Foi a 08
de Outubro de 1926 o dia bendito em que nasceste minha doce Mãe. Um abraço
do tamanho da minha saudade e um beijinho com o amor imenso que te dedicarei
até ao dia em que for ter contigo.
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Quando eu for pequeno
Quando
eu for pequeno, mãe,
quero
ouvir de novo a tua voz
na
campânula de som dos meus dias
inquietos,
apressados, fustigados pelo medo.
Subirás
comigo as ruas íngremes
com
a certeza dócil de que só o empedrado
e
o cansaço da subida
me
entregarão ao sossego do sono.
Quando
eu for pequeno, mãe,
os
teus olhos voltarão a ver
nem
que seja o fio do destino
desenhado
por uma estrela cadente
no
cetim azul das tardes
sobre
a baía dos veleiros imaginados.
Quando
eu for pequeno, mãe,
nenhum
de nós falará da morte,
a
não ser para confirmarmos
que
ela só vem quando a chamamos
e
que os animais fazem um círculo
para
sabermos de antemão que vai chegar.
Quando
eu for pequeno, mãe,
trarei
as papoilas e os búzios
para
a tua mesa de tricotar encontros,
e
então ficaremos debaixo de um alpendre
a
ouvir uma banda a tocar
enquanto
o pai ao longe nos acena,
lenço
branco na mão com as iniciais bordadas,
anunciando
que vai voltar porque eu sou pequeno
e
a orfandade até nos olhos deixa marcas.
José
Jorge Letria