terça-feira, 23 de agosto de 2022

Amar e/ou querer

Lírio silvestre "estrela de belém" - Foto José Coelho
 

- Amo-te, disse o Pequeno Príncipe.

- Eu também te quero, disse a rosa.

- Não é a mesma coisa, respondeu o Pequeno Príncipe.

Querer é tomar posse de algo, de alguém. É olhar nos outros aquilo que pode suprir as nossas necessidades pessoais de carinho, de companheirismo.

Querer é desejar o que não é nosso, é possuir ou desejar algo que nos preencha porque naquele momento nos falta algo.

Amor é desejar o melhor para o outro, mesmo que ele tenha aspirações diferentes das nossas.

Amor é permitir que a outra pessoa seja feliz, mesmo que o caminho dela seja diferente do nosso. É um sentimento altruísta que vem de um dom de si mesmo, é dar-se inteiramente do seu coração.

Quando amamos, damos sem pedir nada em troca, pelo simples e puro prazer de dar. Mas também é certo que este dom, este dom de si mesmo, completamente altruísta, só é dado quando alguém sabe. Só podemos amar o que sabemos, porque amar é jogar no vazio, confiar na vida e na alma. A alma não é comprada nem vendida. E saber é saber tudo sobre você, as suas alegrias, a sua paz, mas também sobre as suas decepções, as suas lutas, os seus erros. Porque o amor transcende argumentos, lutas e erros, o amor não é apenas para os momentos de alegria.

O amor é a confiança absoluta de que, aconteça o que acontecer, estarás sempre lá. Não porque deves algo, não por possessão egoísta, mas por estares lá, em companhia silenciosa.

Amar é saber que o tempo não vai mudar nada, nem as suas tempestades, nem os seus invernos.

Amar é dar a alguém um lugar no coração para ficar como pai, como mãe, como filho, ou como amigo, e saber que no coração dele também existe um lugar para mim.

Dar amor não esgota o amor, mas aumenta-o.

A forma de dar amor é abrir o coração e deixar-se amar.

- Eu entendi, disse a rosa.

- Não procure entender o amor, viva-o!  Disse o Pequeno Príncipe.

 

Antoine de Saint-Exupéry