilidades de se conseguir entender, na recente campanha eleitoral – nada acontece por acaso – os dois candidatos dos dois partidos vencedores, muito provavelmente por excesso de cansaço foram acometidos de doença súbita com necessidade de atendimento hospitalar urgente.
Foi notícia em toda a Comunicação Social.
Pergunto de novo:
- Alguém viu esses dois doentes com a fitinha amarela no pulso nas urgências dos respetivos hospitais à espera da sua vez para serem atendidos?
Pois…
É isso mesmo:
- Ninguém!
Quem acredita – ainda – que há almoços grátis, desengane-se. Vai ser só uma questão de tempo.

José Coelho

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Ergue-se Deus o Senhor, em júbilo e ao som da trombeta

SALMO RESPONSORIAL DA ASCENSÃO DO SENHOR

Coisas que lemos e nos fazem bem

Foto José Coelho

"Benditos sejam, os que chegam à nossa vida em silêncio e com passos leves para não acordarem as nossas dores, não despertarem os nossos fantasmas, não ressuscitarem os nossos medos. Benditos, os que se dirigem a nós com leveza e gentileza, falando o idioma da paz, para não assustar a nossa alma. Benditos sejam, os que tocam o nosso coração com carinho, nos olham com respeito e nos aceitam inteiros, com todos os nossos erros e imperfeições. Benditos sejam, os que podendo ser qualquer coisa na nossa vida, desejam ser doação. Benditas sejam, essas pessoas que chegam à nossa vida como amigos, que dão asas aos nossos sonhos e, tendo a liberdade de ir, escolhem ficar. Bendito és tu, hoje, por mais este novo dia que Jesus te concede. Seja este dia que se avizinha, um dia de dor ou alegria, mas bendito és tu; porque hoje, tens de novo, em tuas mãos, a oportunidade de mudar o teu mundo, vincares o teu amor pelos que te rodeiam, estender as tuas mãos aos que te pedem, sorrir a quem ontem desviaste o olhar, abraçar a quem ontem afastaste… não desperdices o amor que te foi concedido e corre nas tuas veias, não deixes que nada nem ninguém interrompa esse fluxo de energia poderoso que há em ti. A tua vida não é só insuflar oxigénio para que te mantenhas vivo, a vida verdadeira é conseguires ser tu, no meio de tantos diferentes de ti mas que todos têm o nome de pessoa. Escuta o teu coração, sente cada pulsar de vida que te estremece o peito… deixa que acelere na alegria e entusiasmo mas abrande ritmado diante das dificuldades. Não tenhas receio de não ser compreendido, nem tudo precisa de resposta: sê apenas tu, com todo o teu amor! Um dia muito feliz para todos, com Jesus no coração."

 Pe Ricardo Esteves

terça-feira, 27 de maio de 2025

Uma "sorte" que deu muito trabalho


Após a colocação em serviço no Posto da GNR de Castelo de Vide, dediquei-me empenhadamente a aprender mais e melhor no dia-a-dia através de muito e minucioso estudo de cada código, de cada lei, de cada preceito militar, de cada pasta do arquivo do Posto e das NEP's/GNR – Normas de Execução Permanente da Guarda Nacional Republicana – porque sabia que só dessa forma iria ser capaz de atingir o nível de conhecimentos que me permitiriam progredir na carreira.

