É um velho pessegueiro já bravio plantado
há décadas à beira do caminho, pertinho da fonte onde a minha avó ia todos os dias buscar a água para a sua casa e ao qual eu surripiava sempre alguns pêssegos às
escondidas do dono.
Ali continua indiferente ao passar do tempo e ao abandono, a dar frutos abundantemente como se pode ver pela imagem.
Colhi dois ou três para me certificar se continuariam deliciosos como antes, com aquela açucarada cor vermelho escuro em redor do caroço, quase igual à da sua pele.
Mas não, não eram. Nem pouco mais ou menos!
São azedos e nada suculentos. A sua pele é áspera, têm a polpa branca, dura, e a acidez do escasso sumo deixa a boca grossa, encortiçada.
Os olhos toldaram-se-me involuntariamente de lágrimas.
Não pelo amargor dos inocentes frutos já bravos, evidentemente, mas porque a saudade daquele tempo da minha vida em que fui menino e moço tão ingenuamente feliz, me avassalou.
E foi tão intensa que doeu...
José Coelho