quarta-feira, 30 de abril de 2025

JESUS LE CHRIST

E que mal tem alimentar um pouco o espírito?

A lei da reciprocidade

Foto José Coelho em 30. 04. 2025

Não gostares da minha cara, é um direito que te assiste. Exatamente igual ao que me assiste a mim, 
de não me importar com isso..

Um dos meus escritores favoritos...

Muro que cerca o povoado alto-medieval do Monte Velho - Beirã
Foto Pedro Coelho

"Há muros que separam nações, há muros que dividem pobres e ricos. Mas não há hoje no mundo muro que separe os que têm medo dos que não têm medo. Sob as mesmas nuvens cinzentas vivemos todos nós, do sul e do norte, do ocidente e do oriente. Citarei Eduardo Galeano acerca disso que é o medo global: “Os que trabalham têm medo de perder o trabalho. Os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho. Quando não têm medo da fome, têm medo da comida. Os civis têm medo dos militares, os militares têm medo da falta de armas, as armas têm medo da falta de guerras.” E, se calhar, acrescento agora eu, há quem tenha medo que o medo acabe."

Mia Couto

domingo, 27 de abril de 2025

Pode tardar, mas não falha


Porque Deus é bom, permite-nos plantar tudo o que quisermos. E porque Deus é justo, iremos colher sempre o fruto daquilo que plantámos.

Foto Maria Coelho

sexta-feira, 25 de abril de 2025

Estados d'alma



Não sou dado a depressões pese embora muitas vezes a minha fisionomia possa fazer parecer o contrário. Tal não corresponde, porém, à realidade. Mas não corresponde mesmo! Quando muito andarei melancólico e não consigo – nem quero – disfarçar.

Nada na minha vida foi fácil de alcançar ao longo do caminho que já levo percorrido, mas sem dúvida os últimos anos foram os piores. Motivos? Nem vale a pena enunciá-los. Já passaram e a vida continua. 

Tem mesmo de continuar.

Não é, porém, liminarmente fácil menorizar tudo o que nos trouxe dor ou amargura e seguir cantando. É preciso tempo, paz, sossego e introspeção. A pessoa necessita ficar a sós consigo mesma para tentar desatar os nós que inevitavelmente se vão formando no seu íntimo.

Por isso mesmo é um caminho que tem de se percorrer a sós. Obviamente também houve, entre um tombo e outro, alguns intervalos felizes mas que não apagaram as feridas da alma. A cura, se a houver, só o passar do tempo trará. Vou por isso vivendo um dia de cada vez sem pressa e sem grandes projetos, sonhos ou ambições.

Li algures que "uma pessoa morre quando deixa de sonhar, de acreditar e de lutar". Mas lemos tantas coisas sonantes e que nós, quando tudo está bem conosco, achamos serem verdade.

O pior é quando inesperadamente a vida nos trai e nos atira contra a parede sem que percebamos porquê, que mal fizemos para sermos assim maltratados. O nosso mundo e tudo aquilo em que acreditávamos desaba sobre nós, esmaga-nos, sufoca-nos, deixa-nos sem chão.

Ficamos tão atordoados que levamos meses com a cabeça zonza sem perceber muito bem o que, ou por que, aconteceu. Coisas vindas das mais inimagináveis origens. Mas como já disse não quero falar delas. 

Quanto mais se mexe nas feridas mais elas doem.

E sempre fui assim, um pouco dado à melancolia. 

Mas deixemos tudo isso para lá. 

São coisas minhas. 

Ou, melhor dizendo, são estados d'alma pelos que já todos passámos alguma vez...

