segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Voltem, Pipocas...

Francisca & Mariana ao fresco da noite, na esplanada Sabores de Marvão 
Foto José Coelho

Foram dias e semanas de intensa felicidade. Em tempo de férias escolares e com os papás a trabalharem, a neta Francisca veio para a aldeia para junto dos avós. E não tardou que a neta Mariana quisesse também fazer parte da "equipa" e se apresentasse de armas e bagagens para ficar conosco até que lhe apetecesse. Foi muito bom, mesmo. A Toca dos Coelhos normalmente monótona, arrumadinha e silenciosa, encheu-se de vida, de gargalhadas e da saudável bagunça que é sinónimo evidente da presença de crianças descontraídas e felizes.

Quase tudo lhes é permitido aqui. As refeições sempre "à la carte" com direito de opção e apenas uma cláusula inegociável que não provocou qualquer greve porquanto as partes aceitaram o trato de comum acordo; sopinha de legumes quer ao almoço, quer ao jantar e no mínimo, caço e meio. Cumpriram sem protestar e portaram-se lindamente. Duas autênticas senhoras! 

Ah pois...

Ao pequeno almoço, as panquecas ou "manhãzitos" preferidas, com nutela. Eu pronuncio propositadamente "pan-cuecas" para elas rirem divertidas:

- Avô, não se diz "pan-cuecas"! Diz-se pan-ke-kas...

- Ai é??? Mas aqui na embalagem diz pan-qu-é-cas...

- Eheheh...

Manhãs, tardes e serões inesquecíveis.

A hora de levantar era... quando cada uma acordava. Sem toque de alvorada nem de recolher. Férias são férias. Já basta terem de levantar-se às sete da manhã em tempos de escola, e, principalmente no inverno, saírem do quentinho da cama para o ar gélido, ainda meio noite. A casa dos avós tem que significar o refúgio acolhedor que lhes garante muitos mimos e também algumas transgressões às regras, sem que isso signifique bandalheira ou quaisquer faltas censuráveis. Nada disso. Eu guardo as mais doces recordações dos meus, por isso quero deixá-las também para sempre, na sua infantil memória.

Não houve dois dias iguais. Foram todos divertidos, diferentes, havendo de tudo um pouco. O pior foram as saudades dos papás que às vezes eram muitas. Porém nada que não se resolvesse com uma rega às plantas do quintal ou ir tratar dos animais da quinta imaginária que as duas partilhavam. Uma tinha as vacas e os cavalos, a outra as galinhas e as ovelhas. A Avó arranjou uns canecos para levarem as rações e tudo era tratado com tal esmero que nunca mais necessitámos de comprar ovos, carne ou leite, porque a quinta imaginária dava tudo em abundância!

Mas...

Como o que é bom acaba depressa, os dias e semanas passaram a correr e as Pipoquinhas regressaram a suas casas. Por sua vez, o silêncio, a arrumação e a monotonia regressaram à Toca. Ficou-me o encargo de cuidar da quinta imaginária o que procuro fazer e só tenho um pequeno problema. Cada vaca, cada cavalo, cada galinha ou ovelha tinham um nome. E eu esqueci-me de os apontar. E eles só comem e bebem se forem chamados um a um... 

Saite? Maique? Laique? Era algo assim...

E agora? 

Para as próximas férias prometo tomar melhor nota do recado, minhas queridas agricultoras. Ah! E sinto também muita falta da nossa despedida em coro antes de irmos todos à cama, inventada ou copiada de uma série de desenhos animados pela nossa compincha Marianita:

- Escuduuuuu...

Saudades vossas, meus amores!

Sniffff...

José Coelho
Férias grandes de 2020