Tomava notas de tudo o que me parecia importante, fazia dossiês de apontamentos sobre armamento, legislação penal e civil, regulamentos policiais, direitos e deveres militares, manutenção da ordem pública, decorava procedimentos e fazia cópias dos autos de toda a natureza para melhor entender as leis que lhes davam origem, em suma, fui trabalhando decididamente durante os três anos seguintes numa preparação contínua que visava alcançar os objetivos que me tinha proposto conseguir.
No início de 1982 abriu concurso para promoção ao posto de cabo e candidatei-me. Durante os seis meses seguintes o Centro de Instrução da Ajuda foi-me enviando via Comando da Companhia de Portalegre os dossiês com as diversas matérias que iriam constar dos três testes – um a cada dois meses – que haveriam de apurar os candidatos à frequência do curso na Ajuda no ano letivo 82/83. Dos onze candidatos iniciais só conseguimos classificação positiva dois. E lá fomos até Lisboa. Depois, já quase a terminar o Curso de Promoção a Cabo, decidiu o Comando Geral da Guarda abrir novo Concurso de Admissão para o 6º Curso de Formação de Sargentos.
Excecionalmente, dada a escassez de efetivos naquela classe de graduados, o Exmº General Comandante autorizou-nos, na qualidade de futuros Cabos, a concorrer também mesmo antes de terminado o curso que estávamos ainda a frequentar. Incentivado por outros camaradas que aceitaram aquele desafio, candidatei-me também. As provas escritas e psicotécnicas decorreram no Centro de Instrução onde nos encontrávamos, depois as provas físicas na Academia Militar. Todas tiveram lugar na segunda quinzena de maio de 1983 e todos os candidatos conseguimos superar as provas e ser aprovados.
Não tenho nenhumas dúvidas que a instrução ministrada naqueles últimos meses do Curso de Promoção a Cabo terá sido meio caminho andado para esse feliz desfecho. E foi assim que, sem ter sido alguma vez sequer sonhado, parti de Castelo de Vide no início do ano letivo de 1982 como Soldado candidato a Cabo e regressei em meados de junho de 1983 Soldado ainda, mas já a aguardar a promoção ao posto seguinte e também aprovado para frequentar o 6º CFS que iria decorrer nos dois anos letivos seguintes entre 1983/1984 para furriel, depois 1984/1985 para 2º sargento.
Conforme consta no Diploma de Encarte, fui promovido ao posto de 2º Sargento da Guarda Nacional Republicana para a Arma de Infantaria contando a antiguidade desde 21 de junho de 1985, depois promovido a 1º Sargento contando a antiguidade desde 22 de julho de 1988, e, finalmente, promovido ao posto de Sargento-Ajudante, contando a antiguidade a 07 de fevereiro de 1993.
Oficialmente notificado por escrito pela Chefia do Serviço de Pessoal do CG/GNR que iria ser promovido ao posto de Sargento-Chefe em meados de abril de 2003 por estar posicionado em nº 2 daquela escala de promoção, fui depois irregularmente preterido por motivo de uma reclamação julgada procedente de dois outros militares do Regimento de Cavalaria que culminou na sua promoção, assim como a minha recolocação nos dois primeiros lugares da escala de promoção àquele posto só já dali a seis meses, em janeiro de 2004.
Fiel aos meus princípios e sentimento de justiça, entendi que não tinha qualquer lógica ser eu e o outro camarada que era o Nº 1 na lista de promoção e como eu também prejudicado na sequência do erro grosseiro da Chefia de Pessoal do Comando Geral da GNR que não elaborou corretamente a lista de promoção, sendo muito mais justo e plausível, para não haver o tal prejuízo para terceiros previsto na lei, sermos todos promovidos quer os militares reclamantes, quer também os militares já oficialmente notificados.
Em lugar de duas teriam sido quatro as promoções, o que seguramente não levaria à bancarrota o orçamento com despesas do pessoal da Guarda Nacional Republicana. Não duvido nem um segundo sequer que, se o mesmo erro houvesse ocorrido com a promoção de militares da classe de Oficiais, jamais teriam sido preteridos depois de notificados, porque seguramente seriam todos promovidos e não haveria prejuízo para nenhum.
Revoltado e justamente indignado porque a minha razão e intrínseco sentido de justiça foram muito mais fortes do que a vontade de ser promovido, por haver completado em agosto desse ano os 36 anos de serviço obrigatórios para poder sair da GNR, requeri a passagem à situação de reforma para a qual transitei a 25 de novembro de 2003 trinta dias antes de ser promovido a Sargento-Chefe. E nunca me arrependi de o ter feito, porque aceitar uma injustiça é considerá-la justa.
Terminou assim definitivamente o percurso militar de uma vida inteira que iniciara com 17 anos no dia 19 de dezembro de 1969 quando a Inspeção Militar do Regimento de Infantaria 16 em Évora me considerou apto para todo o serviço militar, seguido da incorporação como soldado recruta no Batalhão de Caçadores 8 de Elvas em maio seguinte, passagem pelo Batalhão de Caçadores 5 em Lisboa a frequentar o Curso de Transmissões de Infantaria, com integração no Batalhão de Cavalaria 3871 - Estremoz em 15 de novembro de 1971 com destino a Angola de onde voltei a 11 de junho de 1974, transitando para a situação de disponibilidade um mês depois a 11 de julho de 1974.