José Coelho

quinta-feira, 24 de abril de 2025

25 de abril - 51º Aniversário

**Painel de azulejos na gare da Estação da Beirã**
(Quando ainda passavam comboios)

Só temos uma vida


Vou dedicar-me ao que resta da minha vida sem pressas nem desculpas. Não sei quanto tempo terei ainda mas tenciono gastá-lo sendo fiel a mim mesmo, não permitindo que nada corrompa a minha paz. Vou abrir uma garrafa de vinho sem nenhum motivo específico, mimar-me sem esperar nada de ninguém e caminhar sem olhar para trás. A felicidade acontece quando deixamos de a procurar nos outros e a encontramos em nós mesmos. A vida não se repete. E eu pretendo vivê-la.

Meryl Streep

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Pensamento do dia


 De tanto tentar, a gente cansa-se. 
E de tanto se cansar, a gente desiste.

Foto José Coelho

terça-feira, 22 de abril de 2025

Família a crescer (republicação)

* Foto de 1987 na Escola Primária de Nisa *


Foi por meados do verão de 1980 que o quarto elemento da nossa família anunciou que estava a caminho. Que coisa melhor pode acontecer a um casal, do que essa bênção? Mais um filho. Que maravilha! Menino ou menina porque não fizemos nunca escolhas antecipadas. Viesse o que viesse seria muito bem-vindo. Que tivesse perfeição e saúde era a única coisa que nós pedíamos a Deus.
O serviço era exigente e rigorosíssimo. Não havia facilidades para ninguém. Casa, posto, posto, casa. Nem vagar havia para se estar doente. Uma folga por semana, se pudesse ser, porque o serviço tinha sempre prioridade. Quem lhe calhasse a folga à terça ficava “ad-eternum” a folgar às terças, enquanto os sortudos que lhes calhava o domingo, idem, idem, aspas, aspas.
Tínhamos de fazer 72 horas consecutivas duas a três vezes por mês, porquanto o plantão era de 24 horas de permanência no posto, seguido do apoio ao plantão com outras 24. Para rematar, ao sermos rendidos depois das 48 horas de serviço contínuas, entrávamos de piquete com outras 24 horas, mas já com a benesse de podermos ir almoçar, jantar e dormir para casa, mantendo-se a prontidão para resolver qualquer ocorrência até ao dia seguinte, quando os outros camaradas nos substituíssem.
A comprovar a prioridade tão exagerada como desumana que era dada na GNR ao serviço naquele tempo, vem a propósito referir o facto de o meu filho Pedro ter nascido exatamente num desses dias em que eu entrara às nove da manhã de plantão ao Posto. O parto correra normalmente embora a mãe ficasse bastante combalida porque o gaiato nasceu com mais de quatro quilos e a coitada viu-se e desejou-se para o trazer ao mundo. Em consequência do tamanho e peso anormais, teve de ser metido numa incubadora para ser mantido em vigilância permanente durante os dias que fossem necessários afim de ser monitorizado e despistado algum problema cardíaco ou respiratório.
Só depois seria entregue à mãe.
Eu estava evidentemente feliz mas preocupado com o facto de o menino ter ido para a incubadora pois temia que houvesse algum problema com ele que ainda não fora revelado. E naturalmente desejoso de ir vê-lo, animar a mãe e falar com o médico pediatra para esclarecer as minhas naturais inquietações.
Mas não pude ir porque estava na tal “quarentena” das 72 horas inseparável do posto. O Pedro nasceu a 22 de Abril. Para completar a sorte, no dia 23 saí do serviço de plantão às nove da manhã e entrei a seguir para mais 24 horas de serviço no apoio ao plantão que era exatamente a mesma treta e só mudava o nome.
48 horas batidinhas e seguidas sem tirar aqueles suspensórios de couro horríveis e herdados do III Reich, tal como as espingardas Mauser que usávamos nas patrulhas e ostentavam ainda o monograma da águia alemã sobre a cruz suástica gravado na zona da culatra. Todo o nosso uniforme desse tempo era aliás uma inspiração quase fiel do equipamento militar nazi. Felizmente alguém teve o bom senso e ainda o melhor gosto de mudar e humanizar um pouco mais todo o sistema, porque aquele equipamento nos fazia parecer uma gestapo portuguesa.
Em consequência dessa Santa Escala do Serviço só pude conhecer o meu rapagão quando ele ia já fazer três dias. Valeu-me o camarada Zé Santos, da Ranginha – que Deus o tenha na sua paz – o qual, sabendo o que se estava a passar se ofereceu para ir comigo no seu carro ao hospital de Portalegre às escondidas e sem ninguém saber pois nem sequer podíamos sair da área do Posto sem autorização superior.
Sete anos após o 25 de Abril de 1974, a GNR continuava parada no tempo e igual ao que era antes dele. Parece quase inacreditável, mas é a mais absoluta verdade.
Fui encontrar o meu calmeirão de bebé ainda dentro da incubadora. Colocaram-me uma touca, pantufas e máscara esterilizadas para poder entrar naquela sala cheia de balões de vidro com bebés lá dentro.
E lá estava ele, a chorar que nem um desalmado...
- Deve ter-se assustado com o meu ridículo traje! Pensei feliz.
Como ele gritava a plenos pulmões! Não parecia nada um bebé com problemas de saúde. Parecia sim, um refilão de primeira. A enfermeira veio ao meu encontro e disse-me exatamente isso, que ele era muito refilão e não parava quieto nem calado.
Pouco depois veio também o médico pediatra ter comigo para me informar o motivo de o miúdo ali permanecer. Que era apenas mera precaução em virtude de algum excesso de peso, mas não havia qualquer problema e que fosse para junto da mãe que o bebé já iria ter conosco.
E assim foi.
A minha Manuela é que ainda não se tinha recomposto. Parecia ter sido atropelada por um trator. Era evidente que passara um mau bocado no parto mas, tal como eu, estava muito mais preocupada por lhe terem levado o seu menino, do que com as suas mazelas. Tranquilizei-a, disse-lhe o que o médico me tinha acabado de dizer e não podendo demorar muito mais porque estava ali “clandestino” regressei ao posto mais sereno e feliz.
Garanto-vos uma coisa. Todos estas desumanas barbaridades por que passei formaram no meu carácter uma solene determinação. Sabendo do quanto me custou passar por tantas e tão injustas tropelias, jamais o iria esquecer. Em consequência disso agi sempre exatamente ao contrário nos anos seguintes, quando, já então também comandante, ajudei quanto pude todos os meus dignos subordinados sempre que eles precisavam, colocando-me muitas vezes no seu lugar, assumindo a responsabilidade de os substituir quando eles tinham problemas inesperados que precisavam ir resolver de imediato, sempre pensando para comigo:
- Não farás a outros o que te fizeram a ti…

