segunda-feira, 12 de junho de 2023

Orgulho cada vez maior

Foto recente já livre para exercer um dever de cidadania
para o qual fui eleito



Cada vez me orgulho mais de ter nascido filho de gente humilde mas honesta que sabia viver com pouco mais do que o suficiente para terem pão na mesa e roupa para vestir. A si e aos seus. Os meus pais não tiveram dinheiro para me mandar para a universidade e ainda bem porque se tivessem talvez eu não fosse o anónimo cidadão do mundo que tanto gosto de ser.

Ainda assim o facto de nunca ter conseguido uma licenciatura não fez de mim cego ou burro e muito menos incapaz de perceber a realidade do mundo que habito. A árvore genealógica da minha família materna tem a maior parte dos seus ramos em Espanha e eu nasci pouco depois de terminada a sua sangrenta guerra civil, imediatamente precedida da segunda guerra mundial. 

Dos dois conflitos bélicos, o primeiro foi mesmo aqui ao lado da minha casa, o outro a nível global. Ambos fizeram com que aqueles tempos fossem tão duros e ásperos para todos nós que neles fomos obrigados a viver. Nos serões à lareira das noites invernosas ouvi imensas histórias dos tiros e dos gritos de terror que ouvia do outro lado do rio Sever o nosso patrão, quando tinha de ir tratar do gado à Retorta onde possuía uma propriedade mesmo junto ao rio, sempre temeroso pela proximidade do perigo. 

A patroa e os filhos só respiravam de alívio quando ele regressava são e salvo. Mas não só. Era comum também surgirem fugitivos de ambos os sexos pela calada das noites a implorarem comida e auxílio. Depois de socorridos por quem pouco mais tinha do que eles, apressavam-se a voltar para a escuridão da sua aflitiva clandestinidade, com medo só eles sabiam de quê.

Foi nesse contexto difícil que nasci e começou a minha vida. E foi também um pouco por via desses conflitos e após o seu términus, que, no intuito de incrementar o comércio entre Portugal e Espanha, nasceu o Ramal de Cáceres, bem como a estação dos caminhos de ferro da minha Beirã. 

Consequentemente a então quase inexistente aldeia cresceu e multiplicou-se com a chegada de todos os serviços adjacentes a uma estação fronteiriça e com eles trouxeram também gente de todo o lado. 

A seguir foi preciso criar condições para essas pessoas viverem o que originou a necessidade de desbravar terrenos para hortas e pomares, olivais para azeite, tapadas inteiras para searas e pão no rude contexto orográfico dos sucessivos aglomerados graníticos de toda esta região. Mesmo assim conseguiam ser praticamente auto-suficientes para alimentar quem cá vivia. 

O que a agricultura não produzia originou a abertura de mercearias, restaurante, pensões, tabernas, talhos, oficinas de alfaiataria e de modistas, carpintarias, barbearias e por aí fora que tornavam esta aldeia no pequeno oásis deste concelho tão afastado de quase tudo.

Assim se viveram muitas décadas em perfeita paz e harmonia até à chegada da União Europeia que, em vez de trazer os prometidos benefícios para toda a freguesia e melhorar as nossas condições de vida como era expectável, matou-as. 

A terminar que já vai longo o desabafo, resta dizer que nunca fui militante de partido político nenhum porque não o podia ser por determinação absoluta das normas que regem o Estatuto profissional militar ao qual tinha de obedecer e sempre cumpri. 

Por isso não pude na flor da idade e no melhor tempo da minha vida exercer qualquer atividade política exceto ir votar, e ainda bem, porque não só a nível nacional como também a nível global me têm surpreendido profundamente as barbaridades que todos os dias são noticiadas, cada escândalo mais escabroso que o anterior, em Portugal ou na Conchichina, cometidas por quem tem o inalienável dever de ser exemplo. 

Criminalidade pura e dura, corrupção ao mais alto nível, esquemas escabrosos que lesam milhões de contribuintes em benefício de apenas um ou dois iluminados, compadrios, ganância, vergonha. Decididamente esse não é e nunca será o meu caminho nem o dos valores e princípios que me foram ensinados por aquela gente humilde mas absolutamente séria que me deram a vida e em que sempre acreditei, acredito e hei-de morrer acreditando:

- No Bem Comum. 
- No Respeito Por Todas As Pessoas. 
- Na Dignidade Humana. 
- Na Solidariedade Acima De Quaisquer Outros Interesses.
- Na Integridade De Carácter (incorruptível). 


José Coelho