Mais um dos meus pores do sol pelos campos da Beirã
Alentejo
Folheia-se o caderno e eis o
sul
E o sul é a palavra. E a
palavra
Desdobra-se
No espaço com suas letras de
Solstício e de solfejo
Além de ti
Além do Tejo.
Verás o rio e talvez o azul
Não o de Mallarmé : soma de
branco e de vazio
Mas aquela grande linha onde
o abstracto
Começa lentamente a ser o
Sul.
Outro é o tempo
Outra a medida.
Tão grande a página
Tão curta a escrita
Entre o achigã e a perdiz
Entre o chaparro e o choupo
Tanto país
E tão pouco
Solidão é companheira
E de senhor são seus modos
Rei do céu de todos
E de chão nenhum
À sombra de uma azinheira
Há sempre sombra para mais um
Na brancura da cal o traço
azul
Alentejo é a última utopia
Todas as aves partem para o
sul
Todas as aves : como a
poesia.
Manuel Alegre