Texto e foto

Sei do que falo


Somos cheios de falhas, de erros, de imperfeições.
Porque somos humanos.
Mas somos também cheios de sonhos, de amor, de fé, de gratidão e de esperança.
Somos feitos de altos e baixos, de conquistas, de fracassos, de aprendizagens e lições, de medos e de coragem, de hesitações e de ousadias.
Somos equilíbrio.
Somos as nossas próprias realizações.
Somos os retalhos que criam e recriam as nossas vidas.
Viver é levantarmo-nos depois de cada queda.
É acreditarmos que as coisas irão acabar por dar certo.
É enraizarmos tudo aquilo que nos faz bem, para que possamos colher os frutos.
Tenhamos em conta que podemos sempre mudar de rumo se tal for necessário para continuarmos a seguir os nossos sonhos e escolhas.
Façamos valer a pena.
Façamos as nossa própria avaliação, o nosso próprio caminho, o nosso próprio modo de vida.
Porque a nossa força, o nosso querer, serão suficientes.
E porque somos muito mais fortes do que acreditamos.

Sei do que falo...

Foto José Coelho

______maio 2025

segunda-feira, 26 de maio de 2025

Boa semana


Não vivas para tentar impressionar as pessoas de quem gostas.
Se te amam, não precisam de espectáculo.
Se não te amam, não vale o esforço.
Não passes a vida a escolher as palavras com pinças, a medir gestos, a tentar parecer mais forte, mais inteligente, mais interessante.
A tua existência não depende da aprovação delas.
Não estás numa entrevista de emprego.
Ninguém se impressiona por muito tempo.
Hoje admiram-te; amanhã esquecem-te; depois de amanhã acham-te previsível.
Entretanto gastaste o teu tempo a actuar numa peça que ninguém pediu para ver.
Desiste disso.
Ama sem agenda, sem pódios, sem necessidade de provar nada.
Mais patético do que tentar impressionar alguém é perceber tarde demais que nunca foi necessário.
As pessoas que importam não querem a tua versão editada.
Querem a tua verdade.
Pedro Chagas Freitas
(Um dos meus escritores favoritos)

domingo, 25 de maio de 2025

Terra amada

Entrada Noroeste da aldeia pela EN359 
Foto José Coelho 

Incondicional


 “O amor verdadeiro não é aquele que te completa, mas aquele que te aceita por inteiro, com todos os teus pedaços. Não é feito apenas de momentos felizes, mas de superação nos dias difíceis. O amor de verdade não busca perfeição; enraíza-se na compreensão, na paciência e na vontade mútua de crescer juntos.”

