O Joaquim Eusébio e a Marie Andrée em nossa casa
Foto José Coelho - 04 Setembro'18
Não é de modo nenhum vulgar. Não é mesmo já quase possível, nos tempos que correm, conservar intacta uma amizade assim, durante mais de 60 anos. Há felizmente excepções. Raras mas reais. E nós somos a prova disso. O Joaquim Eusébio e eu somos amigos desde os distantes tempos da nossa escola primária nos idos de 50, teria eu 5/6 anos e ele 6/7. Se naquele tempo a diferença de idades não se notava nada, hoje nota-se menos ainda. Seguimos, naturalmente, percursos de vida diferentes, mas o companheirismo que teve como alicerce as austeras aulas da senhora professora Clarisse Quezada, manteve-se intocado através do muito tempo e da ainda maior distância.
O Joaquim alcançou, por seu elevado mérito, o estatuto de professor e doutor, sem nunca, contudo, abdicar da sua louvável simplicidade, do seu distinto modo de estar na vida. Continuou - e continua a ser - o mesmo amigo discreto, apesar de culto e famoso. Na parte que a mim diz respeito alcancei também o que pude, embora com pouco mais habilitações do que aquelas que tinha quando éramos miúdos. E continuamos, passadas mais de seis décadas, a ser os amigos leais que já éramos naquele tempo. Mudámos de fisionomia porque a idade não perdoa mas não mudámos a forma de estar nem de sentir, continuando ambos a defender aqueles valores e princípios que nos foram transmitidos por quem nos educou.
Ausente de Portugal por vicissitudes da vida que o obrigaram a optar por isso, vive, há muitos anos, noutro continente. Mas nunca esqueceu a "nossa" Beirã, muito particularmente o "seu" Carneireiro, um pequeno paraíso tranquilo nos arredores da aldeia e também, para além de mim, alguns outros velhos amigos e amigas que o fazemos regressar 2 ou 3 vezes por ano, sozinho, como veio na primavera, ou com a sua Marie Andrée, como sucedeu agora. Juntámo-nos primeiro em sua casa e depois na minha em fraterno convívio, a celebrar a amizade. À moda antiga, em família, conversando, rindo, petiscando.
Embora longe, as novas tecnologias globais de comunicação permitem que nos vejamos e conversemos em directo, de vez em quando, para pormos os nossos assuntos em dia. Mas não há nada como estarmos próximos e em amena cavaqueira a reviver tempos passados que de repente parecem ter sido ontem, tal é a nitidez com que acodem à nossa memória, por exemplo, aquela vez que eu, com apenas 5 anos, fui protagonista de uma peça de teatro infantil e tive que vestir umas roupas do Joaquim Eusébio que a mãe dele cedeu à minha, a título de empréstimo, para aquela ocasião. Tantas vezes ouvi a minha mãe recordar e falar nisso.
As boas recordações são ainda maiores que o tamanho da nossa amizade. Esta manhã, a meio da rega das nabiças que são a minha primeira sementeira da horta de outono/inverno no quintal, fui chamado a despedir-me do Joaquim e da Marie. Estavam de partida. E não foram sem se despedir. Obrigado aos dois. Façam muito boa viagem, levem convosco o nosso carinho e amizade, voltem em breve, ou, melhor dizendo, voltem logo que vos seja possível. Somos muito gratos pela vossa simpatia, consideração e amizade.
Au revoir...