É verdade que tudo muda e se transforma.
E que o mundo é composto de mudança. Faz parte dos ciclos que naturalmente se
sucedem na vida das pessoas e das coisas. O que me faz alguma confusão é o modo
como algumas pessoas se comportam seja a que pretexto for, porque eu nunca fui,
não sou nem serei assim. Os meus bisavós, avós e pais, eram todos desta região.
Uns do concelho de Castelo de Vide, outros do concelho de Marvão e alguns até –
a minha sogra assim como metade da minha família materna – da vizinha Espanha.
A todos conheci sempre unidos, agarrados
à família, respeitadores dos laços familiares até à quarta ou quinta geração –
não é por acaso que por aqui somos quase todos parentes – fiéis aos seus
princípios, usos e costumes. Praticavam entre eles e para com toda a gente as
regras da amizade, da mais limpa honradez, da boa educação, do bom trato, do
respeito e do decoro.
Em tudo o que diziam e faziam.
Para eles era mais valiosa a palavra
dada, do que qualquer certidão de notário. Foi dentro desses princípios e
valores que fui moldado, cresci e me fiz homem. Os meus pais e avós nunca
tiveram uma vida fácil, mas viveram sempre honestamente do seu trabalho, sem
ficarem a dever nada a ninguém. Tinham a vida que podiam ter, davam-nos a vida
que podiam dar, sem se importarem se a dos outros era melhor do que a nossa.
Foram, indubitavelmente e apesar da sua
humilde condição social, as criaturas mais perfeitas que conheci na minha vida,
a quem nunca vi um mau exemplo ou ouvi uma má palavra.
O respeito entre si próprios, para com
os filhos e netos, mas também para com todas as outras pessoas à sua volta, foi
sempre irrepreensível. Por isso, naturalmente, a pessoa que sou, a eles o devo.
Mais até do que à professora que me ensinou a ler e a escrever, por essas serem
as duas únicas coisas que nenhum deles podia ensinar por não o saberem fazer.
Os valores e princípios que devem nortear a vida de cada pessoa nunca foram matérias
para se irem aprender à escola.
Têm de ir-se aprendendo em casa, desde o
berço.
Nunca foram, por isso, tais desajustados e pouco corretos comportamentos capazes de modificar a minha maneira de ser, de estar e de me comportar, apesar do “vale tudo” que por aí se tem espalhado como praga ruim. Cada pessoa é responsável porque sabe o que diz e faz, ou porque o diz e o faz, bem como as razões que a levam a comportar-se assim. O tempo sempre foi e continuará a ser o melhor juiz. Será ele e só ele quem irá colocar cada coisa no seu lugar.
Pode tardar, mas não falha. Não tenham a menor dúvida.
Desengane-se quem o contrário pensar. Pela
parte que me diz respeito e por mais fortes que sejam as correntes ou os ventos, sou como os juncos à beira do rio. Posso até algumas vezes vergar. É normal e humano.
Mas não quebro.
José Coelho