Parabéns, filho!

Vídeo gravado em agosto 2019 em viagem para o Alto Douro Vinhateiro 

segunda-feira, 21 de abril de 2025

Um Homem Bom

Boa semana


Ser pessoa de verdade nunca saiu de moda. Não é o que vestimos, temos ou sabemos que nos definem, mas sim a forma como tratamos as pessoas.
A educação não se compra, o carácter não se empresta e a humildade não se finge. Têm-se, ou não. Não adianta ter tudo por fora e ser vazio por dentro.
Não adianta ter diplomas na parede e arrogância no olhar. O que fica na memória das pessoas não é o que conquistamos mas sim o bem que fazemos, o respeito que deixamos e a verdade que transportamos no coração. É isso que nos faz grandes.

Desconheço o autor

domingo, 20 de abril de 2025

Da Beirã, para os Beiranenses


Neste Domingo festivo obtivemos a divina graça de merecermos a Eucarista da Ressurreição do Senhor, na Igreja Paroquial de Nossa Senhora do Carmo da Beirã às quatro e meia da tarde. Até o sol, através dos vitrais de uma das janelas voltadas ao poente, resolveu associar-se à nossa alegria e fez um belo resplendor, bem visível em direção do rosto do Senhor Crucificado, do Altar-mor. Fica o registo...

sábado, 19 de abril de 2025

Boas Festas



Para todos nós...

