Ao regressar a casa três longos anos depois com a situação militar resolvida, trazia na bagagem o sonho de ingressar na CP, nos CTT ou num qualquer outro daqueles empregos que
antes de partir em 1971 eram possibilidades reais de um futuro melhor. Porém, ao regressar em 1974, todos eles se tinham transformado em cravos vermelhos enfiados nas espingardas, em "grândolas vilas morenas" e em “gaivotas
que voavam, voavam” mas que não davam trabalho a ninguém.
Lembro-me
dos excessos que vi e ouvi.
Lembro-me
de como a estupidez, a ignorância, quiçá a ganância de alcançar mundos e
fundos, tornaram algumas pessoas iletradas e quase analfabetas em ridículos
oradores, em dirigentes de facções partidárias, em sindicalistas ferrenhos e outras coisas mais.
Exatamente
como escrevi no meu texto anterior onde reconheci não ter formação académica para entender
conscientemente o que é o comunismo, o socialismo, a social democracia, a democracia-cristã, ou mesmo o que são a extrema direita ou a extrema esquerda,
assim continuo praticamente hoje, todos estes anos depois.
É
que no currículo da “universidade da vida” em que me formei, não havia “cadeiras” político-partidárias. Só
de trabalho, trabalho e mais trabalho. E cada uma daquelas que executei posso
garanti-lo de cara levantada, foram concluídas com empenho, com seriedade, disciplina, honra, integridade moral,
respeito, e, acima de tudo, com o valor que mais prezo na vida:
A Lealdade.
Então, se diz que não sabe de política, como vota?
Perguntar-se-ão todos vós!
Fácil...
Voto
convictamente pelas pessoas que fazem parte das listas cujo programa e perfil me
convencem, sejam de que partido forem. Nas autárquicas, nas legislativas, nas
presidenciais ou nas europeias. Tenho apanhado grandes desilusões é verdade,
mas tem sido por esses princípios que me oriento de muito boa fé.
E assim
continuarei a fazê-lo.
Não
alimento, nunca alimentei ou irei alimentar ódios alheios, sejam eles de quem,
ou contra quem, sejam. Porque me prezo de ser fiel aos meus
princípios e porque entendo que viver em liberdade e em democracia não confere a ninguém direito ao desrespeito, à maledicência, ao despudor opinativo, muito menos se causados por normais e naturais diferenças de opinião ou opção partidária.
Jamais
seria capaz de prometer algo, sem ter a certeza de o poder cumprir.
Jamais
eu diria fosse o que fosse contra a honra e bom nome de qualquer adversário apenas para angariar simpatias, votos, ou
conseguir “tachos” para mim ou para os meus familiares.
Jamais
eu seria capaz de mentir à toa só para ser simpático e alcançar proveitos.
Jamais.
Também
não gosto de almoços, jantares e outros eventos que supostamente deveriam
ser de convívio e confraternização entre as pessoas mas que frequentemente descambam para lavandaria de roupa suja, dando origem a excessos de linguagem
de toda a ordem, porquanto entendo que não há melhor culto ou motivo para se
organizar uma boa “comezaina” do que aquele que reúne à volta de uma mesa a nossa Família. Avós, pais, filhos, irmãos, tios e primos, ou, porque não, até alguns daqueles raros
mas ainda existentes amigos verdadeiros.
Quanto
à roupa suja, cada um que lave a sua. Porque não há ninguém que não precise de a lavar. Quem somos nós para julgar ou dar
palpites na vida dos outros?
Muitas vezes quem mais fala é quem mais tem para que si se diga.
Só que, decerto, não tem espelhos em casa!
Ao contrário de muitos que falam, falam, falam mas não dizem nada que se aproveite, já dei o meu contributo para a Causa Pública, empenhei-me o quanto foi necessário quando e
onde foi preciso no tempo devido. Perguntem, investiguem se quiserem, a quantidade e variedade
imensa de processos que deram entrada nos tribunais de Nisa, de Portalegre, de
Castelo de Vide para garantir a paz e tranquilidade públicas, bem
como a integridade de bens públicos e privados nas localidades onde
desempenhei funções.
Perguntem
também à minha esposa e aos meus filhos quantos dias e noites passaram sozinhos
em casa sem a minha companhia em virtude da minha presença quase permanente nas
ruas onde era necessária, para executar as minhas funções e ao mesmo tempo dar exemplo aos meus
subordinados, no cabal desempenho das nossas obrigações profissionais. Com visíveis benefícios para a população que servíamos, mas com claros e evidentes prejuízos de ordem familiar para mim, sempre.
Fiel
aos meus princípios, assim irei continuar provavelmente enquanto viver. Mas
vou também decerto continuar a votar porque acredito que aqueles que aceitam
fazer parte das diversas listas partidárias o
fazem de boa fé e com as melhores intenções de contribuir para o bem comum.
E,
já agora, se houver alguém que queira dar-me alguma formação sobre as diversas ideologias políticas vigentes na nossa Assembleia da
República, eu “matriculo-me” imediatamente. Porque, como dizia o meu velho e querido pai, "aprender até morrer"...
José Coelho