Há um Portugal diferente daquele que diariamente nos é mostrado e poucos querem ver, mas que felizmente existe. É o Portugal dos humildes, do interior, do campo. Da comida verdadeira, da gente que prefere o conforto do lume na lareira e fumo nas chaminés. Da matança do porco nos Santos, do borrego ou do cabrito na Páscoa, das tradições, das danças e cantares. Da genuinidade do vinho de talha servido a jarro, da sardinha assada comida à mão sobre uma grossa fatia de pão escuro, cozido em forno de lenha.
É o Portugal que durante décadas encheu as despensas do seu gémeo mais moderno e elegante mas que vive entediado na monotonia de um rotineiro emprego, condicionado diariamente pelo pára-arranca nos semáforos que regulam a sua marcha, ou nervoso nos engarrafamentos que não lhe permitem ir mais depressa.
Este Portugal rural tem a sua vida própria, a música que é realmente a nossa e tanto amenizou as tristezas e cansaços de uma geração que perdeu tudo, menos as suas raízes. Aqueles que nesse outro Portugal vivem porque acham que é lá que se tem “tudo”, estão enganados. Estão, pelo contrário, a perder o melhor que tinham. Porque não há orgulho mais verdadeiro do que sabermos reconhecer quem somos e de onde viemos.