Fui um deles e sinto que continuo a sê-lo

No dia da minha Comunhão Solene - 1963



Irmãos pequenos do vento


Eu e os outros fomos protagonistas de um milagre. Ninguém ainda conseguiu explicar como estamos vivos neste momento… Ninguém encontra uma razão para o facto de termos ultrapassado as fases da infância e da adolescência.

Fazíamos coisas disparatadas sem que alguém nos protegesse. Saíamos em grupo para tomar banho no velho açude, mesmo sem antes termos aprendido a nadar corretamente. Partíamos de bicicleta, sem capacete, para tão longe quanto aguentassem as forças ou a fome. Íamos sem destino. Entrávamos em cavernas e perdíamo-nos lá dentro. Trepávamos muros altos para entrarmos em casas abandonadas, onde estabelecíamos o nosso refúgio. Fazíamos explorações, rasgávamo-nos, sujávamo-nos.

Íamos a pé para a escola, mesmo quando estava a chover, mesmo quando ficava longe.

E lutávamos uns com os outros. Esmurrávamo-nos. Partíamos, por vezes, ossos e dentes. Organizávamos, na mata do castelo, grandes combates, nos quais utilizávamos espadas de madeira que tínhamos construído. Sabíamos bem – por experiência própria, e não apenas porque nos tivessem dito – que uma ferida profunda doía e demorava algum tempo a cicatrizar. Viver, para nós, não podia ser sem correr riscos. Ou éramos de todo inconscientes ou pensávamos que um anjo cuidava de nós.

Não havia um animador que viesse ensinar-nos modos corretos de brincar. Nem organizações que fabricassem para nós formas de ocupação dos tempos livres. Não tínhamos tempos livres. Não sei, aliás, como pudemos sobreviver a tanta atividade.

Não parávamos. Tínhamos apetite: comíamos como cavalos e não ficávamos obesos. O Sol alojava-se em nós e fazia-se cor e saúde.

Inventávamos as nossas brincadeiras e nunca precisámos de comprar jogos caros. Usávamos paus, pedras, velhos pneus, uma corda… Não tivemos jogos electrónicos, 99 canais a cabo, filmes em vídeo, telemóveis, computadores ou internet.

Tivemos  amigos.

Passávamos horas e horas a brincar lá fora com eles. Como não havia os telemóveis, muitas vezes ninguém sabia exatamente onde estávamos. Resolvíamos os nossos problemas. Lidávamos sozinhos com um pneu furado na bicicleta, com um dia de tempestade, com um objeto perdido. Descobríamos a maneira de arranjar uma bola de futebol, de apanhar um grilo, de fazer uma fogueira. Aprendíamos a lidar com cada um dos nossos companheiros, com as nossas capacidades, com as circunstâncias mais variadas.

Crescíamos.

Nem em casa sossegávamos muito, porque tínhamos irmãos.

Os nossos pais ainda não conheciam as novas regras sobre o trabalho infantil. Mas também conseguimos sobreviver ao facto de termos de fazer a cama, cozinhar algumas das nossas refeições, ajudar a pintar a casa, preparar a roupa para vestir no dia seguinte, varrer a sala, lavar a louça.

Fazíamos loucuras. Brincávamos com cães não vacinados, bebíamos todos pela mesma garrafa, secávamos a roupa no corpo. Dávamo-nos com gente pouco recomendável. Pedíamos boleias. Entrávamos em acampamentos de ciganos e tínhamos lá amigos. Aprendíamos coisas com eles.

Mil vezes podíamos ter morrido, mil vezes podíamos ter sido assaltados, mil vezes podíamos ter adoecido gravemente. Mas sempre que superávamos uma dificuldade tornávamo-nos mais fortes, mais capazes de enfrentar o que viesse. Servíamo-nos dos nossos adversários para crescer. A dor tornava-nos resistentes à dor; a necessidade de nos esforçarmos aumentava a nossa força; uma derrota levava a que nos conhecêssemos melhor.

