Foto by José Coelho
O resto é (mesmo) paisagem...
Ao
sobrevoar, há dias, os céus de Lisboa e tendo a sorte de ocupar um lugar junto
a uma vigia da aeronave, tive o raro privilégio, dada a luminosidade daquela
esplêndida manhã, de desfrutar da magnífica paisagem que se vislumbra lá do
alto, enquanto ganhávamos altitude na nossa rota rumo ao Funchal.
E
não pude deixar de compreender, assim de uma assentada só e sem mais
explicações, porque é que o meu concelho de Marvão e as suas aldeias estão
semi-vazias de gente, com inúmeras casas fechadas e sem perspectivas de futuro.
Não vale a pena tapar o sol com a peneira.
Falo
de Marvão que é o profundo Portugal onde moro, mas sei que toda a faixa
interior que vai de Bragança a Vila Real de Santo António enferma do mesmo mal.
E
porquê? Fácil!
Porque,
de Abrantes até ao Oceano Atlântico, as vilas e cidades pegam quase umas nas
outras e é visto assim, lá do alto, que isso melhor se percebe. Daquela
janelita do avião, parecia uma só cidade, até onde o meu olhar alcançava, numa
extensão incalculável de litoral, até que por fim a altitude não permitiu que
se vislumbrasse mais do que um maravilhoso e único tapete de nuvens brancas e
aparentemente fofas como algodão, mesmo por baixo de nós.
É
completamente impensável já reverter tal situação. Somos poucos por cá já hoje.
Seremos cada vez menos, não o duvido, no futuro. Vão restando alguns jovens
resistentes e os reformados como eu que dão ainda alguma vida às aldeias e
criam alguns empregos nessa nova indústria que são os lares e centros de dia.
Quando forem actualizados os censos, aposto que seremos menos 30 ou 40% de
cidadãos marvanenses, do que os contabilizados na última vez...
No
litoral, pelo contrário, há demasiada gente. Mas ali há também oferta de quase
tudo o que as famílias necessitam. Eu próprio já pouco conto com os meios
daqui. Quase tudo o que preciso ali encontro com precisão, eficiência e rapidez
e está à distância de duas horas de viagem no meu velhinho Corsa. Chatices para
quê? Bairrismo? Uma ova! Isso era dantes.
Na
terra do bom viver, faz sempre o que vires fazer. E eu assim faço mesmo. Santos
de casa não fazem milagres e os de Marvão então, é um descalabro. Uma vergonha.
Aqui só se cuida e trata bem quem de cá não é. Turistas? Não! Modernices...
Um
dos meus filhos já se foi de vez e diz sem papas na língua que não quer para cá
voltar. O outro, não sei bem ainda, mas provavelmente seguirá o mesmo caminho,
porque aqui só nos conhecem e dão alguma atenção em época de eleições. Passados
os votos... Quem és tu?
Uma
vergonha. Porém se calhar também só temos o que merecemos, porque continuamos
estupidamente a votar neles. E resmungamos, resmungamos, mas lá vamos andando e
achando que talvez as coisas mudem ou melhorem...
Porém,
velho que também já vou sendo, já deduzi há algum tempo que o melhor é
esperarmos sentados, para não cansar tanto as pernas!
E,
cada vez mais, aquela conhecida máxima, oriunda do (algo já saudoso) tempo do
António de Santa Comba, vai sendo de novo uma realidade nua e crua...
Portugal
é Lisboa e o resto...
Quando
viajarem de avião olhem bem cá para baixo e com certeza verão dissipadas as
vossas dúvidas. Se por acaso as tiverem ainda.
José Coelho in "http://tocadoscoelhosbeira.blogspot.com"
Março de 2010