quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Assim as irei recordar sempre

Algures, na primeira metade da década de 80 do Séc XX

Revisitando as muitas memórias visuais que guardo em formato digital encontrei por acaso esta foto dos dois primeiros grandes amores da minha vida. Sentadas na varanda do quintal - onde é hoje a nossa sala de jantar - da casa que era do meu pai e agora é minha, em primeiro plano a Mãe Florinda sentada na sua cadeira de "buinho" provavelmente a tratar do almoço e a Avó Amélia sua mãe, já viúva do Avô José Lourenço a conversar com ela, sentada no banco de alvenaria do alpendre. 

No canto superior direito da imagem pode ainda ver-se a vizinha Dionísia à conversa com as duas, encostada no muro do quintal, que faz paredes meias com o nosso, ainda hoje. Família unida e vizinhos-quase-família são riquezas atualmente difíceis de encontrar, pese embora o facto de na minha rua ainda existirem desses bons vizinhos à antiga. Os tempos são outros e o desapego entre as pessoas, seja nas famílias, seja na maioria das outras, é quase absoluto. Tempos bons eram aqueles, sim senhor. Gente humilde, trabalhadora, simples, na sua grande maioria analfabeta, mas profundamente humana e educada, em que os filhos seguiam automaticamente os princípios aprendidos dos pais e avós, em que os vizinhos se ajudavam, se estimavam e se respeitavam.

Hoje vivemos quase todos voltados para dentro, metidos em nós próprios, mudos, quedos e indiferentes aos outros. "Os velhos" como são considerados os pais e os avós à medida que as suas idades e capacidades avançam e enfraquecem, são "armazenados" primeiro num Centro de Dia que mais não é do que a antecâmara do Lar onde irão passar o resto dos seus dias, esquecidos por quase toda a sua família. Já entre vizinhos, salvo raríssimas excepções porque ainda as há,  pouco ou nada resta daquelas amizades antigas. Assim vamos ficando isolados de quase tudo. De afetos e de atenções. Porque, diz-se cómodamente, para que não sobre qualquer remorso, que isso já não se usa.

Modernices!

Beijinho Mãe, beijinho Avó, beijinho vizinha Dionísia. Guardo, com muito carinho no meu coração a vossa memória e tudo o que aprendi convosco, mesmo passados estes anos todos.

Até já.

José Coelho