Sobrevivemos. Éramos os irmãos pequenos do vento. Gostávamos de sentir a chuva a escorrer do cabelo para a face.

Desconheço o autor

Precónio Pascal de Sábado d'Aleluia

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Pai, em vossas mãos - M. Luís

SALMO RESPONSORIAL DA PAIXÃO DO SENHOR 
SEXTA-FEIRA SANTA

Solenidades de Quinta-feira Santa


A Missa Crismal é celebrada, geralmente, na manhã de Quinta-Feira Santa, somente na Sé-Catedral de cada Diocese. Por diversas circunstâncias pode ser antecipada e por isso em algumas dioceses é celebrada na Quarta-Feira Santa. Nesta celebração, o bispo rodeado pelo seu presbitério e pelo seu povo, consagra o óleo do santo crisma e benze os óleos dos enfermos e dos catecúmenos, que depois serão usados por toda a diocese, na administração dos vários sacramentos. Os presbíteros renovam ainda, nesta celebração, as promessas sacerdotais que fizeram no dia da sua ordenação.
O nome desta celebração é retirado do óleo do crisma, que neste dia é consagrado.
São abençoados os seguintes óleos:
ÓLEO DO CRISMA
É usado no sacramento da Confirmação (Crisma) quando o cristão é confirmado na graça e no dom do Espírito Santo, para viver como adulto na fé. Este óleo é usado também no sacramento do sacerdócio, para ungir os “escolhidos” que irão trabalhar no anúncio da Palavra de Deus, conduzindo o povo e santificando-o no ministério dos sacramentos.
ÓLEO DOS CATECÚMENOS
Catecúmenos são os que se preparam para receber o Batismo, sejam adultos ou crianças, antes do rito da água. Este óleo significa a libertação do mal, a força de Deus que penetra no catecúmeno, o liberta e prepara para o nascimento pela água e pelo Espírito.
ÓLEO DOS ENFERMOS
É usado no sacramento dos enfermos, conhecido erroneamente como “extrema-unção”. Este óleo significa a força do Espírito de Deus para a provação da doença, para o fortalecimento da pessoa para enfrentar a dor e, inclusive a morte, se for vontade de Deus.

quarta-feira, 16 de abril de 2025

Palavra do dia


Naquele tempo, um dos doze discípulos, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os sumos sacerdotes e disse: “Que me dareis se vos entregar Jesus?” Combinaram, então, trinta moedas de prata. E daí em diante, Judas procurava uma oportunidade para entregar Jesus.

No primeiro dia da festa dos Ázimos, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram: “Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?” Jesus respondeu: “Ide à cidade, procurai certo homem e dizei-lhe: ‘O Mestre manda dizer: o meu tempo está próximo, vou celebrar a Páscoa em tua casa, junto com meus discípulos’”.

Os discípulos fizeram como Jesus mandou e prepararam a Páscoa. Ao cair da tarde, Jesus pôs-se à mesa com os doze discípulos. Enquanto comiam, Jesus disse: “Em verdade eu vos digo, um de vós vai me trair”. Eles ficaram muito tristes e, um por um, começaram a lhe perguntar: “Senhor, será que sou eu? Jesus respondeu: “Quem vai me trair é aquele que comigo põe a mão no prato. O Filho do Homem vai morrer, conforme diz a Escritura a respeito dele. Contudo, ai daquele que trair o Filho do Homem! Seria melhor que nunca tivesse nascido!” Então Judas, o traidor, perguntou: “Mestre, serei eu?” Jesus lhe respondeu: “Tu o dizes”. 

terça-feira, 15 de abril de 2025

Pois...


De nada vale o joelho no chão a quem semeia
maldade quando está de pé...

