Será falta de crentes? Não! É mesmo falta de gentes.
Foto José Coelho
Não adianta continuar a assobiar para o lado e fingir que está tudo bem, ou que não nos damos conta do que salta à vista e se agiganta aos nossos olhos. Somos cada vez menos portugueses porque nascem cada vez menos crianças no nosso país.
Razões?
Mil.
E todas muito bem definidas.
Os jovens casam ou juntam os trapinhos cada vez mais tarde. E quando por fim decidem largar "as saias da mãe" para formar família já passaram sempre dos trinta. Às vezes dos quarenta. A precaridade no emprego é também, entre muitos outros, o principal obstáculo que impede os jovens de constituírem família e terem mais do que um filho.
Há de facto mais acesso à formação de um modo geral, mas não há depois como, nem onde, tirar dela o devido proveito na esmagadora maioria dos cursos eleitos por cada candidato ao seu futuro. E resta-lhes quase sempre, salvo raríssimas excepções, deitar mão à primeira coisa que lhes aparece a troco de um salário mínimo que não dá para quase nada.
Na minha freguesia por ano nascem para aí uns 2 fregueses, enquanto falecem 22, na sua maioria idosos.
É uma precária estatística bem sei, porque precária é também em habitantes a região onde ela se desenvolveu. Onze alminhas por quilómetro quadrado, li algures. Mas não tenho qualquer dúvida que o mesmo sucede por esse país fora, seja no interior já desertificado em que eu habito, seja nos grandes centros urbanos do resto do país.
Sem ter grande formação académica mas suficientemente perspicaz, não acredito mais que algum governo consiga reverter esta situação. A sua gravidade é de tamanha ordem que não haverá incentivos suficientemente sérios nem capazes de dar a volta a isto. Porque já batemos no fundo.
E 49 anos de desleixo não se recuperam em 4 ou 5.
Nem sequer noutros 40 ou 50.
Mais de metade do território continental tem sido votado a um completo abandono.
Primeiro pelos sucessivos governos democraticamente eleitos desde o 25 de abril que amanhã comemora 49 anos com pompa e circunstância.
Depois pelas populações que foram forçadas a buscar o sustento e fixaram naturalmente residência definitiva no novo território que as acolheu, em função da sua nova situação laboral e familiar.
Este povo honrado e trabalhador foi sempre assim. Se aqui já não dá, há que procurar onde dê. E sem olhar para trás. Porque para traz mija a burra!
Não há volta a dar.
Um povo com mais de oito séculos de história e de gloriosos feitos, caminha hoje em passo de corrida rumo à extinção por absoluta incompetência ou falta de visão de quem deveria prever o seu futuro coletivo mas só se preocupa em prever o de si próprio ou o das suas elites e no imediato.
Viva o 25 de Abril!
José Coelho