Eucaristia na igreja matriz de Nisa
Imagem que encontrei na net
(…)
Sem
saber para onde me virar e como muitas vezes fiz ao longo da minha vida sempre
que disso tive necessidade, procurei a ajuda do divino. Num dia e hora
completamente aleatórios e sem prévia programação, dirigi-me à igreja matriz
para me recolher em silêncio na retemperadora paz do seu interior em busca de
alguma transcendente inspiração que me aquietasse o espírito e indicasse um
caminho. Entrei quando estava a começar uma missa e a celebração envolvia
atividades com crianças da catequese.
Deixei-me
ficar ao fundo da igreja discretamente rodeado pela assembleia anónima com a deliberada intenção de passar despercebido mas logo a minha comadre Natária, (madrinha de crisma do meu filho Manel) uma das
mais competentes e ativas colaboradoras daquela comunidade há muitos anos,
reparou em mim e foi ter comigo para me dizer:
-
Ainda bem que aqui estás, compadre. Queres ir fazer uma das leituras da missa?
-
Sim, posso fazer, respondi sem pensar duas vezes, porque também na minha
paróquia-mãe sempre colaborei nessas atividades quando me foi solicitado.
E
assim sem nada ter sido preconcebido estava já a ser parte interveniente
naquela celebração eucarística que nem sabia estar prestes a começar quando me
dirigi à igreja. Senti logo naquele convite um sinal de acolhimento do Senhor.
É muito difícil traduzir por palavras esses sentimentos íntimos da nossa alma,
mas dir-vos-ei que à luz da minha fé senti assim como que um “fizeste bem vir
procurar-Me”.
Presunção
e água benta cada um toma a que quer diz a sabedoria popular, mas sem que me
ocorra melhor forma de o explicar, senti efetivamente que aquele convite para
ir fazer uma das leituras mais não era que um invisível sinal de boas vindas. A
igreja estava repleta de gente, porque fui eu o escolhido?
A
celebração começou.
Fui
fazer a leitura que me tinha sido indicada e voltei discretamente de novo para
o meu lugar ao fundo do templo. A dado momento durante o ofertório realizado
pelas crianças, enquanto uma delas estendia o cestinho para recolher as ofertas,
outra criança oferecia a cada pessoa uma pequena tira de papel que trazia
escrita uma frase de conteúdo litúrgico. E lá veio uma delas estender-me o
cesto onde coloquei a minha oferta enquanto a outra me entregava “o recado”
numa tirinha de papel que aceitei e guardei (até hoje) mas não sem primeiro ler a curta
mensagem nele contida e que dizia assim:
Fiquei
a olhar com alguma surpresa para o minúsculo papel que me pareceu ser outro
sinal, só que desta vez bastante mais óbvio e visível. Involuntariamente
estremeci, sentindo que me invadia um sentimento da mais profunda gratidão e apenas
consegui murmurar um “bendito sejas Senhor”.
Quando
saí da igreja pouco depois o meu coração navegava num mar de serenidade porque
ali fora abençoado pela inabalável certeza de que as minhas súplicas tinham
sido atendidas. E aquele papelito que levava no bolso era um prenúncio de
esperança que ia muito além do que alguma vez imaginara encontrar.
(…)
Do livro Histórias do Cota