O culto insubstituível da Família

Foto José Coelho 

Nada fazia mais feliz o senhor meu pai do que ter em seu redor todos os seus. Mulher, filhas, filho, genros e nora, netas e netos, cunhadas e cunhados, sobrinhas e sobrinhos, sogros ou mesmo até alguns primos mais chegados ou mais afastados. Para todos havia um lugarzinho no seu coração. Para todos havia sempre também um lugar na sua casa, à sua volta, à sua - nem sempre farta - mesa ou ao redor do lume na espaçosa lareira alentejana que tinha a nossa cozinha para os serões frios do inverno. 

Já no verão, era na varanda do quintal que tinham lugar as tertúlias familiares, porque o calor convidava a procurar-se ali o fresquinho da noite. Não muito dado a grandes conversas, mimos ou sorrisos, era o senhor meu pai quase sempre portador de um semblante sério, sisudo - como o meu -  a dar assim para o mal encarado às vezes. Mas isso nunca o impediu de ter bom íntimo e de ser capaz de dar a camisa que trazia vestida a quem dela necessitasse mais do que ele.

Recordo particularmente, como se tivessem acontecido ontem, muitos dos seus hábitos de líder da família. Por exemplo a infalível hora de ir deitar-se, fosse noite de natal, fosse outra noite qualquer de qualquer dia da semana e estivesse quem estivesse cá em casa. Nove horas dadas no sino da torre da igreja, verão ou inverno, lá ia ele pra cama com o seu "té amanhã". 

Mas no hábito de sair da cama era também pontual mal rompia o dia. Certinho como um relógio. Obviamente nós ficávamos a pé até às tantas porque quando nos juntávamos todos a euforia era tanta que o sono tardava e a pressa de nos irmos deitar era nenhuma. Tantas vezes, depois de ter dormido o primeiro sono da noite completamente indiferente ao reboliço que nós fazíamos na cozinha, o meu pai aparecia a espreitar à porta para nos perguntar naquela sua pronúncia da "terra do bonaco" que nunca perdeu: 

- Mas vocês ind'aí tã?

Herdei dele a apetência para reunir a família regularmente à minha volta cá em casa. Quantos mais, melhor. Nada me dá mais prazer, apesar de os meus mais de setenta anos já me irem retirando alguma da antiga ligeireza. Filhos, noras, netas, irmãs ou sobrinhos e algumas vezes também um ou outro bom amigo com a sua respetiva família, embora sejamos por estas bandas cada vez menos, quer da hoste familiar, quer das amizades. 

Continua contudo a ser uma satisfação quando na agenda de compromissos dos poucos que ainda restamos, fica marcado o "tal dia" em que vai sair um arroz de pato, uma favada com chouriço, umas sopas de cachola, um pernil assado no forno de lenha, umas migas com toucinho frito ou apenas uma sopa caseira de couves do nosso quintal com suã curtida em sal à moda da Mãe Florinda. 

Normalmente esses "petiscos" mais não são do que um repescar de memórias e sabores que nos ajudam a viajar no tempo e irmos ao encontro daquele passado em que éramos tão felizes e não sabíamos. 

Com os filhos casados, cada um na sua casa longe de nós,  com o falecimento inesperado da irmã e cunhado mais velhos e a debandada da irmã do meio para Inglaterra com os filhos e netos, restamos por aqui só já eu e a minha companheira de quase uma vida inteira a morarmos cá "ao cimo da aldeia" e a irmã caçula Joaquina a morar "na parte de baixo da linha" com o marido, as filhas e um netinho. 

Não é por isso já nada fácil conseguir reunir o nosso clã, o que por vezes me deixa melancólico. Mas tal como diz a Mariza na sua canção "o tempo não para e a gente só repara quando ele já passou". Eu reparo particularmente que a última década da minha vida não passou apenas. Voou. Literalmente. E tantas, mas tantas coisas boas e menos boas aconteceram que definitivamente não sou nem voltarei a ser mais a pessoa que fui.

