terça-feira, 30 de outubro de 2018

A gente nunca mais esquece...

Foto by José Coelho, 16.06.2016

Ressecção endoscópica prostática


16 de Junho de 2016
Hospital Lusíadas Lisboa
Ressecção endoscópica da próstata para me ser retirado um tumor (adenoma).
Acompanhado pela esposa e pela nora Ana Batista que foi levar-me para ser internado às 11 da manhã.
A cirurgia foi marcada para as 18 horas mas teve que ser alterada para as 22 por motivo de força maior.
O cirurgião, Dr João Varregoso, foi chamado a uma situação de urgência devida a um acidente de viação grave.
Para me manterem calmo e alheado das horas, sedaram-me.
Acordei quando a equipa de enfermagem foi buscar-me ao quarto para me levar ao bloco operatório.
Um enfermeiro jovem e sorridente deu-me as boas-vindas no bloco apresentando-se como o enfermeiro chefe assistente e dizendo o seu nome que já esqueci.
Toda a equipa assistente do Dr Varregoso era disciplinada, eficiente e muitissimo simpática.
A seguir veio a Dra cardiologista que me ligou ao electrocardiógrafo.
Depois a Dra anestesista.
- Isto não vai doer nada...
Tudo gente simpática e bem disposta.
Mais parecia a recepção de um hotel do que o bloco operatório do mais conceituado hospital particular do nosso país.
Completamente grogue mas dando conta que a doutora anestesista esteve sempre à cabeceira da mesa de operações do lado direito a falar para mim.
Não recordo nada do que me disse e a sua voz parecia vir do fundo de um túnel.
A doutora cardiologista também esteve sempre à cabeceira da mesa mas do lado esquerdo a controlar os bip bips dos aparelhos a que eu estava ligado.
- Preciso de outro balde, ouvi alguém pedir, daqueles que estavam a assistir o cirurgião, a meio da mesa de operações.
- O doutor está quase a terminar, disse-me a médica cardiologista..
- Já? Demorou tão pouco! Respondi atabalhoadamente.
- Duas horas! Já é meia noite! Respondeu a doutora.
Sem qualquer perceção do passar do tempo dei por mim já operado no recobro cheio de frio.
Depois fui levado para o quarto todo entubado.
Credo...
Como cabem tantos tubos?
Foi duro.
Mas já passou.
Dois anos e meio…
A gente nunca mais esquece
A gente nunca mais fica como era
Ainda assim, há que dar graças
Podia ter sido pior…

José Coelho, Out’18
(Republicado com alguns acertos)