Antoine de Saint-Exupéry

Chamo-me Manãe


No dia 17 de janeiro de 1976 no casamento de uma prima-irmã minha e sobrinha da moça que era minha namorada há cinco anos, saímos do banquete depois do almoço para irmos dar uma volta até à ponte existente à entrada da Beirã.
Sem prévio aviso olhei-a nos olhos e perguntei-lhe se queria casar comigo. Olhou-me atarantada pela inesperada surpresa, pediu que a deixasse pensar um bocadinho. Não foram necessárias muitas horas de meditação porque quando regressávamos para o salão do banquete pouco depois, olhou-me também nos olhos como eu havia feito e respondeu:
- Sim, quero casar-me contigo.
Nesse mesmo dia fizemos os nossos planos e marcámos a data do enlace para dali a sete meses, no dia 14 de agosto. O passo seguinte foi informar as nossas famílias. O meu pai desatou num choro de felicidade e correu a abraçar a nora que tanto queria ter:
- Dá cá um abraço cachopa que vais ser minha nora!
Assim se cumpriu o que a Vida havia destinado para nós. Voltei para as Minas feliz e iniciei todos os preparativos. Anel de noivado, alianças, convites. Em menos de um ai chegou agosto, o casamento, a viagem de núpcias até Madrid para casa dos cunhados e a seguir para o Gerês sempre na companhia dos compadres do Porto e do seu Toyota novinho em folha.
Provavelmente o nosso primogénito é espanhol, pois deve ter sido concebido na lua de mel em Madrid porque nove meses e onze dias depois, chegou ao nosso colo.
Eu havia solicitado à entidade patronal três semanas de licença sem vencimento para poder acompanhar o final da gravidez da esposa, o nascimento do filho ou filha e foi-me concedido o tempo solicitado sem me descontarem um cêntimo sequer do ordenado base pelo que só não me foram pagas horas extraordinárias – noturnas – porque não as havia feito.
Houve um tempo em que algumas empresas tinham consideração pelos seus funcionários.
No dia 24 de maio de 1977 pela manhã, a Maria Manuela pegou num alguidar de roupa para ir lavar ao lavadouro público a poucos metros de casa. Não teve tempo para isso porque inesperadamente rebentaram-lhe as águas e começou a sentir ligeiras contrações. O passo seguinte foi chamar o táxi do Zé Moura de Santo António das Areias e seguir para a maternidade do então Hospital Dr José Maria Grande – atualmente ULSNA – de Portalegre.
Ali chegados, estava de serviço às urgências da obstetrícia um excelente e competente doutor, velho amigo e conhecido desde 1974 que imediatamente tomou a seu cargo cuidar da parturiente que, entretanto, já era acometida de contrações mais fortes em trabalho de parto. Fui autorizado a acompanhá-la no quarto onde se encontrava só ela e onde poderia ficar até às vinte e três horas.
Pude ver o zelo inexcedível de todas aquelas pessoas que incansavelmente iam e vinham, entravam e saíam do quarto a monitorizar ao segundo a situação.
Tão diferente dos dias de hoje.
Às onze horas tive de sair. Era a regra. Felizmente mais uma vez a sorte esteve do nosso lado porque antes de eu sair tinha já chegado a minha madrinha de batismo e casamento, a tia Jacinta, uma das quatro irmãs da minha mãe que trabalhava naquele piso e ia entrar no turno da meia-noite às oito.
- Toma a chave da minha casa e vai para lá descansar um bocado que eu tomo conta da tua Manuela. Do que houver, te direi.
E eu fui. Pouco dormi na excitação da espera, na preocupação de que tudo corresse bem, que o ou a bebé viesse saudável e perfeitinho/a. E antes de regressar a casa para o seu merecido descanso depois de oito horas de trabalho noturno, a madrinha ligou para o telefone da sua casa. E eu corri a atender, quase na certeza que seria para mim.
Era mesmo…
- Já aqui tens um belo cachopo à tua espera que nasceu às duas da manhã e correu tudo muito bem. Anda para baixo, diz na receção do hospital que és o pai do bebé da senhora que está no quarto número tal que eles deixam-te entrar e podes cá ficar com eles todo o dia outra vez…
Desci a correr a Rua do Comércio mais feliz do que os pardais que debicavam os pedacinhos de pão e bolos que caíam das mesas das esplanadas onde os portalegrenses desjejuavam tranquilamente àquela matutina hora. Numa loja de flores que acabara de abrir, uma senhora acondicionava num balde com água, um braçado de cravos… Azuis! Ele há coisas… Nunca tinha visto cravos daquela cor.
Sem hesitar um segundo sequer pedi-lhe que me fizesse um bouquet com alguns deles para oferecer à recém-mamã do nosso menino. E lá estavam à minha espera os dois e uma senhora enfermeira que ao ver-me chegar com flores comentou divertida:
- O seu marido é um romântico! Espere que vou ver de uma jarra para pôr os cravos na mesa de cabeceira. A Manuela sorridente com uma ou outra careta de dor quando se mexia e o nosso pequenito ferrado a dormir no berço ao lado da cama da mamã.
- Que lindo! Exclamei. Olha tem o lábio inferior metido debaixo do superior. E como dorme!
Fiquei lá o dia todo com eles mas foi necessário vir a casa buscar coisas que faziam falta e tive de deixá-los por volta das dezoito horas para apanhar o autocarro da Beirã. Nunca me tinha sentido assim. Feliz, incrédulo por já ser pai, emocionado e profundamente grato por tantos dons maravilhosos. Deus é bom. O tempo passou, em menos de nada já andava e falava. Como te chamas, filho?
- Manãe. Chamo-me Manãe…
Hoje 25 de maio de 2025, cumprem-se as tuas 48 primaveras.
Pai já também.
Amo-te incondicionalmente, desde a primeira vez que te tive no meu colo.
Parabéns, filho.

José Coelho 

sábado, 24 de maio de 2025

Bom fim de semana


 

Perguntei ao sol
Qual o segredo
Para sempre iluminar
Ele respondeu:
Perca o medo
Deixe o seu coração falar.

Perguntei à flor
Qual a magia
Para tudo perfumar
Ela respondeu:
Sorria!
Só amor irá exalar.

Perguntei à lua
Qual o mistério
Para o poeta inspirar
Ela disse baixinho:
Aceite o brilho dos outros.
Você também pode brilhar.