Vivo hoje sem grandes projetos porque os sonhos também já estão todos sonhados. Um dia de cada vez é quanto me basta, tentando adaptar-me a este tempo, que de tão esquisito se tornou infindável. Na passada Semana Santa e fim de semana de Páscoa reuni à volta de alguns almoços e jantares cá em casa doze adultos e duas crianças. Foi muito bom mesmo. Nos tempos que correm reunir catorze almas em convívio é quase reunir uma multidão. 

As duas crianças eram obviamente as minhas netas Francisca e Mariana, porque a Filipa, estando prestes a atingir a idade adulta, já a conto nesse grupo. Lindas como só elas. E parecem gostar de mim  quase tanto como eu gosto delas. 

Digo quase, porque eu gosto muito mais delas. Mas muito mais. Avô babado apontam algumas pessoas! E se for? São os meus tesourinhos e o melhor antídoto do meu envelhecer. Serão elas também a continuação desta geração num horizonte que não se augura fácil, nem feliz. Pode até ser que melhore, mas tenho algum receio pelo seu futuro, tão grandes e perigosas são as ameaças globais que estamos deixar-lhes de herança. 

Mas... 

É melhor deixar-me de coisas tristes e pensar uma vez mais nos excelentes dias que passei com a minha gente. Foi tão bom! E cumprimos uma vez mais este nosso culto sagrado da Família. Não foi muita mas foi a possível. A que por aqui vai ainda aparecendo e conseguimos reunir de vez em quando...

José Coelho

NOTA: A imagem que ilustra este texto já não é recente. 

domingo, 13 de abril de 2025

Semana Maior



Senhor, fazei de mim instrumento da vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe.
É perdoando que se é perdoado.
E é morrendo que se vive para a vida eterna.”

S. Francisco de Assis 

O apelo da terra-mãe

Tapada da Lagem Alta -Beirã

Percorro, desde que me conheço, estas paisagens. A saltar paredes, a subir ou descer canchos, embrenhado pelos matagais de silvas e giestais na companhia do canto da passarada e do murmúrio do vento. É um mundo muito meu, capaz de apaziguar qualquer desassossego. Tudo o que por lá nos rodeia é harmonia, paz e natureza em estado puro, obra de arte única por nos oferecer em simultâneo música ao vivo, cores incríveis e odores divinos.

Na Primavera o amarelo vistoso das maias das giestas negrais ao desafio com a alvura das maias das giestas alveirinhas e das rendilhadas flores dos pilriteiros – por aqui mais conhecidos por carapeteiros – inundam o ambiente com o inebriante perfume que exalam e para o qual contribui também o abundante rosmaninho, associado a uma infindável variedade de lírios e de muitas outras flores silvestres.
Não há templo mais belo onde nos possamos sentir mais próximos do Criador e parte integrante do Universo.
Foi por aqui que os meus saudosos avós viveram e foram felizes, os meus queridos pais se conheceram e se uniram para o resto das suas vidas. Por estes campos a minha avó, mãe, tias e primas mondaram trigos, sacharam milhos, cantaram quando felizes ou choraram quando tristes, derramando neste chão as gotas do seu suor e cansaço, ou as lágrimas dos seus olhos quando magoados por alguma dor.
Foi por aqui que o meu avô, pai, tios e primos foram guardadores de rebanhos, lavraram a terra à força de braços com as charruas e arados puxados por juntas de bois ou parelhas de machos e mulas, semearam e colheram pão, frutos e legumes.
Estas paisagens fazem parte de mim como a minha pele. Por isso sou rústico como elas. Desde sempre e nos momentos mais complicados da minha vida me refugiei na sua benfazeja solidão em busca de paz de espírito, de equilíbrio emocional ou das respostas que só o seu silêncio consegue dar-nos.
Passei horas a caminhar sem destino por cabeços e vales, sem muitas vezes me dar sequer conta do passar do tempo. Outras vezes sentado no cimo de algum cancho a ouvir o pasto a estalar pela correria de algum assustadiço animal bravio dos muitos que desde que me conheço abundam por estas paragens.
Lá longe, na guerra, quando senti que podia não voltar para casa depois de ver tombados alguns camaradas, prometi a mim mesmo que, se voltasse, nunca mais de cá sairia. E quase cumpri a minha promessa. Assim que voltei – e darei graças até ao fim da minha vida – fui inúmeras vezes revisitar todos estes lugares para de novo deles desfrutar e matar saudades.
Só tive de ausentar-me de novo para poder cumprir a missão de chefe da família que entretanto constituí, já que por aqui não foi possível.
Mas voltava amiúde.
E assim que pude, regressei definitivamente e por cá continuo apesar de tudo estar hoje muito diferente, porque quase tudo a vida de cá levou. Entes queridos, bons vizinhos, até o quotidiano de outrora se extinguiu irreversivelmente.
Resta-me pouco mais do que as memórias. E aquele silêncio que antigamente só se “ouvia” nos locais ermos, invadiu as casas e as ruas por todos os povoados desta região e passou a residir dia e noite conosco. Ainda assim e no que depender de mim, é por aqui que desejo terminar os meus dias e continuar a deslumbrar-me com cada por do sol, a enternecer-me com o eterno trru-trru das rolas pela alvorada, a encantar-me com a ousadia dos melros, pintassilgos e outros alados “vizinhos” que teimam em encher de ninhos as árvores do nosso quintal sem receio de poderem ser incomodados.

