Em tempos ainda não muito distantes a grande mesa da nossa sala de jantar ficava tão rodeada de gente que as suas oito cadeiras nunca eram suficientes e tínhamos de acrescentar mesa e lugares para o dobro, às vezes mais.
E como era salutar e reconfortante esse convívio com todos os entes queridos.
Ainda assim, mesmo sendo já muito menos os comensais, um domingo sem alguma família cá em casa já nem parece domingo. Tento, a todo o custo, não deixar extinguir a tradição que herdei do senhor meu Pai de tão grata memória, a quem nada dava mais felicidade e alegria do que ter à sua volta o filho e as filhas, a nora e os genros, as netas e os netos e demais família, ainda que as suas posses fossem modestas e a comida não fosse, porque não podia mesmo ser, muito diferente do que era nos restantes dias da semana.
Legumes e frutos da horta, aves do galinheiro ou carnes do fumeiro e da salgadeira.
Importante porém e muito mais do que qualquer iguaria que se pusesse nos pratos para se comer, era mesmo o facto de estarmos juntos. Tudo o resto, com toda a certeza, estava sempre bom e era mais do que o suficiente. Foi nessa escola de valores e tão benéfica simplicidade que aprendi a priorizar mais o amor fraterno do que a qualquer outro bem material.
Foi também em razão desse implícito exemplo paterno que formei no meu espírito a certeza da importância vital que a união familiar pode ter na moldagem do carácter dos nossos filhos e netos, assim como na transmissão aos mesmos desses imprescindíveis valores e princípios fundamentais.
Porque, naturalmente, quem aprende a amar e a respeitar os seus, aprende também sem dificuldade a amar e a respeitar os outros.
Sei que é uma batalha em vias de extinção porque no atual conceito da vida em sociedade e para conseguirem fazer face às inúmeras despesas do dia-a-dia, os pais têm de trabalhar os dois. E isso veio alterar por completo os velhos preceitos da vivência familiar.
As crianças que antes eram criadas apenas na intimidade e conforto do seio familiar pelos pais e quase sempre também com a preciosa ajuda dos avós, são atualmente entregues aos cuidados de instituições públicas que têm pessoal devidamente qualificado para as acolher e delas cuidar desde muito tenra idade, mas, a meu ver, pouco ou nada têm de comum com o ancestral colinho dos pais e avós.
Inevitavelmente os mesmos motivos que levam à separação prematura de filhos e pais estendem-se depois aos avós que não podem já também contar com qualquer apoio dos filhos no limiar das suas vidas e têm de terminar os seus dias em instituições - infelizmente nem sempre qualificadas - que deles tratam, mas são também completamente diferentes do normal ambiente familiar.
É o que temos e há que aceitá-lo, concordemos ou não.
Ainda assim, enquanto puder, irei tentar manter aquilo que aprendi a esse respeito e tanto me enriqueceu com incontáveis momentos de felicidade, rodeado quase sempre por todos aqueles que incondicionalmente amei mas já partiram, que amo porque ainda os tenho e vou continuar a amar até ao último dia da minha vida.
Tenham, se puderem um tranquilo resto de semana.