A Escola Primária que recebeu o meu filho mais velho em 1985
Atualmente é a Biblioteca Municipal de Nisa
Foto José Coelho
Terminado em junho de 1985 o Curso de Promoção de Sargentos, o regresso a casa foi, como não podia deixar de ser, uma alegria. Os filhos tinham crescido imenso e eram agora já dois homenzinhos à minha espera para fazermos os passeios de que tanto gostávamos a pé pelos subúrbios da vila quando eu tinha tempo livre.
Sabia tão bem sentir-me definitivamente junto deles! A mais ninguém podia dedicar o sucesso alcançado senão àqueles dois pequenitos, pois fora sempre a pensar neles que arranjara forças para superar o desânimo motivado quase sempre por serem tão limitadas as minhas habilitações literárias e os currículos dos cursos tão complexos.
Passados os cinco dias de fim de curso concedidos pelo Exmº Comandante-Geral da GNR, regressei ao posto a que pertencia onde permaneci algumas semanas até à promoção a segundo-sargento para a consequente nova colocação. Sentia-me a mais afortunada das criaturas.
Não me amedrontava o futuro. Durante os três anos de formação tinha-me dedicado e aprendido muito, aproveitado cada conselho recebido, cada ensinamento ministrado e estava mentalmente disposto a segui-los na íntegra.
Também não me envaideci com alguns elogios que por ali ia agora ouvindo vindos principalmente de quem antes me tinha algumas vezes dificultado a vida, prova mais que evidente do cinismo oportunista de algumas pessoas que infelizmente existem em todos os lugares e em todas as profissões.
Devo esclarecer que tratava com particular deferência aqueles de quem porventura tinha algumas razões de queixa porque entendia ser essa era a melhor forma de lhes fazer perceber o quanto éramos diferentes. Os amigos quando o são, não precisam de graxa. E a vingança é uma arma que repudio e nunca utilizei na minha vida. Posso afirmá-lo de consciência tranquila.
Entretanto as minhas relações pessoais com as autoridades civis foram sempre de mútuo respeito e completa disponibilidade. No jantar que ofereci quando fui promovido, o ilustre senhor presidente da câmara – figura muito conhecida e estimada ainda hoje na Vila – disse-me alto e em bom som, perante todos os convidados presentes, que no dia seguinte ia a Lisboa tratar de assuntos da câmara ao Ministério da Administração Interna, mas esperava trazer de lá também a garantia da minha colocação no comando do posto de Castelo de Vide.
Embora não lhe tivesse podido dizer logo ali, por ser um assunto de serviço reservado e restrito apenas ao meu conhecimento, tal não iria acontecer, porque os planos do comando territorial de Portalegre eram outros, conforme já me tinha sido dado conhecimento e alguns dias depois se verificou.
Sabia que ficaria colocado na Companhia de Portalegre por ter conseguido a segunda melhor classificação desta subunidade, uma vez que o terceiro classificado já fora transferido para Lisboa em virtude de só haver duas vagas a preencher na nossa zona. Avis e Nisa.
Poucos dias depois fui convocado para receber a guia de marcha para a nova colocação como comandante de posto. E tive a sorte de me acompanhar o bom camarada e amigo classificado em primeiro lugar que imediatamente me concedeu o privilégio de poder escolher o posto que melhor jeito me desse, pois em virtude de ele ser solteiro não lhe fazia qualquer diferença ir para um ou para o outro.
Esse camarada foi o meu companheiro de carteira durante os três anos que frequentámos os dois cursos, primeiro no de cabos, depois no de sargentos. Por isso não tenho qualquer dúvida que fui para Nisa graças à sua generosidade que reconhecidamente agradeci e nunca mais esqueci, porque sabendo que eu era casado e tinha dois filhos pequenos entendeu e bem, que seria muito mais fácil a minha família adaptar-se mais perto da nossa família.
E lá fomos os quatro, com o coração cheio de esperança e boas intenções ao encontro da nossa nova vida na bonita vila de Nisa terra bordada de encantos, onde a população nos acolheu e tratou desde a primeira hora e até ao último dia, como se fôssemos Nisorros. Foram as melhores pessoas que tivemos o privilégio de conhecer em toda a nossa vida. Inquestionavelmente. Trinta anos passados ainda lá temos queridas e boas amizades…