Texto e foto

Poucos, mas leais


Leitura do Evangelho na Eucaristia Vespertina de Domingo de Ramos com o Revº Pároco Marcelino Marques e a minha irmã Joaquina Coelho, na Igreja Paroquial de Nossa Senhora do Carmo da Beirã, no dia 12. 04. 2025.

sexta-feira, 11 de abril de 2025

Bom Fim de Semana

Foto José Coelho

Há olhares que não nos admiram, só nos medem. Há sorrisos que não cativam, apenas disfarçam. A inveja não é do que temos, mas do que somos e da luz que transportamos sem precisar apagar a de ninguém. No início, perguntava-me: porque é que as pessoas são assim? Mas hoje entendo que a inveja não é sobre mim, é pelo vazio das suas próprias vidas que não conseguem preencher. Não lhes guardo rancor. Sigo o meu caminho com a alma leve, o coração inteiro e a certeza de que o que é verdadeiro não se altera pelo olhar alheio. A nossa essência não é sombra, é sol. E o sol não se apaga.

Terra amada


Estas placas com a sua informação encontram-se encostadas à ponte da Murta no CM1024. A Anta da Cabeçuda é facilmente encontrada seguindo para norte pelo Caminho da Retorta até encontrar a 2,6 Km as placas identificativas. O monumento megalítico é visível do lado direito do caminho.

Se optarem pela Rota do Megalítico é só seguir para Este pelo CM1024, passa-se a Murta e a cerca de 1 km encontra à esquerda as placas identificativas da Anta da Cavalinha e do Chafurdão, bem como as setas indicativas para os encontrar.

Continuando pelo CM1024 após mais 400 m encontra à esquerda a sinalização da Anta do Vale de Figueira e basta também seguir as setas implantadas no terreno até ela.

Regressando ao CM1024 se quiser continuar vai encontrar a cerca de 2 km também do lado esquerdo a sinalização do Menir dos Pombais situado no cimo de um cancho entre os sobreiros.

Continuando na mesma direção vai encontrar a chaminé em ruínas da Leprosaria a 400 m do lado esquerdo e a cerca de mais 1 km a Anta da Granja mesmo encostada ao caminho e devidamente sinalizada também.

Um pouco mais à frente sai da Freguesia da Beirã para entrar na Freguesia-mãe de Santo António das Areias onde podem ser visitadas as Antas dos Vidais e a da Lage dos Frades. Creio que as coordenadas de todas estão disponíveis na net.

José Coelho

Foto
Maria Coelho