Saint-Exupéry

24. 05. 2025

sexta-feira, 23 de maio de 2025

Louvado sejais Senhor pelos povos de toda a terra

SALMO RESPONSORIAL DO VI DOMINGO DA PÁSCOA

Tão novinhos que nós fomos


A boa disposição reinante entre alguns dos Camaradas do Pelotão de Transmissões da CCS/BCav3871 no Belize - Cabinda - Angola - 1972/1974 e dos quais lembro ainda alguns nomes, como por exemplo o nosso Alferes Amaral Dias natural de Seia sentado à minha frente a exibir a beata que tinha entre os lábios, o Furriel João Santos natural de Atouguia da Baleia encostado a mim a levar também o cigarro à boca, o Soldado Operador de Transmissões Francisco Gomes natural do Dominguizo que recentemente partiu para a eternidade, o Soldado Radiomontador de Transmissões Alberto Ramalho natural do Alandroal, o Soldado Mensageiro de Transmissões Zé Manel Santos natural de Fornos de Algodres, o Soldado Operador de Transmissões João Tibúrcio natural de Campo Maior e o Cabo Martins natural de Castelo Branco e também Operador de Transmissões. Aos dois camaradas de quem já não recordo o nome, peço desculpa. Para todos um fraterno abraço, onde quer que se encontrem.

23. 05. 2025

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Reflexão de hoje


Coerência, é quando aquilo que dizemos e pensamos,
está em perfeita sintonia com aquilo que fazemos.

Um "falar" de todos nós

Sócha do Miradouro da Beirã 

A propósito de uma "moda" que “a malta” do meu tempo cantava ao desafio com as moças nos trabalhos do campo, propus a um grupo de que fazia parte, umas “saias à moda antiga", deliberadamente escritas na pronúncia característica da nossa região. Não são só os usos e costumes, não é só a paisagem que tem características muito próprias. Também a fala é património nosso e parte integrante do todo. Como tal, entendo que deve ser preservada e defendida, sem motivo de escândalo ou complexos de inferioridade.

Contudo, ao apresentar aquela velhinha cantiga, logo duas ou três vozes se levantaram para afirmar que “a gente nã fala assim”. Ai fala, fala, reafirmei convicto. Poucas serão as pessoas que pronunciam o “não” correctamente, e, em vez disso, dizem simplesmente “nã”. E também o “eu” é pronunciado “ê”. Um “vais” é reduzido a “vás”, o “nem” dizemos “nim” um “dizem que” resume-se a  “diz que”, e muitas, muitíssimas mais palavras são reduzidas em parte das suas sílabas. É o nosso falar. Não há qualquer motivo para dele ter vergonha ou gerar censura. Cada povoação, até num só concelho, tem o seu sotaque próprio.

Nós, os da parte norte de Marvão, falamos assim:

- V’zinha atão há corse de carnaval est'ane?
- Diz’que sim. Mas ê cá nã poss’ir. Nim "domingue" nim terça. 
- Tu, vás?
- Ê cá tenhe tençõns d´ir, se'Dês qu'sér…

Já na Escusa, do mesmo concelho mas da parte sul, nasalam-se mais algumas sílabas:

- Abalaste munto çôde?
- Nasçô-me o sol ô Talaiã…

Mas não somos só os Marvanejos que temos um falar muito nosso. Com os concelhos nossos vizinhos sucede o mesmo. O meu Pai, nascido e criado no Bom Jesus em Castelo de Vide, trouxe consigo para Marvão onde casou e viveu a maior parte da sua vida, aquele seu falar característico que pronuncia o “a” em vez do “e” que origina chamar-se por aqui aos Castelovidenses “os da terra do bonáque”. Para ele nunca fui o seu Zé, mas sim o seu Zá.

 - Zá! Oh Zá… Chega lá aqui, filhe…

Tomara eu continuar a ouvi-lo ainda hoje!

Também por Nisa onde trabalhei e convivi com aquela gente boa de todas as suas freguesias, conheci um encantador e genuíno modo de falar que começa logo pela exclamação “dé” a anteceder qualquer conversa.

E não resisto a transcrever uma quadra popular Nisorra que por lá aprendi e acho absolutamente fabulosa:

Os olhos daquela àquela
Os olhos daquela ali
Ou tu le tens amezéde
Ou ela tará ta ti

É o falar de cada terra, de cada um de nós. Tão nosso como tudo o que de mais genuíno existe por cá. E sinto o dever de defendê-lo como defendo as outras coisas todas, porque entendo que únicas e a merecer divulgação não são apenas as paisagens. Os usos e costumes, entre os quais o nosso falar, completam o património de que devemos orgulhar-nos e urge defender...


José Coelho
Texto e foto