sexta-feira, 25 de abril de 2025

Estados d'alma



Não sou dado a depressões pese embora muitas vezes a minha fisionomia possa fazer parecer o contrário. Tal não corresponde, porém, à realidade. Mas não corresponde mesmo! Quando muito andarei melancólico e não consigo – nem quero – disfarçar.

Nada na minha vida foi fácil de alcançar ao longo do caminho que já levo percorrido, mas sem dúvida os últimos anos foram os piores. Motivos? Nem vale a pena enunciá-los. Já passaram e a vida continua. 

Tem mesmo de continuar.

Não é, porém, liminarmente fácil menorizar tudo o que nos trouxe dor ou amargura e seguir cantando. É preciso tempo, paz, sossego e introspeção. A pessoa necessita ficar a sós consigo mesma para tentar desatar os nós que inevitavelmente se vão formando no seu íntimo.

Por isso mesmo é um caminho que tem de se percorrer a sós. Obviamente também houve, entre um tombo e outro, alguns intervalos felizes mas que não apagaram as feridas da alma. A cura, se a houver, só o passar do tempo trará. Vou por isso vivendo um dia de cada vez sem pressa e sem grandes projetos, sonhos ou ambições.

Li algures que "uma pessoa morre quando deixa de sonhar, de acreditar e de lutar". Mas lemos tantas coisas sonantes e que nós, quando tudo está bem conosco, achamos serem verdade.

O pior é quando inesperadamente a vida nos trai e nos atira contra a parede sem que percebamos porquê, que mal fizemos para sermos assim maltratados. O nosso mundo e tudo aquilo em que acreditávamos desaba sobre nós, esmaga-nos, sufoca-nos, deixa-nos sem chão.

Ficamos tão atordoados que levamos meses com a cabeça zonza sem perceber muito bem o que, ou por que, aconteceu. Coisas vindas das mais inimagináveis origens. Mas como já disse não quero falar delas. 

Quanto mais se mexe nas feridas mais elas doem.

E sempre fui assim, um pouco dado à melancolia. 

Mas deixemos tudo isso para lá. 

São coisas minhas. 

Ou, melhor dizendo, são estados d'alma pelos que já todos passámos alguma vez...

José Coelho