sexta-feira, 17 de março de 2023

Sou como os juncos

Foto Pedro Coelho

É verdade que tudo muda e se transforma. E que o mundo é composto de mudança. Faz parte dos ciclos que naturalmente se sucedem na vida das pessoas e das coisas. O que me faz alguma confusão é o modo como algumas pessoas se comportam seja a que pretexto for, porque eu nunca fui, não sou nem serei assim. Os meus bisavós, avós e pais, eram todos desta região. Uns do concelho de Castelo de Vide, outros do concelho de Marvão e alguns até – a minha sogra assim como metade da minha família materna – da vizinha Espanha.

A todos conheci sempre unidos, agarrados à família, respeitadores dos laços familiares até à quarta ou quinta geração – não é por acaso que por aqui somos quase todos parentes – fiéis aos seus princípios, usos e costumes. Praticavam entre eles e para com toda a gente as regras da amizade, da mais limpa honradez, da boa educação, do bom trato, do respeito e do decoro.

Em tudo o que diziam e faziam. 

Para eles era mais valiosa a palavra dada, do que qualquer certidão de notário. Foi dentro desses princípios e valores que fui moldado, cresci e me fiz homem. Os meus pais e avós nunca tiveram uma vida fácil, mas viveram sempre honestamente do seu trabalho, sem ficarem a dever nada a ninguém. Tinham a vida que podiam ter, davam-nos a vida que podiam dar, sem se importarem se a dos outros era melhor do que a nossa.

Foram, indubitavelmente e apesar da sua humilde condição social, as criaturas mais perfeitas que conheci na minha vida, a quem nunca vi um mau exemplo ou ouvi uma má palavra.

O respeito entre si próprios, para com os filhos e netos, mas também para com todas as outras pessoas à sua volta, foi sempre irrepreensível. Por isso, naturalmente, a pessoa que sou, a eles o devo. Mais até do que à professora que me ensinou a ler e a escrever, por essas serem as duas únicas coisas que nenhum deles podia ensinar por não o saberem fazer. Os valores e princípios que devem nortear a vida de cada pessoa nunca foram matérias para se irem aprender à escola.

Têm de ir-se aprendendo em casa, desde o berço.

Nunca foram, por isso, tais desajustados e pouco corretos comportamentos capazes de modificar a minha maneira de ser, de estar e de me comportar, apesar do “vale tudo” que por aí se tem espalhado como praga ruim. Cada pessoa é responsável porque sabe o que diz e faz, ou porque o diz e o faz, bem como as razões que a levam a comportar-se assim. O tempo sempre foi e continuará a ser o melhor juiz. Será ele e só ele quem irá colocar cada coisa no seu lugar. 

Pode tardar, mas não falha. Não tenham a menor dúvida.

Desengane-se quem o contrário pensar. Pela parte que me diz respeito e por mais fortes que sejam as correntes ou os ventos, sou como os juncos à beira do rio. Posso até algumas vezes vergar. É normal e humano.

Mas não quebro.

José Coelho