quarta-feira, 23 de maio de 2018

Excertos...


Eucaristia na igreja matriz de Nisa 
Imagem que encontrei na net

(…)

Sem saber para onde me virar e como muitas vezes fiz ao longo da minha vida sempre que disso tive necessidade, procurei a ajuda do divino. Num dia e hora completamente aleatórios e sem prévia programação, dirigi-me à igreja matriz para me recolher em silêncio na retemperadora paz do seu interior em busca de alguma transcendente inspiração que me aquietasse o espírito e indicasse um caminho. Entrei quando estava a começar uma missa e a celebração envolvia atividades com crianças da catequese.

Deixei-me ficar ao fundo da igreja discretamente rodeado pela assembleia anónima com a deliberada intenção de passar despercebido mas logo a minha comadre Natária, (madrinha de crisma do meu filho Manel) uma das mais competentes e ativas colaboradoras daquela comunidade há muitos anos, reparou em mim e foi ter comigo para me dizer:

- Ainda bem que aqui estás, compadre. Queres ir fazer uma das leituras da missa?

- Sim, posso fazer, respondi sem pensar duas vezes, porque também na minha paróquia-mãe sempre colaborei nessas atividades quando me foi solicitado.

E assim sem nada ter sido preconcebido estava já a ser parte interveniente naquela celebração eucarística que nem sabia estar prestes a começar quando me dirigi à igreja. Senti logo naquele convite um sinal de acolhimento do Senhor. É muito difícil traduzir por palavras esses sentimentos íntimos da nossa alma, mas dir-vos-ei que à luz da minha fé senti assim como que um “fizeste bem vir procurar-Me”.

Presunção e água benta cada um toma a que quer diz a sabedoria popular, mas sem que me ocorra melhor forma de o explicar, senti efetivamente que aquele convite para ir fazer uma das leituras mais não era que um invisível sinal de boas vindas. A igreja estava repleta de gente, porque fui eu o escolhido?

A celebração começou.

Fui fazer a leitura que me tinha sido indicada e voltei discretamente de novo para o meu lugar ao fundo do templo. A dado momento durante o ofertório realizado pelas crianças, enquanto uma delas estendia o cestinho para recolher as ofertas, outra criança oferecia a cada pessoa uma pequena tira de papel que trazia escrita uma frase de conteúdo litúrgico. E lá veio uma delas estender-me o cesto onde coloquei a minha oferta enquanto a outra me entregava “o recado” numa tirinha de papel que aceitei e guardei (até hoje) mas não sem primeiro ler a curta mensagem nele contida e que dizia assim:


Fiquei a olhar com alguma surpresa para o minúsculo papel que me pareceu ser outro sinal, só que desta vez bastante mais óbvio e visível. Involuntariamente estremeci, sentindo que me invadia um sentimento da mais profunda gratidão e apenas consegui murmurar um “bendito sejas Senhor”.

Quando saí da igreja pouco depois o meu coração navegava num mar de serenidade porque ali fora abençoado pela inabalável certeza de que as minhas súplicas tinham sido atendidas. E aquele papelito que levava no bolso era um prenúncio de esperança que ia muito além do que alguma vez imaginara encontrar.

(…)

Do livro Histórias do Cota