terça-feira, 15 de outubro de 2024

Os tombos ensinam a levantar


Não sou, nunca fui, dado à pieguice. A época em que nasci e me criei era tão dura e agreste que assim que aprendi a andar em pé, tive logo de aprender também a levantar-me sozinho cada vez que tropeçava e caía. Ninguém ia a correr dar-me mimo ou colo.
- Caíste? Levanta-te, filho!
Não era e nunca foi falta de amor de quem me trouxe ao mundo e me criou, pois deles tive abundância de amor a vida inteira. Era a sua forma sensata de me ensinarem que cair e dar tombos era normal, por isso, do mesmo modo, normal era também ter de levantar-me sozinho.
Cresci, aprendi e formei-me nessa disciplina de uma forma tão sólida que me valeu para a vida toda. Tentei depois e acho que consegui transmitir aos meus filhos esses princípios essenciais à nossa sobrevivência neste mundo tão complexo que é o nosso:
Saber levantar depois de cada tombo, ser prudente para não tropeçar duas vezes na mesma pedra, evitar caminhos acidentados e pouco seguros.
Viver não é fácil, nem sequer para quem nada lhe falta. Há quem viva na abundância mas rodeado de solidão, de falta de amor e de afetos. A vida é tão imprevisível que o melhor mesmo é estarmos atentos e preparados para o que der e vier. Basta às vezes olhar à nossa volta para o perceber.
A minha memória diz-me que quando eu andava descalço por não ter sapatos e tinha de esperar embrulhado num cobertor sentado ao lume que a minha roupa secasse para voltar a vesti-la porque só tinha aquela, havia pessoas por cá muito ricas que tinham tudo e grandes herdades com palácios onde viviam.
Hoje esses palácios estão em ruínas porque os seus herdeiros não têm possibilidades de os conservar e manter. Ao contrário deles, com muitas poupanças e sacrifícios, eu consegui pagar até ao último cêntimo, projetar e transformar a humilde casinha em que nasci noutra bem maior, para nela caber a família inteira.
Por isso tudo o que escrevo ou digo tem quase sempre a ver comigo, com a minha família e com a minha experiência de vida. Não me interessa minimamente a vida de mais ninguém, assim como me estou literalmente nas tintas para aquilo que digam e pensem de mim, porque não lhes devo nada.
Obviamente os tombos que deii deixaram mazelas. Principalmente os que foram provocados por rasteiras cobardes que em vez de ferirem o corpo, ferem a alma. Mas em todas elas me levantei e segui teimosa e valentemente o meu caminho. Hoje vivo tranquilo, em paz, desengane-se quem pensar que pode de alguma forma perturbar essa tranquilidade.
Ninguém tem pinta para isso...

Texto e foto