Ninho da carriça na trepadeira da varanda da Toca dos Coelhos
Foto Pedro Coelho
Não sei porquê, a
minha casa é pouso favorito de toda a espécie de passarada desde que cá moro.
As carriças fizeram ninho anos a fio em dois locais distintos. No alpendre do forno do
quintal antes de ele ter o portão de ferro que tem hoje na entrada e na trepadeira da
varanda entre o emaranhado de folhas e caules. Tenho algumas fotos que o atestam.
Os pintassilgos, um ano até fizeram o seu na roseira trepadeira da frontaria da casa, mas
todos, todos os anos, fazem mais do que um na latada do quintal.
Por sua vez os verdelhões preferem a solidez
das oliveiras.
Também
tenho de hóspedes um casal de melros que vem todas as noites dormir na varanda
do primeiro andar. Um deles, não sei se o macho se a fêmea, dorme sobre o
braço da lanterna do alpendre. O outro dorme no parapeito de uma das janelas
laterais da casa de banho, comodamente instalados e resguardados. Isto
acontece há três ou quatro anos, seguramente.
Sempre
que necessitamos lá ir depois de anoitecer, lá encontramos os dois, provavelmente
para fugirem do frio no inverno e do calor no verão. Nunca os enxotámos, pelo
contrário, tentámos sempre incomodar quanto menos melhor. Assim que sentem a porta a abrir quando nós invadimos
o seu dormitório, esvoaçam para o cume do telhado em frente e regressam imediatamente à varanda, após sairmos.
Há
dois anos, uma cegonha decidiu que uma das chaminés da casa era um
excelente local para nidificar. Não teve sorte porque eu não deixei e vigiei-a
para a espantar batendo tampas de tachos cada vez que ela ali pousava com paus
no bico. O telhado em volta da chaminé já parecia, entretanto, o estaleiro da lenha do meu
amigo João Picado. Ná… Cegonhas não. Gosto delas, respeito-as, mas fazem demasiado
lixo, danificam com ele os telhados e eu não sou rico.
Na
passada primavera, foram os pardais. Outra dor de cabeça e uma batalha dura de
vencer, porque eles são ainda mais teimosos que eu. Onde haviam estes atrevidos inquilinos de imaginar
construir o ninho nesse ano? Na parte de trás do motor de um dos ares condicionados,
aproveitando o espaço estreito e o apoio dos tubos que ligam a máquina ao ventilador do
quarto. Também não deixei, porque as palhas infiltradas na grelha do motor
podiam danificar o aparelho. Mas tantas vezes o derrubei, como eles voltavam a
tentar.
Até
que um dia desistiram.
Ou pensei eu que eles tinham desistido!
Por
essa altura o esquentador da cozinha que simultaneamente serve a água quente
às duas casas de banho do rés-do-chão, começou a deixar de funcionar
regularmente como funcionara até então. Apagava-se subitamente. E como possui um
sensor preventivo que desliga o aparelho automaticamente quando se acumulam gases tóxicos à sua volta, pensei
que seria isso. E vá de abrir a porta da cozinha para arejar o espaço, até
que, intrigado, um dia lembrei-me de ir dar uma espreitadela na boca do tubo exaustor do mesmo.
E…
Eureka!
Lá
estava a causa. Os ditos cujos pardais teimosos tinham lá metido um amontoado tal de palhas para
fazerem o ninho, que quase entupiram o tubo. Devem-no ter feito quando fomos aos Açores e o esquentador não funcionou durante uns dias, abandonando-o imediatamente
quando levaram com os gases e os calores da combustão do gás, assim que regressámos a casa. Mas a "rolha" de feno ficou lá, a impedir o correto funcionamento do aparelho.
É preciso
ter lata!
E esperteza...
- Não nos deixas fazer a casa no ar condicionado, fazemos neste tubo onde tu não vês…
Tirei o projeto falhado de ninho e coloquei uma rede na boca do tubo para que os meninos não repitam a gracinha.
- Não nos deixas fazer a casa no ar condicionado, fazemos neste tubo onde tu não vês…
Tirei o projeto falhado de ninho e coloquei uma rede na boca do tubo para que os meninos não repitam a gracinha.
Agora resta-me aguardar para ver onde será a próxima tentativa, porque aposto que vai haver.
Devo confessar contudo que, apesar de todos estes contratempos, adoro indiscriminadamente todos estes meus inquilinos, mesmo quando me deixam as hortaliças do quintal depenicadas de tal modo que as suas folhas mais se parecem aos alinhavados de Nisa do que a couves para caldo verde.
Haja Deus, porque todos precisamos de comer para viver...
José Coelho
José Coelho