terça-feira, 8 de agosto de 2023

Coisas que leio




"Abri os olhos e não te vi. Desesperado procurei-te em cada compartimento da casa, na cozinha, no quarto, para finalmente, desolado e ofegante me sentar no sofá da sala a chorar a minha solidão.

Aos poucos o desespero transformou-se em paz e o choro em sorriso pois fui encontrar-te justamente onde não tinha procurado, no lugar mais óbvio: dentro de mim, no meu coração e na minha memória, protegida pelo amor que sinto por ti.

Olha, mãe, entre nós não existe distância, o amor entre mãe e filho pode vencer qualquer barreira que a morte possa impor.

Sou fruto teu e trago a tua semelhança no meu jeito de agir e de ser. Estou  a aprender a substituir o teu abraço pela tua lembrança; a ver-te no sorriso dos meus filhos ou na fala de um amigo que comenta alguma passagem da tua vida.

O nosso amor não depende dos sentidos, não é escravo da matéria, pode elevar-se acima de tudo e encontrar a plenitude de Deus. No passado ensinaste-me a dar os meus primeiros passos na tua direção e agora ensinas o meu espírito a dar os seus primeiros passos rumo à tua luz.

Não é fácil equilibrar-me sem as tuas mãos a ampararem-me, mas sou persistente e aprenderei a compreender o equilíbrio divino que Deus proporciona a todas as suas criaturas. Em meus sonhos converso contigo todas as noites e acordo sereno para mais um dia de trabalho aqui na Terra.

Não tenhas receio de nada, minha mãe. Podes seguir a tua jornada de luz em paz que nós saberemos honrar a tua memória em cada gesto ou atitude, para que tu tenhas a certeza que valeu a pena todo o teu esforço e luta no período encarnado da tua vida terrena.

Volta para o Pai, nosso Criador, e realiza o plano que te foi confiado. Vai em paz, minha mãe, cresce em luz e glória, e ilumina as nossas vidas com a tua serenidade e sabedoria."


- do Livro "Do Sal ao Céu: Reflexões da Alma"

Foto Pedro Coelho