quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Já nada é como era...

Foto by José Coelho

Aleluia! Uns pingos de chuva! Com quinze dias de atraso, o Outono resolveu por fim tomar conta do que é seu. E amanheceu assim, cinzento, a chuviscar com pouca vontade, mas parece de facto ser hoje o primeiro dia outonal de 2018. 

Já não é sem tempo...

Não lembraria ao diabo andar a regar a nabiça e as árvores do quintal Outubro adentro. Sei que é um lugar-comum mas o tempo já não é e nem nunca mais será o que era, vou mesmo ter que desistir de uma vez por todas de cultivar seja o que for. 

Não vale a pena.

No ano passado por esta altura tinha o quintal plantado de hortaliças de ponta a ponta. Este ano tenho apenas a belga das nabiças todas chamuscadas pelo calor tórrido que se fez sentir até ao dia de ontem. 

É lutar contra a maré.

Fala-se, fala-se, fala-se, nas alterações climáticas. Mas é um bate-boca que só serve para produzir notícias porque ninguém está mínimamente interessado em resolver. E aquele iluminado presidente americano até acha que tudo o que se diz acerca disso, são tretas. 

Como diz o outro, quem vier atrás que feche a porta.

Depois dizem-me algumas pessoas: - Fazer horta para quê se nos hipermercados há tudo o que a gente precisa? É verdade! E as grandes potências agrícolas, coitadas, necessitam escoar os seus excedentes, não é?

Pois...

Que diria o meu velho pai e tão esmerado hortelão se cá estivesse ainda e tivesse que ir fazer um curso fitosanitário que custa mais de cem euros para poder comprar um frasquito de Decis para sulfatar o feijão verde ou um pacotito de Milraz para as parreiras? 

Sem certificado do curso não há anti-parasitas nem anti-míldios e sem eles nada vinga porque as pragas não deixam.

Claro que se produzíssemos o que cada um necessita como era dantes, não teríamos que ir aos hipers comprar o que nos vem da solidária agricultura europeia que não quer que nos falte nada, não é verdade?. 

Para que servem os amigos?

Entretanto até o tempo parece correr a favor dos interesses instalados porque ora chove pedriscadas que esnocam tudo em Junho, ora vem este sol de turrina que até faz cair rolas assadas em Outubro. 

E as plantas, sejam quais forem, não aguentam. As folhas das árvores ficam queimadas e caem precocemente. No meu quintal já morreu a cerejeira e o damasqueiro. E o loureiro, se não levasse dia sim, dia não, uns baldes de água, já teria seguido o mesmo caminho.

Só que entretanto a fatura da água nunca pára de subir, nesta minha inglória luta para que mais nenhuma árvore morra antes de mim, principalmente as que o meu avô e o meu pai plantaram e me deixaram com tanto amor. São elas o mais singular testemunho vivo da sua presença nesta casa onde juntos vivemos e fomos tão felizes. 

Quando eu morrer, quem cá ficar que faça como quiser. Mas questiono-me muitas vezes se valerá a pena tanto apego a tudo isto. Já nada é como era. Nem o tempo, nem o lugar, nem as pessoas, nem sequer os sentimentos...

José Coelho, 11Out'18