quarta-feira, 26 de abril de 2023

Consciência tranquila...

Arquivos anuais de 2002 a 2022 das contas da Paróquia da Beirã

Terão causado desconforto e não caíram bem a alguns dos presentes numa reunião de Conselhos Económicos Paroquiais, o que certa vez senhor bispo D. Antonino Dias referiu a propósito de algumas paróquias mas sem mencionar quais, que nunca apresentam à diocese e muito menos às suas comunidades, as contas das receitas e despesas anuais normalmente geradas com a administração das mesmas, para as quais são mandatados os Conselhos Económicos Paroquiais.

Estranhei o facto mas sinceramente aquilo não me beliscou minimamente. Nem me agradou, nem desagradou. Cada paróquia, como a minha, julgo, terá o seu CEP, presidido obrigatoriamente pelo reverendo pároco que é coadjuvado por um ou mais tesoureiros e no mínimo também dois vogais. Logo, se uma paróquia não cumpre, é meu entendimento que o primeiro responsável dessa irregularidade terá que ser o presidente desse CEP e por conseguinte, terá de ser ele o primeiro a ser chamado a contas, pois todos os outros elementos funcionam sob a sua orientação. 

Nunca o contrário.

Disse também o senhor bispo que os membros de cada CEP têm, entre outras obrigações, a de "informar" o seu pároco dos ofertórios cativos nas respectivas datas e não só. Aqui também estranhei a recomendação que me pareceu terem de ser os membros dos CEPs a ensinar o pai-nosso ao padre, mas, como dou sempre o benefício da dúvida, achei que aquelas palavras haveriam de ter outra qualquer interpretação menos complexa. 

E uma vez mais não me senti nada incomodado ou atingido. Tudo o que foi dito me pareceu, tão só, meras recomendações tendentes a uniformizar e agilizar procedimentos. Nada mais.

Uma coisa disse naquela reunião o senhor bispo que me caiu muitíssimo bem pela simples razão de ser exatamente aquilo que eu faço desde 2002. Sua Eminência aconselhou que "os dinheiros devem ser sempre contados por mais do que uma pessoa, para que nunca haja dúvidas nem boatos". 

Tiro e queda, pensei eu, pois sem que nunca alguém me o tivesse recomendado ou sugerido sequer, a primeira coisa que fiz - quando por impossibilidade do CEP que até ali estivera em funções, tomei conta por solicitação dos párocos Tarcísio Alves e Luís Ribeiro, sendo posteriormente mandatado pelo senhor bispo para tesoureiro do CEP da Paróquia da Beirã - foi providenciar para que os dinheiros que me são entregues, desde então e até hoje, e seja qual for a sua proveniência, serem sempre primeiro conferidos por terceiras pessoas que não eu ou a minha esposa. 

Esses dinheiros já depois de conferidos logo que me são entregues imediatamente são registados em folha própria no capítulo de receitas de um programa informático que me foi fornecido ensinado e explicado pelo padre Luís, após o que são depositados na conta bancária da paróquia. Com as despesas, procedo exatamente do mesmo modo. Cada cêntimo gasto, seja onde for, tem de ser obrigatoriamente justificado por fatura ou recibo e é também a seguir lançado na folha informática referente às despesas. 

Por sua vez os processos completos com receitas, despesas e saldos, têm, por cada mês, um processo próprio cuja ultima página é sempre o comprovativo dos depósitos na conta à ordem. Tenho comigo como se pode verificar na foto que ilustra este escrito, os processos anuais de que sou responsável desde que tomei conta desta responsabilidade em 2002. No início de cada ano são sempre apresentadas as contas à diocese com tudo discriminado, entregue o que lhe é devido respeitante ao ano findo, sendo posteriormente por mim apresentadas à comunidade paroquial e afixadas no placard da igreja onde permanecem todo o ano expostas para informação de quem as queira consultar.

Ando assim nestas"andanças" desde 2002, data em que o último pároco residente na paróquia demandou a terras da Beira e nos deixou temporariamente sem pastor definido até serem nomeados "in solidum" os revºs Cónego Tarcísio e Padre Luís, do arciprestado de Castelo de Vide a que então a Beirã pertencia, os quais se revezavam na assistência religiosa às paróquias dos dois concelhos vizinhos, Marvão e Castelo de Vide. 

Já ao anterior pároco eu disponibilizara desde 1994 a minha colaboração naquilo que podia, mas que se limitava a pouco mais do que ser parte no coro paroquial como salmista e sob a sua orientação.

Embora entregues a nós próprios por falta do maestro que muito nos ensinou, sem saber uma nota musical sequer "segurei" eu o coro da paróquia continuando a promover os ensaios semanais para continuarmos a dignificar as celebrações dominicais e festivas. Foi nesse contexto de colaboração paroquial que os revºs párocos Tarcísio e Luís me convidaram para os coadjuvar de forma mais abrangente. 

Para me prepararem um pouco melhor para " outras coisas" fui por eles sendo enviado para a frequência de vários cursos. Para leitores e salmistas em Mem Soares, para o curso de cristandade no seminário de Alcains, para um curso de formação de MECDAP no qual continuo mandatado pelo senhor bispo da diocese, e, finalmente, para um CAF no seminário de Portalegre que durou todos os sábados das 9 às 17, durante 3 anos letivos inteiros. 

Devo ainda esclarecer que nunca aceitei qualquer ajuda financeira da paróquia para essas ou outras atividades. Paguei do meu bolso viagens, cursos, livros, almoços e as despesas que houve para pagar. Vi muitos colegas dos cursos serem ressarcidos pelas suas paróquias de todas essas despesas mas eu decidi não sobrecarregar a minha, onde, pela sua pequena dimensão, os dinheiros eram escassos.

Quando recebi as contas da paróquia havia apenas duas promissórias no valor total de 2500 euros, uma conta à ordem extremamente magra e a igreja estava quase em ruínas a pedir obras de restauro e manutenção urgentes. Não quero de modo algum armar-me em benemérito porque de certo modo entendi que o benefício também era meu, por estar a adquirir conhecimentos inimagináveis. 

Fui-me dando conta, curso após curso, que "da igreja" pouco mais sabia do que rezar pais-nossos.

Fico perplexo por vezes ao ouvir as opiniões de pessoas que nunca fizeram nada em benefício da sua comunidade e limitam a sua participação a uma ida semanal à missa, sem se importarem minimamente se aquelas poucas pessoas que gratuitamente zelam o ano inteiro pela conservação e asseio de um património que a todos pertence necessitam de alguma ajuda. Não se disponibilizam para colaborar seja no que for mas acham-se no direito de mandar bitaites.

Para finalizar, uma reflexão acerca  do primeiro parágrafo deste texto, que me parece óbvia:

Que motivos tem para se melindrar com o que se diz ou deixa de dizer, quem tem a consciência tranquila?

José Coelho