Foto by José Coelho
Desassossego
Saio é tardinha vou caminhando e vejo,
cheio de balsas e giestas, o montado
e a brisa morna do meu Norte Alentejo,
traz no seu sopro o leve balir do gado.
Subo a um cerro, sento-me no seu cume,
rodeado de paisagem e de imponência,
estala o restolho como lenha a arder no lume,
estala o restolho como lenha a arder no lume,
à minha volta só o abandono é evidência.
Ainda cá moro mas tantos já se foram,
minha Beirã embutida em cancho agreste,
minha Beirã embutida em cancho agreste,
têm saudades todos quantos te adoram,
por tão boa hospitalidade que lhes deste.
Espreita ao longe de Castela a serrania,
entre fragas e barreiras corre o Sever,
marcando a raia serpenteia a férrea via,
fonte de vida que o progresso fez morrer.
Se o grito do silêncio dói no ouvido,
o abandono e solidão esmagam o peito,
o piar do velho mocho soa a gemido,
até no rouxinol o trinar tem outro jeito.
Sem ninguém que deles trate agora,
cobrem as silvas pomares e olivais,
enferrujados os alcatruzes da nora,
jazem inertes e já não regarão mais.
Que progresso foi este que matou,
tudo quanto na minha terra havia bom?
Pouco trouxe, pouco fez e só deixou,
do silêncio e abandono, o triste som.
José Coelho – Outubro 2016
(Retocado - Junho 2018)