quinta-feira, 27 de julho de 2023

Minha Mãe

Foto - Pedro Coelho
 

Minha mãe, minha mãe! Ai que saudade imensa

do tempo em que ajoelhava, orando ao pé de ti.

Caía mansa a noite; e andorinhas aos pares

Cruzavam-se, voando em torno dos seus lares,

suspensos do beiral da casa onde eu nasci.

 

Era a hora em que já sobre o feno das eiras

dormia quieto e manso o impávido lebreu.

Vinham-nos da montanha as canções das ceifeiras,

e a lua branca, além, por entre as oliveiras,

como a alma dum justo, ia em triunfo ao Céu.

 

E, mãos postas, ao pé do altar do teu regaço

vendo a lua subir, muda, alumiando o espaço

eu balbuciava minha infantil oração,

pedindo ao Deus que está no azul do firmamento

que mandasse um alívio a cada sofrimento,

que mandasse uma estrela a cada escuridão.

 

Guerra Junqueiro