"Abri os olhos e
não te vi. Desesperado procurei-te em cada compartimento da casa, na cozinha,
no quarto, para finalmente, desolado e ofegante me sentar no sofá da sala a
chorar a minha solidão.
Aos poucos o desespero transformou-se
em paz e o choro em sorriso pois fui encontrar-te justamente onde não tinha
procurado, no lugar mais óbvio: dentro de mim, no meu coração e na minha
memória, protegida pelo amor que sinto por ti.
Olha, mãe, entre nós
não existe distância, o amor entre mãe e filho pode vencer qualquer barreira
que a morte possa impor.
Sou fruto teu e trago a
tua semelhança no meu jeito de agir e de ser. Estou a aprender a substituir o teu abraço pela tua
lembrança; a ver-te no sorriso dos meus filhos ou na fala de um amigo que
comenta alguma passagem da tua vida.
O nosso amor não
depende dos sentidos, não é escravo da matéria, pode elevar-se acima de tudo e
encontrar a plenitude de Deus. No passado ensinaste-me a dar os meus primeiros
passos na tua direção e agora ensinas o meu espírito a dar os seus primeiros
passos rumo à tua luz.
Não é fácil
equilibrar-me sem as tuas mãos a ampararem-me, mas sou persistente e aprenderei a
compreender o equilíbrio divino que Deus proporciona a todas as suas criaturas.
Em meus sonhos converso contigo todas as noites e acordo sereno para mais um
dia de trabalho aqui na Terra.
Não tenhas receio de
nada, minha mãe. Podes seguir a tua jornada de luz em paz que nós saberemos
honrar a tua memória em cada gesto ou atitude, para que tu tenhas a certeza que
valeu a pena todo o teu esforço e luta no período encarnado da tua vida
terrena.
Volta para o Pai, nosso
Criador, e realiza o plano que te foi confiado. Vai em paz, minha mãe, cresce
em luz e glória, e ilumina as nossas vidas com a tua serenidade e
sabedoria."
- do
Livro "Do Sal ao Céu: Reflexões da Alma"
Foto Pedro Coelho