Lírio selvagem - Foto José Coelho
SAUDADE
Tu
és o cálix;
Eu,
o orvalho!
Se
me não vales,
Eu
o que valho?
Eu
se em ti caio
E
me acolheste
Torno-me
um raio
De
luz celeste!
Tu
és o colo
Onde
me embalo,
E
acho consolo,
Mimo
e regalo:
A
folha curva
Que
se aljofara,
Não
d'agua turva,
Mas
d'agua clara!
Quando
me passa
Essa
existência,
Que
é toda graça,
Toda
inocência,
Além
da raia
D'este
horizonte
Sem
uma faia,
Sem
uma fonte;
O
passarinho
Não
se consome
Mais
no seu ninho
De
frio e fome,
Se
ela se ausenta,
A
boa amiga,
Ah!
que o sustenta
E
que o abriga!
Sinto
umas mágoas
Que
se confundem
Com
as que as águas
Do
mar infundem!
E
quem um dia
Passou
os mares
É
que avalia
Esses
pesares!
Só
quem lá anda
Sem
achar onde
Sequer
expanda
A
dor que esconde;
Longe
do berço,
Morrendo
á mingua,
Pais
diverso...
Diversa
língua...
Esse
é que sabe
O
meu tormento,
Mal
se me acabe
Aquele
alento!
Ah,
nuvem branca
Ah,
nuvem d'oiro!
Ninguém
me estanca
Amargo
choro;
E
assim que passes
Mesmo
de largo...
Vê
n'estas faces
Se
há pranto amargo.
Tu
és o norte
Que
me desvias
De
ir dar á morte
Todos
os dias;
A
larga fita
Que
d'alto monte
Cerca
e limita
O
horizonte!
Tu
és a praia
Que
eu solicito!
Tu
és a raia
D'este
infinito!
Se
ha uma gruta
Onde
me esconda
Á
força bruta
Que
traz a onda;
Á
força imensa
D'esta
corrente
D'alma
que pensa,
Alma
que sente;
Se
há uma vela,
Se
há uma aragem,
Se
há uma estrela,
N'esta
viagem...
É
quem eu amo,
A
quem adoro!
E
por quem chamo!
E
por quem choro!
João
de Deus, in 'Ramo de Flores'