terça-feira, 4 de junho de 2019

Uma pequenina surpresa para a minha comadre de Nisa...

... que foi uma grandessíssima surpresa que os meus filhos me fizeram a mim!


(…)

Sem saber para onde me virar e como muitas vezes fiz ao longo da minha vida sempre que disso tive necessidade, procurei a ajuda do divino. Num dia e hora completamente aleatórios e sem prévia programação dirigi-me à igreja matriz para me recolher no silêncio e acolhedora paz do seu interior, em busca de alguma transcendente inspiração que me aquietasse o espírito e indicasse um caminho. Entrei precisamente quando estava a começar uma missa que envolvia actividades com crianças da catequese.

Deixei-me ficar ao fundo da igreja discretamente rodeado pela assembleia anónima a tentar passar despercebido, mas logo a minha comadre Natária, uma das mais competentes e activas colaboradoras daquela comunidade há muitos anos, reparou em mim e foi ter comigo para me dizer:

- Ainda bem que aqui estás, compadre. Queres ir fazer uma das leituras da missa?

- Sim posso fazer, respondi sem pensar duas vezes, porque também na minha paróquia-mãe sempre colaborei quando me foi solicitado.

E assim, sem nada ter sido preconcebido, estava já a ser parte interveniente naquela celebração eucarística que nem sabia estar prestes a começar quando me dirigi à igreja. Senti logo naquele convite um sinal de acolhimento do Senhor. É muito difícil traduzir por palavras esses sentimentos íntimos da nossa alma mas dir-vos-ei que, à luz da minha fé, senti assim como que um “bem-vindo a minha casa”.

Presunção e água benta cada um toma a que quer diz a sabedoria popular. Mas, sem que me ocorra melhor forma de o explicar, senti efectivamente que aquele convite para ir fazer uma das leituras mais não era que um invisível sinal de boas vindas. A igreja estava repleta de gente, porque fui eu o escolhido?

A celebração começou.

Fui fazer a leitura que me tinha sido solicitada quando chegou o momento e voltei de novo para o meu lugar ao fundo do templo. Pouco depois, durante o ofertório realizado pelas crianças, enquanto uma delas estendia o cestinho para recolher as oferendas, a outra criança oferecia a cada pessoa uma pequena tira de papel onde estava escrita uma frase de conteúdo litúrgico. E lá veio uma delas estender-me o cesto onde coloquei a minha oferta enquanto a outra me entregava “um recado” numa tirinha de papel que aceitei (e guardo até hoje) depois de ler a curta mensagem nele contida que dizia assim:



Fiquei a olhar com genuína surpresa para o minúsculo papel. E pareceu-me ser outro sinal, só que desta vez bastante mais óbvio e entendível. Involuntariamente senti um arrepio e estremeci ao mesmo tempo que me invadia um sentimento da mais profunda serenidade. Apenas consegui murmurar: “Bendito sejais Senhor”.

Quando saí da igreja pouco depois o meu coração navegava num mar de tranquilidade por me sentir abençoado pela inabalável certeza de que as minhas preces tinham sido atendidas. E aquele papelito que levava no bolso era um prenúncio de esperança que ia muito além do que alguma vez imaginara encontrar.

(…)

(Pequeno excerto das minhas Histórias do Cota)

José Coelho