quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Republico (só porque sim)



    Malabarismos eleitorais ou uma mão cheia de nada

Foi bandeira de Paulo Portas em tempo de eleições já lá vai tempo. "Coitados dos combatentes da guerra nas ex-colónias" e mais blá-blá-blá porque éramos ainda um bom punhado de votos à época. Foi por isso pensada uma compensação que pomposamente foi batizada com o título de Acréscimo Vitalício de Pensão, extensivo a todos os ex-combatentes ou suas viúvas.
E como a malta rejubilou!
- Finalmente! Lá houve alguém que se lembrou dos desgraçados que foram mandados para aquele inferno a comerem o pão que o diabo amassou em defesa da então Pátria.
E vá de palmadinhas nas costas do candidato pai do menino. Obrigado, obrigado. Assim é que é! E foi. E o que seria de todos os ex-combatentes se não fosse o dito-cujo acréscimo a engrossar as suas pensões.
Eu falo por mim e cada um fale por si.
Incorporado em 1-5-71 no BC8 de Elvas já com 10 meses de tarimba e especialista em transmissões fui mobilizado para Angola onde cheguei em 7-3-72 com destino ao Belize no coração do Alto Maiombe, Enclave de Cabinda, num dos períodos mais agudos do conflito armado que vitimou alguns camaradas meus.
Por lá permaneci 2 anos, 3 meses e 7 dias. Porém, como a Zona de Ação do Batalhão de Cavalaria 3871 era considerada 100% zona de guerra, o tempo de comissão foi bonificado também em 100%, ou seja contado a dobrar, o que me valeu para todos os efeitos um total de 5 anos, 5 meses e 19 dias de tempo de serviço, somados também os 10 meses e alguns dias antes da mobilização.
É o que consta na minha folha de registos. Felizmente, ao contrário dos camaradas que lá perderam a vida, regressei a casa em Junho de 1974. Tive sorte. Porém, muitos Zés que como eu para lá foram, por lá ficaram para sempre. Mas voltemos ao pomposo Acréscimo Vitalício de Pensão. De acordo com as decisões do governo eleito na altura, foram então atribuídos os respectivos montantes.
O embaraço de quem decidiu o valor a atribuir deve ter sido tão grande que de mensal como em princípio prometeram, passou a anual e a ser atribuído de uma só vez na sua totalidade, junto com a pensão de reforma do mês de Outubro. E de quanto é esse acréscimo? Uma brutidade! A mim calham-me… 7,79 € mensais. SETE EUROS E SETENTA E NOVE CÊNTIMOS por mês.
Então para não parecer tão ridículo, vem todo junto em Outubro o que soma a já menos embaraçosa quantia de 109,08 €. Mas, há mais mas… Com o acréscimo desses 109,08 € nesse mês o escalão de descontos para o IRS passa dos normais 20,9%, para os 22,4% a incidirem sobre o montante total da pensão e não apenas nos 109,08 €, o que origina um aumento nos descontos de mais 53 €.
Com um bocadinho de jeito, ainda me dava era prejuízo.
Contas feitas, recebo por ano 56,08 € líquidos de Acréscimo Vitalício de Pensão, o que, dividido pelas 14 mensalidades, dá, em números redondos, 4 € por mês.
Num país onde um político pode somar milhares de euros mensais das várias pensões a que tem direito, o que não discuto mas sublinho, onde um político com mais de três mandatos consecutivos - 12 anos como deputado - adquire direito a uma subvenção vitalícia na ordem também dos milhares de euros e que irá duplicar o valor mensal a partir do dia em que o beneficiário completar 60 anos, onde ainda alguns membros do governo moram em Lisboa mas mesmo assim recebem subsídios de alojamento além de outros subsídios para tudo e mais alguma coisa, isto é, sinceramente, gozar com o pagode.
- Toma lá sete euros por mês de AVP mas chuta p'ra cá três e meio para o IRS.
Ora fo***se…
Será que os senhores governantes também descontam assim para o IRS metade dos subsidiozorros que recebem todos os meses, conforme eu os tenho de descontar do meu subsidiozinho que recebo só em outubro? Pela parte que me toca, e repito que só por mim falo, bem podiam em genuíno vernáculo alentejano, meter a porra do Acréscimo Vitalício de Pensão, no cu.
Disse.
José Coelho
17. 10. 2022